Falas ambíguas sobre UAPs de Tim Phillips, ex-interino do AARO, geram polêmica

Uma nova e intensa batalha narrativa tem ganhado corpo nas últimas semanas, envolvendo diretamente o Wall Street Journal (WSJ), o ex-diretor interino da AARO (All-domain Anomaly Resolution Office), Timothy (“Tim”) Phillips, e uma comunidade UAP cada vez mais articulada em sua resistência a explicações consideradas “controladas” ou “reducionistas” sobre fenômenos anômalos. Um dos pontos de ignição foi a controversa tentativa do WSJ de desbancar o famoso incidente de Malmstrom, ocorrido em 1967, quando mísseis nucleares teriam sido desativados após o aparecimento de objetos voadores não identificados. Mas o que era para ser uma reportagem apaziguadora rapidamente se transformou em combustível para uma série de críticas, investigações paralelas e declarações bombásticas.
A reportagem do Wall Street Journal gerou um efeito contrário ao esperado: longe de encerrar o assunto, reacendeu debates históricos e consolidou ainda mais a desconfiança da comunidade UAP em relação à imprensa tradicional e às agências governamentais. “Tentativa fracassada”, como classificaram diversos comentaristas no Reddit, YouTube e X (antigo Twitter). A reação não tardou: influenciadores, investigadores independentes e canais de divulgação começaram a produzir refutações minuciosas, expondo contradições e questionando as fontes utilizadas pelo jornal. Em especial, a matéria foi criticada por desconsiderar décadas de depoimentos militares, como os do ex-oficial Robert Salas, e documentos do próprio Projeto Blue Book.

É nesse contexto que ressurge o nome de Tim Phillips, ex-diretor da AARO, que passou a circular em diversos podcasts e programas independentes, como Event Horizon, That UFO Podcast, UFO Podcast Live e entrevistas com nomes controversos como Steven Greenstreet e Mick West. Em suas falas, Phillips ora parece se distanciar do discurso técnico e cético que caracterizou a gestão anterior da AARO, marcada por comunicados evasivos e relatórios inconclusivos, ora reforçá-lo.
Em vários momentos, o ex-interino do AARO adota um tom surpreendentemente especulativo — e até mesmo revelador.
Phillips: de interdimensionais a manual do DoD
Em uma entrevista concedida ao canal Psicoactivo, o ex-interino declarou ter tido contato com um suposto “manual de operações do Departamento de Defesa para naves alienígenas abatidas”. A frase, de impacto imediato, foi compartilhada amplamente nas redes sociais e adicionou uma nova camada de complexidade ao debate. Em outra participação, Phillips admitiu ter visto evidências de naves triangulares, e em um terceiro momento chegou a sugerir que os UAPs poderiam ter origem interdimensional — hipótese há muito considerada marginal pelo meio científico, mas amplamente discutida na literatura ufológica.
“Ficamos com possibilidades que estão fora do nosso modelo padrão. Não sabemos se [os UAPs] vêm da Terra, de algum outro lugar do universo ou — e isso é apenas especulação — de um domínio que ainda não compreendemos. Outra dimensão? Uma linha do tempo paralela? Não podemos descartar nada neste momento.” disse Phillips ao Event Horizon.
Apesar das declarações potencialmente bombásticas, a recepção da comunidade UAP foi ambivalente. Muitos veem com desconfiança a súbita conversão de Phillips ao discurso mais aberto e especulativo. “Por que só agora ele diz isso tudo?”, questionam alguns. A sensação predominante é de que Phillips está tentando reconquistar a confiança perdida após a atuação ambígua da AARO, especialmente depois da divulgação do relatório de 2024, amplamente visto como uma tentativa institucional de encobrimento e controle de danos.
Essa ambiguidade se agrava quando Phillips aparece em entrevistas com figuras como Mick West, conhecido por sua postura cética e por sistematicamente desacreditar alegações relacionadas a UAPs. Em uma dessas interações, Phillips se mostra excessivamente cordial com West, o que acendeu alertas entre os membros mais críticos da comunidade, que veem nisso um possível sinal de “jogo duplo” ou de que o ex-diretor ainda está comprometido com uma estratégia de desacobertamento controlado.
Adicionando a DARPA ao mistério
Em sua conversa com o cético Mick West, porém, Phillips fez talvez uma de suas declarações mais contundentes: afirmou ter confirmado, por meio de um ex-diretor da DARPA encontrado casualmente em um evento social, que aquela agência esteve diretamente envolvida na operação do grupo de batalha do USS Nimitz em 2004, durante os famosos avistamentos do UAP “Tic Tac”.
Segundo Phillips, a DARPA teria testado naquela ocasião um novo sistema leve de vigilância e reconhecimento (ISR), e enviou pessoal — supostamente vestidos com macacões pretos — a bordo do Princeton, onde retiraram materiais do camarote do capitão, algo altamente incomum em uma embarcação militar em missão. Phillips confirmou que membros da equipe da AARO tentaram rastrear os registros de voo dos helicópteros envolvidos, mas o diário de bordo que poderia comprovar a operação desapareceu ou não foi localizado.
Essa revelação, longe de esclarecer o mistério do “Tic Tac”, adiciona uma nova componente de opacidade institucional. Ao sugerir que nem mesmo a Marinha ou o Departamento de Defesa estavam plenamente informados sobre a operação conduzida pela DARPA, Phillips levanta a possibilidade de que parte dos UAPs registrados possa ser resultado de testes secretos internos — conduzidos de forma tão compartimentalizada que confundem até outras agências militares. Ele destaca ainda que, diante dos avanços modernos em sistemas não tripulados e propulsão furtiva, o episódio demonstra o risco de “surpresas tecnológicas” dentro do próprio território americano, reforçando que a AARO deveria ter capacidade de acesso imediato a dados brutos para lidar com essas ameaças em tempo real.
O caso vai além de uma disputa de versões: revela um verdadeiro conflito epistemológico. De um lado, o jornalismo investigativo e científico tradicional, dizendo se apoiar em provas empíricas, documentação oficial e revisões por pares. De outro, a comunidade, que se baseia cada vez mais em testemunhos de insiders reais, dados não oficiais, documentos vazados e uma leitura histórica de desconfiança profunda no aparato governamental e midiático. Para a comunidade, tem algo muito estranho acontecendo entre as falas oficiais, documentos e as lacunas que têm sido deixadas, reproduzindo padrões que se repetem ao longo de décadas no que diz respeito ao controle de narrativas e semeadura do caos na Ufologia.
Phillips: tentando agradar os dois lados?
As discussões nas redes sociais — em especial no X (antigo Twitter) e nos subforuns Reddit relacionados ao tema — andam cada vez mais tensas e polarizadas. E ecoam descontentamentos de uma audiência cada vez mais descrente dos canais oficiais e ansiosa por alguma forma de verdade que vá além dos confusos sinais institucionais.
Ao mesmo tempo, um ponto de destaque nessa nova fase do embate narrativo é o protagonismo dos podcasts independentes e canais no YouTube. Em vez de depender da imprensa tradicional, os principais personagens da história — como o próprio Phillips — passaram a se dirigir diretamente ao público através dessas plataformas.
Isso muda as regras do jogo: as entrevistas são longas, pouco editadas, e permitem que o entrevistado controle melhor a narrativa. Mas essa prática também traz novos riscos, isso porque favorece a difusão de informações sem verificação formal, o que amplia a sensação de confusão e ambiguidade. É o terreno fértil perfeito para plantar dúvidas e preparar armadilhas para desacreditar a Ufologia.
No fim das contas, Tim Phillips parece ter se tornado um símbolo dessa disputa ambígua: por um lado, sua nova postura dá esperança àqueles que ainda aguardam algum tipo de revelação oficial sobre os UAPs. Por outro, sua trajetória na AARO o persegue como um fantasma — uma lembrança de que mesmo os “insiders” podem estar agindo sob interesses ainda mais complexos do que se imagina.