Internet repercute suposto vídeo de Roswell achado nos Arquivos Nacionais dos EUA

Internet repercute suposto vídeo de Roswell achado nos Arquivos Nacionais dos EUA
Cratera mostra local da queda de um disco voador em Roswell? Imagem do Arquivo Nacional dos EUA, captura de vídeo

Um vídeo de 22 minutos liberado silenciosamente pelos Arquivos Nacionais dos Estados Unidos (NARA) voltou a colocar o Incidente de Roswell, de 1947, no centro das atenções. O material, intitulado The Roswell Reports, mostra imagens de destroços e de uma formação escura que alguns usuários do Reddit e da rede X (o antigo Twitter) interpretaram como “corpo alienígena”. A divulgação, porém, esbarra em um ponto crucial: não há qualquer evidência de que o vídeo tenha ligação direta com o episódio histórico do Novo México.

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O vídeo, catalogado sob o código 341-ROSWELL-41, foi incorporado ao acervo digital sem anúncio oficial. Não se sabe há quanto tempo estava lá, mas é fato que poucas horas depois de um usuário apontar o fato no X.com, a gravação circulava em quase todos os fóruns ufológicos e redes sociais, com interpretações que iam de “primeiras imagens autênticas de Roswell” até suposições de manipulação governamental.

O vídeo está disponível no próprio site do Arquivo Nacional: NARA – Moving Images Relating to “The Roswell Reports”.

A cena mais comentada surge no final: uma fotografia em preto e branco de uma grande cratera com detritos espalhados. Para parte do público, seria evidência inédita da queda de um objeto voador não identificado.

Compilação, não registro histórico

Uma checagem no próprio banco de dados do NARA mostra que o vídeo integra a série “Moving Images Relating to ‘The Roswell Reports’ Source Data Research Files, 1946–1996”, criada para apoiar as investigações que resultaram nos relatórios oficiais da Força Aérea, publicados em 1994 e 1997.

O relatório oficial de 1994 pode ser consultado aqui: The Roswell Report: Fact vs Fiction in the New Mexico Desert (USAF, 1994).
Já a publicação complementar de 1997 está disponível em: The Roswell Report: Case Closed (USAF, 1997).

Em outras palavras: trata-se de material de apoio, uma compilação de imagens secundárias — incluindo capas de revistas e livros sobre o tema —, e aparentemente não de registros originais de 1947.

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O áudio de bastidores reforça esse caráter. Vozes descontraídas comentam assuntos triviais, como tecidos de veludo, slides e até uma produção da Showtime. Há inclusive referências pouco elogiosas a autores ligados ao tema UFO, o que desmonta qualquer pretensão de solenidade investigativa.

Cratera não bate com relatos de 1947

O maior choque entre o vídeo e a narrativa histórica está na presença da cratera. Testemunhas-chave, como o fazendeiro Mac Brazel e o major Jesse Marcel, nunca relataram uma explosão ou buraco profundo no solo.

Segundo os relatos clássicos, Brazel teria encontrado fragmentos metálicos espalhados por um campo. Marcel descreveu os destroços como dispersos numa área triangular de até 1,2 km de extensão, sem indícios de impacto explosivo. A ausência de crateras é justamente uma das características mais sólidas da versão canônica.

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Pesquisadores lembram ainda que a imagem da cratera pode ter sido retirada de outro contexto — testes nucleares, quedas de meteoritos como o de Sikhote-Alin (1947) — e inserida apenas para dar impacto visual.

Explicação oficial continua sendo Mogul… e não sendo aceita

Os relatórios da Força Aérea norte-americana concluíram que os destroços de Roswell eram provenientes do Projeto Mogul, um programa secreto de balões de alta altitude usados para detectar possíveis explosões nucleares soviéticas. Claro que parte significativa da comunidade Ufológica discorda, sobretudo depois das várias mudanças na versão oficial.

Nesse contexto, a imagem polêmica do vídeo dificilmente pode ser considerada evidência. Mais plausível é que tenha sido incluída como recurso ilustrativo dentro do acervo, juntando material que parecer ser a preparação de um documentário.

Mesmo assim, o vídeo liberado pelo NARA reacendeu discussões e empolgou o público, apesar da pouca chance de se tratar de um registro autêntico do local da queda em Roswell. A discrepância com os relatos originais, a natureza compilatória do material e a ausência de validação compatível com as investigações anteriores dos ufólogos indicam que estamos diante de mais um capítulo de ruído e especulação, e não de revelação.

Enquanto a busca por respostas definitivas sobre 1947 segue em aberto, o episódio mostra que Roswell ainda tem força para mobilizar imaginação e alimentar debates — mesmo quase oito décadas depois.

Redação Vigília

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