‘Chuva de OVNIs’ coincide com queda de meteoritos de gelo
No cinqüentenário da famosa –apesar de nunca comprovada– queda de um disco voador em Roswell, no Novo México (EUA), notícias sobre acidentes com OVNIs despertaram a curiosidade dos brasileiros. Os relatos de quedas de objetos voadores não identificados praticamente coincidiram com o período de aumento dos relatos de quedas de meteoritos e blocos de gelo do espaço.
A boataria em torno do assunto disparou no dia 1º de julho, quando moradores da cidade de Nova Brasilândia, a 300 quilômetros de Cuiabá, no Mato Grosso, viram um clarão seguido de um enorme estrondo que quebrou a tranqüilidade da noite. Muitos presenciaram o momento em que uma bola de fogo cruzou os céus indo cair na direção de uma serra. (veja Vigília n.º 7).
Quando equipes de reportagem, acompanhadas de policiais, corpo de bombeiros e da Associação Mato-Grossense de Pesquisas Ufológicas e Parapsicológicas (AMPUP) tentaram localizar o artefato, o mistério aumentou: todos os testemunhos apontavam como local da queda a fazenda pertencente a Divino Fogoió, que impediu a entrada das equipes em sua propriedade, alegando que só permitiria “a entrada de pessoas autorizadas pelo Governo Federal”.
O do grupo de pesquisas de UFOs, no entanto, localizou uma das possíveis testemunhas da ocorrência: o vaqueiro Gilberto Braga. “Parece uma bola de ferro, maior do que um trator, que exalava um cheiro esquisito”, revelou aos pesquisadores e jornalistas numa primeira entrevista.
Apesar disso, numa segunda oportunidade, diante das câmeras de TV, Gilberto se recusou a falar no assunto, como pareceu fazer todo o restante da cidade. Desde então, a AMPUP não conseguiu mais qualquer evidência. A entidade conta agora com a ajuda do chefe do setor de balões do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) de São José dos Campos, Ricardo Varela, que está tentando localizar o ponto da queda com ajuda de fotos de satélite. “A hipótese da queda de um meteoro é bem provável”, disse Varela à Vigília. “As testemunhas viram o objeto, numa trajetória retilínea e logo depois o estrondo”, pondera.
Mistério em Dias D’Ávila
Varela também está auxiliando na pesquisa de outra queda de um objeto celeste, esta ocorrido em Dias D’Ávila, na Bahia, no dia 8 de agosto. Para esse fenômeno, no entanto, Varela não arrisca palpites. “O problema lá é que até dias antes as pessoas estavam relatando a observação de objetos fazendo manobras no céu. E meteoros não fazem manobras”, justifica o chefe do setor de balões do INPE.
De fato, não apenas durante a semana da queda, mas momentos antes dela ser observada por várias testemunhas, as manobras de um objeto voador não identificado foram acompanhadas em Salvador, Feira de Santana, Vitória da Conquista e na própria Dias D’Ávila. A ocorrência acabou sendo notícia no jornal A Tarde, de Salvador, nos dias 9 e 10 de agosto. “Parecia um foguete por causa de velocidade e da maneira como seguia. Primeiro, ele subiu até determinada altura e da mesma forma desceu, sumindo no horizonte” declarou ao jornal A Tarde o industriário Josevan Silva Rodrigues, que acompanhou a trajetória do objeto cruzando toda a extensão do bairro Alto Maron, em Vila da Conquista.
A estudante Andréia Anita Ferraz, moradora de Nova Dias D’Ávila afirmou que era “um negócio enorme, brilhante, cheio de luzes fluorescentes e um fogo caindo atrás. Foi uma coisa linda. Tão linda que eu nem fiquei com medo não”.
Apesar do número enorme de testemunhas, após a queda, que teria ocorrido às 19h30, no meio de um matagal, a três quilômetros da cidade de Dias D’Ávila, ninguém conseguiu localizar o objeto. Um grupo de garotos tentou, mas desistiu alegando que o caminho ficou impraticável durante a noite. Nos dias seguintes, moradores e grupos de ufólogos locais tentaram localizar o objeto mas não tiveram sucesso.
Mais sorte tiveram os especialistas do Centro de Pesquisas em Agricultura e Meteorologia (Cepagri), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e do Centro de
Gelo espacial em Campinas: caso raro pelo fato dos cientistas conseguirem amostras (Internet)
Engenharia Nuclear na Agricultura (Cena) do campus de Piracicaba da Universidade de São Paulo (USP). Eles tiveram acesso a dois enormes blocos de gelo que caíram em Campinas e numa fazenda em Itapira. As duas quedas também foram acompanhadas por testemunhas. Coincidência ou não, o fato é que os impactos ocorreram na mesma época dos relatos de quedas de UFOs no Mato Grosso e na Bahia. O bloco que caiu em Campinas, no dia 11 de julho, com peso aproximado de 300 quilos, provocou grande estrago no galpão da fábrica da Mercedez Bens. Quatro dias depois ocorreu a segunda queda, dessa vez numa área rural em Itapira, interior do Estado de São Paulo, por volta das 14 horas. As testemunhas dessa segunda ocorrência relataram ter ouvido um som semelhante ao de um avião a jato. O bloco de cerca de 50 quilos foi encontrado em um buraco de 25 cm de profundidade.
A ocorrência tem grande importância para a pesquisa astronômica. Até onde se tem notícia, essa é a primeira vez na história da Astronomia que cientistas conseguiram obter amostras de gelo espacial, já que foram eliminadas as possibilidades de tratarem-se de pedaços de gelo caídos de uma aeronave (é comum o gelo se formar nas asas de um avião) ou formados a partir de algum fenômeno atmosférico.
Sementes do espaço
Os relatórios atualizados das análises do gelo de Campinas e Itapira podem ser encontrados em http://orion.cpa.unicamp.br/gelo.html. Os cientistas já verificaram que a composição isotópica (uma relação que leva em conta os diferentes isótopos atômicos possíveis na água) do gelo espacial é semelhante à composição média da água na Terra. Os estudos, no entanto, ainda estão longe de terminar.
Aqueles que esperavam algo mais parecido com uma nave espacial vinda dos confins do Universo podem ter ficado um tanto decepcionados com a confirmação de que o que caiu em Campinas e Itapira foi gelo e não produto de algum fenômeno insólito. Mas para os astrônomos e técnicos que estão pesquisando o material ele tem quase o mesmo valor: podem estar nestas amostras de gelo a solução para a dúvida sobre a origem da água na Terra e até, conforme defendem alguns cientistas, a resposta para a pergunta sobre a possibilidade da semente da vida ter sido trazida de carona em um meteorito num choque com o planeta há milhões de anos.
Organização fez levantamento
A organização norte-americana chamada CSETI (Center for Search of Extra-terrestrial Intelligence, que nada tem a ver com o Projeto SETI, de monitoramento do Universo em busca de sinais radiotelescópicos), catalogou e colocou em seu site na Internet uma relação que aponta prováveis casos de acidentes com discos voadores.
A lista (http://www.cseti.org/crash.htm) começa com um acidente em Holdredge, no Nebraska (EUA), que teria acontecido no início de junho de 1884. Do total de 101 casos, 49 são sob território norte-americano.
Casos polêmicos com o ocorrido em Tunguska, em 1908, na ex-União Soviética, numa explosão cujas marcas até hoje podem ser encontradas, também constam da relação. Mas o CSETI faz uma ressalva: na medida em que forem surgindo provas do que aconteceu realmente, os eventos poderão ser retirados da lista ou não.
Na relação, que ainda não inclui os casos ocorridos neste ano no Brasil, são encontradas duas ocorrências nacionais. Uma delas teria ocorrido em 14 de setembro de 1957, e ficou conhecida como Caso Ubatuba, e o mais recente e mais famoso “Caso Varginha”, de janeiro de 1996.
O Caso Ubatuba é peculiar por ter sido um dos únicos a deixar vestígio. Um objeto voador não identificado aparentemente com algum problema teria explodido nos céus de Ubatuba, Litoral Norte do Estado de São Paulo, e fragmentos de metal foram recolhidos pelos pescadores que estavam no local.
Um dos fragmentos foi à época encaminhado para análise espectográfica no Laboratório de Produção Mineral do Departamento Nacional de Produção Mineral do Ministério da Agricultura. A análise, feita pela tecnologista química Dr. Luisa Maria Barbosa constatou tratar-se de magnésio num estado de pureza (99,99%) impossível de ser encontrado na natureza ou fabricado por processos até então conhecidos.
As amostras do metal foram destruídas nas análises, mas até hoje cópias do relatório de análise podem ser encontradas com o Grupo Ufológico do Guarujá, GUG, presidido pelo pesquisador Edison Boaventura Jr. (gug@carrier.com.br).