Minha história
Atualmente moro em um chalé, dentro de uma zona reflorestada em uma área de preservação ambiental. É um pequeno pedaço de paraíso para aqueles que, assim como eu, gostam de manter o máximo de contato com a natureza. É quase como estar acampado, mas mantendo as comodidades da vida urbana como uber, internet e máquina de lavar roupas.
A flora do lugar é rica, com algumas árvores chegando aos 30 metros de altura e uma densa cobertura verde. Sem contar as frutíferas, nos poucos meses que estou aqui já pude saborear jabuticabas, abiu, pitaya e outras. As bananas, não consegui, pois assim que ficaram amarelas os micos fizeram uma farra, refestelando-se em um banquete que não parecia ter fim.
Sim. A fauna é outro espetáculo, a família de micos vem diariamente, com alguns que já atendem até pelo nome. As araras já quase acertaram minha cabeça com uma noz pecã, pude conhecer o pássaro alma de gato e entender seu nome e também descobri que existe um pica-pau idêntico ao do velho desenho animado. Isso sem contar os gambás, tatus, maracajás e a promessa de capivaras durante o inverno.
As capivaras, segundo os locais, vêm pelo rio que fica a cerca de 100 metros da minha casa. Foi justamente ali que algo muito curioso me aconteceu há cerca de pelo menos um mês. Não digo que seja algo fora de alguma explicação corriqueira, mas ainda assim acredito que valha o registro.
À época, uma amiga de longa data estava nos visitando, não me lembro como chegamos ao assunto, mas ela e minha esposa terminaram fazendo o famoso teste de abdução. Aquele com cerca de 60 perguntas e que indicaria a possibilidade que uma pessoa tem de já ter sido abduzida.
Emendamos os resultados, surpreendentes aliás, em uma discussão já nos limites entre a especulação e a ficção.
Expliquei para elas as teorias do David Jacobs e minha esposa terminou por elaborar sua própria explicação correlacionando o aumento de nascimento de autistas com possíveis hibridizações genéticas entre humanos e sabe-se lá quem quer que esteja por trás das supostas abduções. Depois de tudo isso, fomos dormir tarde, com a imaginação recheada de divagações, causos e histórias estimulantes.
Não demorou para que o sono viesse, porém a sensação fora de ter piscado os olhos. Depois de poucas horas, acordei e meu primeiro pensamento foi: “só falta ser a hora do demônio”. Embora eu tenha me antecipado à surpresa, me espantei quando ainda na cama olhei o celular e pude ver na tela de bloqueio o relógio em formato 24h virar de 02:59 para 03:00. “O que mais me aguarda?” pensei antes de tratar das necessidades que me fizeram levantar.
O banheiro foi meu primeiro destino, o qual alcancei acendendo as luzes de todos os cômodos e corredores pelo caminho, depois fiz o mesmo rumo à cozinha até chegar à geladeira e matar minha sede. Deparei-me então com o momento mais difícil: o de sair para a varanda e fumar um cigarro. Juro, que naquele momento quase abandonei o hábito e deixei enfim de ser fumante.
Infelizmente o vício falou mais alto. Parei em frente à porta de madeira e visualizei em minha mente o cenário do lado de fora. De dia, deslumbrante com suas árvores e vários tons de verde reluzente. À noite, aterrorizante com suas sombras, escuridão profunda e sons indistinguíveis.
Lá fui eu. Ao sair, tudo parecia em ordem. Peguei o cigarro que se encontrava sobre a mesinha, fechei a porta atrás de mim para evitar que qualquer cheiro entrasse em casa e me coloquei a fumar.
Já depois da metade do cigarro, mais tranquilo e relaxado, um pouco pela nicotina outro tanto por me convencer que não havia nada demais naquela noite, percebi uma estranha luz entre as árvores.
Ela parecia flutuar sobre o rio. Minha pele eriçou-se e meu coração acelerou descompassadamente como agora ao lembrar do episódio. Detive minha atenção tentando controlar o medo que subia pelas costas me colocando em estado de alerta. Reparei na forte intensidade que chegava a iluminar o caminho que ela percorria por dentro da floresta que, tipicamente, enfraquece e engole as luzes das lanternas e mesmo as mais fortes como as de carros. Outra coisa que me chamou a atenção era seu amarelo muito dourado e fechado, bem distinto das luzes que normalmente vemos dessa cor.
Percorri toda a extensão da varanda indo e vindo procurando me posicionar para enxergá-la da melhor forma possível. Foi durante esse movimento lateral de vai e vem que determinei não se tratar de balão, drone, helicóptero ou avião. Isso porque ela estava absolutamente estacionada e não havia qualquer som que eu pudesse perceber.
Pensei em pegar o celular e atravessar o caminho sinuoso até a beira do rio para ter uma melhor visão e uma boa filmagem daquela luz. Fui imediatamente desmotivado dessa aventura pelo bom senso e pela total despretensão de me tornar um candidato ao Darwin Awards, o maior prêmio de Evolução da Espécie.
Depois de algum tempo, a luz não se moveu, mas eu sim, para dentro de casa. Deixei para tentar solucionar o caso no dia seguinte, o que não aconteceu. Minha melhor explicação era a lua, mas depois de uma simples pesquisa descobri que ela havia se posto muito antes das 3 da manhã. Além disso, o amarelo que eu vi, não condizia com os tons desta cor que eventualmente a lua exibe. Outro problema dessa explicação é que o relevo do terreno que se estende após a outra margem do rio a esconde muito antes da altura em que eu vi o objeto, a poucos graus da linha dos olhos.
O que me resta é apelar para a imaginação sugestionada pelas conversas e teorias visitadas antes de dormir. O problema é que sei muito bem distinguir o que é imaginação do que é um objeto concreto flutuando e brilhando na minha frente.
E você, caro leitor, já teve alguma experiência semelhante? Divida conosco nos comentários.