Explosão no céu: o que caiu em Morretes (PR)?

Na tarde do dia 1º de agosto, testemunhas em Morretes relataram ouvir uma explosão “no céu” e avistar uma fumaça saindo da mata na região. No mesmo dia, o episódio atraiu a atenção da mídia, com equipes de TV fazendo a cobertura in loco, incluindo inserções ao vivo nos canais de TV aberta. Isso não impediu, porém, que os rumores rapidamente gerassem uma reação desproporcional, com especulações na Internet sobre a suposta queda de um OVNI na área. Surgiram até boatos sobre um possível acobertamento militar.

A exploração sensacionalista foi tamanha, que rapidamente a pergunta “O que caiu em Morretes” virou tema de discussões em diversos grupos de Ufologia, alimentada por reproduções de publicações de pessoas alardeando “informações em primeira mão” de testemunhas barradas pelo Exército no local, ou equipamentos de vídeo e celulares sendo confiscados. Curiosamente, nada disso encontrava respaldo na cobertura real – intensa – da mídia local, nem nos relatos de comerciantes que o tempo todo continuaram a desenvolver suas atividades na Estrada da Graciosa (rodovia PR-410), região onde a explosão foi ouvida.
O fato ocorreu próximo ao Recanto Engenheiro Lacerda, onde uma das primeiras testemunhas, o Sr. Sidnei de Paula, atendeu prontamente as equipes de reportagem e o Corpo de Bombeiros. Sidnei, um comerciante local, foi um dos primeiros a notar o barulho, pensando que pudesse ter ocorrido um acidente na rodovia. Ele saiu do comércio para verificar, mas não encontrou nada na estrada.
No estacionamento do recanto havia alguns carros e ciclistas guardando suas bicicletas nos veículos. Sidnei perguntou se também ouviram o barulho e se estavam bem, confirmando que todos ouviram o estrondo, mas não notaram nada anormal. Foi então que todos notaram uma pequena faixa de fumaça numa área de mata nos fundos do recanto, visível bem próxima de onde estavam.
Apesar da proximidade com a rodovia, o local está numa parte de aclive já perto do início da subida da montanha. É uma região de serra, com Mata Atlântica fechada e bem preservada, de difícil acesso, não recomendada para pessoas sem experiência em montanhismo e trekking.
Foi o Sidnei quem acionou a Polícia Rodoviária Estadual que, ao chegar ao local, também observou a fumaça na mata e chamou o Corpo de Bombeiros, acreditando que uma aeronave pudesse ter caído na região. No entanto, após quatro dias de buscas intensas, nenhum sinal de queda de objeto ou aeronave foi encontrado.
“Não existe nenhuma aeronave desaparecida, não há árvores quebradas, área queimada, destroços localizados na região ou sinais no solo. E por isso as operações serão suspensas”, informou o Corpo de Bombeiros ao final da tarde do mesmo dia.
Em nota a imprensa, FAB negou ocorrência de acidente
Acionada pelos veículos de imprensa, a Força Aérea Brasileira (FAB) negou ter sido notificada sobre qualquer incidente ou acidente aéreo na região. A informação veio do 5º Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA V), órgão regional do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), da FAB, localizado em Canoas, no Rio Grande do Sul. O Cindacta – Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo – também confirmou que não havia registro de acidente na região.
O Batalhão de Polícia Militar de Operações Aéreas (BPMOA) utilizou uma câmera térmica durante um sobrevoo da região para auxiliar nas buscas. Nas imagens, mesmo sem encontrar qualquer anomalia na área exata do suposto acidente, onde a fumaça fora vista anteriormente, a operação ampliou a área de varredura e nada anormal foi localizado.
Nos dias 3 e 4 de agosto, sábado e domingo, o Corpo de Bombeiros retomou as buscas. Segundo o major Gabriel, do Grupo de Operações de Socorro Tático (Gost), as equipes de resgate sobrevoaram o local e expandiram a procura, chegando a fazer a varredura em uma área superior a 200 mil m².
Grupo faz pesquisa de campo detalhada em Morretes
A busca intensa foi prejudicada pelas condições climáticas. O local está sujeito a neblina espessa em vários momentos do dia. Mas a cobertura midiática não deu trégua. Ainda assim, na ausência de evidências concretas, boatos e teorias da conspiração começaram a se espalhar rapidamente nas redes sociais. Alguns chegaram a afirmar que o Exército havia cercado a área e recuperado destroços e corpos, e que se tratava de um novo “caso Varginha”.
Diante do volume de informações que circulavam na imprensa e em perfis ligados à Ufologia nas redes sociais, o Grupo de Pesquisa Ufológica de Santa Catarina (GPUSC), representado por seu presidente, Luiz Prestes Junior, foi ao local para uma apuração realista da ocorrência. Os resultados dessa investigação deixaram claro que os relatos eram exagerados e não havia evidências concretas de qualquer fenômeno inexplicável.
“O Grupo de Pesquisa Ufológica de Santa Catarina recebeu dezenas de mensagens e questionamentos sobre o evento na região de Morretes-PR”, afirmou o GPUSC em seu relatório. “Havia viaturas do Corpo de Bombeiros e da Polícia Rodoviária Estadual no local, com bombeiros militares e civis com conhecimento em montanhismo e trekking percorrendo a mata para localizar sinal da suposta queda de um objeto”, reportaram.

Contrariando os rumores de um bloqueio do Exército, o que estava ocorrendo era bem mais convencional: “a orientação das autoridades no local era que pessoas sem experiência em montanhismo e trekking não adentrassem na mata, pois não queriam ter que acionar outra equipe para busca e salvamento de pessoas perdidas em região de serra”, esclareceu o grupo.
O trabalho de campo realizado pelo GPUSC foi essencial para esclarecer o caso e desmistificar as alegações sensacionalistas que circulavam na Internet. Eles chegaram a sobrevoar a área com um drone, mesmo em condições atmosféricas desfavoráveis, e não foram impedidos. “Não identificamos a participação de militares do Exército, indicando se tratar de fake news“, concluiu o relatório do grupo.
A importância da pesquisa ufológica séria
O episódio em Morretes é um lembrete da importância de manter um senso crítico diante de informações compartilhadas online, especialmente quando envolvem fenômenos inexplicáveis. A rápida propagação de boatos e teorias infundadas, muitas vezes com o objetivo de atrair atenção ou simplesmente por diversão, pode obscurecer os fatos reais e prejudicar investigações sérias sobre temas relevantes.
Embora seja possível que tenha ocorrido um evento meteorítico ou a queda de algum pequeno pedaço de destroço espacial, justificando o estrondo e a pequena faixa de fumaça na mata, a pesquisa do GPUSC confirmou as imagens já divulgadas na imprensa: não houve uma ampla área atingida, nem sinais de árvores quebradas ou derrubadas, abrindo uma clareira que indicasse uma queda de grandes proporções. E, mais ainda, não houve operação especial para acobertar o ocorrido.
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A relevância do trabalho de campo do GPUSC não pode ser subestimada. A equipe, ao se deslocar para a região, não apenas buscou evidências, mas também ajudou a restaurar a verdade em meio ao ruído das especulações. “Procuramos sempre fazer um trabalho baseado na ciência e na busca pela verdade”, explicou Luiz Prestes Junior ao Portal Vigília.

À medida que a sociedade se torna cada vez mais dependente das mídias digitais para obter informação, a responsabilidade de verificar a veracidade das afirmações torna-se ainda mais crucial. O caso de Morretes é um exemplo claro de como a desinformação pode se propagar e como o trabalho diligente de investigadores como o GPUSC é vital para garantir que a verdade prevaleça.