Brasileiros entusiastas da astronomia capturam objetos anômalos em sequência

Em um espaço de poucas semanas entre agosto e setembro de 2025, o céu do Brasil se tornou palco de dois registros anômalos bastante curiosos capturados por entusiastas da astronomia amadora. Os episódios, que se tornaram amplamente virais nas redes sociais e em fóruns especializados, envolvem movimentos incomuns no céu noturno e levantaram muitas questões sobre a natureza dos objetos não identificados.
No caso mais recente, o youtuber de Barra do Ribeiro, no Rio Grande do Sul, Diego San Araujo, transmitia uma live de observação celeste quando um ponto luminoso com movimentos erráticos surgiu em sua câmera guia. O canal de Araújo sempre manteve uma linha editorial criteriosa e didática para a divulgação da astronomia, mostrando de forma lúdica, ao vivo, como fenômenos celestes incríveis — mas identificáveis — podem ser explicados com o uso de ferramentas adequadas e experiência de observação.
Nos últimos meses, Araújo ganhou ainda mais destaque ao se tornar um dos primeiros youtubers brasileiros a registrar ao vivo o polêmico 3I/Atlas. O objeto interestelar ainda divide narrativas até mesmo entre os próprios cientistas, com alguns pesquisadores especulando que ele poderia ser diferente de um cometa e até um artefato produzido artificialmente.
O objeto que “sambou” na live de Diego San Araújo
Nas suas lives, além do telescópio e instrumento de busca digital de corpos celestes, Diego utiliza um equipamento altamente modificado para captar a esfera celeste, identificar e auxiliar na busca de alvos para as observações com o equipamento ótico apropriado. Modificada no estilo DIY, a câmera em questão é descrita por ele como “estilo câmera de segurança”, sem marca definida. Ele explicou ao Portal Vigília que ela foi adaptada com a remoção de diodos infravermelhos e alterações nas peças para buscar “a maior exposição possível de luz”. Seu objetivo é utilizar a câmera como “câmera guia para pegar estrelas”.
Durante a transmissão, essa mesma câmera capturou uma luz que ele nunca havia observado nas dezenas de lives que publicou anteriormente. O objeto chamou atenção por seu comportamento estranho, “dando piruetas no ar e sambando para um lado e para o outro”. Por vezes, o objeto parecia apagar e acender, parar em pleno voo ou mudar de intensidade de luz. Diego inicialmente descartou a hipótese de inseto, pois o objeto estava “muito alto no céu” e não apresentava o rastro comum nos registros de insetos em vídeos de longa exposição por causa da alta velocidade angular (porque os insetos normalmente estão próximos da câmera), diferença que ele inclusive demonstrou quando insetos de fato surgiram na tela durante a live.

O Portal Vigília investigou o fenômeno, levantando a possibilidade de ser um morcego, uma das hipóteses que o próprio Diego considerou na live. Analistas que colaboraram com a reportagem notaram que o movimento errático era similar ao de uma pipa fazendo acrobacias e refletindo luz, mas um teste prático realizado pelo pesquisador e especialista em imagens Jorge Uesu Jr. registrou um morcego caçando à luz do dia, demonstrando como o animal exibe um padrão de voo extremamente parecido com aquele demonstrado pelo objeto filmado.
À noite, a presença do animal, somada à sensibilidade aumentada da câmera modificada de Diego, poderia fazer com que o pequeno mamífero voador se destacasse no céu apenas pela reflexão da luz do ambiente da live do youtuber ou, o que é mais provável, segundo o próprio streamer, pela reflexão das luzes da cidade, dada a altitude de voo do animal.
A opinião do especialista em morcegos
Para dar peso à hipótese, o Portal procurou um especialista. O biólogo Itiberê Piaia Bernardi, doutor em Ecologia e Conservação e professor da PUC-PR, confirmou a plausibilidade da explicação. O biólogo, que trabalha com morcegos há mais de 20 anos, acredita que o objeto pode ser de fato “um morcego da espécie Molossus molossus, de hábitos noturnos”.
Essa espécie, popularmente conhecida como morcego-de-cauda-grossa, é carnívora e alimenta-se unicamente de insetos. Sua adaptação a áreas urbanas se deve à alta presença de insetos, geralmente atraídos pela luminosidade das cidades. Segundo ele, o voo de caça do animal, que envolve guinadas, acelerações e paradas rápidas, é compatível com o registro.
A duração prolongada do avistamento (mais de 30 minutos no campo de visão) também foi questionada, mas o biólogo esclareceu que é totalmente compatível com o padrão de caça. Se o animal encontra uma área rica em alimento, ele pode permanecer na mesma região por muito tempo.
A noite em que Diego fez o registro pode explicar a contenção do voo de caça a uma área restrita, ao alcance da câmera. O clima na data do avistamento — céu totalmente limpo, sem nuvens e sem vento, com temperaturas não muito frias e em ascensão pela mudança de estação — era “perfeito para os bichos”, segundo o especialista, facilitando o surgimento de nuvens de insetos e, consequentemente, oferecendo um demorado banquete para o morcego.
Apesar da forte evidência biológica, o próprio astrônomo amador, Diego, encerra a discussão com uma pulga atrás da orelha:
“Eu já fiz dezenas, dezenas, dezenas e dezenas de lives, muitas lives usando essa câmera. E eu nunca peguei nada parecido, o que é estranho, porque já fiz muitas lives, nunca peguei. Foi a primeira vez e única… Então é estranho, né? Porque por que que não apareceu antes? Tantas e tantas e tantas lives usando isso, nunca apareceu. É estranho aparecer isso agora”.
Uma esfera que emergiu de cratera na Lua
O episódio na live de Diego ocorreu poucas semanas após outro brasileiro registrar um fenômeno de natureza radicalmente diferente, mas igualmente anômala. Em 3 de agosto de 2025, por volta das 21h30, o entusiasta de astronomia Ericson Caldana, morador de Alphaville (Barueri, SP), conseguiu filmar algo completamente inusitado: um objeto saindo de uma cratera lunar.
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Ericson estava observando a Lua com seu telescópio Greika 70070 e usando um smartphone Moto Edge 30 para filmar. Em entrevista ao ufólogo Edison Boaventura, Ericson relatou ter tido uma “intuição muito forte” para focar em uma cratera específica na “parte norte da Lua”.
Claro que a parte da “intuição” é subjetiva e dificilmente comprovável, mas é fato que antes do flagrante, Ericson afirmou que já havia avistado outro objeto que passou na frente da Lua, descrevendo-o como “similar ao U.S. B-2 Spirit” ou “possivelmente um satélite”. No entanto, ele não conseguiu registrar esse primeiro avistamento.
Então, ao ajustar o zoom no telescópio, focado na cratera, o evento principal se desenrolou. Ericson descreveu a cena:
“Quando eu aproximo de novo, sai um objeto lá de dentro. Então eu costumo dizer que é um pouco de sorte, um pouco de intuição, né? Quando eu dei zoom novamente, eu vi nitidamente um objeto esférico e luminoso emergindo de dentro da cratera. Ele continuou a ascender, brilhando intensamente, e parecia estar se movendo diretamente para o espaço”.
Infelizmente, segundo conta, a filmagem foi interrompida de forma abrupta porque o celular, não configurado para gravação contínua, “desligou automaticamente para poupar bateria”. Ele também não conseguiu gravar o vídeo em qualidade superior no próprio Motorola, que estaria sem armazenamento. Então, as imagens que manteve foram feitas gravando a tela do dispositivo usando outro celular.
Ericson tem um histórico de avistamentos anômalos. Ele já havia visto, segundo contou, “vários objetos estranhos no céu”. Ao pesquisador Edison Boaventura, contou que em um episódio anterior, por volta das 5h30 da manhã, filmou um cometa e notou um “objeto embaixo” que o intrigou.
Outro avistamento teria ocorrido na Granja Vianna (na divisa entre as cidades de Carapicuíba e Cotia, ambas vizinhas de Barueri), onde ele diz que “sentiu uma intuição para olhar para o céu”, e, ao começar a filmar, “a parte inferior do objeto escureceu, e apenas a parte superior permaneceu visível”. A filmagem desse evento foi exibida durante sua entrevista, mas mostra apenas um ponto de luz indistinto no céu em movimento lento e retilíneo.
Ele também conta que, entre 2009 e 2012, no Butantã (São Paulo), viu um objeto brilhante, mas estava com “quatro ou cinco pessoas” e foi o único que conseguiu vê-lo.
Contexto histórico das “anomalias espaciais”: da Phobos 2 às fraudes por CGI
O avistamento de Ericson sobre a Lua evoca uma longa história de especulações sobre atividades não terrestres em nosso satélite, atualmente bastante fora de moda depois da incrível melhora na resolução dos equipamentos terrestres de monitoramento do astro e das sucessivas missões de diversos países enviando sondas e veículos remotamente operados à órbita lunar e à sua superfície.
Especialistas em ufologia já consideraram que, se civilizações tecnologicamente avançadas estivessem explorando o cosmos e quisessem discrição, a Lua seria um local ideal para ser uma base para estudar e monitorar o corpo celeste que orbita, ou servir como ponto de parada, ou uma ponte.
Além disso, histórias de imagens de corpos estranhos atuando onde não deveria haver qualquer outra coisa no espaço já foram bem populares. Um dos encontros mais notórios que alimentou a imaginação pública sobre atividades espaciais incomuns ocorreu em 1989. A sonda russa Phobos 2, ao se aproximar da lua marciana Fobos, teria capturado imagens de estruturas estranhas, incluindo uma sombra alongada, pouco antes de perder contato com a Terra e ser dada como perdida.

Mais recentemente, no contexto de observações da Lua, a maioria dos vídeos que mostram OVNIs em atividade no satélite tem sido considerada fraude, inicialmente efeitos digitais com edição por software especializado — também chamado “CGI”, sigla em inglês para “Imagens Geradas por Computador”.
Com o avanço tecnológico, as falsificações ficaram ainda mais sofisticadas, intensificando o desafio de autenticação, incluindo a criação de imagens falsas por meio de inteligência artificial (IA), que vão desde impactos de meteoros ou o satélite explodindo, até pequenos objetos passando em frente à imagem do astro contra um céu noturno.