O suposto OVNI de Campinas e os desafios da Ufologia na era das redes sociais

O dia 14 de junho de 2024 deveria ter sido memorável para a Ufologia no Brasil. Uma doutoranda de odontologia fazia seu percurso rotineiro de carro pela Rodovia dos Bandeirantes, voltando de Campinas, com destino a São Paulo. Seguia sozinha no veículo, na pista da esquerda, quando, por volta das 18h00, teria avistado duas luzes no céu à sua frente.
Segundo ela, os objetos desceram bruscamente. A seguir, as luzes subiram e sumiram, mas, enquanto isso, um terceiro objeto apareceu. Parecia triangular. Foi quando, ainda com o carro em movimento, começou a filmar o objeto.
Seu vídeo e seu relato viralizaram numa live, em seu perfil no Instagram, poucos minutos após a ocorrência. Visivelmente emocionada, ela descreve em detalhes seu incrível avistamento. Com a fala acelerada de quem está impactada e nervosa, ela narra a experiência de observar um “objeto enorme”, que “plainava” (sic, ela provavelmente queria dizer que “pairava”). “Não era drone”… “Nem avião”, garantiu.
Nos dias que se seguiram, a doutoranda foi destaque em muitos perfis e canais de YouTube associados à pesquisa e/ou divulgação ufológica. Era simplesmente impossível não se deixar cativar por sua entusiasmada descrição.
Ela deu entrevistas; todo mundo queria saber o que ela sentiu diante de tão impactante cena. Houve um chamado? Teve quem recomendasse que mantivesse a vigilância constante (a gente prefere “vigília”, obviamente), porque, afinal, se viu uma vez, certamente verá outras. E por aí vai…
Era para ser um ponto marcante do registro e divulgação da Ufologia, não fosse um pequeno detalhe: o que ela registrou era um avião. Um enorme 747. E, com quase 99,9999% de certeza, é possível afirmar que o que viu no início de seu avistamento, antes de começar a filmar, também era uma aeronave convencional: um 737 descendo para pousar no aeroporto de Viracopos, em Campinas.
Foi curioso ver tamanho fenômeno de “supressão de descrença” atingindo muitos entusiastas e até mesmo alguns pesquisadores mais experientes. Já no seu vídeo original publicado, cuja resolução era a melhor possível, eram visíveis os elementos luminosos típicos de aeronaves convencionais, notadamente as chamadas “luzes de navegação” e estroboscópica (branca, verde e vermelha). Sem falar na silhueta da aeronave.
O analista Jorge Uesu, do canal de YouTube OVNIS e Mistérios em Geral – OMG, fez um ótimo trabalho de análise em seu perfil, com softwares de edição e uso correto de sistema de rastreamento de voos (FlightRadar24), e resumiu muito bem toda a situação, identificando até mesmo as aeronaves envolvidas no avistamento e como se deu todo o processo.
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O problema da percepção das testemunhas
Ao longo dos anos investigando relatos ufológicos, seja em campo ou remotamente, descobri que um equívoco comum que pode afetar o trabalho de qualquer pesquisador reside, infelizmente, naquilo que também dispomos de mais precioso em termos de história da casuística: o relato da testemunha.
Mais especificamente, a questão está na divergência da percepção dos fatos pela testemunha — e como ela traduz isso em palavras — e como estes realmente se apresentam diante de um registro objetivo ou, até, para um observador externo mais experiente. E o relato do avistamento na Rodovia dos Bandeirantes é um clássico exemplo disso.
Não há dúvidas de que ela presenciou uma cena bastante diferente e incomum para ela. Uma sucessão de manobras aéreas que não faziam parte de sua rotina.
Some-se a isso o fato de ser uma pessoa da Ciência. Da Saúde, uma área distante da ideia de “porcas e parafusos” que se espera na Ufologia, mas ainda assim, ‘da ciência’. E isso a torna um canal quase perfeito para disseminar e divulgar um acontecimento ufológico. Afinal, um cientista não pode se enganar, certo?
Errado: qualquer ser humano pode se enganar. Ainda mais numa situação na qual a testemunha não tem experiência, do tipo que foge completamente de sua rotina ou campo de observação. Mais ainda em se tratando de luz no céu à noite e, sobretudo, se o próprio observador já tem tendência a aceitar explicações alternativas, como ficou claro em entrevistas posteriores.
Por isso é muito importante aguçar o senso crítico e buscar ao máximo contextualizar com medições e registros, além de comparar, sempre que possível, com os relatos de outras testemunhas.
Expressões bastante comuns na Ufologia, como “enorme”, “muito alto”, “perto”, “longe”, “em cima de mim” ou “em cima do carro”… ou descrições qualitativas como “bola” ou “orbe” de luz (ou outras descrições de formatos genéricos), “brilhante”, coloração, trajetória; todas são igualmente enganadoras.
Pergunte a qualquer pesquisador quantas vezes ele ouviu “bem acima das árvores” para situações de uma luz que podia muito bem estar na estratosfera!
Não se trata de duvidar pura e simplesmente da testemunha. É preciso ter em mente que se tratam de experiências e pontos de vista diferentes — da testemunha e do investigador — e, portanto, é preciso buscar clareza absoluta nas descrições.
Em última análise, há uma discrepância de linguagem, e por isso um ceticismo saudável é fundamental.
A tendência a enquadrar em padrões conhecidos
Os seres humanos, por algum instinto de autopreservação, têm necessidade de parametrizar informações visuais segundo padrões conhecidos, mas falham miseravelmente ao tentar determinar condições como altitude e velocidade de objetos, sobretudo luzes noturnas “inexplicáveis”.
Desconhecendo sua origem, forma e tamanho exatos, a não ser que uma luz passe na frente ou atrás de algum obstáculo, como uma montanha, uma árvore ou nuvem, ou que possamos lançar mão de algum sentido como o sonar, dos morcegos, simplesmente é matematicamente impossível definir essas variáveis pela simples visualização. Nem sequer aproximações.
A não ser, claro, quando é possível tomar medições de mais de um local diferente, com variados ângulos de observação. E ainda assim esse método tem limitações.
Mesmo um registro em vídeo é enganoso. Um objeto muito pequeno e muito próximo de uma lente, sob um foco de luz lateral, pode facilmente se comportar como se fosse um “enorme orbe voador brilhante”, supersônico no horizonte distante. Na grande maioria das situações não há como diferenciar uma coisa da outra.
Até mesmo observadores experientes estão sujeitos ao erro. Um exemplo recente ocorreu perto de Porto Alegre, onde pilotos de aeronaves comerciais avistaram luzes no céu que reportaram como OVNIs “sobre a cidade” ou “na direção da cidade”.

Após análises criteriosas, foi esclarecido que os pilotos tinham confundido satélites Starlink com objetos misteriosos. Satélites NO ESPAÇO longínquo, na borda da Terra, não na atmosfera “logo acima” de Porto Alegre. E, embora os pilotos fossem observadores experientes, não tinham referências nem parâmetros anteriores para esse “novo” fenômeno.
A pressão das redes sociais
Na era das redes sociais, a dissociação entre a realidade e a percepção da testemunha não é o único fator a impulsionar os erros de interpretação. A Ufologia enfrenta um dilema delicado: como atrair seguidores sem decepcionar os entusiastas e as próprias testemunhas.
Desmistificar enganos ou esclarecer mistérios — mesmo aqueles para os quais a explicação é evidente — pode ser bastante impopular.
Muitos anos atrás, quando a única rede social que existia era o Orkut (referência de velho!), eu e um experiente produtor de vídeos fomos expulsos da casa de uma testemunha que nos procurara para analisar uma filmagem.
A visualização simples do seu registro em fita analógica não deixava dúvidas: o comportamento de holofote (ou farolete) da luz principal, e as luzes de navegação, combinados com a direção em que o objeto ia de um lado a outro, sobre uma importante via, correspondia a um helicóptero de reportagem ou de monitoramento do trânsito.
“Imagina que era um helicóptero! Minha família inteira JÁ SABE que filmei um óvni. Vocês não vão vir aqui e dizer que não era isso. NÃO PODE ser”.
Foi bem rápido passar de pesquisador convidado a persona non grata. Fomos colocados para fora. Literalmente. Agora imagine isso amplificado pelas redes sociais.
Não é raro que um pesquisador ou analista de imagens consiga demonstrar com todos os detalhes que um fenômeno pode ser explicado de forma convencional e mesmo assim persista entre muitas testemunhas ou internautas a conclusão de que aquela é apenas a opinião do pesquisador. Neste caso, quando não se consegue tocar o senso crítico do interlocutor com fatos, não há o que fazer.

Ocorre que alguns perfis dedicados à Ufologia acabam evitando justamente confrontar percepções equivocadas com a explicação convencional, mesmo quando evidências sólidas apoiam essa explicação. E o fazem por diversas razões: de boa fé, apenas por desconhecimento, por viés de confirmação ou — o que provavelmente é mais prejudicial à pesquisa — apenas porque já descobriram que perdem seguidores cada vez que fazem isso.
Embora o entusiasmo e a inspiração de relatos como o da dentista sejam importantes para manter o interesse na Ufologia, é vital que o campo mantenha um equilíbrio entre empolgação e análise rigorosa. Ignorar explicações evidentes para manter narrativas mais excitantes pode prejudicar a credibilidade da área como um todo.
Assim, a partir de um ponto de vista objetivo, investigar e divulgar, com ceticismo saudável e base científica, é fundamental para a evolução do estudo dos fenômenos aéreos não identificados e para o avanço de nossa compreensão dos mistérios do céu.
Hoje para minha surpresa, (31/07/2024 08:30:00) estava olhando pela janela do predio onde trabalho, e vi algo pela janela que me chamou a atenção, um pouco distante, com formato redondo, muito brilhante prateado, parecia refletir a luz do sol.
Estava “voando” bem devagar sobre a regiao do bairro cambui em campinas, no momento em que peguei o celular para filmar, o mesmo abriu no modo foto, vi o objeto pela tela do celular, e a hora que fui mudar para o modo video para filmar, o objeto desapareceu em milesimo de segundo, na hora me arrepiei, nunca vi algo desaparecer instantaneamente dessa forma.
fiquei ainda alguns minutos olhando a redores afim de encontrar o objeto por tras de algum outro predio, ou outro lugar. Mas não, desapareceu completamente da minha vista em milesimo de segundo. Infelizmente nao tirei a foto, meu desejo era filmar o momento.
Jamais terei essa prova, e jamais conseguirei provar o que eu vi hoje de manha.
Podem falar que era aviao, elicoptero, drone, passaro, qualquer coisa que quiserem imaginar.
Mas nada disso sumiria em milesimo de segundo igual aconteceu.