Ovni Esfera de Buga: mais análises improvisadas, misturadas com teorias mirabolantes

Ovni Esfera de Buga: mais análises improvisadas, misturadas com teorias mirabolantes
O 'ambiente controlado' das análises realizadas até agora no suposto óvni 'Esfera de Buga' (Reprodução/Youtube/Maussan Television)

Em 4 de março de 2025, moradores da cidade de Buga, na Colômbia, teriam presenciado um fenômeno incomum: uma esfera aparentemente metálica pairando no céu, descendo e subindo sem qualquer mecanismo de propulsão aparente. As imagens capturadas por uma única testemunha, Don José, logo se espalharam em redes como YouTube, Reddit e TikTok, gerando debates acalorados sobre a origem e a natureza do objeto. Agora, novos vídeos liberados pelo Canal Maussan Televiosion no Youtube dão mais informações a partir de novas análises da esfera metálica.

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Pelos vídeos, fica claro que tais medições não estão sendo feitas em um laboratório especificamente preparado. Aparentemente, os analistas convidados têm trabalhado no próprio estúdio do jornalista e divulgador ufológico Jaime Maussan, atualmente em posse do objeto. Nas imagens, o artefato aparece sobre uma mesa de reuniões com diferentes equipamentos e monitores dispostos ao seu redor.

Análises na Esfera de Buga claramente conduzidas num escritório, ou estúdio, sobre mesa de reuniões improvisada como bancada (Reprodução/Youtube/Maussan Television)
Análises na Esfera de Buga claramente conduzidas num escritório, ou estúdio, sobre mesa de reuniões improvisada como bancada (Reprodução/Youtube/Maussan Television)

Os primeiros responsáveis pela “guarda” do objeto relataram que a esfera teria provocado todo tipo de fenômeno esquisito: de “evaporar a água” ao entrar em contato com poças no chão, a comportamentos como mudar de peso, adoecer pessoas ou apresentar algum tipo de emissão eletromagnética, aumentando o mistério sobre suas propriedades.

Um dos vídeos capturados por Don José mostra o objeto sendo recolhido, reforçando a impressão de que se tratava de um artefato sólido e resistente. As reações variaram entre fascínio, ansiedade e ceticismo, e o caso rapidamente se tornou tema de programas especializados em Ufologia. Uma empresa fabricante de “detectores” de metais e emissões eletromagnéticas, com histórico de envolvimento em alegações paranormais, acabou delegando ao jornalista, apresentador e pesquisador de OVNIs mexicano Jaime Maussan a posse a responsabilidade de analisar o objeto.

A historia da esfera de Buga, na Colombia, que caiu num terreno baldio e supostamente causou efeitos nas testemunhas (com entrevista exclusiva)
A historia da esfera de Buga, na Colombia, que caiu num terreno baldio e supostamente causou efeitos nas testemunhas (com entrevista exclusiva)

Enquanto entusiastas defendiam a possibilidade de um objeto extraterrestre, parte da comunidade ufológica recomendou cautela, lembrando o histórico de peças duvidosas apresentadas por Jaime Maussan. Observadores destacaram que a esfera não apresentava sinais visíveis de hélices, propulsores ou quaisquer conjuntos mecânicos, o que, para muitos, reforçava a hipótese de uma tecnologia desconhecida. Por outro lado, críticos apontaram a ausência de investigação oficial por qualquer órgão governamental colombiano, levantando suspeitas sobre a autenticidade dos testes apresentados até então.

O fenômeno ganhou ainda mais repercussão quando canais internacionais de notícias e fóruns de discussão passaram a analisar frame a frame dos vídeos, em busca de indícios de montagem ou manipulação digital. Porém, até o momento, nenhuma edição forense conclusiva foi divulgada, e a esfera segue transitando entre laboratórios aparentemente improvisados, à espera de exames científicos definitivos. A falta de acesso irrestrito ao objeto alimenta tanto teorias conspiratórias quanto apelos por maior transparência nos procedimentos de análise.

Os primeiros exames de Raios-X

Convidado por Jaime Maussan para investigar a Esfera de Buga, o radiologista José Luis Velázquez Ramírez realizou uma varredura com um aparelho portátil veterinário de raios-X. Segundo seu laudo preliminar, o objeto não é oco e apresenta diversas camadas de densidades variadas, incluindo uma camada externa espessa e densa que envolve um núcleo central Velázquez descreveu a esfera como “muito rara” e “única”, sem indícios de soldaduras ou junções aparentes, o que, segundo ele, reforçaria a ideia de um processo de manufatura desconhecido.

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O equipamento utilizado, voltado originalmente para exames veterinários em animais de grande porte, não possui a mesma calibração ou sensibilidade de sistemas industriais de radiografia, como aqueles empregados em inspeções de componentes aeroespaciais. Essa limitação possível gerou críticas quanto à precisão dos resultados e abriu espaço para questionamentos sobre a real composição interna do artefato. Especialistas em radiologia industrial destacam que, em objetos metálicos de alta densidade, as imagens podem sofrer artefatos de espalhamento e subexposição, comprometendo a interpretação das camadas internas.

Segurando um aparelho portátil de Raios-X, Dr. Velásquez analisou o interior da esfera de Buga (Reprodução: Maussan Television)
Segurando um aparelho portátil de Raios-X, Dr. Velásquez analisou o interior da esfera de Buga (Reprodução: Maussan Television/Youtube)

Ainda assim, a análise inicial revelou 16 pontos ao redor de um cinturão interno, classificados como “microesferas” e interpretados como possíveis conectores entre as camadas. Em diversos fóruns, alguns usuários apontaram a semelhança entre os pontos e rebites comuns. Mesmo assim, essa configuração intrigou o pesquisador de Maussan, que sugeriu uma função estrutural ou energética para esse conjunto de microesferas. No entanto, sem o auxílio de softwares de reconstrução tomográfica avançada e sem acesso a detectores de alta resolução, permanece difícil validar de forma definitiva a presença desses elementos.

Em suma, os exames de raios-X veterinários forneceram uma visão preliminar da estrutura interna da Esfera de Buga, mas deixaram em aberto várias dúvidas sobre a exatidão das camadas apontadas e a real espessura de cada uma. A escolha do equipamento, embora acessível e portátil, foi imediatamente alvo de críticas quanto à adequação técnica, reforçando a necessidade de métodos calibrados especificamente para metais de alta densidade.

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Novas investigações sobre a dureza, magnetismo e temperatura

Parecendo ouvir às críticas sobre as deficiências da análise preliminar, Maussan agora convidou novos analistas, entre eles David Ávila Roldán, apresentado como engenheiro químico especializado em metalurgia com mais de 50 anos de experiência na indústria metalúrgica; e Alejandro Fonseca Marín, identificado apenas como especialista em metalurgia. Ambos realizaram testes de dureza Brinell, uma escala que mensura a resistência de materiais à penetração de uma esfera de aço endurecido. Surpreendentemente, as primeiras leituras teriam alcançado 333 HB (unidade Brinell), valor similar ao do “duralumínio” da série 7000, amplamente utilizado na indústria aeronáutica por sua elevada resistência mecânica.

Analistas se revezam na 'bancada' para as diferentes medições que estão sendo divulgadas pelo Canal Maussan Television, no Youtube (Reprodução/Youtube/Maussan Television)
Analistas se revezam na ‘bancada’ para as diferentes medições que estão sendo divulgadas pelo Canal Maussan Television, no Youtube (Reprodução/Youtube/Maussan Television)

Entretanto, ao aproximar ímãs de 2 000 gauss da superfície, as medições subsequentes despencaram para 27 HB, nível equivalente à maleabilidade do papel-alumínio comum. Tal variação extrema, ocorrendo sem qualquer tratamento térmico ou alteração visível da superfície, teria sido considerada pelos especialistas como uma anomalia que desafia o comportamento típico dos metais. De acordo com conhecimento consolidado, as propriedades de dureza de uma liga não se alteram drasticamente apenas pela presença de um campo magnético.

Em paralelo, a composição química detectada via espectrômetro de fluorescência de raios-X (XRF) indicou 95–97% de alumínio, 1,8% de ferro e traços de níquel, composição que não deveria resultar em atração magnética significativa Entretanto, registros mostraram que a Esfera de Buga respondia à aproximação de ímãs, comportamento que poderia remeter às ligas “Alnico” — ligas de ferro, alumínio, níquel e cobalto conhecidas por sua alta indução magnética. Essa contradição entre composição e resposta magnética é apontada como indicativa de possível contaminação ou de uma liga desconhecida.

Além disso, termografias infravermelhas teriam registrado temperaturas internas de até 33°C em ambiente de 24°C, sugerindo uma fonte de calor interna ou um fenômeno de conversão energética ainda não compreendido. Apesar disso, a falta de detalhes sobre as metodologias de medição — como emissividade configurada no aparelho — e sobre o controle da temperatura ambiente impedem avaliar se essas diferenças são reais ou reflexos de calibração inadequada. Assim, a combinação de dureza variável, magnetismo inesperado e aquecimento não explicado amplia o leque de dúvidas quanto às propriedades materiais do objeto.

Análises também por tomografia computadorizada

O Grupo C. Scanner, sediado no México, também a convite de Maussan, conduziu exames de tomografia computadorizada, técnica que utiliza raios-X em múltiplos ângulos para reconstruir digitalmente o interior de objetos. Curioso notar que o equipamento usado para esse fim aparenta ter configurações padrão para análises do corpo humano, a julgar pelos closes de câmera nas tela de resultados.

Equipamento de tomografia computadorizada mostra na tela padrões de uso para humanos, não análises industriais (Reprodução/Youtube/Maussan Television)
Equipamento de tomografia computadorizada mostra na tela padrões de uso para humanos, não análises industriais (Reprodução/Youtube/Maussan Television)

Os dados obtidos teriam confirmado que a Esfera de Buga não é oca e possui diversas camadas de material com espessura variando de 1,17 cm a quase 2 cm Essa dimensão, superior às estimativas iniciais, indica resistência a pressões elevadas, hipótese reforçada por cálculos preliminares de capacidade de suportar cargas que excederiam as empregadas em testes de profundidade submarina de 10.000 metros.

As imagens mostraram ainda 16 pinos brilhantes, identificados como cobre de alta pureza, distribuídos ao redor de um cinturão. Dois desses pinos perfuram completamente a casca externa, conectando diretamente o interior ao ambiente externo Essa característica sugere, segundo os pesquisadores, uma função estrutural ou de condução elétrica/termoelétrica, embora não haja evidências diretas de fiação ou circuitos integrados.

No centro da esfera, a tomografia revelou um artefato interno que lembra um “jarro” ou “contenedor” com densidades distintas. Essa estrutura, cuja forma exata só pôde ser conjecturada a partir da reconstrução tridimensional, é apontada pelos pesquisadores como o possível núcleo de “geração de energia” ou “campo magnético”. Ainda assim, o exame não fornece dados sobre movimentação interna, velocidade de rotação ou interações eletromagnéticas em tempo real.

Um fato notável é o quanto as análises, ainda em dados brutos e carentes de comparações — apesar da riqueza de detalhes geométricos — acabam levando às mais mirabolantes teorias e afirmações sobre efeitos que nem sequer foram observados em laboratório. A tomografia não oferece provas sobre a finalidade ou o funcionamento do dispositivo interno, por exemplo. A qualquer inferência sobre suposta “levitação eletromagnética” ou uso de princípios da mecânica quântica para “manipular a gravitação”, como os vídeos de Maussan chegam a afirmar, permanecem no campo especulativo, pois tais propriedades não podem ser aferidas apenas por imagens estáticas de densidades.

Debates metodológicos e críticas especializadas continuam

A adequação dos métodos empregados nas análises preliminares tem sido alvo de críticas contundentes. Em entrevista ao Portal Vigília o engenheiro metalurgista Sandro Gonçalves qualificou o uso de equipamento veterinário de raios-X como “ridículo”, ressaltando que o estudo de metais exige técnicas como gamagrafia industrial, neutrongrafia e microscopia eletrônica de varredura para obter resultados confiáveis. A gamagrafia utiliza fontes de raios-gama para inspeção de soldas e estruturas, enquanto a neutrongrafia faz uso de nêutrons para penetrar materiais densos sem causar danos. Nenhum desses exames foi feito até o momento.

Gonçalves também recomendou a realização de testes não destrutivos adicionais — como ultrassom de alta frequência, termografia avançada e detecção de radiação ionizante — antes de considerar conclusões definitivas sobre a composição ou o comportamento da esfera. Em paralelo, sugeriu que, caso necessário, sejam realizadas análises destrutivas controladas, como seccionamento e metalografia, mas em laboratórios universitários de excelência nos Estados Unidos ou Canadá.

Dessa forma, destaca-se a importância de envolver não apenas peritos com experiência consolidada em materiais metálicos e instrumentação de precisão, mas também uma metodologia de pesquisa acadêmica disposta a produzir dados verificáveis. A falta de padronização e calibração específica para os aparelhos utilizados pode levar a leituras falhas, interferências ambientais e interpretação equivocada de artefatos de medição. Até que análises mais robustas sejam conduzidas, a confiabilidade dos resultados permanece questionável.

ALém disso, a ausência da publicação de laudos completos em periódicos revisados por pares impede que a comunidade científica avalie criticamente os dados e reproduza os experimentos. A transparência — elemento chave do método científico — é fundamental para distinguir entre observações legítimas e artefatos de medição ou protocolos inadequados.

Hipóteses sobre a tecnologia interna

Com base nos dados preliminares, a equipe convidada por Maussan levantou diversas hipóteses sobre o funcionamento da Esfera de Buga. Entre elas, figura a ideia de que o dispositivo interno poderia gerar um campo eletromagnético de alta frequência, possibilitando levitação sem componentes mecânicos tradicionais. Essa teoria parte do princípio de que correntes induzidas em bobinas internas poderiam criar um repulsor magnético em relação ao solo, o que não tem paralelo comprobatório em nenhum estudo científico atual.

A espectroscopia mostrou composição comum, predominante de alumínio com contaminantes, mas especulações sobre funcionamento caminham para o 'fantástico' (Reprodução/Youtube/Maussan Television)
A espectroscopia mostrou composição comum, predominante de alumínio com contaminantes, mas especulações sobre funcionamento caminham para o ‘fantástico’ (Reprodução/Youtube/Maussan Television)

Outra proposta envolve a chamada “supersimetria quântica”, conceito derivado da física de partículas que postula simetria entre férmions e bósons. Para alguns pesquisadores, se parte do material interno alcançasse um “estado quântico especial”, poderia neutralizar ou condensar forças gravitacionais, explicando o movimento vertical da esfera. Contudo, na prática, nenhum experimento isolou indícios de propriedades quânticas em metassólidos em condições ambientes. Muito menos na esfera.

Há também quem mencione a possibilidade de mecanismos piezoelétricos ou termoelétricos, em que diferenças de temperatura e pressão interna gerariam correntes elétricas capazes de interagir com o campo magnético terrestre. Entretanto, até hoje, não foi detectado qualquer sinal de energia elétrica mensurável — leituras de campo eletromagnético indicaram zero volts por metro e zero microteslas. Assim, tais mecanismos carecem totalmente de fundamentação empírica.

Por fim, as inscrições na superfície — “meias-luas”, triângulos e letras — foram associadas a símbolos antigos, como a escrita Vinča ou padrões de agroglifos. Trata-se de interpretações visuais sem respaldo linguístico ou arqueológico até o momento, o que reforça o caráter especulativo dessas conexões. Ainda mais quando as gravações poderiam ter sido feitas com instrumentos rudimentares caseiros ou mesmo com uso de ácidos, conforme já havia explicado o especialista em metalurgia Sandro Gonçalves em reportagem anterior.

Conclusões e próximos passos

Em síntese, a Esfera de Buga permanece um enigma científico enquanto não for submetida a protocolos de investigação rigorosos e verificáveis. As variações extremas nas propriedades de dureza, magnetismo e temperatura podem decorrer de métodos inadequados ou interferências externas, e não necessariamente apontam para tecnologia avançada.

O exame tomográfico trouxe informações valiosas sobre a estrutura interna, mas as conclusões a partir dessas imagens ainda são apenas conjecturais. A comunidade especializada concorda que é imprescindível repetir os testes em laboratórios credenciados, com equipamentos calibrados para materiais metálicos de alta densidade, além de publicar os laudos em periódicos indexados.

A realização de análises destrutivas controladas — como cortes metalográficos — permitirá confirmar a microestrutura do material e a composição exata das ligas presentes. Somente com dados reprodutíveis e revisados por pares será possível descartar interpretações precipitadas e avançar na compreensão desse objeto supostamente anômalo.

Enquanto isso, continuam abertas as interrogações sobre se a Esfera de Buga se trata de um artefato de origem terrestre, fruto de experimentos ou interesses mercadológicos, ou realmente de algo que ultrapassa nosso conhecimento tecnológico atual. A próxima etapa dependerá da colaboração entre instituições acadêmicas, laboratórios industriais e entidades governamentais, garantindo que a investigação seja conduzida com isenção e rigor científico.

Confira, a seguir, os vídeos das novas análises:

Redação Vigília

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