Documentos comprovam interesse militar pelo fenômeno OVNI (parte 2)

A resposta da FAB
A Força Aérea Brasileira ainda não comentou o documento, especificamente. Tentativas vêm sendo feitas pela Revista Vigília, por e-mail e por telefone, desde dezembro de 2000. Contudo, o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica, o CECOMSAER, no dia 20 de dezembro respondeu a um dos e-mails. Iniciando com uma rápida explanação sobre a missão da Aeronáutica, a resposta ressaltou que “Quando esses movimentos [nota do editor: dos objetos aéreos] não oferecem elementos que possibilitem uma identificação positiva pelos radares dos órgãos de controle de tráfego aéreo, são objetos de averiguação do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (COMDABRA), órgão responsável pela soberania do nosso espaço aéreo que, caso necessário, aciona as aeronaves de defesa aérea. Conforme citado anteriormente, a Aeronáutica tem como objetivo maior a coibição do uso hostil ou clandestino do espaço aéreo brasileiro, e não há setor específico que trate e/ou investigue assuntos referentes a “disco voador”, portanto, não dispõe de informações e/ou estudos referentes a tais fatos”.
O comunicado encerra-se informando que “este Centro de Comunicação Social não poderá atendê-lo com referência à solicitação em pauta”.
A comunicação representou uma mudança sutil – mas importante – na atitude da FAB em relação aos questionamentos pertinentes ao tema OVNI. Pela primeira vez, numa resposta oficial à imprensa, os militares admitem que o COMDABRA monitora a atividade de objetos voadores não identificados. É feita apenas a ressalva de que não há “setor específico que trate e/ou investigue assuntos referentes a disco voador”, aproveitando-se do significado conceitual e popular da expressão “disco voador”, como forma de desvincular os contextos.
Embora ganhe agora um caráter oficial, a rigor, a informação não é exatamente nova. Em março do ano passado, a Revista Vigília já mostrava isso, na matéria sobre os documentos conseguidos pelo Deputado Federal João Caldas, de Maceió, durante o processo que o levou a apresentar o Projeto de Lei 2324/00, referente à comunicação de fatos envolvendo ÓVNIs.
O Projeto viria mais tarde a ser vetado, mas o empenho do deputado produzia a primeira informação oficial – e documental – realmente contundente sobre os procedimentos específicos que vêm sendo empregados pela Aeronáutica quanto aos Óvnis no presente e no passado recente.
Em resposta a um pedido de informações do Deputado, o Ministério da Defesa revelou não só que há ocorrências de Óvnis como estas são registradas nos radares (são denominadas “tráfego hotel”), e são apuradas, ainda que sigilosamente, pelo COMDABRA. (veja matéria).
Em contraste, até então, a resposta oficial da FAB à imprensa era de que não existe um setor que trate ou investigue Ovnis, e que “… Situações esporádicas como essa [nota do editor: registros de alvos não identificados] decorrem, por exemplo, de anomalias eletromagnéticas que dependendo da intensidade chegam a sensibilizar os receptores do radar, produzindo momentaneamente um alvo não identificado na tela do monitor”.
Essa nota havia sido transmitida anteriormente à Vigília, em e-mail datado de 31 de agosto de 1999. Quase um ano depois, a TV Bandeirantes, que tentou convidar um representante da Aeronáutica para participação em um programa que trataria do tema UFOs, recebeu do CECOMSAER um fax com a mesma informação.
Descaracterizando a detecção radar
Ao longo do tempo, constata-se uma tentativa oficial de descaracterizar tanto quanto possível a eventual detecção dos objetos voadores não identificados pelos radares do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo.
Ouvido pela reportagem da Vigília a respeito da Operação Prato (veja matéria), o ex-ministro da Aeronáutica, Brigadeiro Otávio Júlio Moreira Lima à época negou o contato visual simultâneo à detecção radar para uma das mais famosas ocorrências do gênero em toda a história da Ufologia, o episódio de maio de 1986, quando 21 objetos voadores não identificados foram perseguidos por caças Mirage da Força Aérea Brasileira. Contudo, o próprio sistema de defesa havia sido acionado por um comunicado do então presidente da Petrobrás, o Coronel Ozires Silva, que era passageiro em um avião Xingu em vôo entre o Rio de Janeiro e São Paulo. A aeronave de Ozires mantinha contato visual com um objeto que assumia cores vermelhas, brancas e verdes, e aproximara-se perigosamente do Xingu. Como o episódio envolvia uma alta autoridade, todo o sistema de defesa foi colocado em alerta.
Durante um Congresso em Campinas, em março desse ano, ufólogo Marco Antônio Petit, do Rio de Janeiro, produtor de documentários sobre discos voadores, revelou que já tem em seu poder uma nova entrevista gravada com o ex-ministro da Aeronáutica Otávio Júlio Moreira Lima onde ele volta atrás nesta declaração e confirma o contato visual. A versão fica, assim, mais coerente com o que foi amplamente divulgado à época, na entrevista coletiva concedida pelos pilotos dos caças Mirage que perseguiram os 21 objetos, incluindo o Major Aviador Ney Antônio Cerqueira, Chefe do CODA citado pelo pesquisador Claudeir Covo em sua análise do documento obtido pela Revista Vigília.
A respeito de Maio de 1986, pouca gente sabe, mas o assunto não interessou apenas aos militares brasileiros. O governo dos Estados Unidos, motivado por processos impetrados com base na Lei de Liberdade de Informações (FOIA – Freedom of Information Act), liberou um documento do arquivo do Departamento de Defesa (DoD) onde um agente na embaixada norte-americana em Brasília informa o ocorrido em maio de 86 ao DoD. O documento, fornecido à Vigília pelo pesquisador Edson Boaventura Júnior, do Grupo Ufológico do Guarujá, com algumas rasuras de censura por parte do DoD, finaliza com um comentário intrigante: “Embora o RO [nota do editor: acrônimo para Reporting Officer, oficial do relatório] não acredite em UFOs ou toda a excitação que cercou relatos anteriores, há muito aqui para ser ignorado. Três contatos visuais e três contatos positivos no radar de três sistemas diferentes, conduzem a acreditar que algo chegou ao Brasil na noite de 19 de maio”. Curiosamente o oficial usa o termo “chegou” (arrived), ao invés de aconteceu.
A Caixa de Pandora da Ufologia
Vários documentos mostram que os ÓVNIS sempre foram objeto do interesse militar. Um dos mais contundentes foi divulgado presidente do INFA, Claudeir Covo: a NPA-09C. Trata-se de uma Norma de Procedimento Aeronáutico do Serviço de Proteção ao Vôo do Rio de Janeiro que estabelece procedimentos padrão para os casos de informes de UFOs. O documento, que entrou em vigor em setembro de 1990, acompanha inclusive um questionário que deve ser aplicado pelos operadores do ATS/ATC (Sistema de Tráfego Aéreo/Controle de Tráfego Aéreo) às testemunhas de OVNIs.
Dois outros documentos, no entanto, comprovam ações regionais de investigação do fenômeno UFO. Um dos mais famosos e polêmicos é o relatório da Operação Prato, secretamente desenvolvida na Amazônia pela FAB entre 1976 e 1978 para apurar os diversos relatos de fenômenos aéreos inexplicáveis. Nesta época, a região atravessava um momento delicado, com os populares relatando ataques por uma luz vermelha que ficou conhecida como “chupa-chupa”, devido ao fato de ter sido relacionada à anemia encontrada em suas vítimas.
O relatório da Operação Prato, com quase duas centenas de páginas, contém uma detalhada descrição da atividade diária das equipes da FAB em campo, relatos dos populares bem como das experiências insólitas vivenciadas pelos próprios militares (veja matéria completa).
Outros dois documentos importantes somam-se à lista: os boletins do Sistema de Investigação dos Objetos Aéreos Não Identificados – SIOANI, organizados na 4ª Zona Aérea (hoje o 4º COMAR). Uma iniciativa criada no início de 1969, o SIOANI divulgou apenas dois boletins, em abril e agosto daquele ano, com relatórios e extensos comentários a respeito das ocorrências registradas por uma complexa rede de informações, na única ação de colaboração mútua entre pesquisadores civis e militares.
Desde então, segundo apontam os documentos oficiais, todo o “know how” da Força Aérea Brasileira na investigação dos objetos voadores não identificados foi centralizado em Brasília. Inicialmente sob a guarda do Comando Geral do Ar, o tema foi repassado ao Núcleo Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro, que teve esse nome enquanto passava por sua fase de implantação. Em 1995 transformou-se no atual Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro, o Comdabra, um comando combinado ligado diretamente ao Presidente da República e, em tempo de paz, subordinado ao Comando Geral do Ar.
Com base nos documentos conseguidos ao longo dos últimos anos, os ufólogos suspeitam que podem estar nas gavetas de algum esquecido – ou não – arquivo no edifício sede do Comdabra, em Brasília, segredos guardados a sete chaves pela Força Aérea Brasileira a respeito dos ÓVNIS. A verdadeira Caixa de Pandora da Ufologia Brasileira.
Clique aqui para obter uma cópia do relatório em formato PDF.
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