Datação controvertida: Esfera de Buga teria mesmo 12.560 anos?

Datação controvertida: Esfera de Buga teria mesmo 12.560 anos?
A Esfera de Buga - às vezes no cofre, outras como enfeite de mesa (reprodução - Youtube)

No início de 2025, um objeto metálico incomum conhecido como “Esfera de Buga” capturou a atenção dos entusiastas da Ufologia após ser recuperado na cidade de Buga, Colômbia, no departamento de Vale do Cauca. O artefato, que segundo testemunhas foi filmado realizando movimentos em ziguezague no céu em março, foi rapidamente recolhido e transferido para uma investigação aprofundada. Recentemente, os resultados de um teste crucial de datação foram amplamente divulgados, situando o material associado ao objeto em uma antiguidade impressionante: aproximadamente 12.560 anos.

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A análise temporal, conduzida pela técnica de Espectrometria de Massa por Aceleradores (AMS) em um laboratório dos Estados Unidos, focou-se em uma amostra orgânica — uma resina ou polímero — e não no corpo metálico central da esfera. O objetivo do estudo era determinar a idade de um objeto supostamente de engenharia complexa, marcada pela ausência de soldagens ou juntas visíveis e por uma estrutura interna com um núcleo semelhante a um “chip”, desafia o conhecimento tecnológico humano convencional.

Contudo, o resultado de 12.560 anos, associado à figuras controversas da ufologia, desencadeou um intenso debate e sérios questionamentos sobre a validade científica da cronologia apresentada.

A esfera e o resgate (ainda) sob suspeita

O objeto misterioso é uma esfera prateada de tamanho considerável, excedendo as dimensões de uma bola de basquete, apresentando uma superfície gravada com figuras que evocam um desenho de microchip ou circuitos eletrônicos. Em seu interior, a esfera seria notavelmente complexa, composta por três camadas concêntricas de material metálico denso. Por fora, nota-se basicamente alumínio e marcações rudimentares.

A esfera foi recuperada em circunstâncias dramáticas, com relatos de manobras em ziguezague no ar e uma descida gradual após, supostamente, ter tido contato com um cabo de alta tensão de 10.000 volts, o que teria causado um pequeno orifício e desativado seus sistemas de levitação. Essa informação, aliás, é nova. Quando de sua divulgação inicial, basicamente chamava a atenção apenas sua relação com uma empresa que prometia sensores até para aparições sobrenaturais.

Jaime Maussan, pesquisador da área ufológica, relatou que o objeto pesava dois quilos no momento da queda, mas seu peso aumentou para 10,13 quilogramas depois de algumas horas. Além disso, os indivíduos que a encontraram, pessoas simples, teriam começado a sofrer ameaças e a receber ofertas de compra, com advogados chegando a reivindicar a esfera sob a alegação de ser uma tecnologia reversa de propriedade de uma empresa desconhecida. Novamente, mais “mistérios” adicionados muito depois, já quando da realização de uma problemática “conferência de imprensa” que tinha de tudo, menos imprensa ou cientistas independentes.

Conferência de imprensa sobre a esfera de Buga - um espetáculo midiático, sem dados novos e sem imprensa (reprodução Youtube/Maussan Television)
Conferência de imprensa sobre a esfera de Buga – um espetáculo midiático, sem dados novos e sem imprensa (reprodução Youtube/Maussan Television)

A custódia do artefato teria exigido medidas extremas de segurança, com Maussan, o responsável por levar a esfera para o México, financiando seguranças 24 horas por dia e mantendo o objeto em um cofre específico — ou sobre uma mesa na sala de seu estúdio. A necessidade de tais precauções teria sido confirmada por tentativas de roubo, descritas como “cena de filme”. Ao mesmo tempo, a manipulação do objeto desde o início tem sido marcada por eventos estranhos, como o relato de que o “senhor José”, um dos primeiros a ter contato com a esfera, sofreu o apagamento de suas impressões digitais, além de vômitos, dores de cabeça e diarreia. Nada disso aconteceu, no entanto, com Maussan ou qualquer um dos cientistas que ele convidou para as análises.

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Apesar do fascínio gerado pelos relatos de suas propriedades físicas, o envolvimento de figuras como Jaime Maussan, personagem controverso da cena ufológica mundial, reforça o ceticismo na comunidade científica. Maussan, que se considera o custodiante da esfera “da humanidade”, tem sido associado a muitas fraudes e erros de interpretação, e o fato de o contexto da investigação ter interesses fortes e controvérsias levanta dúvidas sobre a integridade da cadeia de custódia e a imparcialidade das análises.

A fragilidade da cronologia do Carbono-14

O método de datação por Carbono-14 é um instrumento poderoso, mas só é aplicável a materiais orgânicos que um dia fizeram parte da biosfera. O carbono radioativo, que se desintegra a uma taxa constante após a morte do organismo, é inútil para datar metais. Por esta razão, o teste na Esfera de Buga concentrou-se no material supostamente orgânico encontrado, o que se revelou a principal fonte de contestação sobre a data de 12.560 anos.

A confusão sobre a amostra testada é um dos pontos mais frágeis da alegação cronológica. Embora tenha sido reportado que a amostra era uma resina, um relatório circulante a descreveu como “foraminífero” (de pequenos organismos marinhos), o que soa bastante estranho. Além disso, quando das análises iniciais, cientistas convidados por Maussan para tais testes consideraram o material como “bakelite”, uma resina plástica derivada do petróleo.

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Detalhe da suposta estranha esfera da Colombia 2025 com caracteres desconhecidos
Detalhe da esfera de Buga, 2025, com caracteres desconhecidos (Reprodução – Facebook)

Caso o material fosse um polímero sintético, como o bakelite, derivado de fontes fósseis, ele não conteria radiocarbono mensurável, resultando em uma datação tecnicamente inválida ou uma “idade infinita”. Além disso, resinas podem facilmente misturar carbono recente e carbono fóssil, simulando falsamente uma idade elevada. Críticos argumentam que a adesão de material orgânico antigo a um objeto moderno é uma “técnica conhecida para falsificar a idade de um artefato”.

A origem das análises

Os problemas se estendem à documentação e à metodologia de divulgação, que careceu da transparência esperada para uma descoberta histórica. O ufólogo Steven Greer, cuja organização divulgou o relatório, foi criticado por seu viés e pela falta de protocolos claros. O documento da análise circulou com “bandeiras vermelhas”, incluindo o uso de um logotipo desatualizado da Universidade da Geórgia (UGA), erros de ortografia no nome da empresa parceira de Greer (“Sirius Technoligy”), e inconsistências na linguagem do modelo. Cientistas sugerem que, sem a confirmação se a resina é “natural… ou sintética” e sem o envio de “amostras para dois laboratórios independentes com protocolos claros”, o valor temporal não possui peso científico.

Steven Greer denuncia existência de uma fraude cósmica no argumento de ameaça extraterrestre. Uma operação invasão de bandeira falsa
Steven Greer

Ademais, datações radiocarbônicas, como os 12.560 anos apresentados, são apenas “idades brutas de laboratório” e requerem calibração com curvas específicas (como a IntCal) para serem convertidas em anos reais de calendário. Mesmo em arqueologia convencional, o método do carbono-14 enfrenta problemas de variação atmosférica e contaminação, que podem levar a distorções significativas. A confiabilidade de um resultado é, portanto, diretamente proporcional à qualidade do material datado, do pré-tratamento químico realizado para remover contaminantes, e da transparência em cada etapa, condições que parecem altamente comprometidas no caso da Esfera de Buga.

A data de 12.560 anos (AP) aproxima a esfera ao período do Younger Dryas e a coloca em uma era onde as ocupações humanas, como as descobertas no Sítio Arqueológico Justino, em Sergipe (datadas em 12.220 ± 50 AP), eram restritas a caçadores-coletores. A sugestão de que uma tecnologia tão avançada quanto a da Esfera de Buga, com estruturas metálicas de alta densidade e sem soldas, pudesse coexistir com os primeiros grupos humanos do Pleistoceno tardio que ainda dependiam de ferramentas líticas rudimentares (Poliedros, Subesferoides, Esferoides e Bolas – PSEB) desafia o paradigma da evolução tecnológica e claramente induziria a conclusões “não-humanas”.

Dada a evidência de inconsistências nos relatórios, a natureza questionável do material orgânico analisado (resina/polímero) e o conflito de interesses de quem divulgou a datação, o número de 12.560 anos deve ser recebido com profundo ceticismo. Enquanto a investigação da Esfera de Buga “destaca a importância da curiosidade científica”, a falta de protocolos científicos rigorosos e a ausência de uma revisão independente (ou peer review) mantêm a datação sob intensa suspeita, sugerindo que ela pode ser apenas um artefato numérico, sem valor probatório real para a idade do objeto metálico.

Redação Vigília

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