Breakthrough Listen desmente afirmação de youtuber sobre detecção de sinal extraterrestre

A equipe do projeto Breakthrough Listen, que busca sinais de vida inteligente fora da Terra, respondeu recentemente a alegações equivocadas feitas pelo YouTuber Simon Holland. Em um vídeo amplamente compartilhado, Holland sugeriu que o sinal BLC1, detectado em 2019, teria sido confirmado como uma “tecnoassinatura”, ou seja, uma prova de vida extraterrestre, e que esse anúncio “estaria muito próximo”.
No entanto, o Breakthrough Listen, em resposta a questionamentos feitos pelo site IFL Science, desmentiu categoricamente essa afirmação, reforçando que o sinal não tem origem alienígena. A informação já é, inclusive, de conhecimento da comunidade científica desde 2021.
O episódio começou quando Simon Holland — que se autointitula professor, mas não possui credenciais acadêmicas ligadas à ciência — publicou um vídeo alegando que o sinal BLC1, identificado pelo radiotelescópio de Parkes, na Austrália, seria uma evidência sólida de uma civilização extraterrestre. Segundo ele, informações recebidas de um “amigo astrônomo” ligado ao projeto Breakthrough Listen, “que preferiu permanecer anônimo”, indicavam que a iniciativa teria ocultado essa informação até uma confirmação definitiva, que seria corroborada simultaneamente por “cientistas chineses”.
As afirmações alimentaram toda sorte de suspeitas e teorias da conspiração em torno do caso. O YouTuber não apresentou evidências concretas para sustentar suas alegações e acabou amplificando o alcance de sua história, graças à associação incidental dessa alegação com outro boato sobre a suposta detecção de um objeto massivo em direção à Terra pelo Telescópio Espacial James Webb.
Provocado pelo IFL Science, o Breakthrough Listen divulgou uma nota afirmando que a equipe “não confirmou” nenhuma natureza extraterrestre para o sinal e que as investigações iniciais já haviam apontado interferência terrestre como a fonte do BLC1.
“Em 2020, a equipe Breakthrough Listen identificou um sinal candidato a tecnoassinatura em observações conduzidas na direção da estrela próxima Proxima Centauri, usando o telescópio Parkes, que foi denominado Breakthrough Listen Candidate 1 (BLC-1). Uma análise extensa subsequente levou à conclusão de que o BLC-1 provavelmente se originou de interferência de radiofrequência terrestre”, declarou o Dr. Andrew Siemion, astrônomo do Breakthrough Listen, ao IFL Science.
O que causou realmente o BLC1?
De fato, um artigo a respeito já havia sido publicado na revista científica Nature, em 25 de outubro de 2021. O BLC1 foi detectado em 29 de abril de 2019. Mas só foi realmente analisado no ano seguinte, em 2020, quando chamou a atenção dos pesquisadores porque era uma transmissão de banda estreita “com características amplamente consistentes com uma tecnoassinatura próxima a 982 MHz”. Inicialmente, pela posição da antena, a transmissão parecia vir de Proxima Centauri.
Ao analisar mais profundamente o sinal, os cientistas descobriram que ele era um “produto de intermodulação”. Isso significa que foi causado pela mistura de diferentes frequências de rádio de maneira incomum, criando sinais falsos que poderiam parecer vir de outro lugar, mas eram, na verdade, interferências locais. Eles também encontraram outros sinais parecidos, o que confirmou a tese de que o BLC1 não era uma tecnoassinatura extraterrestre.
Apesar da frustração inicial dos entusiastas da detecção de vida alienígena, a análise e a descoberta da origem real do BLC1 ajudaram a melhorar significativamente as pesquisas SETI. Ao perceber que o sinal era uma interferência gerada por equipamentos terrestres, os cientistas desenvolveram novas estratégias e algoritmos para identificar e filtrar essas interferências no futuro. Isso deve ajudar a reduzir falsos positivos em novos sinais candidatos.
“A equipe Listen continua observando muitas estrelas próximas, incluindo Proxima Centauri, com uma variedade de instrumentos, mas não houve nenhuma nova detecção ou outros desenvolvimentos com relação ao BLC-1 que alterem as conclusões publicadas em 2021”, explicou o Dr. Siemion.
A confusão em torno do sinal BLC1 já havia sido abordada em investigações anteriores. Uma extensa matéria do Portal Vigília desmascarou a teoria da conspiração apoiada, em parte, nas informações distorcidas de Holland. Na ocasião, outro boato relacionava o Telescópio James Webb com a detecção de um objeto em rota de colisão com a Terra, mais uma afirmação completamente carente de fontes verificáveis ou dados concretos.

Esses episódios revelam como a disseminação de informações falsas ou mal interpretadas pode ganhar força nas redes sociais, alimentando a desconfiança pública em relação à ciência. O caso envolvendo Simon Holland exemplifica como informações incorretas se propagam rapidamente em plataformas de amplo alcance, como o YouTube. Embora sua alegação tenha sido prontamente desmentida pela equipe do Breakthrough Listen, ela encontrou ressonância fácil entre círculos que buscam confirmação de vida extraterrestre sem considerar as evidências científicas disponíveis.
O que é o Breakthrough Listen, parte das Iniciativas Breakthrough
O projeto Breakthrough Listen, que busca por vida extraterrestre através da detecção de possíveis sinais tecnológicos, faz parte de um programa muito mais amplo, chamado Iniciativas Breakthrough. A ação é composta de uma série de projetos científicos de grande escala voltados para explorar questões fundamentais sobre a vida no universo. Ela foi lançada em 2015 pelo bilionário Yuri Milner e sua esposa, Julia Milner, com o apadrinhamento do famoso físico Stephen Hawking.

A ideia central das Iniciativas Breakthrough é investir em projetos inovadores que possam ampliar nosso entendimento do cosmos, principalmente no que diz respeito à busca por vida extraterrestre e à exploração espacial. A iniciativa é composta por cinco eixos principais:
1. Breakthrough Listen: Um dos maiores programas de busca por sinais de inteligência extraterrestre (SETI) já implementado, utilizando alguns dos maiores telescópios do mundo para monitorar estrelas e galáxias próximas, em busca de “tecnoassinaturas” na forma de sinais de rádio produzidos por uma civilização extraterrestre com capacidades tecnológicas avançadas.
2. Breakthrough Starshot: Um projeto ambicioso que visa o envio de uma frota de minúsculas sondas movidas a laser até a estrela mais próxima do sistema solar, Proxima Centauri. O objetivo é que essas sondas ultraleves, chamadas Starchips, possam viajar a 20% da velocidade da luz e coletar dados de planetas fora do nosso sistema solar, como Proxima b. Se bem-sucedida, essa seria a primeira missão interestelar da humanidade.
3. Breakthrough Message: Um projeto focado na criação de mensagens que a humanidade poderia enviar para civilizações extraterrestres, caso fossem detectadas. Embora o foco seja mais teórico, o Breakthrough Message promove discussões sobre o conteúdo, a forma e as consequências éticas de comunicar-se com civilizações alienígenas. No entanto, o envio real dessas mensagens está atualmente suspenso, com o foco voltado para o design e a discussão sobre o que essas mensagens deveriam conter.
4. Breakthrough Watch: Este programa tem como objetivo detectar planetas semelhantes à Terra ao redor de estrelas próximas, além de estudar as atmosferas desses planetas para procurar sinais de vida (bioassinaturas). O Breakthrough Watch investe no desenvolvimento de novas tecnologias de observação e colabora com outros telescópios e iniciativas de busca por exoplanetas.
5. Breakthrough Junior Challenge: Uma competição internacional de ciências voltada para estudantes. O desafio é que os alunos criem vídeos curtos e criativos explicando conceitos complexos de física, matemática ou ciências da vida de maneira clara e acessível. O objetivo é inspirar jovens a se interessarem pelas ciências e pela educação.
Esses cinco projetos formam o núcleo das Iniciativas Breakthrough, cada um com o objetivo de responder a perguntas fundamentais sobre a vida, a inteligência e o lugar da humanidade no universo.