Abates de UAP em fevereiro de 2023: documentos FOIA da DeclassifyUAP expõem opacidade dos EUA

Abates de UAP em fevereiro de 2023: documentos FOIA da DeclassifyUAP expõem opacidade dos EUA
Caças perseguindo um óvni - Ilustração (Montagem sobre imagens de <a href="https://pixabay.com/photos/?utm_source=link-attribution&utm_medium=referral&utm_campaign=image&utm_content=828648">Free-Photos</a> por <a href="https://pixabay.com/pt/?utm_source=link-attribution&utm_medium=referral&utm_campaign=image&utm_content=828648">Pixabay</a>

Documentos liberados por meio da Lei de Liberdade de Informação (FOIA) confirmam que o Congresso norte-americano não se considerou plenamente informado sobre os abates de Objetos Anômalos Não Identificados (UAPs) realizados em fevereiro de 2023.

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Os registros, ainda que pesadamente censurados, mostram que membros do Comitê Seleto de Inteligência do Senado (SSCI) cobraram explicações detalhadas semanas após os eventos, que incluíram a derrubada de três objetos em território norte-americano e canadense. A operação seguiu-se ao episódio do balão espião chinês e envolveu uma reação direta da cadeia de comando do Departamento de Defesa dos EUA, com ordem expressa do próprio presidente Joe Biden.

As ações começaram após a interceptação de um objeto sobre Deadhorse, no Alasca, descrito posteriormente em relatórios desclassificados como “um objeto metálico cilíndrico e brilhante, do tamanho de um carro pequeno”, que teria se fragmentado ao ser atingido por um míssil. Dias depois, outros dois objetos foram abatidos: um sobre o território de Yukon, no Canadá, e outro sobre o Lago Huron. Os relatos variam: o objeto do Yukon foi registrado em documentos militares canadenses como “um balão suspeito”; o do Lago Huron, como uma estrutura octogonal com “algo semelhante a um cabo pendurado”, mas sem carga útil visível.

Uma das páginas de documentos liberados.
Uma das páginas de documentos liberados. Fonte: Reddit r/UFOs

Esses três incidentes marcaram os primeiros abates de UAPs na história do NORAD (Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte), fundado em 1958. A raridade e a rapidez das decisões levantaram questionamentos imediatos, e parte das informações conhecidas hoje só veio à tona agora graças a um pedido feito via FOIA por Nick Gold, um dos fundadores da organização civil DeclassifyUAP, dedicada à transparência sobre fenômenos aéreos anômalos.

Por que somente três dos 500+ UAPs foram abatidos?

Após uma negativa inicial do Gabinete do Diretor de Inteligência Nacional (ODNI), que alegava não poder liberar o único documento sob sua custódia, a entidade recorreu da decisão. Como resultado, em outubro de 2023, a ODNI acabou liberando uma versão final — ainda que fortemente censurada — de um documento contendo perguntas do Comitê Seleto de Inteligência do Senado (SSCI), feitas em 8 de março de 2023, durante um briefing sobre ameaças globais. Essas perguntas, formuladas apenas semanas após os abates, incluíam questionamentos diretos sobre os incidentes, especialmente por parte do então senador Marco Rubio, vice-presidente do SSCI.

Entre as dúvidas levantadas, destaca-se a razão para a derrubada desses três UAPs, enquanto outros mais de 500 casos listados à época pela AARO (Escritório de Resolução de Anomalias em Todos os Domínios), muitos em altitudes inseguras e áreas sensíveis, não sofreram qualquer intervenção. A resposta pública do presidente Biden, sugerindo que os objetos eram “provavelmente balões de hobby”, tampouco convenceu o Congresso — e ainda menos quando comparada aos termos técnicos e cautelosos usados nos relatórios internos, que evitam classificar diretamente os objetos como balões ou drones.

Outro elemento de tensão é a divergência entre o discurso oficial e os relatos no campo. Enquanto o governo afirmou que os destroços não foram localizados, reportagens iniciais da CNN mencionaram que partes do objeto abatido no Alasca foram encontradas e que operações de recuperação estavam em andamento. Um dos pilotos envolvidos teria relatado ainda interferência nos sistemas da aeronave ao se aproximar do alvo, informação que não foi confirmada oficialmente.

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Decisão presidencial e lacunas na comunicação oficial

As ordens para os abates partiram diretamente do presidente Biden, após aconselhamento das Forças Armadas e do Departamento de Defesa. Embora não haja confirmação pública detalhada sobre a estrutura de comando envolvida, acredita-se que a decisão passou pelo Secretário de Defesa e pelo comando do NORAD.

A reação do SSCI à falta de informações foi marcada por insatisfação. O documento entregue via FOIA sugere que o comitê não considerou suficiente a explicação dada ao público. A forma como os documentos foram divulgados — com tarjas extensas, limitando a compreensão do conteúdo original — reforça a percepção de opacidade, inclusive entre os próprios membros do Congresso. Uma das conclusões implícitas no processo é que mesmo a ausência de dados concretos em um relatório pode oferecer pistas sobre a sensibilidade do tema.

Balão chinês sobrevoou EUA antes de ser abatido (Crédito: Reprodução/CNN)
Balão chinês sobrevoou EUA antes de ser abatido (Crédito: Reprodução/CNN)

Hipóteses e especulações sobre a natureza dos objetos

A escassez de informações concretas gerou um leque de hipóteses — algumas plausíveis, outras mais controversas. Entre as mais discutidas está a possibilidade de que os objetos tenham sido sondas enviadas por adversários estratégicos com o intuito de testar as reações do sistema de defesa norte-americano, algo que ganha peso no contexto do balão espião chinês.

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Outras teorias sugerem que os objetos poderiam ter origem em programas secretos de tecnologia aeroespacial, com especulações envolvendo nomes como Lockheed Martin e General Dynamics — empresas frequentemente citadas em programas de defesa avançada. Esses rumores levantam a hipótese de que os EUA estariam testando veículos de engenharia reversa (ARVs) em áreas remotas, o que incluiria até o uso de territórios aliados, como o Canadá, no contexto da aliança Five Eyes. Apesar disso, tais alegações carecem de provas concretas e são, muitas vezes, descartadas como parte de campanhas de desinformação ou operações psicológicas (PSYOPs).

Por outro lado, há ainda visões mais amplas que tentam enquadrar os UAPs dentro de fenômenos não convencionais — com algumas correntes sugerindo a existência de uma ecologia invisível composta por entidades inteligentes operando fora do espectro perceptível humano. Essa hipótese, embora sem comprovação empírica, tem ganhado atenção crescente entre pesquisadores que analisam o fenômeno sob lentes interdimensionais ou meta-biológicas.

Opacidade institucional e o papel do jornalismo investigativo

O episódio de fevereiro de 2023 e os documentos obtidos posteriormente ilustram as dificuldades persistentes em se obter transparência plena quando o tema envolve UAPs. A frustração pública ecoa na postura do Congresso e é agravada pela inconsistência das versões oficiais. Ainda assim, o uso do FOIA se mostra uma ferramenta indispensável, mesmo quando os retornos vêm na forma de “caixas pretas”.

Neste cenário, o papel da imprensa independente e investigativa torna-se ainda mais crucial. A insistência em perguntas objetivas, a comparação entre versões públicas e documentos internos, e a busca por coerência nos relatos continuam sendo elementos fundamentais para que se avance no entendimento — ainda parcial — do que realmente ocorreu naquele fevereiro incomum.

Redação Vigília

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