Arquivo Nacional dos EUA libera enxurrada de fotografias de OVNIs/UAPs

Arquivo Nacional dos EUA libera enxurrada de fotografias de OVNIs/UAPs
Entre as imagens liberadas através do Arquivo Nacional dos EUA, há fotos famosas, casos potencialmente desconhecidos e fraudes conhecidas
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Nas últimas semanas e meses a comunidade ufológica vem acompanhando a liberação de uma verdadeira avalanche de documentos antes secretos, em várias frentes no âmbito da pesquisa UAP no governo dos Estados Unidos. Uma das mais surpreendentes aconteceu nesta semana, através do Arquivo Nacional dos EUA, resultado da Lei de Divulgação de Fenômenos Anômalos Não Identificados (UAPDA) de 2023, assinada pelo presidente Joe Biden.

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A nova legislação exige total transparência do governo norte-americano, com a disponibilização ao público de todos os documentos sobre o tema em seu poder até setembro de 2025.

A liberação mais recente do órgão — que regularmente tem publicado documentos antes sigilosos — inclui diversas coleções de fotos, todas em branco e preto, abrangendo um período de 24 junho de 1947 a fevereiro de 1969.

Contra um céu noturno estrelado em North Forrestville, Maryland, no dia 13 de outubro de 1968, uma imagem que não se parece com uma estrela...
Contra um céu noturno estrelado em North Forrestville, Maryland, no dia 13 de outubro de 1968, uma imagem que não se parece com uma estrela…

Não é por acaso que o início dos registros coincide com a data considerada dia do nascimento da Ufologia Moderna: a primeira imagem da coletânea é justamente uma ilustração artística — aproximada — de uma “asa voadora”, um projeto então secreto dos EUA que é considerado uma das melhores explicações para o avistamento de Kenneth Arnold em julho de 1947, no Monte Rainier, deu origem ao termo “flying saucers”.

A parte recém liberada é composta de 3 subgrupos, dois deles divididos em duas partes, com pouco menos de 2700 imagens no total.

Além de folhas de apresentação e alguns poucos documentos em texto, o compêndio traz imagens que podem ser divididas em algumas categorias:

Supostos UAPs em voo: fotos provenientes principalmente de testemunhas civis — mas algumas fornecidas por pilotos e especialistas militares —, que documentam objetos aéreos não identificados em diversas formas: discos, esferas, triângulos e charutos. Alguns exibem luzes intensas ou foram reportados por padrões de voo incomuns. A qualidade das imagens varia, mas algumas delas são surpreendentemente nítidas. Neste último caso basicamente estão imagens já bastante conhecidas dos ufólogos e várias cuja autenticidade é questionável.

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Materiais atribuídos a UAPs: curiosamente, outra categoria com uma das maiores quantidades de imagens é composta por fotos de supostos fragmentos metálicos e outras peças cuja origem seria desconhecida. Supostamente teriam sido recuperados de locais de acidentes com UAPs. Praticamente todas as fotos dessa categoria estão desacompanhadas de dados de análises dos materiais e até mesmo de alguma explicação que implique na sua classificação como material insólito, embora o contexto pareça bastante evidente.

Nas três coletâneas liberadas, imagens de fragmentos e amostras de alguma forma atribuídas a eventos UAP
Nas três coletâneas liberadas, imagens de fragmentos e amostras de alguma forma atribuídas a eventos UAP

Croquis, análises e registros de sensores: completando o panorama, a liberação inclui alguns desenhos detalhados feitos por testemunhas oculares, registros de telas de equipamentos de medição ou rastreamento de radar, além de algumas análises de investigadores. A maioria desses ‘indícios’ de pesquisa acaba aparecendo na forma de comentários curtos nas bordas das próprias imagens.

Figurinhas repetidas e reprodução precária de fotos

Há muitas imagens repetidas nos arquivos e também fotos famosas que já são de conhecimento público há vários anos, seja pela publicação em revistas ou boletins especializados, livros, na mídia tradicional ou por vazamentos e até liberações anteriores. No entanto, por se tratarem de fotos antigas em reproduções digitais de páginas de processos internos da USAF, os entusiastas não devem esperar fotos esclarecedoras, de altíssima qualidade ou resolução.

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Os documentos, sozinhos, não fornecem facilmente informações relevantes sobre as características, o comportamento e as possíveis origens dos UAPs. Provavelmente vai levar algum tempo até que a comunidade ufológica consiga escrutinar todas essas imagens e associá-las aos casos ufológicos correspondentes na história da “casuística mundial”, muitos dos quais já chegaram ao conhecimento dos entusiastas do tema e da população em geral por outros canais.

Certamente há conteúdo valioso entre as fotografias liberadas, mas há também um padrão por trás de todo o material, que fica evidente. A Força Aérea dos Estados Unidos, no período compreendido pelas fotografias, incluiu como casos de interesse — e provavelmente debruçou-se de alguma forma em seu estudo — toda sorte de relatos e fotografias sem filtro algum.

Por isso, em parte importante dos materiais liberados percebe-se a clara existência de fraudes, erros de interpretação, reflexos, fenômenos naturais e até equipamentos convencionais civis e militares (eventualmente secretos), que foram colocados no mesmo “pacote” de UAPs (ou UFOs, à época) para efeito de tratamento da informação e arquivamento pela USAF.

Entre os episódios já desmascarados que constam no pacote de fotografias liberado está, por exemplo, o caso brasileiro nascido da série de fotografias feita na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, em 1952. As imagens teriam sido obtidas dia 7 de maio daquele ano pelo fotógrafo Ed Keffel, para a popular revista O Cruzeiro.

Na época, o ufólogo Dr. Olavo Fontes enviou cópias das fotos e da reportagem de O Cruzeiro à recém criada Aerial Phenomena Research Organization (APRO), que ele representava no Brasil, o que resultou na inclusão deles no Relatório Condon. Anos mais tarde, o falecido pesquisador Claudeir Covo realizou intensa análise do episódio e conseguiu reproduzir as fotos e demonstrar seus defeitos, desmascarando o caso. Desde o início Covo apontava que a posição das sombras era incompatível com as imagens produzidas, sugerindo fotos fabricadas com dupla exposição e o uso de maquetes.

Uma das imagens da sequência do fotógrafo Ed Keffel, publicada pela revista O Cruzeiro, já desmascarada pelo falecido ufólogo Claudeir Covo. Também consta do arquivo
Uma das imagens da sequência do fotógrafo Ed Keffel, publicada pela revista O Cruzeiro, já desmascarada pelo falecido ufólogo Claudeir Covo. A sequência também consta do arquivo liberado nos EUA.

Repercussão da liberação das fotografias

A liberação dos arquivos gerou grande repercussão online, em diversos sites e canais do Youtube dedicados à Ufologia. Mas ela foi especialmente produtiva no X.com (antigo Twitter) e no fórum r/UFOs do Reddit, onde usuários logo passaram a se dedicar a analisar os documentos e compartilhar suas descobertas.

Um fato curioso notado pelo usuário @SickTanicK, do X, é a presença da sigla “SAFOI-PSF” em algumas fotos.

 


A pesquisa online revelou que essa sigla corresponde à “Air Force Special Projects Production Facility”, uma instalação da Força Aérea dos EUA. Um documento de 200 páginas sobre a história dessa instalação, anteriormente classificado como “Top Secret”, foi liberado pelo Escritório Nacional de Reconhecimento (NRO) em 31 de julho de 2014 e está disponível no site nro.gov. A conexão entre as fotos e essa instalação secreta levanta novas questões sobre o envolvimento do governo com o tema dos UAPs.

Já o usuário /, no Reddit, tratou de estabelecer uma cronologia de liberações do Arquivo Nacional até o momento. Ele notou que desde que o denunciante David Grusch tornou públicas suas alegações sobre programas secretos de recuperação de UAPs em junho de 2023, os Arquivos Nacionais têm liberado documentos ufológicos de forma mais consistente.

Em junho de 2023, foram disponibilizados 5 registros com 1.023 páginas sobre “Casos de Avistamentos de Objetos Voadores Não Identificados (OVNIs)”. Em outubro de 2023, foi a vez do “Projeto Livro Azul”, com 21 registros totalizando 6.697 páginas. Em novembro do mesmo ano, foram liberados 57 registros (7.995 páginas) de investigações da Força Aérea sobre OVNIs, além de 146 registros (1.366 páginas) de relatórios de inteligência com foco em assuntos aeronáuticos e a União Soviética. Em 2024, além da liberação de fotos já mencionada, houve a adição de 12 novos relatórios de avistamentos de UAPs entre 1949 e 1953 e a disponibilização de 39 documentos (8.984 páginas) do Escritório de Investigações Especiais da Força Aérea, abrangendo o período de 1947 a 1969.

No total, estima-se que mais de 1.399 registros e 32.857 páginas de documentos relacionados a UAPs foram disponibilizados publicamente pelo Arquivo Nacional dos EUA entre junho de 2023 e setembro de 2024.

A publicação desses arquivos representa um marco na história da ufologia. O acesso a essa vasta quantidade de informações, antes restritas ao governo, permitirá que pesquisadores e o público em geral aprofundem seus conhecimentos sobre o fenômeno UAP e contribuam para a busca por respostas. A expectativa é que as próximas liberações de documentos, previstas para ocorrer até setembro de 2025, tragam novas e recentes informações e ajudem a desvendar esse mistério que intriga a humanidade há décadas.

Confira as coletâneas liberadas nos links abaixo:

ArquivoPáginasLink Completo
Fotografias, Processos nº 10 – 4715, 24 de junho de 1947 – 2 de maio de 1957577 pág.catálogo.archives.gov /id/446391567
Fotografias, 1949-1956 (Pasta 1 de 2)93 pág.catálogo.archives.gov /id/330788875
Fotografias, 1949-1958 (Pasta 2 de 2)79 pág.catálogo.archives.gov /id/330788969
Fotografias, Processos nº 4750 – 12615, 2 de maio de 1957-fev de 1969 e ISO (1 de 2)1mil págcatálogo.archives.gov /id/446392145
Fotografias, Processos nº 4750 – 12615, 2 de maio de 1957-fev de 1969 e ISO (2 de 2)887 pág.catálogo.archives.gov /id/446393146

 

Jeferson Martinho

Jornalista, o autor é empresário de comunicação, dono de agência de marketing digital e assessoria de imprensa, publisher de um portal de notícias regionais na Grande São Paulo, fundador e editor do Portal Vigília.

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