Até aqui, acreditava-se que esses corpos celestes, constituídos principalmente de gases, gelo e poeira cósmica, eram formados exclusivamente no Cinturão de Kuiper ou na Nuvem de Oort – regiões longínquas do Sistema Solar, situadas depois das órbitas de Netuno e Plutão, respectivamente. Segundo o artigo que relata a descoberta, publicado na Science desta semana, os novos cometas podem trazer pistas sobre a origem da água da Terra.
Os novos cometas se formaram no Cinturão de Asteróides, situado entre as órbitas de Marte e Júpiter (arte: Nasa).

Os autores – Henry Hsieh e David Jewit, pesquisadores da Universidade do Havaí – identificaram dois novos cometas originados no Cinturão de Asteróides, batizados P/2005 U1 e 118401. A órbita desses astros em torno do Sol é quase circular, ao contrário do que acontece com os cometas formados no Cinturão de Kuiper ou na Nuvem de Oort, que têm trajetória elíptica. “Acreditamos que esse avanço seja bastante significativo para entender melhor o funcionamento do Sistema Solar”, disse Hsieh em entrevista à CH On-line. “Agora o Cinturão de Asteróides se estabilizou como terceira fonte de cometas.”
Origem da água terrestre
A descoberta da nova classe de cometas pode ajudar a entender a origem da água na Terra – objeto de impasse entre os cientistas. Alguns especialistas acreditam que ela veio do espaço, trazida por corpos celestes; outros defendem que ela se formou no próprio planeta. Os autores do estudo sugerem que sua origem pode estar nos cometas nascidos no Cinturão de Asteróides, já que o gelo presente nos meteoros dessa região tem a mesma estrutura molecular da água encontrada na Terra.
De acordo com Henry Hsieh, é provável que os cometas provenientes dessa mesma área sejam formados por gelo de iguais características. Além disso, ele argumenta que os cometas originados no Cinturão de Kuiper e na Nuvem de Oort têm órbitas bem distantes da Terra e que uma colisão entre eles e a Terra seria algo improvável; já aqueles formados no Cinturão de Asteróides, com órbitas mais próximas, teriam mais chance de se chocar com nosso planeta.
Para verificar se o gelo dos novos astros tem a mesma estrutura molecular da água da Terra, será necessário enviar uma missão espacial para coletar dados que esclareçam as reais características físico-químicas dos componentes desses cometas e até dos asteróides dessa região.
O esquema abaixo compara a órbita de dois cometas 'clássicos' (Halley e Tempel 1, em azul) com a dos três cometas formados no Cinturão de Asteróides (em vermelho). Em preto, a órbita dos planetas; em amarelo, a dos asteróides propriamente ditos (arte: Pedro Lacerda / Univ. do Havaí e Univ. de Coimbra).
