Fumaça sobre o deserto: morte, sigilo e um ‘inimigo invisível’ na Área 51?

Enquanto as chamas do incêndio “Gothic Fire” lambiam as bordas da Área 51, a fumaça que subiu pelo deserto de Nevada servia como um sombrio pano de fundo para uma denúncia ainda mais antiga e letal. Veteranos que dedicaram suas vidas à base mais secreta do mundo agora lutam contra o que descrevem como um “inimigo invisível”, um legado tóxico de sigilo que, segundo eles, matou centenas de colegas e os deixou para morrer.
Naquela que ficou conhecida como a instalação onde supostamente foi feita a engenharia reversa de naves de tecnologia não humana, a batalha atual não é contra OVNIs ou equipamentos de outro mundo, mas contra um adversário muito mais tangível: os resíduos perigosos e a radiação aos quais foram expostos seus trabalhadres.
David Crete, um sargento da Força Aérea que serviu na base de 1983 a 1988, é uma das vozes dessa tragédia silenciosa. Ele viu mais de 490 de seus colegas sucumbirem a doenças misteriosas ao longo dos anos. “É como um inimigo invisível que te ataca de dentro para fora e, quando é descoberto, muitas vezes é tarde demais”, afirmou Crete ao DailyMail.com.
As denúncias apontam para uma prática perigosa e rotineira na Área 51: a queima de resíduos tóxicos, incluindo combustível de aviação e solventes, em imensas valas abertas. Essa sensação de abandono é ecoada pelo veterano Mike Nemcic, que disse à News Nation: “É uma questão de traição. Essas pessoas sabiam e propositalmente mantiveram isso em segredo”.
O mais chocante é que, aparentemente, o governo tinha conhecimento dos riscos. Um relatório de 1975 da Administração de Pesquisa e Desenvolvimento de Energia dos EUA (a agência precursora do Departamento de Energia) reconheceu o perigo, mas concluiu que seria “contra o interesse nacional” alertar os trabalhadores sobre a contaminação radioativa.
A luta desses veteranos esbarra em um muro de sigilo intransponível. Quando buscam auxílio médico junto ao Departamento de Assuntos de Veteranos, seus pedidos são frequentemente negados. A razão é um cruel paradoxo: como seu trabalho era ultrassecreto, não existem registros públicos ou descriptografados que possam comprovar sua exposição aos agentes tóxicos, deixando-os em um limbo burocrático.
Essa não é uma batalha nova. Em 1994, o advogado Jonathan Turley representou trabalhadores da Área 51 em um processo histórico. “O governo há muito tempo trata a Área 51 como uma espécie de buraco negro legal”, declarou Turley. “Esses trabalhadores foram orientados a trabalhar com poços abertos de material tóxico, mas lhes foi negado até o mais rudimentar equipamento de proteção”. O caso acabou sendo arquivado com base no “privilégio de segredos de Estado”, uma doutrina que permite ao governo reter informações para proteger a segurança nacional.
Hoje, enquanto as equipes de emergência combatem o incêndio “Gothic Fire” dentro do Campo de Testes e Treinamento de Nevada, as alegações dos veteranos ressoam com uma urgência renovada. A fumaça visível no horizonte espelha a cortina de fumaça que encobre décadas de sofrimento. Para os homens que serviram na Área 51, o verdadeiro mistério não está nos céus, mas nos registros médicos selados e nas vidas perdidas para um inimigo que eles nunca foram autorizados a reconhecer.