OVNI no Afeganistão: especialistas afirmam que disco de Corbell e Knapp pode ser reflexo do Sol

Um vídeo inédito, vazado e divulgado em junho de 2025 pelos renomados jornalistas investigativos Jeremy Corbell e George Knapp em seu podcast “WEAPONIZED“, que se tornaram figuras proeminentes na divulgação de informações sobre Fenômenos Anômalos Não Identificados (UAPs), gerou grande burburinho e controvérsia na comunidade ufológica. A gravação, obtida de uma plataforma de reconhecimento da Força Aérea dos EUA em 23 de novembro de 2020, por volta das 16h, horário local no Afeganistão, supostamente mostrava um objeto em forma de disco manobrando através das nuvens sobre a fronteira montanhosa entre Afeganistão e Paquistão, nas montanhas Hindu Kush.
Corbell e Knapp afirmaram que o objeto, documentado pelos militares americanos como tendo a forma de um disco, executava uma guinada súbita sem qualquer rastro de calor visível. A documentação militar, à qual os jornalistas tiveram acesso, mencionava a observação de perturbação atmosférica e a ausência de assinaturas de propulsão térmica tradicionais. Corbell descreveu o movimento como “suave do que parece ser um disco” que “cai, aparentemente entra em uma cobertura de nuvens e, durante isso, muda de direção abruptamente”, chegando a “desaparecer literalmente nas nuvens e depois empurrar a nuvem para fora”. Eles ainda ressaltaram que o objeto parecia usar as nuvens para ocultação, em uma tática de “gestão passiva de assinatura”.
A filmagem, capturada por uma plataforma da Força Aérea dos EUA que não estava buscando ativamente tal objeto, simplesmente o detectou em cena. Corbell e Knapp, que tiveram mais de dois anos para analisar os vídeos, se disseram intrigados e afirmaram ter verificado e avaliado a autenticidade da filmagem, confiantes de que se trata de um vídeo militar legítimo. Eles inclusive notaram semelhanças com um relatório detalhado de Matthew Brown, um ex-oficial do DoD, que descreve um UAP grande em forma de disco (200 a 400 metros de circunferência) com comportamento similar.
A análise detalhada de Jorge Uesu
No entanto, a empolgação inicial foi rapidamente confrontada por análises céticas, especialmente a do pesquisador brasileiro Jorge Uesu, divulgada em vídeo em seu perfil do Instagram “OMG – OVNIs e Mistérios em Geral”. Uesu se dedicou a desvendar os detalhes do vídeo, que, segundo ele, embora divulgado como três vídeos, aparenta ser um único, com os outros sendo apenas ampliações da imagem original. Ele observou que a cor escura do objeto não representa sua cor real, sendo apenas uma referência de temperatura sem indicar se é quente ou frio. As imagens, vazadas, já possuíam efeitos de contraste e ampliação.
Com poucas informações além do vídeo em si, Uesu buscou a ajuda de seu amigo piloto Christian Braunstein para decifrar os dados numéricos na tela. Através das coordenadas, eles determinaram que a aeronave que filmava estava indo para o norte, mas sua câmera estava apontada para a parte de trás, com o “OVNI” localizado a sudoeste, a 7,5 km de distância. A aeronave voava a uma altitude de 6,5 km, enquanto as nuvens e o suposto objeto estavam muito abaixo, a cerca de 1 km de altitude.
Um dado crucial da análise de Uesu foi a velocidade estimada da aeronave: cerca de 1.500 km/h, baseada nas coordenadas de início e fim do vídeo. Essa velocidade é considerada muito alta para ser um drone de vigilância ou um AC-130, indicando que o provável era um caça, como um F-15. Embora alguns sites tenham divulgado o objeto com 200 a 300 metros de diâmetro, Uesu esclareceu que o tamanho real não foi divulgado e que estimativas de 7,5 metros, feitas por um perfil no X com cálculos astronômicos, provavelmente estavam incorretas por considerarem uma câmera de drone.
Apesar de os militares terem considerado o objeto em forma de disco, Uesu apontou que isso poderia ser uma distorção da imagem. A virada crucial em sua análise veio com a consideração de uma possibilidade simples, mas poderosa: o OVNI ser, na verdade, apenas um reflexo do sol na lente da câmera (um “lens flare”). Ele notou que o sol estaria exatamente na mesma direção do objeto, logo acima de onde o suposto OVNI apareceu. Essa hipótese foi reforçada pela observação de outro usuário do X, que apontou que a mudança de direção do objeto coincidia perfeitamente com o movimento da câmera. Uesu mesmo buscou vídeos de “lens flare” em imagens térmicas e confirmou que, ao ampliar apenas a parte do reflexo, ele pode, de fato, ser confundido com um OVNI.
Uesu ponderou alguns aspectos que poderiam contradizer a tese do “lens flare”, como o objeto parecer entrar e sair das nuvens e relatórios militares mencionando “disrupção atmosférica”. Também é estranho que o objeto tenha sido detectado “quase ao acaso”, sem a intenção da câmera ou do avião de segui-lo. No entanto, ele questiona como alguém conseguiria perceber um ponto tão pequeno em uma filmagem se não estivesse realmente procurando por algo. Apesar dessas ressalvas, a conclusão final de Uesu é que, “ao que tudo indica, o provável é que esse objeto seja mesmo o reflexo do sol na lente”.
Ver essa foto no Instagram
Outras perspectivas e o cenário controverso dos UAPs
A análise de Uesu não foi a única a apontar para a tese do reflexo solar. O usuário @ThomasH_Synth no X (antigo Twitter) afirmou que o “ponto” no vídeo de Corbell/Knapp é um brilho do sol posicionado em algum lugar sobre o quadro. ThomasH observou que o objeto realiza o mesmo movimento, ou o movimento inverso, da câmera, comportamento típico de um “lens glare”. Ele ainda demonstrou que, ao inverter a filmagem, as nuvens parecem nuvens normais, com as sombras corretas da posição do sol, expondo o brilho.
Outro usuário, @AeroTech_Space (The Average Chris), corroborou a tese de ThomasH, afirmando que o “disco voador” de Corbell parece ser apenas um brilho solar. Ele também destacou o movimento inverso/mesmo do objeto em relação à câmera como um indicativo clássico de “lens flare” e mencionou que a inversão da filmagem por Thomas expõe o brilho. The Average Chris levantou uma questão pertinente: “Você tem que se perguntar por que Corbell admitidamente ajustou as configurações no vídeo e até usou uma ferramenta de IA para aprimorá-lo”, sugerindo que Corbell poderia saber que se tratava de um brilho e usou a IA para criar bordas mais nítidas, fazendo parecer algo que não é. Essa desmistificação é considerada “muito difícil de refutar” e um “desmascaramento adequado” de um vídeo que chegou a ser chamado de “indestrutível” por perfis como @MvonRen do @thehill.
The dot in the new Corbell/Knapp video, is a glare from the sun which is placed somewhere over the frame.
You can see it’s doing the same or reverse motion as the camera – like a lens glare would do.If you inverse the footage, the clouds looks like clouds, with the right… pic.twitter.com/jXSSSL3pQ8
— ThomasH (@ThomasH_Synth) June 18, 2025
Essa controvérsia se insere em um ambiente já bastante acirrado na cena UAP nos Estados Unidos. A credibilidade de jornalistas e a autenticidade de vídeos e documentos são constantemente debatidas, especialmente em um período de grande escrutínio público e político.
Discussões sobre a confiabilidade de artigos que tratam da relação entre o Pentágono e os UAPs, como os publicados no Wall Street Journal, ganham força. O papel de organizações como o AARO (All-domain Anomaly Resolution Office) e seu ex-diretor, Dr. Sean Kirkpatrick, também está sob intenso debate, com a comunidade dividida sobre a transparência e eficácia de suas investigações.
Além disso, há uma aparente desaceleração nos trâmites políticos relacionados a audiências no Congresso, à proteção de denunciantes e às ações no âmbito dos programas pró-disclosure (que reivindicam a liberação de informações sigilosas a respeito do fenômeno OVNI e potenciais programas de engenharia reversa), aumentando a frustração de entusiastas e pesquisadores que buscam mais transparência governamental. Neste contexto, a rápida desmistificação de vídeos como o divulgado por Corbell e Knapp adiciona uma camada extra de complexidade e ceticismo ao já nebuloso debate sobre os UAPs.