Buga e outras “esferas” na Colômbia: revelação de linha aumenta suspeitas

Buga e outras “esferas” na Colômbia: revelação de linha aumenta suspeitas
Análise de Mick West colocou em destaque o reflexo de uma linha sustentando a nova esfera (Reprodução: X.com/Twitter/Mick West)

Uma nova controvérsia abalou a tese da invasão das “Esferas de Buga”, na Colômbia, com o investigador Mick West divulgando uma análise no Twitter/X que sugere a utilização de uma linha de pesca para suspender uma “Esfera de Buga” em um vídeo recente. O vídeo em questão, divulgado por Jaime Maussan, alegava mostrar uma nova esfera a baixa altitude em Mulaló, no Valle del Cauca, Colômbia. No entanto, West, conhecido por suas investigações sobre fenômenos anômalos, postou em 15 de julho de 2025 que a “linha de pesca suspendendo a bola prateada é claramente visível, refletindo o sol” no vídeo divulgado por Maussan, recomendando a visualização em tela cheia. Ele reforçou a alegação com uma versão cortada do vídeo para celular, novamente apontando a “linha de pesca”.

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A postagem de West gerou uma enxurrada de reações, tanto de apoio quanto de ceticismo. Dean Miller, por exemplo, questionou a visibilidade da linha e se West havia investigado a área presencialmente. Adam Goldsack, após revisar o vídeo, admitiu que “parece haver algo acima do objeto sendo ‘refletido’ em um certo ponto do vídeo,” mas considerou “prematuro concluir que seja uma linha de pesca com base no que estamos vendo aqui”. Outros usuários como FTA e Daniel Vogler também expressaram dificuldade em ver a linha.

 


Em resposta às dúvidas, Mick West detalhou que a linha “é o destaque vertical acima e ligeiramente à direita da esfera. Você não consegue ver a linha toda, apenas o destaque”.

Logo, outros perfis e canais de Ufologia repercutiram a análise de West, entre eles o “Galeria do Meteorito“. O apresentador Richard, que em vídeos anteriores claramente demonstrava uma linha mais crédula dos vídeos das esferas, realizou sua própria análise detalhada da afirmação de West, descrevendo-a como “uma análise pesada no que seria a suposta linha sustentando a esfera de Buga”. Richard, da Galeria do Meteorito, dedicou-se a sobrepor frames do vídeo e traçar os reflexos visíveis, concluindo que o reflexo está “de fato alinhado, muito alinhado,” e que “dá de fato na esfera”. Ele até sugeriu que poderiam ser “dois reflexos” indicando que a esfera poderia estar presa por um único cabo que ao final do percurso se bifurca para envolver a esfera e conferir-lhe maior estabilidade.

A invasão das “esferas de Buga”

O vídeo da esfera em Mulaló faz parte de uma série de aparições de objetos esféricos no Valle del Cauca, Colômbia, que Jaime Maussan tem divulgado, descrevendo-os como um “verdadeiro mistério”. A gravação de Mulaló foi obtida por David Vélez e William Zúñiga, que teriam instalado sete câmeras nas montanhas para registrar os fenômenos, sendo uma GoPro a responsável por capturar a imagem da esfera metálica. Maussan e sua equipe enfatizam que a imagem é “extraordinária” e que “algo está sucedendo” na região, com as esferas “parecem deslocar-se como se buscassem algo”.

Zoom na gravação de Mulaló, a esfera que está abalando a credibilidade das esferas da Colômbia (Reprodução/X.com/Twitter/Mick West)
Zoom na gravação de Mulaló, a esfera que está abalando a credibilidade das esferas da Colômbia (Reprodução/X.com/Twitter/Mick West)

Para Jaime Maussan, esses objetos são “artefatos verdadeiros que podem levitar” e “neutralizar a gravidade e poder literalmente flutuar em nossa atmosfera”. Ele apresentou análises realizadas na Itália por uma equipe ítalo-guatemalteca, que submeteram o vídeo a “análise técnica forense, análise gráfico visual e áudio, extração de metadados, estudo de trajetória, análise de fotogramas e comparação com fenômenos naturais e tecnologias realizadas e conhecidas pelo ser humano”. Os resultados desses estudos, segundo Maussan, confirmam que o arquivo é “original, autêntico e não manipulado,” compatível com uma gravação de GoPro, e que “não foram encontradas presença de anomalias nesse vídeo,” nem “manipulações visuais ou de áudio,” ou “geração com inteligência artificial ou programas de editing cgi ou efeitos especiais”. A conclusão é que as imagens são “completamente autênticas” e a “evidência não só é real, mas que se trata de alta tecnologia”.

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Essa narrativa oficial de “alta tecnologia” e “origem não humana” tem sido central para Maussan, que atribui às esferas a capacidade de serem “sensores que são capazes de ver e de registrar tudo o que se encontra ao seu redor”. Em um dos experimentos com a “Esfera de Buga” original, alegou-se que ela emitia “frequências misteriosas” em resposta a estímulos, com picos importantes em 330-340 Hz (correspondendo à fala humana), 1.3-1.5 kHz (modulação de controle da própria esfera), e 2.4 Hz (emissão de radiofrequência), o que “não existe nenhuma possibilidade de que haja um erro” de medição. Um dos cientistas envolvidos descreveu a esfera como não sendo “inerte,” sentindo uma “comunicação”.

As “análises” controversas

As alegações de Maussan têm sido alvo de um intenso escrutínio e contestações por outros analistas e divulgadores científicos. Desde o início, o Portal Vigília tem ouvido especialistas para comentarem os processos de análises divulgados por Maussan. Em praticamente todos os casos, os analistas apontam severas críticas não apenas aos equipamentos utilizados, mas também às metodologias de investigação e divulgação, argumentando a completa falta de rigor científico.

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Num dos poucos episódios onde tal rigor foi tentado, o relatório produzido pelo Instituto de Investigações em Materiais (IIM), parte da renomada Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM), e assinado pelo Dr. Ignacio Alejandro Figueroa Vargas, foi divulgado por Jaime Maussan em suas plataformas. Embora o documento, intitulado “Informe de Resultados ESFERA DE BUGA” (Oficio IR.BION.IIM.SV.EX.290525), não constitua um artigo científico revisado por pares – processo fundamental para a validação acadêmica – ele foi devidamente registrado em cartório (“COTEJO”) em junho de 2025, atestando a fidelidade de sua reprodução. A presença dos timbres oficiais da UNAM e do IIM em diversas páginas sugere que as análises foram geradas nos laboratórios da própria universidade, locais considerados adequados para tais técnicas e equipamentos. Contudo, uma lacuna notável é a ausência de detalhes sobre o ambiente e as condições dos testes no documento, com imagens em preto e branco e tomadas fechadas que nunca mostram o contexto. Essa omissão, somada ao fato de que divulgações anteriores pela Maussan Television mostraram testes similares sendo realizados em seu escritório ou estúdio, levou o Portal Vigília a contatar a UNAM para esclarecimentos, embora sem resposta até o momento. O relatório ainda enfatiza que seus resultados são válidos exclusivamente para as amostras analisadas.

Relatório publicado com destaque na página Maussan Televisión (Reprodução - maussantelevision.com)
Relatório publicado com destaque na página Maussan Televisión (Reprodução – maussantelevision.com)

As conclusões do relatório da UNAM, após uma série de análises que incluíram testes de dureza, campo magnético, metalografia, Fluorescência de Raios X (XRF), luminescência e termogravimetria (TGA), foram bastante objetivas e alinhadas com a ciência de materiais conhecida. Os testes indicaram que a esfera não apresentou campo magnético (0 mT) em sua superfície e não demonstrou resposta a ímãs externos. As medições de dureza, embora variáveis, não foram significativamente afetadas pela presença de campo magnético, sendo as variações atribuídas a defeitos superficiais ou espessura. A análise metalográfica revelou porosidade e inclusões no material, sugerindo que a esfera foi fabricada por um processo de fundição, possivelmente em múltiplas etapas, e que as uniões não foram feitas por soldagem convencional. A análise química por XRF identificou a esfera como uma liga comum de alumínio (Al-Si), com ligas como A413.2, A411.2, A390 e A413. Os “pinos” incrustados na zona do equador foram identificados como “fibras ópticas” embutidas em um “polímero do tipo baquelite”, e a análise termogravimétrica demonstrou que este polímero tem instabilidade térmica, degradando-se a partir de 70°C. Essa baixa resistência térmica, segundo o relatório, afasta a possibilidade de o material ter suportado uma reentrada atmosférica. Em resumo, o documento da UNAM descreve a esfera como um objeto de origem industrial, cujos materiais e processos de fabricação são conhecidos e convencionais.

Esta análise técnica contrasta severamente com as alegações anteriores de propriedades “mágicas” ou “tecnologia avançada”. As narrativas de evaporação de água, alterações de peso, ou de uma dureza afetada por campos magnéticos, são diretamente refutadas pelas conclusões da UNAM.

O engenheiro metalurgista Sandro Gonçalves, consultado pelo Portal Vigília, endossou a metodologia e as conclusões do relatório da UNAM, afirmando que a ausência de magnetismo, as variações de dureza, e a estrutura de “bruta de fusão” com porosidade são típicas de um processo de fundição de alumínio tradicional e até rústico. Ele corroborou a análise das fibras ópticas e da baquelite, sugerindo métodos terrestres para sua incrustação, como a fundição localizada de baquelite em pó. As inscrições na superfície, que foram alvo de interpretações esotéricas, nem sequer são mencionadas no sumário das conclusões da UNAM. A perspectiva científica, portanto, delineia a Esfera de Buga como um objeto fabricado por processos de engenharia conhecidos, oferecendo um contraponto substantivo às narrativas mais especulativas que a cercavam.

A teoria da suspensão por fio

A suspeita de que os objetos esféricos são suspensos por fios finos não é nova no debate sobre as “Esferas de Buga”. Em outros vídeos, já havia sido detectado um movimento oscilatório, que se torna notavelmente evidente quando o vídeo é estabilizado. Esse movimento seria uma indicação clara de que o objeto está, na verdade, suspenso. A suspeita recai sobre algum tipo de  bola de vinil, ou similar, especialmente preparada para ser altamente reflexiva, içada por um drone aéreo com uma linha extremamente fina e praticamente invisível à distância. O balanço pendular longo se tornar imperceptível se o ponto de ancoragem – ou seja, o drone – estiver muito distante e alto em relação objeto e à câmera, minimizando a amplitude visível do movimento e criando a ilusão de um objeto pairando ou se movendo autonomamente.

Richard do Galeria do Meteorito sobrepos frames e encontrou parte do percurso da linha nos reflexos
Richard, do Galeria do Meteorito sobrepôs frames e encontrou parte do percurso da linha nos reflexos (Reprodução: Youtube – Galeria do Meteorito)

A análise da “Galeria do Meteorito” reforçou essa teoria, com Richard demonstrando a linha através da sobreposição de frames, o que “fica bem evidente, de fato”. Ele considerou a possibilidade de “um jogo de perspectiva,” onde o objeto, “no tamanho de uma bola de tênis ou talvez menor,” poderia estar “bem próximo da câmera, não lá longe como a gente imagina,” manipulado com “uma vara de pesca atrás e passa esse objeto com alguma linha bem fininha”.

Clara existência de um fio fino sustentando a esfera na gravação mais recente coloca em cheque não apenas toda a veracidade dos vídeos anteriores na mesma localidade, mas o próprio rigor das “análises técnicas” das equipes mencionadas por Maussan para atestarem a autenticidade e veracidade dos vídeos. Bem, autênticos, de fato, eles são. Mas se mostram realmente algo insólito e, mais ainda se as equipes do ufólogo e apresentador mexicano já sabem ou saberiam diferenciar, é uma pergunta ainda sem resposta.

Enquanto isso, surgiu no canal de Maussan um novo vídeo, com “análises” sendo feitas enquanto uma espécie de “cântico” ou mantra é entoado para a Esfera, com direito a sopro de concha, uma tradição de culturas andinas (o “pututo” ou “caracol sonoro”).  E deixamos a vocês, leitores, que avaliem o quão científico parece o método desta análise:

Redação Vigília

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