O misterioso vídeo do disco voador em Mingachevir, no Azerbaijão

O misterioso vídeo do disco voador em Mingachevir, no Azerbaijão
Disco voador supostamente filmado no Azerbaijão em 1994. Muitas dúvidas, nenhuma resposta (Youtube/Canal Sergio1966)

Às vezes, com a Internet, um vídeo antigo ressurge com uma nova história para confundir os desavisados e assombrar os pesquisadores mais experientes. Este é o caso de um (quase) famoso vídeo de disco voador clássico, que voltou a circular no YouTube e nas redes sociais, principalmente o TikTok, e dessa vez atribuído ao Azerbaijão, em 1994, provavelmente por causa de opiniões expressas por usuários no Reddit.

----publicidade----

O vídeo em questão apresenta um disco voador clássico, de formato circular, movendo-se lentamente em plena luz do dia sobre uma área urbana. Observadores notaram a presença de três elementos esféricos, descritos como “sinos” ou “esferas”, girando lentamente na parte inferior do disco.

Essa característica, em particular, tem sido apontada como consistente com descrições em relatórios de avistamentos anteriores, inclusive em livros de muitos pesquisadores, entre eles Donald Keyhoe da década de 1950. A forma do objeto também foi comparada a desenhos e “fotografias” que circulam na internet de um tipo específico de OVNI creditado aos nazistas, conhecido como “Haunebu” ou, ainda, as supostas naves de (George) Adamski.

A pessoa que filmou o vídeo parece estar dentro de um apartamento, e o objeto em certo momento passa por trás de um muro ou de uma antena antes de sair de vista. O vídeo termina quando o objeto desaparece numa área nebulosa que parece causada pelo efeito do desfoque da parede do prédio.

Um legítimo disco voador no Azerbaijão? (Youtube/Canal Sergio1966)
Um legítimo disco voador em Mingachevir, no Azerbaijão? (Youtube/Canal Sergio1966)

A atribuição de localização e data do vídeo tem sido uma saga. No passado, o vídeo foi já associado ao Uruguai, em 1994, mas essa alegação logo foi contestada devido à infraestrutura dos prédios e antenas, que não correspondia à do Uruguai daquela época, mas sim a regiões da Europa Oriental ou dos Balcãs. Muitas fontes mencionam diferentes locais, como Argentina, Rússia, Bulgária e Polônia, mas a correspondência mais forte, baseada em comparação com o Google Maps, parece que tem sido com a cidade de Mingachevir, no Azerbaijão. Mingachevir é a quarta maior cidade do Azerbaijão, fundada em 1945, conhecida pela sua central hidrelétrica no Rio Kura.

Quanto à data, embora o ano de 1994 seja frequentemente citado, também há muitas discussões. Uma teoria sugere que o vídeo foi, na verdade, filmado na Itália por volta de 2003 e transmitido na televisão italiana, possivelmente no canal Antenna Tre, antes de ser gravado e carregado no YouTube. A música de fundo no vídeo é de 1976, mas isso não é conclusivo para a data da filmagem.

----publicidade----

A trajetória online do vídeo e os debates sobre sua autenticidade

O registro mais antigo do vídeo que pode ser encontrado na internet é de 2007, num site de mídia coreano, embora o player de vídeo estivesse quebrado. A versão online ainda disponível mais antiga foi carregada no YouTube em 24 de julho de 2008, num canal russo assinado apenas com o nome do usuário Sergio1966. Com 251 mil visualizações (em 30 de junho de 2025), esse é o único vídeo do canal, que tem 140 inscritos. Na descrição, em russo, apenas a autoexplicativa mas enigmática expressão: “disco voador”.

Já a discussão sobre o vídeo em si é um pouco mais prolixa e produtiva, principalmente entre céticos. Um grupo de trabalho da iniciativa internacional “Skepsis”, começou a analisar o material por volta de 2011, quando também surgiram os primeiros debates no Skeptics Stack Exchange (atualmente apenas via web.archive.org). As discussões no Reddit sobre este vídeo são rastreadas a partir de, pelo menos, 2021, com ressurgimentos em 2024 e agora novamente em 2025.

Discussão em forum cético, resgatada através do site web.archive.org
Discussão em forum cético, resgatada através do site web.archive.org

Argumentos a favor da autenticidade (ou da farsa bem feita):

Apesar de todo o debate, tudo que se tem sobre o vídeo são argumentos a favor e contra sua autenticidade, sem que nenhuma das vertentes tenha chegado a uma conclusão. E não foi por falta de análises, pelo menos sobre o material — de segunda ou terceira mão — atualmente disponível. A consistência do movimento do objeto, a coerência de sua forma e rotação, e a interação coerente com os objetos pelos quais ele passa são alguns dos principais pontos que indicariam sua autenticidade. A lista de argumentos a favor do vídeo é listada a seguir:

----publicidade----
  • Ausência de Sinais de CGI/IA (se de 1994): Uma análise inicial do vídeo, divulgada em 2008, supostamente não encontrou sinais de conteúdo gerado por IA ou CGI. Se a data de 1994 for precisa, a probabilidade de ser um drone, CGI ou IA é “muito baixa”. O vídeo ter sido carregado em 2008 sugere que não é uma falsificação recente gerada por IA.
  • Comportamento da Câmera: O zoom da câmera é consistente com um gravador portátil da década de 1990. Além disso, o cinegrafista só para de filmar depois que o OVNI sai de vista, o que é considerado mais crível do que os muitos vídeos de OVNIs que param abruptamente quando a visão é clara.
  • Interação com o Ambiente: O objeto parece passar por trás de uma antena ou outros objetos sem problemas óbvios de recorte, o que exigiria “mascaramento intencional” se fosse uma sobreposição falsa. No entanto, alguns céticos atribuem isso a artefatos de compressão de vídeo.
  • Detalhes do Objeto: Os “sinos rotativos” na parte inferior do disco são um detalhe que foi relatado em outras aparições de OVNIs, o que para alguns confere credibilidade à filmagem.
  • Qualidade da Falsificação (se for): Mesmo para os céticos, a complexidade e atenção aos detalhes necessárias para fabricar um vídeo com essa qualidade, especialmente com as ferramentas disponíveis em 2007 (como After Effects e Maya), o tornariam uma “farsa muito bem-feita”. Tentativas de recriá-lo geralmente não se comparam à qualidade do original.
  • Iluminação: A iluminação no vídeo é considerada “perfeita” por alguns, o que, caso seja CGI, indica um trabalho de excelente qualidade.

Argumentos céticos e sinais de falsificação

Por outro lado, os céticos que argumentam pela falsidade do material apontam outras incoerências. Várias das amostras do vídeo disponíveis na Internet, incluindo a do canal russo Sergio1966, seriam demasiado boas para as câmeras mais comuns de 1994, mesmo sendo apresentadas —  todas — na qualidade 240pixels, na proporção 4×3, algo comum para o início da Internet, quando o padrão eram as imagens VHS, geralmente gravadas para exibições ou transmissões em equipamentos analógicos.

Quando o cabo da antena começa a aparecer antes de sumir novamente (com efeito de detecção de bordas)
Quando o cabo da antena começa a aparecer antes de sumir novamente (com efeito de detecção de bordas)

Outros dois aspectos reforçam essa linha de argumentação. A análise quadro-quadro mostra que, por um instante bastante breve, quando o disco passa atrás de uma antena (ou poste), além desta antena parecer se misturar ao objeto, um raio ou cabo desta antena aparece e desaparece por alguns frames. De toda forma, a lista dos principais argumentos contra a autenticidade do vídeo é um pouco maior:

  • Qualidade do Vídeo para 1994: Este é um dos pontos mais fortes dos céticos. Muitos argumentam que a qualidade do vídeo é “demasiado boa” para 1994. Câmeras VHS da época seriam mais ruidosas e a filmagem atual “parece digital”. Alega-se que “o filme não corresponde em nada ao ano”, parecendo ter sido feito por alguém sem “nenhuma compreensão de como realmente se parece o filme daquela época”.
  • Ausência de Ruído de Fundo e Reação Humana: A falta de ruído de fundo, como gritos, reações das pessoas na vizinhança ou do próprio cinegrafista, é considerada suspeita. Há música ao fundo, mas não o choque ou pânico que uma aparição tão próxima e clara deveria gerar.
  • Anomalias Visuais: Observa-se que o objeto parece “atravessar” um poste ou antena por um breve momento, sugerindo um problema de sobreposição (“cookie-cutter” ou máscara mal aplicada). O Adobe After Effects, que permite essas técnicas, foi introduzido em 1993. Além disso, a versão estabilizada do vídeo revela “desacelerações súbitas” do objeto que não são aparentes na versão original, embora isso não seja considerado prova conclusiva de fraude por alguns.
  • Comportamento Irreal da Câmera: Há a ausência de som de zoom (motor ou anel) e ausência de deslocamento dinâmico da imagem (ajuste de brilho) durante o zoom, comportamentos comuns em filmagens de câmeras de vídeo dos anos 90.
  • Final Conveniente: A área “nublada” ou o “canto da parede” onde o objeto desaparece no final do vídeo é vista como uma maneira conveniente de terminar a gravação, evitando a necessidade de mostrar o que acontece depois.
  • Ausência de Notoriedade Imediata: Se a filmagem fosse real, tão clara e impressionante como parece, seria de esperar que tivesse sido amplamente divulgada nos meios de comunicação e na internet muito antes da sua aparição online em 2007/2008.
  • Facilidade de Falsificação: Céticos afirmam que o vídeo poderia ter sido “facilmente feito” por um “hoaxer/entusiasta em 2007” com ferramentas digitais disponíveis como After Effects e Maya. Há quem sugira que poderia ser recriado com uma filmadora VHS, uma placa de captura de TV antiga e várias codificações, sem edição adicional, ou até mesmo filmado em 4K, com efeitos adicionados e depois gravado em uma fita VCR e digitalizado novamente para dar um “look analógico autêntico”.
  • Evolução Estética dos OVNIs: Alguns argumentam que é peculiar como as “raças alienígenas avançadas” parecem “combinar perfeitamente com nossas estéticas de design década após década”, alinhando-se com as ideias humanas de ficção científica da época. Observa-se que aparições mais antigas tendem a ser discos, enquanto as mais recentes são “orbes” ou “medusas”.
  • Comportamento “Terrestre”: O objeto no vídeo “não exibe nenhum comportamento que não pudesse ser realizado com tecnologia humana existente”, o que o torna mais provável de ser de origem terrestre, como um modelo de controle remoto (RC) ou um objeto suspenso por uma linha de pesca.
Momentos em que o disco parece se sobrepor à antena (contraste e nitidez ligeiramente aumentados)
Momentos em que o disco parece se sobrepor à antena (contraste e nitidez ligeiramente aumentados)

Seja como for, o vídeo do disco voador de Mingachevir (ou qualquer que seja a sua verdadeira origem) continua a ser um fascinante ponto de debate na comunidade ufológica. Em tempos de polêmicas fabricadas, debates intermináveis sobre “desacobertamento”, e os novos paradigmas da pesquisa numa era de drones, satélites e inteligência artificial, ele remete a pesquisa ufológica às suas raízes, onde, ao invés de respostas rápidas e pontuais, há a necessidade de busca incansável por evidências, pesquisa aprofundada e cruzamento de informações históricas.

A verdadeira história por trás deste enigmático registro permanece, até agora, uma incógnita. E você? Acha que esse vídeo pode ser real?

Redação Vigília

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

×