Vídeos reacendem debate sobre a famosa onda de OVNIs triangulares na Bélgica

O recente resgate de vídeos de objetos aparentemente triangulares em uma conversa no Reddit (subreddit r/UFOs) reacendeu o debate sobre os OVNIs que ficaram famosos por fotos atribuídas a uma série de avistamentos e registros de aeronaves com esse formato na Bélgica, no final da década de 1980.
As imagens postadas pelo usuário “CalligrapherItchy237” não são novas. Na verdade, circularam em um canal ainda ativo no YouTube — REALUFOCLIPS — em 2014, e são atribuídas a testemunhas na Bélgica, em 24 de agosto de 2007. Como bem notou o autor do post, até hoje haviam recebido pouca atenção. Ele expressou sua surpresa pelo baixo número de visualizações e a falta de discussões em torno do material, considerando-o bastante intrigante.
Os vídeos mostram uma forma triangular, delineada por luzes nas três extremidades, e uma quarta luz ao centro, pulsante. As imagens rapidamente atraíram a atenção de outros usuários, que compartilharam suas próprias experiências e teorias. Um comentarista mencionou ter visto algo semelhante há uma década, descrevendo uma luz vermelha no centro do triângulo como pulsante, uma visão que ainda não conseguia explicar totalmente. Outro relacionou as imagens ao lendário projeto militar TR-3B, uma suposta nave secreta da Força Aérea dos Estados Unidos, alimentando especulações sobre tecnologias avançadas.

Uma história real que ganhou (mais) notoriedade com uma fraude
De fato, o objeto triangular nos vídeos é bastante representativo da famosa onda belga, que foi eternizada na Ufologia por uma imagem que até hoje circula na Internet. O detalhe é que, apesar dos muitos testemunhos aparentemente reais dos OVNIs triangulares na Bélgica, a foto em si é, na realidade, uma fraude. A “brincadeira” foi exposta em 2011 pelo próprio autor.

De posse dos negativos originais, Patrick Maréchal revelou que ele e alguns colegas haviam criado a imagem usando uma maquete de poliestireno (isopor) pintado e algumas lanternas, demonstrando como mesmo a “evidência” mais convincente pode ser fabricada. Em algumas aparições ele inclusive reconstituiu as condições em que produziu a criação à época. “Acho que não dá pra enganar muita gente, mas com poucos (recursos) conseguimos enganar todo mundo” disse ele a uma equipe de TV francesa.
Sem saber da fraude, e movida pela curiosidade de depoimentos impactantes, inclusive de militares, a mídia deu grande destaque aos relatos. De acordo com a Sociedade Belga para o Estudo de Fenômenos Espaciais (SOBEPS), um dos principais grupos que investigaram os avistamentos, mais de 2.600 relatos foram coletados. A maioria das testemunhas descrevia os OVNIs como silenciosos, desafiando as características de aeronaves convencionais, aparentemente com a capacidade de propulsão por antigravidade.
A caçada dos F-16
O início da chamada onda belga ficou bem delimitado ao dia 29 de novembro de 1989, quando dois policiais em Eupen relataram ter avistado um objeto triangular no céu. Este incidente, amplificado pela mídia e por grupos ufológicos como a SOBEPS, rapidamente foi seguido de uma enxurrada de avistamentos que duraria, quase na mesma intensidade, cerca de dois anos.
No entanto, um dos eventos mais notórios ocorreu em 30 de março de 1990, quando a Força Aérea Belga mobilizou dois caças F-16 para interceptar os objetos não identificados que haviam sido detectados por radares. Os pilotos conseguiram, por um breve momento, travar seus radares nos alvos, mas estes se moveram de maneira incomum, subindo e descendo rapidamente, desaparecendo de vista. Alguns contatos de radar foram interpretados mais tarde como interferências atmosféricas conhecidas como “dispersão de Bragg”, um fenômeno que pode gerar falsos ecos.
Oficialmente, o chefe de operações da Força Aérea Belga, Coronel Wilfried De Brouwer, afirmou à época que as evidências técnicas eram insuficientes para concluir que havia atividades aéreas anormais naquela noite. No entanto, a caçada dos F-16 foi amplamente divulgada na mídia, alimentando ainda mais o interesse público pelo fenômeno.
Numa conferência de imprensa realizada em 14 de novembro de 2007, De Brouwer deu um depoimento marcante. Ele ressaltou que, no exercício de sua função, foi confrontado com numerosas perguntas sobre a origem e natureza daquelas naves. Em primeira instância, e em consulta com outros parceiros da OTAN, ele confirmou que nenhum voo de aeronaves stealth ou qualquer outra experimental ocorreu no espaço aéreo da Bélgica.
“Em uma ocasião, dois F-16 registraram mudanças rápidas de velocidade e altitude que estavam bem fora do envelope de desempenho das aeronaves existentes. Em resumo, a onda de OVNIs belga foi excepcional e a Força Aérea não pôde identificar a natureza, origem e intenções dos fenômenos”, disse.
Teorias e tentativas de explicação
Cerca de um ano após os eventos, a SOBEPS lançou um livro intitulado “Vague d’OVNI sur la Belgique”, ou “A Onda OVNI sobre a Bélgica”. Um professor de física chamado Auguste Meessen, membro da entidade, foi o autor principal. O livro continua sendo a fonte primária para a maioria dos artigos atuais sobre o tema. Meessen escreveu: “A única hipótese razoável é a de objetos voadores não identificados… de origem extraterrestre.” A única hipótese razoável. Sempre que SOBEPS dizia “OVNI”, eles, ao contrário de muitos outros ufólogos, inequivocamente se referiam a naves espaciais alienígenas. Eles chegaram à sua conclusão muito antes de ouvirem falar desse evento.
Ao longo dos anos, também surgiram várias teorias céticas para tentar explicar os avistamentos. Para os céticos, a explicação mais plausível está enraizada em fatores psicológicos e sociais. O investigador Renaud Leclet sugeriu que muitos dos avistamentos poderiam ter sido causados por helicópteros, cujas luzes e sons foram mal interpretados pelas testemunhas, especialmente em condições de baixa visibilidade.
A tese ganhou então uma interpretação mais ampla, num fenômeno conhecido como “hipótese psicossocial”. De acordo com essa teoria, a ampla cobertura da mídia sobre os avistamentos teria influenciado as percepções das pessoas, levando-as a interpretar fenômenos comuns, como aviões, satélites ou planetas, como OVNIs. Essa explicação ganhou impulso após a confissão de Patrick Maréchal, em 2011, de que uma das fotos mais famosas mostrando o OVNI triangular era uma farsa.
Ainda assim, as explicações — tanto céticas quanto em favor da teoria dos alienígenas — falham em abranger todos os relatos e minúcias dos avistamentos.
O impacto na cultura popular
Aproveitando-se da falta de explicações definitivas e o acúmulo de avistamentos de objetos em formatos triangulares em todo o mundo, a Onda Belga de OVNIs permanece até hoje viva na memória coletiva. Em 2025, um documentário em três partes chamado “The Mysterious Case of the Belgian Triangle” (“O misterioso caso do triângulo belga”) será lançado, explorando os eventos de 1989 a 1992 e tentando descobrir o que realmente aconteceu no céu da Bélgica. O documentário promete revisitar as evidências e relatos, enquanto questiona se as respostas serão tão emocionantes quanto o próprio mistério.
A resiliência da onda belga também foi responsável pela popularidade do projeto TR-3B (ou TR-3B Black Manta, outras vezes também chamado de TR-3B Astra), uma nave furtiva hipotética que teria sido desenvolvida em segredo pelo governo norte-americano, com capacidades imaginadas apenas na ficção científica, como a antigravidade. Embora não haja provas concretas da existência do TR-3B, o fascínio por essa tecnologia persiste entre entusiastas de OVNIs e teóricos da conspiração. O TR-3B chegou a rivalizar e, por vezes, superar em popularidade, outro hipotético projeto secreto, de codinome Aurora, igualmente de uma aeronave triangular.

Hoje, mais de trinta anos após os eventos, a Onda Belga de OVNIs continua a ser uma das ocorrências mais documentadas e debatidas da ufologia mundial. Enquanto muitos céticos atribuem os avistamentos a fenômenos naturais ou fabricados, outros acreditam que as explicações convencionais não dão conta da totalidade dos eventos. O que é certo é que a Onda Belga representa um dos mais fascinantes capítulos da história dos OVNIs, deixando uma marca duradoura tanto na Bélgica quanto na comunidade global de entusiastas e pesquisadores.