NASA divulga dados do 3I/ATLAS sob descrédito e críticas dos entusiastas da “nave”

NASA divulga dados do 3I/ATLAS sob descrédito e críticas dos entusiastas da “nave”
Imagem do 3i/Atlas obtida pela câmera HiRiSE, do Mars Reconnaissance Orbiter (NASA)

A Agência Espacial Americana (NASA) realizou nesta quarta-feira, 19 de novembro de 2025, uma aguardada apresentação no Goddard Space Flight Center para divulgar novas imagens e dados científicos do cometa interestelar 3I/ATLAS. O objeto, que significa o terceiro objeto interestelar (3I) descoberto pelo Atlas Survey Telescope, foi observado por uma frota de cerca de 20 missões espaciais da NASA. As observações, que ocorreram enquanto o cometa passava pelo sistema solar interior – atingindo sua maior aproximação do Sol em 30 de outubro, cruzando a órbita de Marte – foram compiladas para oferecer uma visão detalhada do viajante cósmico.

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O principal objetivo do evento foi fornecer o conhecimento mais recente sobre o 3I/ATLAS, dissipando ao mesmo tempo as especulações públicas e confirmando que se trata de um cometa natural. Apesar da expectativa que gerou quando anunciada, além de bastante aguardada pela comunidade científica, a conferência de imprensa da agência espacial foi recebida com descrédito e críticas por boa parte dos espectadores que consideraram ao longo dos últimos meses a possibilidade de o 3I/ATLAS representar algum tipo de tecnologia extraterrestre.

A janela de observação privilegiada da NASA utilizou ativos espaciais cruciais, muitos dos quais foram forçados a operar além de suas capacidades normais para capturar dados do objeto. A importância dessa coordenação foi ressaltada por Nikki Fox, administradora associada do Science Mission Directorate da NASA, durante o encontro:

“Nós até levamos nossos instrumentos científicos além de suas capacidades normais, além das coisas que eles foram projetados para alcançar, para nos permitir capturar este vislumbre incrível deste viajante interestelar”, disse.

O cometa foi descoberto em 1º de julho de 2025 pelo telescópio Atlas Survey, financiado pela NASA, no Chile, e tem sido monitorado desde então. A coleta de dados foi crucial, especialmente porque, durante o ponto de maior aproximação do Sol, a Terra estava no lado oposto, tornando difíceis as observações terrestres e exigindo o uso de ativos em órbita.

Confirmação e características do cometa interestelar

Os representantes da NASA procuraram abordar imediatamente a especulação generalizada sobre a natureza do objeto, que ganhou força nas semanas que antecederam a apresentação. Amit Kshatriya, administrador associado da NASA, abriu a coletiva de imprensa no Goddard Space Flight Center, declarando:

“Este objeto é um cometa. Parece e se comporta como um cometa e todas as evidências apontam para que seja um cometa”.

Ele reconheceu que a especulação pública aumentou durante o período em que a NASA esteve impedida de comentar devido à recente paralisação do governo (government shutdown), mas expressou entusiasmo com o interesse do público sobre “o quão mágico o universo pode ser”.

A confirmação de que se tratava de um corpo cometário foi rápida, pois os pesquisadores conseguiram identificar rapidamente as “assinaturas” esperadas para cometas e asteroides, segundo ele. Nikki Fox observou que eles “certamente não viram nenhuma tecnoassinatura ou algo que nos levasse a acreditar que fosse outra coisa senão um cometa”.

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No entanto, Tom Statler, cientista principal de Pequenos Corpos do Sistema Solar na Divisão de Ciências Planetárias, destacou que o objeto é “empolgantemente diferente em aspectos particulares” se comparado aos cometas “caseiros” do nosso sistema solar, pois veio de um ambiente diferente.

3i/Atlas registrado pelo Telescópio Espacial Hubble: características peculiares dividem cientistas. Crédito: NASA, ESA, David Jewitt (UCLA)
3i/Atlas registrado pelo Telescópio Espacial Hubble: características peculiares dividem cientistas. Crédito: NASA, ESA, David Jewitt (UCLA)

A análise composicional, especialmente a realizada pelo Telescópio Espacial James Webb (JWST) e pelo SPHEREx em luz infravermelha, revelou informações cruciais. Foi detectada uma abundância de gás carbônico na coma do cometa, juntamente com a presença de gelo de água no núcleo. A proporção de dióxido de carbono para água é maior do que o comumente observado em objetos do sistema solar. Tom Statler explicou que o cometa “evapora dióxido de carbono; ele evapora água. Mas ele está evaporando mais dióxido de carbono em comparação com a água — então isso é algo muito interessante”.

O cometa também exibiu outras propriedades intrigantes. Observações, que já haviam notado a aparição de vapor de níquel, indicaram que, embora os cometas geralmente liberem níquel e ferro, o 3I/ATLAS está liberando mais níquel do que ferro, em uma proporção “nunca vista antes em qualquer cometa”.

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Janelas múltiplas e o enigma da origem

O esforço para observar o cometa envolveu a coordenação de quase 20 equipes de missão, uma vez que o posicionamento do cometa atrás do Sol durante sua maior aproximação dificultou a observação pela Terra. Tom Statler, da NASA, explicou que o 3I/ATLAS veio em uma trajetória oposta, chegando ao seu ponto mais próximo do Sol quando a Terra estava no lado errado para uma observação conveniente.

“Mas Marte estava no lado correto do Sol, e nossos ativos de Marte foram capazes de observar o cometa”, ressaltou.

As imagens mais próximas obtidas foram as do Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), que usou sua câmera HiRISE (High Resolution Imaging Science Experiment) em 2 de outubro de 2025 para observar o objeto a cerca de 19 milhões de milhas (30 milhões de quilômetros) de distância. A imagem HiRISE, que mostrou o cometa como uma “bola branca e difusa”, consistindo na coma de poeira e gelo, foi capturada em uma escala de aproximadamente 30 quilômetros por pixel. Leslie Tamppari, cientista do projeto MRO no Jet Propulsion Laboratory da NASA, observou que essa foi uma das ocasiões em que a equipe teve a oportunidade de “estudar um objeto espacial em trânsito”.

Outras missões contribuíram significativamente, observando o cometa de ângulos que seriam impossíveis a partir da Terra. A sonda Lucy, em rota para os asteroides troianos de Júpiter, observou o cometa de uma direção oposta em 16 de setembro, capturando a coma e a cauda. Já a MAVEN (Mars Atmosphere and Volatile EvolutioN), outro orbitador de Marte, usou seu espectrógrafo ultravioleta para identificar hidrogênio vindo do cometa, ajudando a estimar a taxa de produção de água e oferecendo uma estimativa do limite superior da proporção de deutério (um isótopo pesado de hidrogênio) para hidrogênio comum, um indicador da origem.

Em relação à origem do cometa, o 3I/ATLAS apresenta evidências circunstanciais de que veio de uma população estelar antiga. Sua alta velocidade (cerca de 60 e poucos quilômetros por segundo) é aproximadamente três vezes mais rápida do que a média da vizinhança solar local, o que sugere uma origem em um sistema estelar que teve movimentos aleatórios maiores, indicador de idade avançada. Tom Statler especulou que a “probabilidade é que ele veio de um sistema solar mais antigo do que o nosso próprio sistema solar”. Ele enfatizou que os objetos interestelares são novas “janelas” de observação, revelando um “amplo espectro de condições” que existiam em diferentes partes da galáxia.

Repercussão e a crítica científica

Apesar da coordenação massiva e dos dados apresentados, a conferência de imprensa da NASA foi amplamente considerada decepcionante por muitos no público, especialmente aqueles que esperavam uma revelação dramática. No Reddit, o fórum r/UFOs, que acompanhava intensamente o objeto, viu reações de frustração, com comentários afirmando que a agência estava dando uma “resposta nunca direta” (Never A Straight Answer, em alusão à sigla NASA). Muitos usuários questionaram o propósito do evento, já que a imagem mais esperada, a HiRISE, era apenas uma “bola branca e difusa”.

Quando a ciencia vira manchete o caso Avi Loeb e o 3I ATLAS
Avi Loeb, cientista que sugeriu a possibilidade de uma origem tecnológica para o objeto 3i/Atlas

O Professor de Harvard, Avi Loeb, cientista que sugeriu a possibilidade de uma origem tecnológica para o objeto interestelar (pela segunda vez, aliás), confirmou a falta de novidades na apresentação da NASA. Minutos após o encerramento da apresentação ele já dava entrevista ao FOX 32 Chicago: “Eu disse que não esperava grandes notícias e que a NASA repetiria o mantra oficial de que o 3I/ATLAS é um cometa natural”.

Loeb criticou o que considerou a repetição de dados já conhecidos, observando que o evento não abordou questões científicas cruciais que ele listou como anomalias, como o tamanho gigantesco do 3I/ATLAS. Ele mencionou que o objeto parece ter “pelo menos 5 quilômetros de diâmetro”, sendo um milhão de vezes mais massivo que o Oumuamua (o primeiro objeto interestelar) e mil vezes mais massivo que o Borisov (o segundo).

O astrofísico também apontou para a lentidão na divulgação dos dados, atribuindo-a à burocracia da NASA. Ele notou que a imagem do 3I/ATLAS foi retida por 45 dias antes de ser mostrada, citando a burocracia governamental como a responsável por “tomar como refém a disseminação de informações científicas”, mesmo que cientistas em universidades pudessem processar e liberar os dados imediatamente. Essa lentidão contribuiu para o ceticismo do público, com usuários de mídia social questionando a autenticidade dos dados e sugerindo que a agência estaria deliberadamente tornando as imagens mais difusas.

No entanto, a equipe da NASA defendeu a qualidade científica dos dados, enfatizando que as imagens difusas eram um reflexo das limitações ópticas e da distância. Tom Statler lembrou que, mesmo a câmera HiRISE, com maior resolução, estava a 19 milhões de milhas de distância. Shane Byrne, cientista principal do HiRISE, afirmou que o telescópio HiRISE, que normalmente é calibrado para a superfície marciana, conseguiu apenas uma resolução de aproximadamente 30 km por pixel do cometa. Cientistas da NASA também reiteraram que ainda há muito a aprender e que as “respostas virão mais tarde”, pois o que foi divulgado é apenas um “instantâneo” no estágio inicial do processo científico, com análises e publicações revisadas por pares ainda por vir nos próximos anos.

Redação Vigília

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