Chico Alencar (PSOL-RJ), convoca audiência sobre OVNIs na Câmara dos Deputados

O deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) convocou uma audiência pública que será realizada em 16 de setembro de 2025, às 10h, na Câmara dos Deputados. O tema central do debate é a relação entre ufologia, o uso da Lei de Acesso à Informação (LAI) e os potenciais impactos sobre a informação da sociedade e a soberania nacional. Alencar já foi alvo de negativas anteriores quando tentou obter informações sobre o Caso Varginha e outros fenômenos ufológicos diretamente das Forças Armadas.
No requerimento, o parlamentar esclarece que o evento não tratará da existência de vida extraterrestre, mas sim do caráter não identificado de certos fenômenos observados: “um OVNI não significa uma nave extraterrestre; o termo é utilizado para descrever algo que não pôde ser identificado por quem observou o fenômeno”, disse.
A audiência aparentemente tenta se inspirar no modelo implantado nos Estados Unidos em julho de 2023, quando militares prestaram depoimentos sobre avistamentos, alertando para riscos à aviação e à soberania nacional. Esses depoimentos reforçaram a importância de estimular mais relatos, como destacou o deputado democrata Robert Garcia:
“Os UAPs [OVNIs], sejam eles quais forem, podem representar uma séria ameaça para nossas aeronaves militares e civis. Devemos encorajar mais relatórios, não menos. Quanto mais entendermos, mais seguros estaremos”.
Apesar da inspiração na nova forma de tratar os OVNIs (ou UAPs, como agora são denominados pelo aparato da Defesa nos Estados Unidos) , a audiência proposta por Alencar deve contar apenas com a participação de ufólogos.

Palestrantes convidados e seus perfis
Além da ausência de oficiais militares ou nomes com autoridade no trato de potenciais informações sigilosas relacionadas aos OVNIs no Brasil, a audiência convocada por Alencar aposta na participação de um eclético grupo de ufólogos, representando correntes de pensamento que vão da pragmática pesquisa de campo aos olhares que misturam ufologia e espiritualidade.
- Thiago Ticchetti – É ufólogo e autor com mais de 30 anos de atuação na Ufologia. Diretor regional da Mutual UFO Network no Brasil (MUFON), a maior organização civil de pesquisas relacionadas ao tema, é também o editor da Revista UFO.
- Fernando de Aragão Ramalho – É geógrafo formado e servidor público. Desde pelo menos 2005, ocupa posição de destaque na Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), atualmente atuando como vice-presidente. É amplamente reconhecido como um dos ufólogos brasileiros com mais experiência na condução de procedimentos legais relacionados à LAI. Com sua participação, a CBU conduziu, no início dos anos 2000, a campanha “UFOs: Liberdade de Informação Já“, estratégia que incluiu visitas institucionalizadas — notavelmente ao Ministério da Defesa, ao Comdabra e ao Cindacta — e resultou na liberação de relatórios originais e documentos históricos.
- Vitório Pacaccini – veterano do grupo de pesquisas CICOANI, com mais de três décadas dedicadas à ufologia. Autor de livro sobre o Caso Varginha, episódio que o projetou internacionalmente, praticamente desapareceu da cena UFO brasileira na última década. Ressurgiu com o projeto de um novo documentário sobre o famoso caso do Sul de Minas após a repercussão do documentário “Moment of Contact”, de James Fox, e tem dado entrevistas dizendo ter visto — sem apresentar nenhuma evidência — um suposto vídeo de uma das supostas criaturas capturadas em Varginha.
- Marco Antônio Petit de Castro – ufólogo, escritor prolífico, co-editor da Revista UFO e atual presidente da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU). Petit traz perspectivas menos ortodoxas, incluindo estudos e palestras sobre ruínas extraterrestres supostamente encontradas em Marte e na Lua, além de conexões entre ufologia e espiritualidade. Tornou-se mais conhecido na Ufologia pela pesquisa de campo realizada em Conservatória e Serra da Beleza, no Rio de Janeiro.
Além deles, um quinto convidado confirmou ao Portal Vigília que não participará da audiência. Wagner Vital – engenheiro e fundador do Grupo de Ufologia da Baixada Fluminense. Criador do projeto de monitoramento Mubras, seria um dos poucos qualificados a fornecer uma perspectiva técnico-científica do rastreamento e registro sistemático de objetos não identificados utilizando equipamentos de vigilância por imagens e inteligência artificial, tema que tem se destacado sobretudo junto à comunidade acadêmica internacional atualmente.
Reações da comunidade ufológica e científica
No meio ufológico, a iniciativa de Chico Alencar foi bem recebida, como uma oportunidade de legitimar debates com chance, considerada remota, de tornar públicas informações até então pouco acessíveis. O fato de reunir figuras centrais da pesquisa brasileira reforça o simbolismo da ufologia como campo de estudo com potencial impacto social e político, mas a ausência de nomes ligados à ciência tradicional e, principalmente, às próprias autoridades às quais é creditada a manutenção do sigilo, gerou expectativas ambíguas.
Já entre cientistas e setores mais céticos, a audiência inspirou cautela — algo sempre esperado pelos entusiastas — e, em alguns casos, críticas mais ácidas. Nesta última categoria, chamou a atenção o desabafo do geólogo e divulgador científico Sergio Sacani. Em uma publicação em suas redes sociais, ele recamou:
“O país odeia ciência mas odeia é com gosto!!! Ao invés de fazer uma audiência pública para discutir a construção de um satélite meteorológico, de um sistema de GPS ou de como gerir de forma eficiente as terras raras que é um grande recurso que temos, isso sim a verdadeira soberania nacional, nós vamos falar de OVNIS !”
Alguns usuários, no entanto, devolveram a crítica. Como o perfil do podcast O Contato:
Vc enche a boca pra desprezar a ufologia mas ta sempre falando dela nos teus videos né? E pq nao falou desse jeito com o Avi Loeb no Vilela? De certo ele odeia a ciencia tbm…
A avaliação geral é que a audiência pública agendada para o dia 16 de setembro pode ser um passo para uma nova etapa de abertura institucional sobre fenômenos aéreos não identificados, uma tentativa de colocar o tema no campo da transparência governamental, da segurança nacional e da cidadania informada. Mas as controvérsias no campo político e algumas visões divergentes sem lastro científico têm potencial para travar futuros avanços. Só o tempo dirá.