Defesa Civil anuncia plano contra histeria e gera polêmica em Campinas
Na região de Campinas, o tema “discos-voadores” está deixando de ser exclusividade dos ufólogos para ganhar atenção da Defesa Civil. O órgão, acionado nos casos de catástrofes naturais e acidentes graves que põem em risco a população, anunciou no final de setembro a criação de um plano para evitar a histeria coletiva nos casos de avistamentos de Objetos Voadores Não Identificados -Ovnis.
O plano deverá ser colocado em prática na Área Administrativa no.5 da Secretaria do Planejamento do Estado, que abrange um total de 90 municípios na região de Campinas. Segundo o coordenador regional da Defesa Civil, Ivan Carvalho, trata-se de um procedimento para evitar o pânico e dar encaminhamento ao caso conforme a Defesa Civil julgar necessário.
A idéia é tratar o tema com seriedade e evitar que a testemunha de um avistamento caia no ridículo. “Por se tratar desse tipo de assunto, eu não tinha como lidar. Não é palpável como num vazamento de produto químico ou até, como já tivemos, de material radioativo, com os quais nós já temos como proceder”, pondera Carvalho. Contudo, desde que o plano foi divulgado não pôde ser testado. Coincidentemente, os relatos de avistamentos, que eram freqüentes até então, cessaram.
O anúncio do plano preocupou os ufólogos e acabou dando dor de cabeça à Defesa Civil. Enquanto a imprensa local questionava a utilidade da medida, pesquisadores independentes, sobretudo do Centro de Estudos e Pesquisas Exológicas de Sumaré (CEPEX), temiam que fosse uma manobra para afastar os ufólogos das investigações, principalmente depois da polêmica causada pela suposta captura de seres extraterrestres em Varginha (veja link).
Carvalho conta que o plano nasceu, entre outros motivos, por uma cobrança da própria imprensa. Ele diz que o órgão é constantemente chamado a posicionar-se. “A imprensa na região é bem combativa. Cobra muito posicionamento. Quando tem algum acidente, os jornalistas logo vêm e nos perguntam: ‘qual é a posição vocês'”.
Diante de recentes observações de UFOs nos municípios de Rio Claro, Rafar, Saltinho e Santa Bárbara d’Oeste, que Carvalho diz ter tomado conhecimento através da televisão, a Defesa Civil resolveu agir. “Minha preocupação é que não venha a ocorrer pânico numa área rural, onde as pessoas começam a correr e não sabem nem de que, podendo provocar algum acidente maior”, esclarece.
Em caso de relato de avistamento de UFO, o procedimento da Defesa Civil prevê, em primeiro lugar, a checagem junto à torre de radar do Aeroporto Internacional de Viracopos para identificar se há alguma anomalia. A participação da Defesa Civil na implantação do Plano Emergencial (PLEM), dá ao órgão facilidades no acesso à administração do aeroporto.
“Depois vou ter que me deslocar até o local para conversar com as pessoas. No caminho eu vou avisar a Polícia na localidade e avisar também o CEPEX”, explica Carvalho, que espera, conversando com as testemunhas in-loco, verificar a confiabilidade do relato.
Colocar o CEPEX no procedimento foi resultado de um acordo verbal fechado em duas reuniões com o grupo. “Eles se mostraram sérios e interessados”, disse Carvalho, que confirma a disposição de avisar qualquer ONG (Organização Não Governamental) que se apresentar séria e sem interesses oportunistas.
Relatório de Avistamento de Aeroforma
Para a elaboração do procedimento, a Defesa Civil procurou conhecer melhor com o que estava lidando. O Sistema Nacional de Defesa Civil foi consultado, mas não havia qualquer procedimento para avistamentos de UFOs. A única referência a fenômenos espaciais era quanto aos chamados acidentes siderais, como quedas de meteoritos ou pedaços de satélites. Foram procurados então, segundo Ivan, astrônomos da região. Eles forneceram bibliografia sobre o tema mas quiseram se manter no anonimato. Também os ufólogos colaboraram.
Um dos recursos que poderá ser utilizado pela Defesa Civil para averiguar os relatos e a idoneidade da testemunha será um questionário com cerca de duzentas perguntas, que, segundo Carvalho, lhe foi entregue como sendo baseado um documento confidencial da Nasa. “Não é nada técnico”, diz, salientando que “é uma espécie de mini-sindicância, porque tem ‘pegadas’ para determinar as condições psicológicas da testemunha”. Denominado “Relatório de Avistamento de Aeroforma”, o questionário identifica a testemunha apenas por um codinome, para manter seu anonimato. Uma vez respondido, deverá ser encaminhado para avaliação de um profissional de psicologia.
A Defesa Civil pretende consultar profissionais de várias áreas para concluir sobre a veracidade das denúncias. Contudo, o coordenador regional esclarece que não é função do órgão investigar, mas apenas encaminhar os casos. Ele recorre ao bom humor para explicar: “vamos viajar numa bobagem, como a possibilidade de uma nave soltar raios e ameaçar a população. Nesse caso, por exemplo, eu acionaria as Forças Armadas”.