Oferta de US$ 100 mil a ex-diretor do AARO por entrevista acirra disputa sobre UAPs

Oferta de US$ 100 mil a ex-diretor do AARO por entrevista acirra disputa sobre UAPs
Dr. Sean Kirkpatrick, ex-diretor do Escritório de Pesquisas de Anomalias de Todos os Domínios - AARO (Foto: Wikipedia/NASA/Joel Kowsky)

Uma polêmica envolvendo uma oferta em dinheiro para uma entrevista sobre UFOs tomou conta da comunidade interessada em fenômenos aéreos não identificados (UAPs) nesta semana. O apresentador e youtuber Jesse Michels, conhecido por seu podcast American Alchemy, ofereceu publicamente US$ 100.000 a Sean Kirkpatrick — ex-diretor do All-domain Anomaly Resolution Office (AARO), órgão do Departamento de Defesa dos EUA encarregado de investigar UAPs — para uma entrevista não editada. A proposta, feita na rede social X, desencadeou uma onda de reações, questionamentos e acusações que escancararam novamente as tensões entre os defensores de maior transparência governamental e os céticos que denunciam exageros e desinformação no campo ufológico.

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Inicialmente, Michels havia oferecido US$ 50.000, mas dobrou a proposta após conseguir apoio de um amigo. O montante, considerado por muitos exorbitante para uma simples entrevista, levantou suspeitas sobre os reais objetivos por trás do convite. Para alguns, trata-se de um esforço legítimo para expor contradições e lacunas na narrativa oficial sobre o fenômeno dos UAPs. Para outros, uma estratégia de marketing sensacionalista disfarçada de jornalismo investigativo.

A controvérsia ganhou força quando Mick West, uma das vozes céticas mais conhecidas do meio, reagiu à proposta com uma pergunta irônica: “Qual é o motivo para oferecer US$ 100.000 ao ex-chefe do AARO, Sean Kirkpatrick, apenas para aparecer em um podcast?”. West, que se notabilizou por desmistificar alegações sobre UAPs e teorias da conspiração através do site Metabunk, foi prontamente criticado por seguidores de Michels e defensores da hipótese extraterrestre, que o acusaram de parcialidade e de servir como “voz útil” para encobrir verdades incômodas.

Em uma das respostas mais curtidas na publicação de West, um usuário ironizou: “Provavelmente porque as únicas entrevistas que ele [Kirkpatrick] está disposto a fazer são com desmistificadores como você, que lhe fazem perguntas fáceis enquanto o bajulam. Nós merecemos uma entrevista com questionamento rigoroso.” Outros internautas entraram na brincadeira, dizendo que “se vestiriam de Kirkpatrick de graça” ou que a oferta era um sinal de “insanidade de mente estreita”. A polarização era evidente.

Essa disputa simbólica ocorre em um contexto em que o debate sobre UAPs nos EUA foi reacendido por uma série de eventos recentes, como as audiências no Congresso em 2023, quando o ex-oficial de inteligência David Grusch alegou sob juramento que o governo dos EUA teria recuperado veículos de origem não humana. Mais recentemente, o jornal The Wall Street Journal publicou um artigo assinado por Joel Schectman e Aruna Viswanatha, intitulado “The Pentagon disinformation that fueled America’s UFO mythology”, revelando que o Pentágono teria deliberadamente alimentado mitos sobre UFOs para ocultar programas secretos de desenvolvimento de armas.

O próprio Sean Kirkpatrick, alvo da oferta de Michels, foi uma das figuras mais centrais nos esforços recentes de institucionalização da investigação de UAPs. Cientista com formação em física e longa carreira em inteligência científica, ele liderou o AARO entre julho de 2022 e dezembro de 2023, quando se aposentou declarando ter cumprido seus objetivos. No entanto, seu nome continua associado a controvérsias. Há acusações de que teria mentido ao negar um encontro com Brandon Fugal, empresário ligado ao Skinwalker Ranch, famoso hotspot de atividades anômalas nos EUA.

Reuniao confidencial sobre o Rancho Skinwalker com a presenca de Sean Kirkpatrick Arquivo Pessoal Brandon Fugal
Reunião confidencial sobre o Rancho Skinwalker, com a presença de Sean Kirkpatrick [circulado à esquerda na foto] (Arquivo Pessoal – Brandon Fugal [à direita na foto])
Do outro lado da disputa está Jesse Michels, podcaster jovem com formação em filosofia e vínculos com o mundo do capital de risco, incluindo uma passagem pela Thiel Capital. Seu canal American Alchemy ganhou notoriedade por abordar temas como psicodélicos, teoria da simulação, inteligência artificial e, mais recentemente, UAPs. Michels foi um dos primeiros a entrevistar David Grusch após sua denúncia e tem se aproximado da comunidade interessada em revelar o que muitos acreditam ser um “encobrimento governamental”.

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Em meio à disputa, a proposta de entrevista com Sean Kirkpatrick é apenas a ponta do iceberg. Ao exigir que a entrevista seja não editada, Michels sinaliza que quer evitar qualquer possibilidade de manipulação de narrativa — mas críticos veem nisso uma tentativa de capturar declarações que possam ser exploradas fora de contexto ou para alimentar ainda mais a divisão entre “acreditadores” e “desmistificadores”.

O embate também joga luz sobre o papel da mídia alternativa e das redes sociais no cenário atual do debate ufológico. Se antes eram raros os canais que conseguiam audiência para falar de forma independente sobre UFOs, hoje youtubers e influenciadores se tornaram vozes influentes na formação de opinião, muitas vezes disputando espaço com acadêmicos, militares e jornalistas investigativos tradicionais.

Enquanto isso, até o momento desta publicação, não houve resposta pública de Sean Kirkpatrick à oferta de Michels. O silêncio do ex-diretor do AARO pode ser estratégico — ou simplesmente sinal de desinteresse. De todo modo, a proposta de US$ 100 mil expôs mais uma vez as fraturas dentro do movimento de busca por explicações sobre os UAPs, evidenciando que o debate está longe de esfriar.

Redação Vigília

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