Caso Ilha de Trindade: documento divulgado por revista não comprova fotos de UFO
A publicação recente de um relatório confidencial da Marinha Brasileira causou alguma confusão na Internet em relação ao famoso caso da Ilha de Trindade. Na esteira da recente liberação de vídeos, notas oficiais e relatórios do Pentágono e da Marinha dos EUA, o documento brasileiro, segundo a revista “Sociedade Militar”, responsável pela recente publicação, seria a comprovação do famoso Caso Trindade: as supostas fotos de um UFO obtidas no navio Almirante Saldanha seriam reais, contradizendo reportagem (de 2010) da TV Globo.
O documento, um relatório confidencial assinado pelo capitão de corveta Carlos Alberto Ferreira Bacellar – capitão do navio Almirante Saldanha — é um velho conhecido da comunidade ufológica. Foi a bordo do navio Almirante Saldanha que o fotógrafo civil Almiro Baraúna teria obtido as supostas fotografias de um OVNI sobre a Ilha de Trindade. No relatório confidencial, o capitão descreve ao Estado Maior da Marinha várias passagens curiosas, tanto em terra firme, no Posto Oceanográfico montado na Ilha, quanto o episódio já a bordo do navio.
O período abrangido pelo relatório vai de 1º de novembro de 1957 a 16 de janeiro de 1958. Bacellar fala sobre quatro avistamentos de UFOs no período. Inclusive sobre a possibilidade de um deles, que ele próprio chegou a observar, tratar-se de uma gaivota. Veja abaixo a transcrição literal de uma parte do documento:
“No dia 31 de dezembro foi enviado um rádio cifrado ao EMA [Estado-Maior da Armada], com informações à DHN [Departamento de Hidrografia e Navegação], comunicando haver sido avistado sobre a ilha um objeto voador não identificado, da forma de um elipsóide de revolução bem achatado, cor de aço inoxidável, a cerca de 1600 metros de altitude, deslocando-se com velocidade vertiginosa no rumo aproximado de nordeste, sem fazer qualquer ruído.
O objeto foi visto pelo médico, 1º Ten. Ignácio Carlos Moreira Murta, 1ª Cl=SI Sebastião Soriano de Souza e mais cinco operários da Cia. Moraes Rego, um dos quais — o primeiro a avistar o objeto — declarou que já o vira anteriormente, no dia 5 de dezembro, e que comunicara isso a seus colegas não tendo sido, entretanto, levado a sério. Em ambas as vezes eram quase oito horas da manhã.
No dia seguinte, 1º de janeiro, todas as atenções estavam voltadas para o céu quando surgiu algo, que foi visto por uns vinte homens da guarnição, e que se afirmou ser o mesmo objeto; eu também estava atento e me pareceu, no entanto, tratar-se de uma gaivota. O objeto — ou gaivota — estava projetado sobre o céu e assim não se tinha noção de profundidade; deslocando-se no rumo nordeste, em determinado ponto da trajetória brilhou intensamente, embora durante talvez menos de um segundo.
Se era gaivota a sua velocidade seria grande, mas dentro do razoável; se era realmente o objeto, deveria estar a uma distância considerável e nesse caso, a sua velocidade era incrível. Esse fato não foi comunicado ao EMA em virtude da dúvida que subsistiu. Finalmente, no dia 16, cerca de 11:00, achava-me já a bordo do NE ‘Almirante Saldanha’, após a passagem de Comando do Posto, quando fui avisado de que um objeto aéreo não identificado fora visto, de bordo, sobre a ilha.
Encontrava-me no camarote, nesse momento, e subi imediatamente ao tombadilho, onde encontrei várias pessoas um pouco excitadas com o que haviam visto, entre essas o Sr. Almiro Baraúna, fotógrafo profissional, que acompanhara diversos caçadores de mergulho à ilha da Trindade afim de fazer fotografias submarinas.
Esse Sr. Baraúna era dos mais excitados por haver batido diversas chapas do objeto e estar em grande expectativa, duvidando que tivesse obtido resultado positivo. Não me afastei mais dessa pessoa, a fim de verificar a autenticidade dos negativos.
Vi-o, ainda no tombadilho, retirar o rolo de filme da máquina e o segui à câmara escura para assistir à revelação, não tendo nela entrado devido ao forte calor que fazia, ficando do lado de fora durante o tempo necessário à operação, ou seja, 10 minutos. Saindo da câmara, ainda com o filme na bacia, vi-o retirá-lo e assisti à sua decepção quando, bastante nervoso, supôs que não obtivera êxito.
Tomei do filme, examinei-o melhor e, em três negativos e em posições diferentes, notei a presença de uma estranha mancha que mais tarde foi perfeitamente identificada. O filme ficou em poder do Sr. Baraúna que, sob insistência minha, comprometeu-se a comparecer ao EMA caso houvesse necessidade. Ao chegar ao Rio lá fui e tratei do caso com o CC José Geraldo Brandão, prestando, então, depoimento verbal. A partir de então tudo o que foi feito foi de iniciativa exclusiva do EMA.”
É possível acessar aqui o relatório do capitão do navio Almirante Baraúna na integra.
Documento da Marinha prova que Caso da Ilha de Trindade foi real?
Desde o início de 2011, o Portal Vigília reuniu informações contundentes, incluindo as informações de Bacellar, além de testemunhas em primeira mão — militares que estavam abordo do navio Almirante Saldanha, opiniões de especialistas e outros documentos mostrando que as fotos apresentadas ao mundo pelo fotógrafo Almiro Baraúna são, na verdade, uma montagem.
Numa série de reportagens publicadas a partir de abril de 2011, com informações exclusivas e outras compiladas de diversos outros portais e pesquisadores sérios da Ufologia, Vigília mostrou que a partir de um escrutínio mais apurado a tese da veracidade das fotos não sobrevivia, a despeito do prestígio que o Caso Trindade obtivera ao no mundo todo ao longo do tempo.
As investigações originais falharam em ouvir adequadamente testemunhas, na análise das fotos e até no entendimento dos buracos deixados por uma suposta investigação oficial do Caso Ilha de Trindade, que sequer chegou a ouvir a tripulação do navio. Ainda que pudesse haver, atrás da história oficial, uma coletânea real de episódios de avistamentos de objetos voadores não identificados no Posto Oceanográfico da Ilha de Trindade. As fotos sempre estiveram sob suspeita.
O esforço de reportagem do Portal Vigília, assim como de outros pesquisadores que estavam envolvidos neste trabalho, como o extinto site Ceticismo Aberto, ou em apurações independentes, como o pesquisador Alexandre Borges, existia como questionamento do caso na casuística ufológica já há algum tempo. Inclusive por isso, a coletânea de reportagens do Portal Vigília não se apoiou na opinião da sobrinha de Almiro Baraúna, que viria a ser notícia no programa Fantástico, da TV Globo, onde explicava que à família, incluindo a ela própria, Almiro Baraúna teria explicado como forjara as imagens.
Para ajudar os leitores a entenderem essas conclusões, o Portal Vigília relaciona abaixo os links das matérias completas publicadas desde 2011, bem como links para outros conteúdos históricos e sérios onde todo o caso das fotografias da Ilha de Trindade foi tratado com uma profundidade impar na ufologia nacional:
Caso Ilha de Trindade: de prova incontestável a fraude disputada (Portal Vigília)
Nova testemunha ocular de Trindade afirma que ninguém viu OVNI (Portal Vigília)
Novos documentos reforçam tese de montagem no Caso Trindade (Portal Vigília)
Caso Trindade, os ciclos e a chamada geral (Portal Vigília, em editorial)
Caso Ilha da Trindade: documentos sigilosos são revelados (Blog Além da Ciência, Alexandre Borges)
Família de fotógrafo revela verdade sobre fotos de óvnis em Trindade (G1/TV Globo)
