Blue Origin celebra sucesso do New Glenn e já anuncia versão mais potente

Pouso bem-sucedido do propulsor em missão a Marte intensifica a rivalidade com a SpaceX, enquanto nova variante 9×4 promete carregar mais de 70 toneladas à órbita baixa.
A Blue Origin, empresa aeroespacial fundada pelo bilionário Jeff Bezos, alcançou seu avanço técnico mais crucial ao realizar o segundo lançamento do foguete New Glenn. Em 13 de novembro de 2025, a empresa não apenas enviou com sucesso duas sondas da NASA (a missão Escapade) rumo a Marte, mas também dominou o complexo processo de recuperar o propulsor de primeiro estágio.
Este feito é um marco significativo, pois a Blue Origin se tornou apenas a segunda entidade no planeta, depois da rival SpaceX de Elon Musk, a realizar o pouso vertical de um booster de classe orbital. O pouso ocorreu em uma plataforma flutuante no Oceano Atlântico.
A conquista representa um feito notável, visto que foi realizada já no segundo voo do foguete. No voo inaugural do New Glenn em janeiro, o propulsor, embora projetado para ser reutilizável, foi perdido durante a descida, conforme originalmente previsto pela empresa.
Comentários da liderança e a comemoração da façanha
O sucesso do pouso do propulsor de 98 metros de altura, que pousou no navio-drone Jacklyn, gerou reações imediatas no setor.
O CEO da Blue Origin, Dave Limp, celebrou a façanha, ressaltando a rapidez com que a empresa atingiu o marco de reutilização: “Alcançamos o sucesso total da missão hoje, e estou muito orgulhoso da equipe. Nunca antes na história um propulsor tão grande acertou o pouso na segunda tentativa. Este é apenas o começo, pois aumentamos rapidamente nossa cadência de voo e continuamos a atender nossos clientes”.
O próprio Jeff Bezos, fundador da Amazon, que já investiu mais de US$ 10 bilhões de seu próprio dinheiro na Blue Origin, publicou um vídeo do pouso em redes sociais, e recebeu os parabéns do CEO da SpaceX, Elon Musk.
O retorno e a boa forma do booster New Glenn
A concretização da reutilização ganhou um novo capítulo com o retorno do propulsor à base da Blue Origin. Menos de uma semana após o pouso bem-sucedido, em 20 de novembro de 2025, o booster do New Glenn fez sua jornada de volta à instalação da empresa em Cabo Canaveral.

O propulsor recuperado – que estava apenas levemente chamuscado pela reentrada e envolto em coberturas protetoras – foi transportado por terra de forma coordenada, enfatizando a escala do hardware heavy-lift da Blue Origin, o que atraiu multidões.
Vários analistas comentaram o excelente estado de apresentação geral do booster. De volta ao complexo, o veículo agora será submetido a uma inspeção multifásica, incluindo análise estrutural, revisão de aviônicos e avaliação dos sete motores BE-4. Se aprovado, ele se tornará o primeiro booster New Glenn comprovadamente apto para voo.
Anúncio do super foguete (New Glenn 9×4)
Aproveitando o sucesso técnico, a Blue Origin anunciou recentemente a próxima fase de sua estratégia: o desenvolvimento de uma variante de foguete de classe super pesada chamada New Glenn 9×4. Este novo veículo contará com nove motores em seu primeiro estágio e quatro no segundo.
A principal característica do 9×4 é seu aumento substancial de capacidade. Ele será capaz de levar mais de 70 toneladas métricas à órbita baixa da Terra (LEO), um aumento significativo em comparação com as 45 toneladas métricas da versão atual (agora denominada 7×2). Essa capacidade o posiciona para competir diretamente com o Falcon Heavy da SpaceX (64 toneladas métricas para LEO) e, potencialmente, com o SLS, que também seria substituído por ele a um custo vastamente inferior.
O New Glenn 9×4 também terá maior capacidade para missões de alta energia, como a injeção trans-lunar (TLI), onde poderá carregar mais de 20 toneladas métricas, e apresentará uma carenagem maior de 8,7 metros de diâmetro. A Blue Origin planeja usar a versão 9×4 para missões que exigem capacidade adicional, incluindo exploração lunar e o lançamento de “megaconstelações” de satélites.
O cenário de competição com a SpaceX
O avanço da Blue Origin em direção à reutilização e o anúncio da nova variante 9×4 acirram a competição com a SpaceX. Especialistas avaliam que esse desempenho consolida o avanço técnico da empresa de Bezos e aumenta a pressão por contratos governamentais, como o da NASA.
A Blue Origin está de olho no Programa Artemis. Reclamando de atrasos na Starship da SpaceX, o atual administrador interino da NASA, Sean Duffy, que é também Secretário de Transportes dos Estados Unidos, sugeriu reabrir o contrato para pousos tripulados, abrindo espaço para a Blue Origin. A empresa já possui um contrato de US$ 3,4 bilhões para o módulo lunar Mark 2 para a missão Artemis V em 2029. Vale lembrar que embora Jared Isaacman tenha sido recentemente renomeado pelo presidente Donald Trump para ser o próximo administrador da NASA, até o momento ele ainda não foi confirmado pelo Senado.

Analistas americanos sugerem que o sucesso do New Glenn indica que a competição pelo futuro da exploração lunar e interplanetária está mais aberta do que nos últimos anos. Sebastian Klaus, CEO da startup alemã Atmos Space Cargo, afirmou que “Dentro de dois ou três anos, teremos um verdadeiro concorrente” para a SpaceX. Além disso, a capacidade do New Glenn de injetar uma nova concorrência no mercado, especialmente em relação a preços, pode ser um grande fator de desestabilização.
O sucesso do New Glenn no pouso e o desenvolvimento da variante 9×4 são vistos como um passo fundamental para a Blue Origin se tornar autossustentável com receita própria, além dos investimentos de Bezos. A reusabilidade, projetada para pelo menos 25 utilizações, é central para essa meta de redução de custos. Com o pouso do New Glenn e o anúncio da versão 9×4, a Blue Origin deixa de ser apenas uma promessa e se firma como protagonista da nova era espacial, em que reutilização e potência definem o futuro da exploração além da Terra.







