Anúncio enigmático de descobridor da Anomalia do Mar Báltico gera frenesi na Ufologia

Anúncio enigmático de descobridor da Anomalia do Mar Báltico gera frenesi na Ufologia
Única imagem conhecida da Anomalia do Mar Báltico (credito_ Reprodução X.com/SUAPS)

No último sábado, 20 de julho, o mergulhador sueco Dennis Åsberg, cofundador do grupo Ocean X, publicou uma mensagem alarmante na plataforma X que rapidamente acendeu os radares das comunidades ligadas a temas ufológicos e conspiratórios. O tom da publicação não deixava margem para interpretações modestas: Åsberg afirmava ter feito uma descoberta “absolutamente avassaladora”, algo que “talvez não devesse ser revelado à humanidade”.

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A declaração, além de teatral, evocava um suposto envolvimento da renomada astrônoma Beatriz Villarroel — pesquisadora associada ao Instituto de Astrofísica das Canárias e conhecida por estudos no campo do SETI e objetos desaparecidos de catálogos astronômicos — o que elevou a temperatura da especulação nas redes a níveis termonucleares. O frenesi não foi injustificado. Åsberg participou da equipe que descobriu a polêmica Anomalia do Mar Báltico, uma história que há mais de 10 anos é especulada ter implicações “não humanas”.

No entanto, nada de concreto foi dito. Nenhuma evidência foi apresentada. Nenhum detalhe, coordenada ou dado técnico. Apenas o tipo de frase incendiária que a internet mais gosta: vaga, dramática e passível de ser moldada ao gosto das mais delirantes teorias. Nas horas seguintes, a rede foi inundada por vídeos, postagens e interpretações diversas, quase todas apontando para uma suposta conexão direta entre esse “evento catastrófico” e a célebre Anomalia do Mar Báltico.

 


O problema? Em momento algum Åsberg mencionou a anomalia submersa. Mas sua fala implicou a colega astrônoma inequívocamene, com o detalhe provavelmente calculado de que ela própria está ligada à busca por inteligências extraterrestre num dos poucos esforços SETI (do inglês Search for Extraterrestrial Intelligence) ainda ativos no mundo.

Uma nova (e oportuna) mensagem

E foi justamente nesse ponto de histeria digital que, como quem volta de um passeio vespertino, o próprio Åsberg retornou às redes sociais para segundo ato: anunciar que uma nova expedição ao local da chamada Anomalia do Mar Báltico está sendo organizada, graças ao que ele descreveu como “incríveis patrocinadores anônimos”. O contraste entre o clima apocalíptico do dia 20 e o tom meramente entusiasmado do anúncio feito dois dias depois não poderia ser mais gritante — e, convenhamos, decepcionante.

Neste 23 de abril, Åsberg decretou que o “mistério da Anomalia do Mar Báltico será finalmente desvendado”, mas sem indicar qualquer evidência nova, metodologia, cronograma claro ou justificativa técnica que sustentasse a grandiosidade da promessa. Agora, reforça que a nova empreitada deverá ocorrer até o final de 2025, desta vez com o apoio da Society for UAP Studies (SUAPS), organização que se apresenta como voltada à pesquisa rigorosa de Fenômenos Anômalos Não Identificados. A SUAPS promete oferecer “consultoria científica e supervisão ética” ao projeto, mas, até o momento, também não apresentou informações concretas que permitam avaliar a seriedade ou o escopo dessa colaboração.

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O que é a Anomalia do Mar Báltico, afinal?

A Anomalia do Mar Báltico trata-se de um suposto objeto circular de 60 metros de diâmetro descoberto em 2011 pela equipe de caçadores de tesouros submarinos “Ocean X”, a uma profundidade que pode variar de 85 a 90 metros segundo a fonte consultada. Embora a localização exata nunca tenha sido completamente revelada por Peter Lindberg, um dos fundadores da equipe Ocean X, para garantir a exclusividade da possível descoberta, sabe-se que está na área do Golfo de Bótnia, entre a Suécia e a Finlândia.

Enquanto muitos especulam que seja um OVNI afundado, um portal, ou resquícios de uma civilização perdida, a maioria dos cientistas, incluindo geólogos, sugere que é uma formação rochosa natural moldada por processos glaciais. Curiosamente, a equipe original relatou que equipamentos eletrônicos falham perto do objeto, alimentando as teorias de conspiração. Embora a explicação científica predominante aponte para uma origem natural, a falta de uma exploração conclusiva e a retirada de algumas informações do domínio público continuam a intrigar o público.

Houve quem comparesse a imagem obtida através de um sonar com a nave Millennium Falcon de Star Wars, e as alegações de interferência eletromagnética assim como os relatos de sintomas físicos nos mergulhadores beiram o folclore. Ainda assim, o mito persiste, alimentado em grande parte pela ausência de dados concretos e pelo vácuo de explicações técnicas satisfatórias.

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Algumas análises científicas mas nenhum artigo revisado

Do ponto de vista científico, a Anomalia do Mar Báltico foi analisada por poucos especialistas científicos. Volker Brüchert, geólogo da Universidade de Estocolmo, recebeu amostras do objeto e concluiu que se tratava de granitos, gnaisses e arenitos — rochas glaciais comuns na região. Em suas palavras: “Não vi nada de misterioso nas amostras. Na verdade, fiquei surpreso com o alarde”. Outros pesquisadores, como Martin Jakobsson e Fredrik Klingberg, chegaram a conclusões semelhantes, classificando o objeto como uma provável formação rochosa natural esculpida pela ação glacial.

Apesar disso, os membros da equipe de mergulhadores seguem garantindo que as amostras analisadas pelos críticos nunca foram do objeto em si, mas do terreno próximo.

Em outra tentativa da comunidade científica de avaliar o tema, Hanumant Singh, do Instituto Oceanográfico Woods Hole, declarou que a imagem de sonar usada para basear todas essas teorias “não é confiável”, devido ao uso de “instrumentos imprecisos e baratos”. Por outro lado, o geólogo Steve Weiner, que trabalhou brevemente com a Ocean X, chegou a alegar que o objeto era composto por “materiais que não existem na Terra”, como a limonita e a goetita em formas supostamente anômalas — o que foi prontamente refutado por outros especialistas, inclusive da própria Suécia.

Contudo, em qualquer um dos dois extremos de opiniões, essas interpretações jamais foram publicadas em periódicos científicos com revisão por pares. A ausência de documentação formal alimenta o ciclo de desconfiança e reforça o argumento dos que veem o caso como encoberto por autoridades ou sabotado por forças desconhecidas — mais uma vez, sem provas.

A anomalia e a cientista das estrelas que desaparecem

Enquanto isso, Beatriz Villarroel, cujo nome foi invocado no anúncio de Åsberg, ainda não se manifestou publicamente sobre a suposta interação com o mergulhador. Dada sua reputação como cientista rigorosa e suas pesquisas anteriores — como o projeto Vanishing & Appearing Sources (VASCO) — é improvável que ela esteja envolvida em qualquer empreitada que careça de rigor metodológico e documentação verificável.

Um de seus trabalhos mais recentes trata justamente de objetos celestes, geralmente estrelas, que momentaneamente desaparecem e reaparecem no espaço, como se estivessem sendo ofuscadas por algum objeto transitando à sua frente. Muitas fontes estão especulando que sua busca diz respeito à possibilidade da visão desses sóis ter sido atrapalhada pela passagem de um (ou mais) artefatos inteligentemente manufaturados e guiados, como sondas ou naves espaciais extraterrestres, Mas enquanto o silêncio perdurar, o burburinho continuará.

Resta saber se a tal “descoberta que não deveria ser revelada à humanidade” será mais uma peça do folclore moderno, ou se desta vez teremos algo concreto — seja no fundo do Báltico ou no vácuo do espaço. Até lá, seguimos observando, com uma dose saudável de ceticismo e sem perder o faro para histórias mal contadas.

Jeferson Martinho

Jornalista, o autor é empresário de comunicação, dono de agência de marketing digital e assessoria de imprensa, publisher de um portal de notícias regionais na Grande São Paulo, fundador e editor do Portal Vigília. Apaixonado por Ufologia de um ponto de vista científico, é autor do livro "Nem Todo OVNI é Extraterrestre - Um guia para entusiastas da ufologia que não querem ser iludidos", disponível na Amazon.

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