Expedição por objeto interestelar no Pacífico encontra filamento estranho

Você já imaginou que um pedaço de outro sistema solar pode estar escondido no fundo do oceano? Pois é exatamente isso que o astrofísico Avi Loeb acredita ter acontecido em 2014, quando um meteoro brilhou no céu da Papua Nova Guiné e explodiu sobre o Oceano Pacífico. Segundo ele esse meteoro era, na verdade, um objeto interestelar, ou seja, um corpo celeste que veio de fora do nosso sistema solar.
O cientista, ex-presidente do Departamento de Astronomia de Harvard, quer recuperar possíveis fragmentos do objeto interestelar — batizado de IM1 — que teriam caído no oceano. Para isso, tornou esse um dos objetivos do Projeto Galileu, um uma iniciativa criada para estudar a natureza desses corpos celestes, identificar potenciais sinais de vida extraterrestre neles e investigar fenômenos atmosféricos inexplicáveis, como os óvnis. O Galileo conta com o apoio de mais de 100 cientistas e financiadores privados.
O projeto montou uma expedição ao provável local da queda, no navio de pesquisas Silver Star, e o cientista vem relatando os achados em uma espécie de diário de viagem, criado na plataforma Medium. Em uma de suas últimas atualizações, Loeb reportou uma descoberta surpreendente: um filamento de manganês e platina que não se assemelha a nada produzido na Terra.
“Diário de uma viagem interestelar”
No blog chamado “Diário de Uma Viagem Interestelar”, o astrofísico relata as primeiras análises de um fio encontrado enrolado no trenó magnético usado para raspar o fundo do mar, após sua primeira passagem pelo local do Oceano Pacífico onde supostamente caiu o primeiro meteoro interestelar conhecido. O trenó utilizado pela equipe toca o solo a uma profundidade de cerca de 2 quilômetros de profundidade para recolher amostras.
A composição foi determinada como manganês e platina, mas com proporções incomuns em comparação com amostras naturais e mesmo manufaturadas na Terra. Trata-se de um fio não magnético alongado, descoberto no final da noite de 15 de junho de 2023, em cima de um dos potentes ímãs de neodímio do trenó. Aparentemente não foi levado pela correnteza por ter sido mantido preso por outros fragmentos vulcânicos magnéticos comuns, típicos do fundo do oceano na região.
O fio tem 8 milímetros de comprimento e é curvado duas vezes com uma estrutura rígida. A análise inicial do filamento concluiu que sua composição é anômala em comparação com as ligas feitas pelo homem.
“Espero saber se o primeiro objeto interestelar reconhecido de nossa vizinhança cósmica, o IM1, carregava materiais anômalos em relação ao que encontramos em nosso quintal ao redor do Sol. E o mais importante, desejo saber se foi fabricado tecnologicamente por outra civilização”, explica Loeb.
Novas análises de todo o material coletado deverão ser realizadas e o cientista promete atualizar os leitores no blog assim que os resultados chegarem.
O que é um objeto interestelar?
Um objeto interestelar é qualquer coisa que se origina em outro sistema planetário ou em outra região da galáxia e que passa pelo nosso sistema solar. Esses objetos podem ser asteroides, cometas, planetas ou até mesmo naves espaciais alienígenas, segundo algumas teorias. Eles são muito raros e difíceis de detectar, pois viajam a altas velocidades e geralmente têm órbitas hiperbólicas, ou seja, que não se fecham em torno do Sol.
O primeiro objeto interestelar confirmado foi o 1I/ʻOumuamua, descoberto em 2017 por um telescópio no Havaí. Esse objeto tinha um formato alongado e incomum, que gerou muita especulação sobre sua origem e natureza. Alguns cientistas, entre eles o próprio Avi Loeb, sugeriram que ele poderia ser uma sonda alienígena ou um fragmento de uma civilização extinta. Outros propuseram que ele era um cometa gelado coberto por uma crosta de poeira.
Como o objeto interestelar IM1 caiu na Terra?
O objeto interestelar que caiu na Terra em 2014 foi detectado por sensores militares dos Estados Unidos, que monitoram explosões nucleares no mundo. Ele tinha cerca de 0,4 metro de diâmetro e atravessou a atmosfera a mais de 210 mil quilômetros por hora. O meteoro explodiu a uma altitude de 18 quilômetros, liberando uma energia equivalente a 440 toneladas de TNT.
Um estudo publicado em 2019 analisou os dados da explosão e concluiu com 99% de certeza que o objeto era interestelar. Isso porque sua velocidade era muito maior do que a média dos asteroides que orbitam o Sol e sua trajetória indicava que ele vinha de fora do sistema solar. Os autores do estudo estimaram que o objeto poderia ter se originado no interior de algum sistema planetário ou até mesmo em outra estrela da Via Láctea.
Para Loeb, porém, o objeto pode não se tratar meramente de uma rocha inerte. “O IM1 estava se movendo para fora do sistema solar mais rápido do que 95% de todas as estrelas nas proximidades do Sol, levantando a possibilidade de que seu excesso de velocidade possa ter se beneficiado da propulsão”, diz.
Além disso, o IM1 mostrou ser mais resistente do que todas as rochas espaciais conhecidas no catálogo da NASA, o que, segundo ele “também sugere que pode ter sido de origem tecnológica”.
Objetivos da expedição no Silver Star
A expedição realizada pelo Projeto Galileo com o Silver Star tem como objetivo final encontrar o primeiro material interestelar já coletado na Terra. Isso poderia abrir novas possibilidades para a astrofísica e a astrobiologia, pois permitiria estudar em detalhe um objeto que veio de outro lugar da galáxia. Além disso, poderia ajudar a entender melhor como os objetos interestelares se formam e se movem pelo espaço.
A expedição também tem um valor simbólico, pois representa uma busca por novos conhecimentos, além de evidências de vida fora da Terra. Avi Loeb é um defensor da exploração científica do desconhecido e disse que a possibilidade de encontrar um pedaço de outro sistema solar é empolgante o suficiente para examinar isso com cuidado e falar com todos os especialistas em expedições oceânicas.
Ele espera que o projeto inspire outras pessoas a se interessarem pela ciência e pelo espaço e, com alguma sorte, ajude a localizar e documentar oficial e cientificamente a descoberta do primeiro fragmento de tecnologia não humana encontrado na Terra.