
Metrô, ah, que coisa mais chata... Não tem paisagem para distrair, é sombrio, impessoal.
Eu estava lá, naquele vagão, próximo à porta de saída. Fiquei num lugar, de pé, onde a iluminação estava fraca: algumas lâmpadas estavam apagadas, talvez queimadas, talvez por economia, afinal de contas, não chovia havia muitos meses. O risco de ‘apagão’ era iminente.
Eu estava cansado, era final de expediente e o caminho era o da volta para casa. Já havia feito a baldeação, ou melhor, a troca de um trem por outro, na estação Ana Rosa. Vinha da Consolação, desci na Ana Rosa e agora ia para a Conceição, na Zona Sul de São Paulo. De lá caminharia uns dez minutos até o estacionamento onde deixava meu carro, um velho Fiat Palio ano 97, com aquele fraco motorzinho 1.0. E de lá pegaria minha filha na escolinha como sempre fazia, para finalmente seguirmos para casa (ufa!).
De volta ao vagão sombrio, estava perdido em meu esporte favorito, ou seja, pensar em teses e teorias, quando percebi que na minha frente havia uma garota sentada. Até aí, tudo bem, fosse uma garota, um garoto, um idoso ou idosa, não faria nenhuma diferença. Mas, quando reparei melhor em sua figura enigmática, estarreci. Não foi o seu rosto de formato peculiar, ou melhor, triangular (eu juro: era um triângulo! O queixo era bem fino, as ‘maçãs’ do rosto eram protuberantes, a testa curta e larga, os cabelos lisos, curtos e negros como petróleo; a pele alva), que me chamou a atenção nem sua baixa estatura, mas sim, os olhos. Os olhos! Eram brilhantes, fosforescentes, luminosos, sei lá! Como aqueles enormes olhos azuis poderiam ‘acender’ naquela escuridão? Não estou delirando nem exagerando, seus olhos eram grandes! Grandes e azuis, como nunca vira antes! E brilhavam... Aquilo era um ET disfarçado, tenho certeza disso...
Mas o meu sangue gelou mesmo quando ela, percebendo minha estupefação, mirou-me com seus enigmáticos olhos brilhantes e, serenamente, me encarou. Queria me tranqüilizar? Não suportei o seu olhar e desviei o meu. Que fazer? Sair correndo? Mudar de lugar? Descer na próxima estação, antes da minha? Permaneci estático. Será que eu ainda respirava? Nem lembro mais... Vez ou outra arriscava um olhar, para me certificar que não estava delirando, e lá estavam, aqueles misteriosos e incomuns olhos azuis. E toda vez que os olhava, eles se voltavam para mim, encarando-me. Para minha sorte, sempre de forma tranqüila e serena.
Como o metrô é um transporte rápido, finalmente desci na minha estação, deixando para trás aquela figura enigmática, misteriosa e, por que não dizer, bela. Ao menos seus olhos de luz eram muito, muito bonitos...
