Continua a polêmica sobre “invasão de óvnis” nos céus da Ucrânia

Na primeira quinzena de setembro de 2022, explodiu na Internet a notícia de que astrônomos ucranianos teriam registrados numerosos UAPs (ou óvnis) sobre os céus do país. O estudo original foi publicado na base de textos científicos ArXiv. Os pesquisadores ligados ao Observatório Astronômico Principal de NAS, em Kiev, na Ucrânia, analisaram fenômenos aéreos não identificados registrados por câmeras de monitoramento de meteoros.
A conclusão dos astrônomos Boris Ephimovich Zhilyaev, V.N. Petukhov e Volodymyr Reshetnyk foi de que os objetos apresentam velocidades absurdas, não são perceptíveis a olho nu e tampouco possíveis de serem registrados por equipamentos com configurações convencionais.
Apenas duas semanas depois, começaram a aparecer as primeiras controvérsias. Uma extensa análise crítica do estudo UAP ucraniano e várias imagens apareceram no site Metabunk, em post do cético Mick West, o criador do site. West questionou as distâncias dos objetos citados pelos autores do estudo e notou sua semelhança com insetos fotografados sob condições semelhantes.
Citando problemas similares com o estudo, aparentemente o Conselho Científico do Observatório Astronômico Principal de NAS (MAO NASU) repreendeu os pesquisadores durante uma reunião realizada setembro. Um comunicado publicado no site do observatório dispara que “em vez de uma análise crítica das observações (possíveis erros, adequação dos modelos, precisão no pós-processamento), os autores postulam conclusões não razoáveis sobre as características dos objetos observados como UAPs”.
“A observações conduzidas por B.Yu. Zhilyaev e seus colegas são originais. Mas o processamento e a interpretação dos resultados foram realizados em um nível científico inadequado e com erros significativos na determinação das distâncias dos objetos observados. Além disso, as datas das observações estão ausentes no artigo; os autores não indicam quais eventos foram observados simultaneamente em dois locais; os autores não fornecem argumentos de que fenômenos naturais ou objetos artificiais de origem terrestre possam estar entre os UAPs observados (meteoros; objetos transportados pelo vento por longas distâncias; detritos espaciais, artefatos, etc.)”, diz o comunicado.
Além disso, o Conselho exigiu que os autores modificassem o artigo publicado removendo a atribuição do estudo como algo oficial do Observatório Astronômico Principal do NAS da Ucrânia para “os autores deste artigo realizam um estudo independente de UAP”.
Cientista caçador de ETs também propõe explicações alternativas
O banho de água fria no estudo ucraniano não terminou por ai. Um dos mais proeminentes “caçadores de extraterrestres” da comunidade científica, o astrofísico Avi Loeb, fundador do Projeto Galileo — que visa pesquisar cientificamente a possibilidade de existência de UAPs não terrestres — também se manifestou contrário à conclusão dos cientistas da Ucrânia.
Loeb escreveu um artigo científico sobre o tema disponibilizado no repositório de acesso livre da Universidade de Havard, à qual ainda é ligado e onde foi coordenador do departamento do Departamento de Astronomia durante vários anos. Simplificando os cálculos em que baseou suas conclusões e a apresentação de seus argumentos para a população leiga em geral, publicou também um extenso artigo em seu perfil na rede Medium.
O cientista relata que recebeu “um pedido especial de um oficial de alto nível do governo dos EUA” para resumir seus pensamentos sobre assinaturas observáveis de OVNIs quando teve contato com o relatório dos OVNIs da Ucrânia.
“Rapidamente percebi que a distância desses objetos escuros [‘Fantasmas’, descritos pelos ucranianos] deve ter sido incorretamente superestimada em uma ordem de magnitude, ou então seu choque de arco na atmosfera da Terra teria gerado uma bola de fogo brilhante com uma luminosidade óptica facilmente detectável”.
Loeb calculou que se os objetos “Fantasmas” estiverem uma ordem de grandeza mais próximos das câmeras que o calculado, ou seja, dez vezes mais perto, seu movimento angular no céu corresponderia às característicos de velocidade e tamanho de cartuchos de artilharia, algo bastante comum no ambiente de guerra vivido na Ucrânia.
Já um do objetos brilhantes observados a altas altitudes no estudo ucraniano teria uma explica ainda mais prosaica:
“Os astrônomos ucranianos também identificaram um objeto luminoso e variável a uma altitude de 1.170 quilômetros, que foi detectado através de observações em dois locais acima da Ucrânia. Este objeto é provavelmente um satélite”, escreve Loeb.
Ele conclui lembrando que, conforme alertou a própria nota oficial do Observatório Astronômico Principal da Academia Nacional de Ciências da Ucrânia/MAO NASU, os registros de óvnis foram feitos no modo de teste dos equipamentos durante uma observação planejada de meteoros, e os resultados não foram discutidos ou revisados com o observatório.
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