Fiz um apanhado do tópico sobre a Cosmologia na Antiguidade de um Curso de Cosmologia que estou fazendo no Site do Observatório Nacional.
Está um pouco grandinho, mas acho que vale a pena. Nos mostra que esta questão está presente desde os alvores da humanidade, e é tida como talvez a mais importante.
A cosmologia na Mesopotâmia era muito mais sofisticada do que, por exemplo, a do Egito. Os babilônios acreditavam em um universo de seis níveis com três firmamentos e três terras: dois firmamentos acima do céu, o firmamento das estrelas, a terra, o submundo do Apsu, e o submundo dos mortos.

A Terra era um enorme plano que tinha uma forma circular. Ela repousava sobre uma câmara de água, um rio que a circunda totalmente. Em volta da Terra havia uma parede que sustentava uma cúpula onde todos os corpos celestes estavam localizados.
A Terra foi criada pelo deus Marduk como uma jangada que flutua sobre o Apsu. Os deuses estavam divididos em dois panteons, um ocupando os firmamentos e o outro no submundo.
O desenvolvimento da cosmologia no antigo Egito seguiu linhas práticas. Sua cosmologia refletia as suas crenças religiosas.
Uma vez que o deus Sol, Ra, era o mais importante dos deuses, o movimento solar anual era uma observação astronômica chave. A lenda egípcia declara que a deusa do céu Nut dá a luz Ra uma vez por ano.
Nut é representada como uma fêmea nua que se estica através do céu. O Sol, o deus Ra, é mostrado entrando em sua boca, passando através de seu corpo salpicado de estrelas e emergindo de seu "canal de nascimento" nove meses mais tarde (do equinócio da primavera ao solstício de inverno no hemisfério norte). Assim Ra se torna um deus que cria a si mesmo isto é, o universo é auto-criante e eterno.
A imagem abaixo, extraida do Livro dos Mortos, Deir el-Bahri, do século 10 a.C., mostra a deusa Nut, com o seu corpo suspenso pelo deus do ar Shu. O deus da terra Geb reclina-se a seus pés.
Na Índia, a literatura dos Vedas e a arqueologia indianas nos fornecem bastante evidências relacionadas com o desenvolvimento da ciência pelos povos que habitavam este país. Existem registros que nos permitem acompanhar estes desenvolvimentos recuando no tempo até o ano 8000 a.C.
A mais antiga fonte textual destas narrativas históricas está no Rig Veda, o livro sagrado dos Hindus. De acordo com a história tradicional o Rig Veda é anterior a 3100 a.C.
O Universo é visto como três regiões, terra, espaço e céu, que no ser humano estão espelhadas no corpo físico, a respiração (prana) e mente. Os processos que ocorrem no céu, sobre a terra e dentro da mente são tomados como estando conectados. O universo também está conectado com a mente humana conduzindo à idéia de que a introspecção pode produzir conhecimento. O universo passa por ciclos de vida e morte.
As características mais notáveis da visão Védica do universo eram:
• o Universo é grande, cíclico e extremamente velho: Os Vedas falam de um universo infinito. A visão Védica exige que o universo passe por ciclos de criação e destruição, com ciclos muito longos, de bilhões de anos. Os Puranas falam de ciclos de criação e destruição de 8,4 bilhões de anos embora também existam ciclos mais longos.

• relatividade do espaço e do tempo: Descrições mostrando que nem o espaço nem o tempo precisam fluir à mesma taxa para observadores diferentes é encontrada nas histórias de Brahmana e Purana assim como no Yoga Vasistha.
• números binários e infinito: Parece que um sistema de números binários foi usado por Pingala por volta do ano 450 a.C. A estrutura deste sistema numérico pode ter ajudado na invenção do sinal para o zero, feita pelos indianos possivelmente entre os anos 50 a.C a 50 d.C.
A idéia do infinito é encontrada nos próprios Vedas. Ele foi corretamente compreendido como aquilo que permanece inalterado se adicionarmos ou subtrairmos dele o próprio infinito.
A imagem abaixo mostra um dos conceitos hindús do Universo. A Terra, chamada por eles de Monte Meru, e as regiões infernais eram transportadas por uma tartaruga, símbolo da força e poder creativo. Por sua vez, a tartaruga repousava sobre a grande serpente, que era o emblema da eternidade. Existiam três mundos. A região superior era a residência dos deuses. A região intermediária era a Terra e a região inferior era a região infernal. Eles acreditavam que o Monte Meru cobria e unia os três mundos. No topo do Monte Meru estava o triângulo, o símbolo da criação. As estrelas giravam em volta da montanha cósmica Meru.
A cosmologia da China antiga pode ser vista na arte, arquitetura e nos escritos mais antigos deste povo. Ela está fortemente impregnada com as religiões dominantes, o Taoismo e o Confucionismo.
Existe um mito que data do século 3 a.C. que estabelece que no começo, o céu e a terra estavam unidos sob a forma de uma vasta nebulosidade na forma de um ovo. O primeiro homem sobre a Terra foi Pangu, e foi ele que separou o céu e a terra. A porção mais leve deslocou-se para cima, tornando-se o firmamento enquanto a porção mais pesada acomodou-se na parte de baixo e se tornou a terra.
Quando Pangu morreu sua cabeça se tornou as montanhas, seus olhos o Sol e a Lua, suas artérias e veias os mares e rios e seu cabelo e pele as plantas e os vegetais.
Sabemos que os chineses distinguiam entre estrelas e planetas e que eles já tinham notado o comportamento errático de vários corpos celestes. Existiam inicialmente três modelos de orientação celeste:
• Gai Tian era a teoria do firmamento em forma de domo. Ele colocava o que hoje chamamos de Ursa Maior no centro do domo celeste e a China ficava no centro da Terra.
• Hun Tian era a escola que previa um firmamento esférico com uma forma muito semelhante a um ovo de galinha onde a terra é como a gema. O firmamento era mantido suspenso por um vapor chamado "qi".
• Xuan Ye era a teoria que nos dizia que o universo era infinito e os corpos celestes estavam suspensos nele.
Em quase todas estas interpretações do firmamento, um vento ou vapor celestial sustentava os corpos celestiais.
Os chineses percebiam o céu como sendo arredondado. Ele tinha nove níveis cada um dos quais separado por um portão e guardado por um animal particular. O nível mais alto era o "Palácio da Tenuidade Púrpura". Era ai que o Imperador do Céu vivia, na constelação que hoje chamamos de Ursa Maior.

Eles acreditavam que o coração da civilização estava situado no centro da Terra e à medida que a Terra se espalhava para fora deste centro as terras e seus habitantes se tornavam cada vez mais selvagens.