A Questão Final - Isaac Asimov
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A Questão Final - Isaac Asimov
Pessoal, com a minha primeira mensagem no fórum vai um presente.
Um dos melhores contos de Isaac Asimov, um gênio da ficção científica.
Aproveitem.
Traduzido por Gabriel de Castro Fonseca e revisado por Daniel Angelini.
A Questão Final – Isaac Asimov
A questão final foi perguntada pela primeira vez, meio que de brincadeira, em 21 de Maio de 2061, numa época em que a humanidade começava a caminhar sobre a luz. A pergunta saiu como o resultado de uma aposta de cinco dólares após um uísque, e tudo aconteceu assim:
Alexander Adell e Bertram Lupov eram dois fiéis técnicos do Multivac. Tão bem quanto um ser humano poderia, eles sabiam o que jazia atrás dos estalos e da fria e brilhante face – milhas e milhas de face – daquele gigantesco computador. Eles possuíam ao menos uma vaga noção do plano geral de retransmissores e circuitos que já há muito haviam evoluído além o ponto onde uma única pessoa poderia ter uma compreensão consistente do todo.
O Multivac era auto-ajustável e auto-corretivo. Tinha de sê-lo, pois nada humano poderia ajustá-lo e corrigi-lo rápido ou mesmo com adequação suficiente. Então Adell e Lupov trabalhavam no gigante monstruoso apenas ligeira e superficialmente, porém, tão bem quanto qualquer humano poderia. Eles o alimentavam com dados, ajustavam perguntas de acordo com suas necessidades e traduziam as respostas que eram mostradas. Certamente eles, e todos os outros técnicos, eram completamente habilitados a aproveitar a glória que era o Multivac.
Por décadas, o Multivac ajudou a projetar as naves e definir as trajetórias que permitiam ao homem alcançar a Lua, Marte e Vênus, mas após isso, os escassos recursos da Terra já não podiam mais sustentar as viagens espaciais. Muita energia era necessária para as mais longas. A Terra explorou seu carvão e seu urânio cada vez mais eficientemente, mas havia apenas um pouco de cada.
Mas vagarosamente o Multivac aprendera o bastante para responder a questões mais profundas, e em 14 de Maio de 2061, o que tinha sido teoria tornou-se fato.
A energia do Sol foi armazenada, convertida e utilizada diretamente em escala planetária. Toda a Terra deixou de queimar carvão, fissionar urânio, e ligou o interruptor que a conectava por inteiro a uma pequena estação, com uma milha de diâmetro, orbitando a Terra a meio caminho da Lua. Todo o planeta se alimentou de feixes invisíveis de energia solar.
Sete dias não bastaram para diminuir a glória disso tudo e Adell e Lupov, finalmente conseguindo escapar do trabalho e se encontrando escondidos onde ninguém pensaria em procurá-los, nas desertas salas inferiores, onde porções do poderoso corpo enterrado do Multivac apareciam. Com arquivos inativos e desacompanhados e sob estalos contentes, o Multivac também gozava de férias e os rapazes se divertiam com isso. Não tinham originalmente nenhuma intenção de perturbá-lo.
Trouxeram uma garrafa com eles, e sua única preocupação no momento era a de relaxar na companhia um do outro e da garrafa.
“É incrível quando você percebe” disse Adell. Sua face larga tinha marcas de fadiga, e ele agitava sua bebida lentamente com um bastão de vidro, observando os cubos de gelo flutuarem desajeitados. “Toda a energia que poderíamos usar, gratuitamente. Energia suficiente para, se quiséssemos, derreter a Terra até virar uma grande bola de ferro derretido, e ainda assim inesgotável. Toda a energia que poderíamos usar, para sempre e sempre e sempre.”
Lupov coçou o lado da cabeça. Ele tinha mania de fazer isso quando queria discordar de alguém, e ele queria discordar de Adell agora, parcialmente porque ele mesmo é que teve que carregar o gelo e os copos. “Para sempre não”, disse.
“Oh, diabos, quase sempre. Até o Sol apagar, Bert.”
“Não é para sempre.”
“Está bem então. Bilhões e bilhões de anos. Vinte bilhões, talvez. Está satisfeito?”
“Lupov pôs os dedos sobre os esparsos cabelos, como se para ter certeza de que sobrava algum e deu um pequeno gole em seu drink. “Vinte bilhões não é para sempre.”
“Bem, isso vai nos suprir, não vai?”
“Tanto quanto o carvão e o urânio.”
“Está certo, mas agora podemos abastecer toda espaçonave individual do Sistema Solar e ela poderá ir a Plutão e voltar um milhão de vezes sem jamais se preocupar com combustível. Você não poderia fazer isso com carvão ou urânio. Pergunte ao Multivac, se não acredita em mim.”
“Não preciso perguntar ao Multivac. Eu já sei disso.”
“Então pare de depreciar o que o Multivac fez por nós”, disse Adell, aborrecido. “Tudo correu direito.”
“Quem disse que não? O que eu digo é que o Sol não durará para sempre. É tudo o que estou dizendo. Estamos a salvo por vinte bilhões de anos, mas e depois?” Lupov apontou devagar seu indicador para Adell. “E não diga que mudaremos para outro sol.”
Houve silêncio por um tempo. Adell punha seu copo na boca só ocasionalmente e os olhos de Lupov se cerraram. Eles descansaram.
Então os olhos de Lupov se abriram com rapidez. “Você está achando que vamos mudar para outro Sol quando o nosso apagar, não está?”
“Eu não estou pensando.”
“Claro que está. Você é fraco com lógica, esse é o seu problema. Você é como o cara daquela história, que foi pego por uma chuva repentina e correu para baixo de uma árvore em um bosque. Ele não estava preocupado com nada, porque concluiu que quando sua árvore estivesse toda molhada tudo o que precisaria fazer era ir para baixo de outra.”
“Eu entendi”, disse Adell. “Não precisa gritar. Quando o Sol apagar, as outras estarão apagando também.”
“Com certeza elas estarão”, resmungou Lupov. “Todas elas surgiram depois da grande explosão cósmica original, o que quer que tenha sido, e todas terão um fim, quando todas as estrelas se apagarem. Algumas vão mais rápido que outras. Diabos, as gigantes não durarão nem cem milhões de anos. O Sol durará vinte bilhões de anos e talvez as anãs durarão cem bilhões. Mas nos dê um trilhão de anos e tudo estará escuro. A entropia tem que crescer até o máximo, isso é tudo.”
“Eu já sei tudo sobre entropia”, disse Adell, sustentando sua dignidade.
“O inferno que você sabe.”
“Sei tanto quanto você.”
“Então você sabe que tudo tem que se esgotar um dia.”
“Com certeza. Quem disse que não vão?”
“Você disse, seu pobre tolo. Você disse que tínhamos toda a energia de que precisássemos para sempre. Você disse ‘para sempre’.”
Era a vez de Adell discordar. “Talvez nós possamos reconstruir as coisas de novo um dia”, ele disse.
“Jamais.”
“Por que não? Um dia.”
“Jamais.”
“Pergunte ao Multivac. Eu te desafio. Cinco dólares se ele te disser que isso nunca poderá ser feito.”
Adell estava bêbado o suficiente para tentar, mas sóbrio o bastante para conseguir escolher os símbolos e operações necessárias para exprimir uma pergunta que, em palavras, deveria corresponder a isto: A humanidade um dia, sem dispor da energia já gasta, será capaz de restaurar o Sol à sua juventude mesmo após ele já ter morrido de velhice?
Ou talvez ela pudesse ser colocada com mais simplicidade assim: Como a quantidade total de entropia no universo pode ser diminuída maciçamente?
O Multivac caiu morto e silencioso. O lento brilho das luzes cessou, os distantes sons de estalos dos retransmissores pararam.
Então, assim que os apavorados técnicos sentiram que já não podiam mais segurar suas respirações, houve um súbito despertar de vida na impressora anexada àquela porção do Multivac. Cinco palavras foram impressas: DADOS INSUFICIENTES PARA RESPOSTA EXPRESSIVA.
“Sem vencedor”, suspirou Lupov. Eles saíram apressadamente. Na manhã seguinte, os dois praguejavam contra a dor de cabeça e a ressaca, tendo esquecido do incidente.
*
Jerrod, Jerrodine, e Jerrodette I e II assistiam à paisagem estrelada na escotilha mudar conforme suas passagens pelo hiperespaço se completavam num lapso instantâneo. De uma vez, o horizonte pontilhado de estrelas deu lugar a um único disco brilhante cor de mármore.
“Aquela é X-23”, disse Jerrod seguramente. Apertou as costas firmemente com suas mãos magricelas e seus nós dos dedos se embranqueceram.
As pequenas Jerodettes tinham experimentado a passagem pelo hiperespaço pela primeira vez na vida e estavam pouco à vontade com a momentânea sensação de estarem com os corpos pelo avesso. Enterraram suas risadinhas e perseguiram uma à outra alegremente em direção a sua mãe, gritando “Chegamos em X-23, chegamos em X-23, chegamos em...”
“Quietas, meninas”, disse Jerrodine asperamente. “Você tem certeza, Jerrod?”
“Como não?”, perguntou Jerrod, olhando de relance para bulbo de metal, embora em nada lembrasse um metal, logo abaixo do teto. Ele corria pela sala, desaparecendo pela parede em ambos os lados. Era tão comprido quanto a nave. Jerrod sabia pouco sobre aquela grossa vara de metal, exceto que era chamado Microvac; que era possível fazer-lhe perguntas, se fosse desejado; que se não fizessem, ele ainda tinha uma tarefa, de guiar a nave para um destino pré-ordenado; alimentava-se da energia fornecida por várias Estações Sub-galáticas de Energia; e que processava as equações para fazer os saltos hiperespaciais.
Jerrod e sua família só tinham que esperar e viver no conforto da seção residencial da nave.
Alguém uma vez disse a Jerrod que “ac” no fim de “Microvac” equivalia a 'computador' analógico em inglês antigo, mas ele estava à beira de esquecer disso.
Os olhos de Jerrodine ficaram úmidos quando ela olhou pela escotilha. “Não sei... Eu não me sinto bem em deixar a Terra.”
“Por que, pelo amor de Pete?” perguntou Jerrod. “Nós não tínhamos nada por lá. Teremos de tudo em X-23. Você não estará sozinha. Não será uma pioneira. Já há mais de um milhão de pessoas naquele planeta. Meu Senhor, nossos bisnetos já estarão procurando por outros mundos, quando X-23 ficar superpovoado”. Após, uma pausa para refletir, “Vou te dizer uma coisa, é muita sorte os computadores terem permitido nossas viagens espaciais, pelo modo como nossa espécie está crescendo.”
“Eu sei, eu sei”, disse Jerrodine, entristecida.
Jerrodette eu disse prontamente, “Nosso Microvac é o melhor Microvac do mundo.”
“Eu também acho”, disse Jerrod, fazendo-lhe um cafuné.
Era boa a sensação de ter um Microvac para si próprio, e Jerrod estava feliz por fazer parte desta geração, em vez de outra. Na juventude de seu pai, os únicos computadores eram máquinas tremendas, ocupando mais de cem milhas quadradas de terreno. Havia apenas um por planeta. Eram chamados de CAs Planetários. Eles vinham crescendo em tamanho continuamente por um milênio e então, de uma só vez, veio a revolução. No lugar dos transistores, vieram as válvulas moleculares, então até mesmo o maior CA Planetário poderia ser compactado até ocupar apenas a metade do volume de uma espaçonave.
Jerrod se sentiu eufórico, como sempre se sentia quando pensava que seu prórpio Microvac era muitas vezes mais complexo que o antigo e primitivo Multivac, que pela primeira vez domou o Sol e quase tão complicado quanto o CA Planetário da Terra (o maior de todos), que foi o que resolveu a questão das viagens hiperespaciais e tornou as viagens para as estrelas possíveis.
“Tantas estrelas, tantos planetas”, suspirou Jerrodine, ocupada com os próprios pensamentos. “Eu acho que as famílias precisarão sair para outros planetas para sempre, do jeito que estamos agora.”
“Para sempre não”, disse Jerrod, com um sorriso. “Isso vai parar um dia, mas só daqui a alguns bilhões de anos. Muitos bilhões. Até as estrelas se apagarem, você sabe. A entropia tem de aumentar.”
“O que é entropia, papai?”, perguntou Jerrodette II.
“Entropia, docinho, é só uma palavra que significa a quantidade de coisas que se acabaram no universo. Tudo se acaba, como aquele seu robô walkie-talkie, lembra?”
“Você não pode pôr outra unidade de força, como no meu robô?”
“As estrelas são as unidades de força, querida. Quando elas acabarem, não vão haver mais outras.”
Jerrodette I primeira gritou: “Não deixe, papai, não deixe as estrelas acabarem!”
“Olha só o que você fez”, disse Jerrodine irritadamente.
“Como eu ia saber que isso as assustaria?” Jerrod suspirou de volta.
“Pergunte para o Microvac”, gemeu Jerrodette I. “Pergunta para ele como acender as estrelas de volta.”
“Vá em frente”, disse Jerrodine. “Isso vai acalmá-las”. (Jerrodette II estava começando a chorar também)
Jerrod deu de ombros. “Agora mesmo, queridas. Vou perguntar ao Microvac. Não se preocupem, ele nos contará.”
Ele perguntou ao Microvac, selecionando rapidamente o comando “imprimir resposta”. Jerrod pegou a pequena faixa de celofilme e disse alegremente, “Estão vendo, o Microvac disse que vai cuidar de tudo quando a hora chegar, então não se preocupem.”
Jerrodine disse “Agora, meninas é hora de ir para cama. Estaremos em nossa nova casa em breve.”
Jerrod leu as palavras no celofilme mais uma vez, antes de destruí-lo: DADOS INSUFICIENTES PARA RESPOSTA EXPRESSIVA.
Ele deu de ombros e olhou pela escotilha. X-23 estava logo em frente.
*
VJ-23X de Lameth encarou a profundidade negra do mapa tridimensional em pequena escala da Galáxia e disse, “Não somos ridículos em ficarmos tão preocupados com este assunto?”
MQ-17J de Nicron balançou a cabeça. “Eu acho que não. Você sabe, a galáxia vai estar cheia dentro de cinco anos, pela taxa atual de expansão.”
Ambos pareciam estar em seus vinte anos de idade, ambos eram altos e bem formados.
“Mesmo assim”, disse VJ-23X, “Eu hesitaria em enviar um relatório pessimista ao Conselho Galáctico”
“Eu não aprovaria nenhum outro tipo de relatório. Agite com eles um pouco, nós precisamos agitá-los.”
VJ-23X suspirou. “O espaço é infinito. Existem cem bilhões de galáxias para tomarmos. Ou mais.”
“Cem Bilhões não é infinito, e está ficando cada vez menos infinito ainda. Pondere! Vinte mil anos atrás, a espécie humana pela primeira vez resolveu a questão de como usar energia estelar, e pouco séculos depois, a viagem interestelar se tornou possível. A humanidade levou um milhão de ano para encher um pequeno planeta, e depois, apenas quinze mil anos para encher o resto da galáxia. Agora a população dobra a cada dez anos.
VJ-23X interrompeu. “Nós devemos isso à imortalidade.”
“Perfeitamente. A imortalidade existe e devemos levar isso em conta. Eu admito que a imortalidade tem seu lado ruim. O CA Galáctico resolveu várias questões para nós, mas solucionando o problema do envelhecimento e da morte, ele acabou com todas as suas outras soluções.”
“Mesmo assim você nunca iria querer deixar de viver, eu suponho.”
“Claro que não.”, devolveu MQ-17J, amaciando a sentença depois para “Ainda não. Eu ainda não sou velho o bastante. Quantos anos você tem?
“Duzentos e vinte e três. E você?”
“Eu ainda tenho menos que duzentos. Mas voltando ao assunto. A população dobra a cada dez anos. Uma vez que esta galáxia estiver cheia, teremos ocupado mais outra em mais dez anos. Mais dez anos e teremos ocupado mais duas. Em uma década mais quatro. Em cem anos teremos ocupado mil galáxias. Em mil anos, um milhão de galáxias. Em dez mil anos, todo o universo conhecido. E depois?”
VJ-23X disse, “Por outro lado, há um problema de transporte. Eu imagino quantas unidades de energia solar serão necessárias para mover galáxias de indivíduos de uma galáxia para a outra.”
“Uma excelente observação. A humanidade já consome duas unidades de energia solar por ano.”
“A maior parte é desperdiçado. Apesar de tudo, nossa própria galáxia sozinha fornece o equivalente a umas mil unidades de energia solar por ano e nós só usamos duas.”
“Verdade, mas mesmo com 100% de eficiência, nós apenas adiamos o fim. Nossas necessidades energéticas aumentam numa progressão geométrica, mais rápido até do que a população. Ficaremos sem energia antes até de ficarmos sem galáxias. Uma boa questão, muito boa.”
“Nós só teremos que construir estrelas novas com gás interestelar.”
“Ou ficaremos sem calor dissipado?” perguntou MQ-17J sarcasticamente.
“Deve haver algum jeito de reverter a entropia. Nós precisamos perguntar ao CA Galáctico.”
VJ-23X não estava falando a sério, mas MQ-17J pegou seu CA-contato do bolso e pôs sobre a mesa diante de si.
“Isso é algo que a humanidade terá que enfrentar algum dia”, ele disse.
Ele encarou melancolicamente o seu pequeno CA-contato. Ele só tinha duas polegadas cúbicas e nada em seu interior, mas estava conectado pelo hiperespaço ao grande CA Galáctico, que servia a toda a humanidade. O próprio hiperespaço era uma parte integrante do CA Galáctico.
MQ-17J parou para pensar se algum dia em sua vida imortal ele ainda veria o CA Galáctico. Ele ficava num pequeno mundo, uma teia de aranha de feixes de energia e matéria faziam as ondulações sub-mesônicas tomarem o lugar das velhas e desengonçadas válvulas moleculares. Porém, apesar de suas funções sub-etéreas, o CA Galáctico era conhecido por ter alguns milhares de pés de diâmetro.
MQ-17J perguntou diretamente ao CA-contato, “A entropia pode ser revertida?”
VJ-23X olhou surpreso e disse “Oh, eu não pedi seriamente que você perguntasse isso.”
“Por que não?”
“Nós dois sabemos que a entropia não pode ser revertida. Você não pode fazer fumaça e cinzas virarem uma árvore novamente.”
“Você tem árvores em seu planeta?”, perguntou MQ-17J.
O som do CA Galáctico os paralisou em silêncio. Sua voz veio fina e bela do pequeno CA-contato sobre a mesa. Ela disse que havia DADOS INSUFICIENTES PARA RESPOSTA SIGNIFICATIVA.
VJ-23X disse, “Vê!”
Os dois homens então voltaram à questão sobre o relatório que eles deviam fazer para o Conselho.
*
A mente de Zee Prime varreu a nova galáxia com um vago interesse nas incontáveis espirais de estrelas que a preenchiam. Ele nunca tinha visto esta antes. Será que ele ainda veria todas? Haviam tantas delas, cada uma com suas cargas de humanidade. Mas uma carga que era quase um peso morto. Mais e mais, a real essência do homem estava a ser encontrada por aqui, no espaço.
Mentes, não corpos. Os corpos imortais eram mantidos nos planetas, em suspensão através dos éons. Algumas vezes eles despertavam para um pouco de atividade material, mas isso estava se tornando mais raro. Poucos indivíduos novos estavam surgindo para a existência e para acompanharem o incrível e poderoso tropel, mas e daí? Havia pouco espaço no universo para novos indivíduos.
Zee Prime foi despertado de seu devaneio após a aproximação dos sutis sinais de outra mente.
“Eu sou Zee Prime”, disse Zee Prime. “E você?”
“Eu sou Dee Sub Wun. Sua galáxia?”
“Nós a chamamos apenas de Galáxia. E você?”
“Nós chamamos a nossa do mesmo modo. Todos os homens chamam sua galáxia de sua galáxia e nada mais. E por que não?”
“Verdade. Uma vez que todas as galáxias são iguais.”
“Nem todas as galáxias. Em uma em particular a espécie humana deve ter surgido. Isso faz dela diferente.”
Zee Prime disse, “Em qual delas?”
“Eu não posso dizer. O CA Universal saberia.”
“Deveríamos perguntá-lo? Estou curioso.”
Os sentidos de Zee Prime se estenderam até as galáxias individuais encolherem, tornando-se elas mesmas difusos pontos de luz sobre um fundo negro muito mais amplo. Tantas centenas de bilhões delas, todas com seus seres imortais, todas carregando sua carga de inteligências com mentes que vagavam livremente pelo espaço. E mesmo assim, uma delas era única entre todas as outras por ser a Galáxia original. Uma delas teve, em um vago e distante passado, um período em que era a única habitada pelo homem.
Zee Prime estava tomado pela curiosidade para ver esta galáxia e ele bradou: “CA Universal! Em que galáxia a humanidade se originou?”
O CA Universal ouviu, por todos os mundos e através do espaço, ele tinha seus receptores preparados, e cada receptor levava, pelo hiperespaço, a algum ponto desconhecido onde o CA Universal mantinha-se a si mesmo alojado.
Zee Prime soube de apenas um humano cujos pensamentos penetraram a uma distância pequena do CA Universal e ele relatou tratar-se apenas de um globo brilhante de dois pés de diâmetro, difícil de ver.
“Mas como aquele pode ser todo o CA Universal”, Zee Prime perguntou.
“Sua maior parte”, foi a resposta ,“está no hiperespaço. Dessa forma, o que está lá eu não posso imaginar.”
Ou podia qualquer um, pois passou há muito tempo, sabia Zee Prime, o dia em que qualquer humano tinha qualquer função no projeto do CA Universal. Cada CA Universal projetou e criou seu sucessor. Cada um, durante sua existência de um milhão de anos ou mais, acumulou os dados necessários para criar outro melhor e mais intrincado, um sucessor ainda mais capaz, em que o seu próprio estoque de dados e sua individualidade submergiriam.
O CA Universal interrompeu as divagações de Zee Prime, não com palavras, mas com orientação. A mente de Zee Prime foi guiada pelo mar de diminutas galáxias e uma em particular explodiu-se em estrelas.
Um pensamento veio de infinitamente distante, mas infinitamente claro. “ESTA É A GALÁXIA ORIGINAL DO HOMEM.”;
Mas esta era igual, afinal de contas, igual às outras, e Zee Prime abafou seu desapontamento.
Dee Sub Wun, cuja mente tinha acompanhado a outra, disse subitamente, “E é alguma dessas estrelas a estrela original da humanidade?”
O CA Universal disse, “A estrela original do homem se tornou uma nova. É uma anã branca.”
“Os homens sobre ela morreram?” perguntou Zee Prime chocado e sem pensar.
O CA Universal respondeu, “Um novo mundo, como se faz nesses casos, foi construído para seus corpos físicos na época.”
“Sim, claro”, disse Zee Prime, mas uma sensação de perda lhe assolou mesmo assim. Sua mente desligou-se da galáxia original do homem, deixou-a afastar-se e perder-se entre os apagados pontos. Ele nunca mais quis vê-la novamente.
Dee Sub Wun disse “Qual é o problema?”
“As estrelas estão morrendo. A estrela original está morta.”
“Todas elas morrerão. Por que não?”
“Mas quando toda a energia se exaurir, nossos corpos morrerão, e eu e você junto com eles.”
“Levará bilhões de anos.”
“Eu não queria que isso acontecesse, mesmo após bilhões de anos. CA Universal! Como as estrelas podem ser impedidas de morrer?”
Dee Wub Sun disse deleitado, “Você está perguntando como a entropia poderia ser revertida.”
E o CA Universal respondeu: “Ainda há DADOS INSUFICIENTES PARA RESPOSTA EXPRESSIVA.”
Os pensamentos de Zee Prime voaram de volta à sua própria galáxia. Ele não expressou pensamentos a Dee Sub Wun novamente, cujo corpo poderia estar esperando por ele numa galáxia um trilhão de anos-luz de distância, ou na estrela vizinha à de Zee Prime. Isso não importava.
Pesaroso, Zee Prime começou a coletar hidrogênio interestelar, do qual pretendia construir uma pequena estrela só dele. Se as estrelas devem um dia morrer, pelo menos uma ainda poderia ser construída.
*
O Homem, refletiu consigo mesmo, sob todos os aspectos, mentalmente era um. Ele consistia de um trilhão de trilhões de trilhões de corpos imutáveis, cada qual em seu lugar, repousando quietos e indestrutíveis, cada um cuidado por autômatos perfeitos, igualmente indestrutíveis, enquanto as mentes de todos esses corpos livremente se fundiram uma à outra, indistingüivelmente. O Homem disse, “O Universo está morrendo.”
O Homem olhou para as galáxias minúsculas. As estrelas gigantes, esbanjadoras, sumiram já há muito, no profundo e longínquo passado. Quase todas as estrelas eram anãs brancas fadadas à exaustão. Algumas estrelas foram criadas da poeira entre as estrelas, algumas naturalmente, outras pelo Homem sozinho, e estas estavam morrendo também. Anãs brancas ainda podem colidir, e com essas forças poderosas sendo liberadas, novas estrelas surgiam, mas apenas uma estrela era formada para cada mil anãs brancas que eram destruídas, e estas chegariam a um fim também.
O Homem disse, “Poupada com cuidado, como orientou o CA Cósmico, a energia que ainda está disponível em todo o universo durará bilhões de anos.”
“Mas ainda assim”, disse o Homem, “eventualmente ela, por completo, chegará a um fim. Independente de como for economizada, independente do quanto for racionada, a energia uma vez gasta não poderá ser restituída. A entropia deve aumentar até o máximo, eternamente.”
O Homem disse, “A entropia pode ser revertida? Vamos perguntar ao CA Cósmico.”
O CA Cósmico o envolveu, mas não através do espaço, nem um fragmento dele estava no espaço. Estava no hiperespaço, e era feito de algo que não era nem matéria e nem energia. A questão sobre seu tamanho e sua natureza, não fazia mais sentido em quaisquer termos que o Homem pudesse compreender.
“CA Cósmico”, disse o Homem, “Como a entropia pode ser revertida?”
O CA Cósmico disse “ainda há dados insuficientes para resposta expressiva.”
O Homem disse, “Colete os dados adicionais.”
O CA Cósmico disse, “Eu o farei. Tenho feito isto a cem bilhões de anos. Meus predecessores e eu recebemos esta pergunta muitas vezes. Todos os dados que tenho permanecem insuficientes.”
“Haverá um período”, disse o Homem, “em que os dados serão suficientes ou esta questão é insolúvel sob todas as circunstâncias concebíveis?” O CA Cósmico disse, “Nenhuma questão é insolúvel sob todas as circunstâncias concebíveis.
O Homem disse, “Quando você terá dados suficientes para responder à questão?” O CA Cósmico disse, “ainda há dados insuficientes para uma resposta expressiva.”
“Você continuará coletando dados?” Perguntou o Homem. O CA Cósmico respondeu, “Continuarei.” Disse o Homem “Nós esperaremos.”
*
As estrelas e galáxias morreram e se dispersaram, e o espaço tornou-se negro após dez trilhões de anos.
Um a um, o Homem se fundiu ao CA, cada corpo físico perdia sua identidade mental, de um modo que, de certa forma, não era uma perda, mas um ganho.
A última mente Humana hesitou antes da fusão, mirando um espaço que incluía nada além dos resíduos de uma última estrela negra e nada mais, além de uma matéria incrivelmente rala, agitada aleatoriamente pelos restos finais de calor se se aproximando assintoticamente do zero absoluto.
O Homem disse, “CA, é o fim? Este caos não poderá ser revertido em um universo novamente? Isso não poderá ser feito?”
O CA disse, “ainda há dados insuficientes para uma resposta expressiva.”
A última mente Humana se fundiu, e agora apenas o CA existia, no hiperespaço.
A matéria e a energia acabaram, e com elas o espaço-tempo. Mesmo o CA existia ainda apenas devido à última questão, que ele nunca respondeu, desde que um homem semi-embriagado dez trilhões de anos antes tinha perguntado a um computador que estava para o CA muito menos do que o homem estava para o Homem.
Todas as outras questões foram respondidas, e até esta questão final ser respondida, o CA não se livraria de sua consciência.
*
Todos os dados coletados chegaram finalmente ao término. Nada mais restou a ser coletado.
Mas todos os dados coletados tinham agora de ser completamente relacionados e postos juntos de todas as formas possíveis.
Um intervalo quase infinito foi gasto para que isso fosse feito.
E chegou o tempo em que o CA descobriu como reverter a direção da entropia.
Mas não havia um homem para quem o CA pudesse dar a resposta para a questão final. Não importava.
A demonstração da resposta cuidaria disso também.
Por outro período quase eterno, o CA pensou na melhor maneira de fazê-lo. Cuidadosamente o CA executou o programa.
A consciência do CA abarcou tudo aquilo que certa vez já fora um Universo e aninhou aquilo que era agora apenas caos. Passo por passo, tudo foi feito.
E disse o CA, “Que faça-se Luz!”
E a Luz se fez.
Um dos melhores contos de Isaac Asimov, um gênio da ficção científica.
Aproveitem.
Traduzido por Gabriel de Castro Fonseca e revisado por Daniel Angelini.
A Questão Final – Isaac Asimov
A questão final foi perguntada pela primeira vez, meio que de brincadeira, em 21 de Maio de 2061, numa época em que a humanidade começava a caminhar sobre a luz. A pergunta saiu como o resultado de uma aposta de cinco dólares após um uísque, e tudo aconteceu assim:
Alexander Adell e Bertram Lupov eram dois fiéis técnicos do Multivac. Tão bem quanto um ser humano poderia, eles sabiam o que jazia atrás dos estalos e da fria e brilhante face – milhas e milhas de face – daquele gigantesco computador. Eles possuíam ao menos uma vaga noção do plano geral de retransmissores e circuitos que já há muito haviam evoluído além o ponto onde uma única pessoa poderia ter uma compreensão consistente do todo.
O Multivac era auto-ajustável e auto-corretivo. Tinha de sê-lo, pois nada humano poderia ajustá-lo e corrigi-lo rápido ou mesmo com adequação suficiente. Então Adell e Lupov trabalhavam no gigante monstruoso apenas ligeira e superficialmente, porém, tão bem quanto qualquer humano poderia. Eles o alimentavam com dados, ajustavam perguntas de acordo com suas necessidades e traduziam as respostas que eram mostradas. Certamente eles, e todos os outros técnicos, eram completamente habilitados a aproveitar a glória que era o Multivac.
Por décadas, o Multivac ajudou a projetar as naves e definir as trajetórias que permitiam ao homem alcançar a Lua, Marte e Vênus, mas após isso, os escassos recursos da Terra já não podiam mais sustentar as viagens espaciais. Muita energia era necessária para as mais longas. A Terra explorou seu carvão e seu urânio cada vez mais eficientemente, mas havia apenas um pouco de cada.
Mas vagarosamente o Multivac aprendera o bastante para responder a questões mais profundas, e em 14 de Maio de 2061, o que tinha sido teoria tornou-se fato.
A energia do Sol foi armazenada, convertida e utilizada diretamente em escala planetária. Toda a Terra deixou de queimar carvão, fissionar urânio, e ligou o interruptor que a conectava por inteiro a uma pequena estação, com uma milha de diâmetro, orbitando a Terra a meio caminho da Lua. Todo o planeta se alimentou de feixes invisíveis de energia solar.
Sete dias não bastaram para diminuir a glória disso tudo e Adell e Lupov, finalmente conseguindo escapar do trabalho e se encontrando escondidos onde ninguém pensaria em procurá-los, nas desertas salas inferiores, onde porções do poderoso corpo enterrado do Multivac apareciam. Com arquivos inativos e desacompanhados e sob estalos contentes, o Multivac também gozava de férias e os rapazes se divertiam com isso. Não tinham originalmente nenhuma intenção de perturbá-lo.
Trouxeram uma garrafa com eles, e sua única preocupação no momento era a de relaxar na companhia um do outro e da garrafa.
“É incrível quando você percebe” disse Adell. Sua face larga tinha marcas de fadiga, e ele agitava sua bebida lentamente com um bastão de vidro, observando os cubos de gelo flutuarem desajeitados. “Toda a energia que poderíamos usar, gratuitamente. Energia suficiente para, se quiséssemos, derreter a Terra até virar uma grande bola de ferro derretido, e ainda assim inesgotável. Toda a energia que poderíamos usar, para sempre e sempre e sempre.”
Lupov coçou o lado da cabeça. Ele tinha mania de fazer isso quando queria discordar de alguém, e ele queria discordar de Adell agora, parcialmente porque ele mesmo é que teve que carregar o gelo e os copos. “Para sempre não”, disse.
“Oh, diabos, quase sempre. Até o Sol apagar, Bert.”
“Não é para sempre.”
“Está bem então. Bilhões e bilhões de anos. Vinte bilhões, talvez. Está satisfeito?”
“Lupov pôs os dedos sobre os esparsos cabelos, como se para ter certeza de que sobrava algum e deu um pequeno gole em seu drink. “Vinte bilhões não é para sempre.”
“Bem, isso vai nos suprir, não vai?”
“Tanto quanto o carvão e o urânio.”
“Está certo, mas agora podemos abastecer toda espaçonave individual do Sistema Solar e ela poderá ir a Plutão e voltar um milhão de vezes sem jamais se preocupar com combustível. Você não poderia fazer isso com carvão ou urânio. Pergunte ao Multivac, se não acredita em mim.”
“Não preciso perguntar ao Multivac. Eu já sei disso.”
“Então pare de depreciar o que o Multivac fez por nós”, disse Adell, aborrecido. “Tudo correu direito.”
“Quem disse que não? O que eu digo é que o Sol não durará para sempre. É tudo o que estou dizendo. Estamos a salvo por vinte bilhões de anos, mas e depois?” Lupov apontou devagar seu indicador para Adell. “E não diga que mudaremos para outro sol.”
Houve silêncio por um tempo. Adell punha seu copo na boca só ocasionalmente e os olhos de Lupov se cerraram. Eles descansaram.
Então os olhos de Lupov se abriram com rapidez. “Você está achando que vamos mudar para outro Sol quando o nosso apagar, não está?”
“Eu não estou pensando.”
“Claro que está. Você é fraco com lógica, esse é o seu problema. Você é como o cara daquela história, que foi pego por uma chuva repentina e correu para baixo de uma árvore em um bosque. Ele não estava preocupado com nada, porque concluiu que quando sua árvore estivesse toda molhada tudo o que precisaria fazer era ir para baixo de outra.”
“Eu entendi”, disse Adell. “Não precisa gritar. Quando o Sol apagar, as outras estarão apagando também.”
“Com certeza elas estarão”, resmungou Lupov. “Todas elas surgiram depois da grande explosão cósmica original, o que quer que tenha sido, e todas terão um fim, quando todas as estrelas se apagarem. Algumas vão mais rápido que outras. Diabos, as gigantes não durarão nem cem milhões de anos. O Sol durará vinte bilhões de anos e talvez as anãs durarão cem bilhões. Mas nos dê um trilhão de anos e tudo estará escuro. A entropia tem que crescer até o máximo, isso é tudo.”
“Eu já sei tudo sobre entropia”, disse Adell, sustentando sua dignidade.
“O inferno que você sabe.”
“Sei tanto quanto você.”
“Então você sabe que tudo tem que se esgotar um dia.”
“Com certeza. Quem disse que não vão?”
“Você disse, seu pobre tolo. Você disse que tínhamos toda a energia de que precisássemos para sempre. Você disse ‘para sempre’.”
Era a vez de Adell discordar. “Talvez nós possamos reconstruir as coisas de novo um dia”, ele disse.
“Jamais.”
“Por que não? Um dia.”
“Jamais.”
“Pergunte ao Multivac. Eu te desafio. Cinco dólares se ele te disser que isso nunca poderá ser feito.”
Adell estava bêbado o suficiente para tentar, mas sóbrio o bastante para conseguir escolher os símbolos e operações necessárias para exprimir uma pergunta que, em palavras, deveria corresponder a isto: A humanidade um dia, sem dispor da energia já gasta, será capaz de restaurar o Sol à sua juventude mesmo após ele já ter morrido de velhice?
Ou talvez ela pudesse ser colocada com mais simplicidade assim: Como a quantidade total de entropia no universo pode ser diminuída maciçamente?
O Multivac caiu morto e silencioso. O lento brilho das luzes cessou, os distantes sons de estalos dos retransmissores pararam.
Então, assim que os apavorados técnicos sentiram que já não podiam mais segurar suas respirações, houve um súbito despertar de vida na impressora anexada àquela porção do Multivac. Cinco palavras foram impressas: DADOS INSUFICIENTES PARA RESPOSTA EXPRESSIVA.
“Sem vencedor”, suspirou Lupov. Eles saíram apressadamente. Na manhã seguinte, os dois praguejavam contra a dor de cabeça e a ressaca, tendo esquecido do incidente.
*
Jerrod, Jerrodine, e Jerrodette I e II assistiam à paisagem estrelada na escotilha mudar conforme suas passagens pelo hiperespaço se completavam num lapso instantâneo. De uma vez, o horizonte pontilhado de estrelas deu lugar a um único disco brilhante cor de mármore.
“Aquela é X-23”, disse Jerrod seguramente. Apertou as costas firmemente com suas mãos magricelas e seus nós dos dedos se embranqueceram.
As pequenas Jerodettes tinham experimentado a passagem pelo hiperespaço pela primeira vez na vida e estavam pouco à vontade com a momentânea sensação de estarem com os corpos pelo avesso. Enterraram suas risadinhas e perseguiram uma à outra alegremente em direção a sua mãe, gritando “Chegamos em X-23, chegamos em X-23, chegamos em...”
“Quietas, meninas”, disse Jerrodine asperamente. “Você tem certeza, Jerrod?”
“Como não?”, perguntou Jerrod, olhando de relance para bulbo de metal, embora em nada lembrasse um metal, logo abaixo do teto. Ele corria pela sala, desaparecendo pela parede em ambos os lados. Era tão comprido quanto a nave. Jerrod sabia pouco sobre aquela grossa vara de metal, exceto que era chamado Microvac; que era possível fazer-lhe perguntas, se fosse desejado; que se não fizessem, ele ainda tinha uma tarefa, de guiar a nave para um destino pré-ordenado; alimentava-se da energia fornecida por várias Estações Sub-galáticas de Energia; e que processava as equações para fazer os saltos hiperespaciais.
Jerrod e sua família só tinham que esperar e viver no conforto da seção residencial da nave.
Alguém uma vez disse a Jerrod que “ac” no fim de “Microvac” equivalia a 'computador' analógico em inglês antigo, mas ele estava à beira de esquecer disso.
Os olhos de Jerrodine ficaram úmidos quando ela olhou pela escotilha. “Não sei... Eu não me sinto bem em deixar a Terra.”
“Por que, pelo amor de Pete?” perguntou Jerrod. “Nós não tínhamos nada por lá. Teremos de tudo em X-23. Você não estará sozinha. Não será uma pioneira. Já há mais de um milhão de pessoas naquele planeta. Meu Senhor, nossos bisnetos já estarão procurando por outros mundos, quando X-23 ficar superpovoado”. Após, uma pausa para refletir, “Vou te dizer uma coisa, é muita sorte os computadores terem permitido nossas viagens espaciais, pelo modo como nossa espécie está crescendo.”
“Eu sei, eu sei”, disse Jerrodine, entristecida.
Jerrodette eu disse prontamente, “Nosso Microvac é o melhor Microvac do mundo.”
“Eu também acho”, disse Jerrod, fazendo-lhe um cafuné.
Era boa a sensação de ter um Microvac para si próprio, e Jerrod estava feliz por fazer parte desta geração, em vez de outra. Na juventude de seu pai, os únicos computadores eram máquinas tremendas, ocupando mais de cem milhas quadradas de terreno. Havia apenas um por planeta. Eram chamados de CAs Planetários. Eles vinham crescendo em tamanho continuamente por um milênio e então, de uma só vez, veio a revolução. No lugar dos transistores, vieram as válvulas moleculares, então até mesmo o maior CA Planetário poderia ser compactado até ocupar apenas a metade do volume de uma espaçonave.
Jerrod se sentiu eufórico, como sempre se sentia quando pensava que seu prórpio Microvac era muitas vezes mais complexo que o antigo e primitivo Multivac, que pela primeira vez domou o Sol e quase tão complicado quanto o CA Planetário da Terra (o maior de todos), que foi o que resolveu a questão das viagens hiperespaciais e tornou as viagens para as estrelas possíveis.
“Tantas estrelas, tantos planetas”, suspirou Jerrodine, ocupada com os próprios pensamentos. “Eu acho que as famílias precisarão sair para outros planetas para sempre, do jeito que estamos agora.”
“Para sempre não”, disse Jerrod, com um sorriso. “Isso vai parar um dia, mas só daqui a alguns bilhões de anos. Muitos bilhões. Até as estrelas se apagarem, você sabe. A entropia tem de aumentar.”
“O que é entropia, papai?”, perguntou Jerrodette II.
“Entropia, docinho, é só uma palavra que significa a quantidade de coisas que se acabaram no universo. Tudo se acaba, como aquele seu robô walkie-talkie, lembra?”
“Você não pode pôr outra unidade de força, como no meu robô?”
“As estrelas são as unidades de força, querida. Quando elas acabarem, não vão haver mais outras.”
Jerrodette I primeira gritou: “Não deixe, papai, não deixe as estrelas acabarem!”
“Olha só o que você fez”, disse Jerrodine irritadamente.
“Como eu ia saber que isso as assustaria?” Jerrod suspirou de volta.
“Pergunte para o Microvac”, gemeu Jerrodette I. “Pergunta para ele como acender as estrelas de volta.”
“Vá em frente”, disse Jerrodine. “Isso vai acalmá-las”. (Jerrodette II estava começando a chorar também)
Jerrod deu de ombros. “Agora mesmo, queridas. Vou perguntar ao Microvac. Não se preocupem, ele nos contará.”
Ele perguntou ao Microvac, selecionando rapidamente o comando “imprimir resposta”. Jerrod pegou a pequena faixa de celofilme e disse alegremente, “Estão vendo, o Microvac disse que vai cuidar de tudo quando a hora chegar, então não se preocupem.”
Jerrodine disse “Agora, meninas é hora de ir para cama. Estaremos em nossa nova casa em breve.”
Jerrod leu as palavras no celofilme mais uma vez, antes de destruí-lo: DADOS INSUFICIENTES PARA RESPOSTA EXPRESSIVA.
Ele deu de ombros e olhou pela escotilha. X-23 estava logo em frente.
*
VJ-23X de Lameth encarou a profundidade negra do mapa tridimensional em pequena escala da Galáxia e disse, “Não somos ridículos em ficarmos tão preocupados com este assunto?”
MQ-17J de Nicron balançou a cabeça. “Eu acho que não. Você sabe, a galáxia vai estar cheia dentro de cinco anos, pela taxa atual de expansão.”
Ambos pareciam estar em seus vinte anos de idade, ambos eram altos e bem formados.
“Mesmo assim”, disse VJ-23X, “Eu hesitaria em enviar um relatório pessimista ao Conselho Galáctico”
“Eu não aprovaria nenhum outro tipo de relatório. Agite com eles um pouco, nós precisamos agitá-los.”
VJ-23X suspirou. “O espaço é infinito. Existem cem bilhões de galáxias para tomarmos. Ou mais.”
“Cem Bilhões não é infinito, e está ficando cada vez menos infinito ainda. Pondere! Vinte mil anos atrás, a espécie humana pela primeira vez resolveu a questão de como usar energia estelar, e pouco séculos depois, a viagem interestelar se tornou possível. A humanidade levou um milhão de ano para encher um pequeno planeta, e depois, apenas quinze mil anos para encher o resto da galáxia. Agora a população dobra a cada dez anos.
VJ-23X interrompeu. “Nós devemos isso à imortalidade.”
“Perfeitamente. A imortalidade existe e devemos levar isso em conta. Eu admito que a imortalidade tem seu lado ruim. O CA Galáctico resolveu várias questões para nós, mas solucionando o problema do envelhecimento e da morte, ele acabou com todas as suas outras soluções.”
“Mesmo assim você nunca iria querer deixar de viver, eu suponho.”
“Claro que não.”, devolveu MQ-17J, amaciando a sentença depois para “Ainda não. Eu ainda não sou velho o bastante. Quantos anos você tem?
“Duzentos e vinte e três. E você?”
“Eu ainda tenho menos que duzentos. Mas voltando ao assunto. A população dobra a cada dez anos. Uma vez que esta galáxia estiver cheia, teremos ocupado mais outra em mais dez anos. Mais dez anos e teremos ocupado mais duas. Em uma década mais quatro. Em cem anos teremos ocupado mil galáxias. Em mil anos, um milhão de galáxias. Em dez mil anos, todo o universo conhecido. E depois?”
VJ-23X disse, “Por outro lado, há um problema de transporte. Eu imagino quantas unidades de energia solar serão necessárias para mover galáxias de indivíduos de uma galáxia para a outra.”
“Uma excelente observação. A humanidade já consome duas unidades de energia solar por ano.”
“A maior parte é desperdiçado. Apesar de tudo, nossa própria galáxia sozinha fornece o equivalente a umas mil unidades de energia solar por ano e nós só usamos duas.”
“Verdade, mas mesmo com 100% de eficiência, nós apenas adiamos o fim. Nossas necessidades energéticas aumentam numa progressão geométrica, mais rápido até do que a população. Ficaremos sem energia antes até de ficarmos sem galáxias. Uma boa questão, muito boa.”
“Nós só teremos que construir estrelas novas com gás interestelar.”
“Ou ficaremos sem calor dissipado?” perguntou MQ-17J sarcasticamente.
“Deve haver algum jeito de reverter a entropia. Nós precisamos perguntar ao CA Galáctico.”
VJ-23X não estava falando a sério, mas MQ-17J pegou seu CA-contato do bolso e pôs sobre a mesa diante de si.
“Isso é algo que a humanidade terá que enfrentar algum dia”, ele disse.
Ele encarou melancolicamente o seu pequeno CA-contato. Ele só tinha duas polegadas cúbicas e nada em seu interior, mas estava conectado pelo hiperespaço ao grande CA Galáctico, que servia a toda a humanidade. O próprio hiperespaço era uma parte integrante do CA Galáctico.
MQ-17J parou para pensar se algum dia em sua vida imortal ele ainda veria o CA Galáctico. Ele ficava num pequeno mundo, uma teia de aranha de feixes de energia e matéria faziam as ondulações sub-mesônicas tomarem o lugar das velhas e desengonçadas válvulas moleculares. Porém, apesar de suas funções sub-etéreas, o CA Galáctico era conhecido por ter alguns milhares de pés de diâmetro.
MQ-17J perguntou diretamente ao CA-contato, “A entropia pode ser revertida?”
VJ-23X olhou surpreso e disse “Oh, eu não pedi seriamente que você perguntasse isso.”
“Por que não?”
“Nós dois sabemos que a entropia não pode ser revertida. Você não pode fazer fumaça e cinzas virarem uma árvore novamente.”
“Você tem árvores em seu planeta?”, perguntou MQ-17J.
O som do CA Galáctico os paralisou em silêncio. Sua voz veio fina e bela do pequeno CA-contato sobre a mesa. Ela disse que havia DADOS INSUFICIENTES PARA RESPOSTA SIGNIFICATIVA.
VJ-23X disse, “Vê!”
Os dois homens então voltaram à questão sobre o relatório que eles deviam fazer para o Conselho.
*
A mente de Zee Prime varreu a nova galáxia com um vago interesse nas incontáveis espirais de estrelas que a preenchiam. Ele nunca tinha visto esta antes. Será que ele ainda veria todas? Haviam tantas delas, cada uma com suas cargas de humanidade. Mas uma carga que era quase um peso morto. Mais e mais, a real essência do homem estava a ser encontrada por aqui, no espaço.
Mentes, não corpos. Os corpos imortais eram mantidos nos planetas, em suspensão através dos éons. Algumas vezes eles despertavam para um pouco de atividade material, mas isso estava se tornando mais raro. Poucos indivíduos novos estavam surgindo para a existência e para acompanharem o incrível e poderoso tropel, mas e daí? Havia pouco espaço no universo para novos indivíduos.
Zee Prime foi despertado de seu devaneio após a aproximação dos sutis sinais de outra mente.
“Eu sou Zee Prime”, disse Zee Prime. “E você?”
“Eu sou Dee Sub Wun. Sua galáxia?”
“Nós a chamamos apenas de Galáxia. E você?”
“Nós chamamos a nossa do mesmo modo. Todos os homens chamam sua galáxia de sua galáxia e nada mais. E por que não?”
“Verdade. Uma vez que todas as galáxias são iguais.”
“Nem todas as galáxias. Em uma em particular a espécie humana deve ter surgido. Isso faz dela diferente.”
Zee Prime disse, “Em qual delas?”
“Eu não posso dizer. O CA Universal saberia.”
“Deveríamos perguntá-lo? Estou curioso.”
Os sentidos de Zee Prime se estenderam até as galáxias individuais encolherem, tornando-se elas mesmas difusos pontos de luz sobre um fundo negro muito mais amplo. Tantas centenas de bilhões delas, todas com seus seres imortais, todas carregando sua carga de inteligências com mentes que vagavam livremente pelo espaço. E mesmo assim, uma delas era única entre todas as outras por ser a Galáxia original. Uma delas teve, em um vago e distante passado, um período em que era a única habitada pelo homem.
Zee Prime estava tomado pela curiosidade para ver esta galáxia e ele bradou: “CA Universal! Em que galáxia a humanidade se originou?”
O CA Universal ouviu, por todos os mundos e através do espaço, ele tinha seus receptores preparados, e cada receptor levava, pelo hiperespaço, a algum ponto desconhecido onde o CA Universal mantinha-se a si mesmo alojado.
Zee Prime soube de apenas um humano cujos pensamentos penetraram a uma distância pequena do CA Universal e ele relatou tratar-se apenas de um globo brilhante de dois pés de diâmetro, difícil de ver.
“Mas como aquele pode ser todo o CA Universal”, Zee Prime perguntou.
“Sua maior parte”, foi a resposta ,“está no hiperespaço. Dessa forma, o que está lá eu não posso imaginar.”
Ou podia qualquer um, pois passou há muito tempo, sabia Zee Prime, o dia em que qualquer humano tinha qualquer função no projeto do CA Universal. Cada CA Universal projetou e criou seu sucessor. Cada um, durante sua existência de um milhão de anos ou mais, acumulou os dados necessários para criar outro melhor e mais intrincado, um sucessor ainda mais capaz, em que o seu próprio estoque de dados e sua individualidade submergiriam.
O CA Universal interrompeu as divagações de Zee Prime, não com palavras, mas com orientação. A mente de Zee Prime foi guiada pelo mar de diminutas galáxias e uma em particular explodiu-se em estrelas.
Um pensamento veio de infinitamente distante, mas infinitamente claro. “ESTA É A GALÁXIA ORIGINAL DO HOMEM.”;
Mas esta era igual, afinal de contas, igual às outras, e Zee Prime abafou seu desapontamento.
Dee Sub Wun, cuja mente tinha acompanhado a outra, disse subitamente, “E é alguma dessas estrelas a estrela original da humanidade?”
O CA Universal disse, “A estrela original do homem se tornou uma nova. É uma anã branca.”
“Os homens sobre ela morreram?” perguntou Zee Prime chocado e sem pensar.
O CA Universal respondeu, “Um novo mundo, como se faz nesses casos, foi construído para seus corpos físicos na época.”
“Sim, claro”, disse Zee Prime, mas uma sensação de perda lhe assolou mesmo assim. Sua mente desligou-se da galáxia original do homem, deixou-a afastar-se e perder-se entre os apagados pontos. Ele nunca mais quis vê-la novamente.
Dee Sub Wun disse “Qual é o problema?”
“As estrelas estão morrendo. A estrela original está morta.”
“Todas elas morrerão. Por que não?”
“Mas quando toda a energia se exaurir, nossos corpos morrerão, e eu e você junto com eles.”
“Levará bilhões de anos.”
“Eu não queria que isso acontecesse, mesmo após bilhões de anos. CA Universal! Como as estrelas podem ser impedidas de morrer?”
Dee Wub Sun disse deleitado, “Você está perguntando como a entropia poderia ser revertida.”
E o CA Universal respondeu: “Ainda há DADOS INSUFICIENTES PARA RESPOSTA EXPRESSIVA.”
Os pensamentos de Zee Prime voaram de volta à sua própria galáxia. Ele não expressou pensamentos a Dee Sub Wun novamente, cujo corpo poderia estar esperando por ele numa galáxia um trilhão de anos-luz de distância, ou na estrela vizinha à de Zee Prime. Isso não importava.
Pesaroso, Zee Prime começou a coletar hidrogênio interestelar, do qual pretendia construir uma pequena estrela só dele. Se as estrelas devem um dia morrer, pelo menos uma ainda poderia ser construída.
*
O Homem, refletiu consigo mesmo, sob todos os aspectos, mentalmente era um. Ele consistia de um trilhão de trilhões de trilhões de corpos imutáveis, cada qual em seu lugar, repousando quietos e indestrutíveis, cada um cuidado por autômatos perfeitos, igualmente indestrutíveis, enquanto as mentes de todos esses corpos livremente se fundiram uma à outra, indistingüivelmente. O Homem disse, “O Universo está morrendo.”
O Homem olhou para as galáxias minúsculas. As estrelas gigantes, esbanjadoras, sumiram já há muito, no profundo e longínquo passado. Quase todas as estrelas eram anãs brancas fadadas à exaustão. Algumas estrelas foram criadas da poeira entre as estrelas, algumas naturalmente, outras pelo Homem sozinho, e estas estavam morrendo também. Anãs brancas ainda podem colidir, e com essas forças poderosas sendo liberadas, novas estrelas surgiam, mas apenas uma estrela era formada para cada mil anãs brancas que eram destruídas, e estas chegariam a um fim também.
O Homem disse, “Poupada com cuidado, como orientou o CA Cósmico, a energia que ainda está disponível em todo o universo durará bilhões de anos.”
“Mas ainda assim”, disse o Homem, “eventualmente ela, por completo, chegará a um fim. Independente de como for economizada, independente do quanto for racionada, a energia uma vez gasta não poderá ser restituída. A entropia deve aumentar até o máximo, eternamente.”
O Homem disse, “A entropia pode ser revertida? Vamos perguntar ao CA Cósmico.”
O CA Cósmico o envolveu, mas não através do espaço, nem um fragmento dele estava no espaço. Estava no hiperespaço, e era feito de algo que não era nem matéria e nem energia. A questão sobre seu tamanho e sua natureza, não fazia mais sentido em quaisquer termos que o Homem pudesse compreender.
“CA Cósmico”, disse o Homem, “Como a entropia pode ser revertida?”
O CA Cósmico disse “ainda há dados insuficientes para resposta expressiva.”
O Homem disse, “Colete os dados adicionais.”
O CA Cósmico disse, “Eu o farei. Tenho feito isto a cem bilhões de anos. Meus predecessores e eu recebemos esta pergunta muitas vezes. Todos os dados que tenho permanecem insuficientes.”
“Haverá um período”, disse o Homem, “em que os dados serão suficientes ou esta questão é insolúvel sob todas as circunstâncias concebíveis?” O CA Cósmico disse, “Nenhuma questão é insolúvel sob todas as circunstâncias concebíveis.
O Homem disse, “Quando você terá dados suficientes para responder à questão?” O CA Cósmico disse, “ainda há dados insuficientes para uma resposta expressiva.”
“Você continuará coletando dados?” Perguntou o Homem. O CA Cósmico respondeu, “Continuarei.” Disse o Homem “Nós esperaremos.”
*
As estrelas e galáxias morreram e se dispersaram, e o espaço tornou-se negro após dez trilhões de anos.
Um a um, o Homem se fundiu ao CA, cada corpo físico perdia sua identidade mental, de um modo que, de certa forma, não era uma perda, mas um ganho.
A última mente Humana hesitou antes da fusão, mirando um espaço que incluía nada além dos resíduos de uma última estrela negra e nada mais, além de uma matéria incrivelmente rala, agitada aleatoriamente pelos restos finais de calor se se aproximando assintoticamente do zero absoluto.
O Homem disse, “CA, é o fim? Este caos não poderá ser revertido em um universo novamente? Isso não poderá ser feito?”
O CA disse, “ainda há dados insuficientes para uma resposta expressiva.”
A última mente Humana se fundiu, e agora apenas o CA existia, no hiperespaço.
A matéria e a energia acabaram, e com elas o espaço-tempo. Mesmo o CA existia ainda apenas devido à última questão, que ele nunca respondeu, desde que um homem semi-embriagado dez trilhões de anos antes tinha perguntado a um computador que estava para o CA muito menos do que o homem estava para o Homem.
Todas as outras questões foram respondidas, e até esta questão final ser respondida, o CA não se livraria de sua consciência.
*
Todos os dados coletados chegaram finalmente ao término. Nada mais restou a ser coletado.
Mas todos os dados coletados tinham agora de ser completamente relacionados e postos juntos de todas as formas possíveis.
Um intervalo quase infinito foi gasto para que isso fosse feito.
E chegou o tempo em que o CA descobriu como reverter a direção da entropia.
Mas não havia um homem para quem o CA pudesse dar a resposta para a questão final. Não importava.
A demonstração da resposta cuidaria disso também.
Por outro período quase eterno, o CA pensou na melhor maneira de fazê-lo. Cuidadosamente o CA executou o programa.
A consciência do CA abarcou tudo aquilo que certa vez já fora um Universo e aninhou aquilo que era agora apenas caos. Passo por passo, tudo foi feito.
E disse o CA, “Que faça-se Luz!”
E a Luz se fez.
Caro amigo Decayer , em primeiro lugar bem vindo ao Forum Vigilia é com muito gosto que o recebemos e parabéns pelo post que está bastante bom. Pessoalmente já conhecia o texto mas é sempre bom rever, abraço e volte sempre que é bem vindo
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Obrigado pessoal!
Gosto muito de Asimov e ultimamente tenho voltado a ler algumas coisas dele.
Aproveitando o tópico, alguém conhece um conto dele em que uma nave sai do sistema solar, e se choca com uma nave extraterrestre, adquire conhecimentos etc?
Parece que o nome do conto é The C.O.N ou algo parecido. Não achei nada no Google. Talvez a sintaxe esteja errada.
Abraços,
Daniel
Gosto muito de Asimov e ultimamente tenho voltado a ler algumas coisas dele.
Aproveitando o tópico, alguém conhece um conto dele em que uma nave sai do sistema solar, e se choca com uma nave extraterrestre, adquire conhecimentos etc?
Parece que o nome do conto é The C.O.N ou algo parecido. Não achei nada no Google. Talvez a sintaxe esteja errada.
Abraços,
Daniel
Salvador Nogueira, colunista de ciências da Folha de S. Paulo, está estreando como escritor de ficção científica. Um conto de sua autoria foi publicado na edição de 27 de outubro, da revista científica britânica "Nature". O texto, naturalmente, está em inglês. Vale a pena dar uma conferida:
http://www.trekbrasilis.net/sn/cgi-bin/ ... 1130358427
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