Pentágono nega memorando Yankee Blue e cita desinformação em caso UAP

Pentágono nega memorando Yankee Blue e cita desinformação em caso UAP
Artigos do Wall Street Journal sobre UAPs acirram debates nos EUA (Fotomontagem usando Freepik)

A existência de um suposto memorando do Pentágono, datado de 2023 e ligado ao esforço de desmistificação de Fenômenos Aéreos Não Identificados (UAP), gerou uma significativa controvérsia de credibilidade entre o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD) e o Wall Street Journal (WSJ). Segundo a reportagem do WSJ, este documento, emanado do escritório do Secretário de Defesa, teria ordenado na primavera de 2023 a interrupção imediata de uma prática de doutrinação militar chamada “Yankee Blue”. O programa “Yankee Blue” operava, na verdade, como uma farsa de longa data, utilizada para enganar novos oficiais, fazendo-os acreditar que estavam envolvidos em uma operação de elite de engenharia reversa de tecnologia de OVNIs.

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Contudo, a confirmação oficial deste documento foi negada pelo Pentágono, lançando dúvidas sobre a precisão da reportagem e os métodos de desinformação empregados dentro da estrutura militar. A porta-voz do Pentágono, Susan Gough, respondeu à questões sobre o “alegado memorando” de 2023, conforme reportado pelo WSJ, declinando-se a confirmar sua existência e sugerindo que outras Forças poderiam ser questionadas. Esta ambiguidade, juntamente com o silêncio dos autores do artigo do WSJ, intensificou o debate na comunidade de pesquisa e levantou questionamentos complexos sobre quem está manipulando a informação: se o WSJ foi induzido ao erro, se a administração está deturpando os fatos, ou se os jornalistas permanecem calados sobre o assunto.

Recentemente, o tema gerou um longo debate na comunidade r/UFOs do Reddit, puxado por uma longa explicação do editor do site The Black Vault, John Greenewald, que prometeu voltar ao tema.

A disputa sobre o memorando de 2023

A controvérsia centraliza-se na tentativa do Departamento de Defesa de lidar com materiais e narrativas inautênticas dentro do tema UAP. O suposto memorando do escritório do Secretário de Defesa teria sido uma medida para erradicar a prática do “Yankee Blue”, que, segundo a reportagem do WSJ, estava em curso há décadas. Ao ser questionada sobre o documento reportado pelo WSJ, a Porta-voz do Pentágono, Susan Gough, forneceu uma resposta cautelosa via e-mail, destacando a incerteza com ênfase na palavra “alegado”.

Gough afirmou: “Em relação ao memorando alegado: Não posso confirmar a existência de qualquer memorando de nível departamental conforme descrito no artigo. Talvez você queira perguntar à Força Aérea ou outros serviços militares se eles emitiram tal memorando para seu pessoal”. Esta negação, ou incapacidade de confirmar, gerou especulações de que “algo está acontecendo”, e que ou o WSJ foi enganado, ou está, ele próprio, induzindo o público ao erro. Até o momento, os autores do artigo do WSJ têm se mantido em silêncio sobre as questões levantadas pela discrepância, apesar de terem sido contatados publicamente em plataformas sociais.

A negação do memorando ocorre no mesmo contexto em que o Pentágono reiterou sua posição anterior sobre o uso de materiais inautênticos dentro de programas de acesso especial (SAP). Gough relembrou uma declaração anterior indicando que o All-domain Anomaly Resolution Office (AARO) havia descoberto evidências de materiais inautênticos de SAP relacionados a extraterrestres. Segundo a declaração, esses achados foram comunicados ao Congresso e a líderes seniores do Departamento de Defesa e do ODNI (Diretor de Inteligência Nacional), embora as investigações sobre esses incidentes, que incluem “relatos de potenciais trotes e materiais inautênticos relacionados a UAP,” não estivessem finalizadas a tempo de serem incluídas no primeiro volume de seu Relatório de Registro Histórico. O departamento, no entanto, prometeu lançar um segundo volume do Relatório de Registro Histórico ainda este ano.

A omissão na capitalização de “Defense Secretary” na frase do WSJ que descreve o envio do memorando também foi notada por observadores. Para alguns, isso sugere uma possível edição de baixa qualidade ou a possibilidade de que a frase tenha sido adicionada posteriormente ao texto do artigo.

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A farsa histórica do ‘Yankee Blue’

Independentemente da veracidade do memorando de 2023, o programa que lhe deu nome, “Yankee Blue,” é descrito como um exemplo notável de desinformação militar interna. O “Yankee Blue” não era um programa legítimo de investigação alienígena, mas sim uma “fabricação interna” concebida como um rito de passagem para o novo pessoal. O conceito era tão elaborado que os oficiais recém-chegados eram levados a acreditar que se juntavam a um esforço secreto para fazer engenharia reversa da tecnologia encontrada em naves.

Esta prática enganosa teria começado na década de 1980 e perdurado por muitos anos, e muitos oficiais submetidos à farsa nunca descobriram que o programa era falso. A meta por trás desse “trotismo” era, supostamente, testar a capacidade dos recrutas em manter o sigilo, além de adicionar um toque de lenda ao trabalho militar. Segundo o WSJ, o memorando de 2023 teria sido a tentativa do escritório do Secretário de Defesa de interromper essa prática, reconhecendo que “o dano estava feito”.

O uso de “blue” (azul) em nomes de programas relacionados a UAP não é novo, adicionando camadas de “folclore popular” à história militar. Além de “Yankee Blue,” programas como Project Blue Book, Kona Blue e Blue Fly (este último supostamente dirigido pelo mesmo esquadrão ATIC que gerenciava Project Moon Dust e investigações de OVNIs) são citados como exemplos. Alguns sugerem que os programas contendo o termo “Blue” representam programas “legados”, ou que a cor pode simbolizar o céu e o oceano.

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Kona Blue - projeto ambicioso ou mais uma miragem (Imagem criada com auxílio de IA)
Programa Kona Blue – projeto ambicioso para recuperação de UFOs ou mais uma miragem (Imagem criada com auxílio de IA)

Esta estratégia de criar ou permitir lendas é parte de um padrão maior de desinformação usado pelo Pentágono. Em certos períodos, o fascínio público por OVNIs serviu como uma “história de cobertura” conveniente para camuflar o desenvolvimento de aeronaves avançadas e classificadas, como os aviões U-2 e SR-71 Blackbird. Ao encorajar rumores de naves alienígenas, os militares podiam desviar a atenção da verdadeira natureza de seus avanços tecnológicos e proteger projetos classificados.

Dúvidas sobre credibilidade e explicações oficiais

A controvérsia do memorando se encaixa em um ceticismo mais amplo em relação às explicações fornecidas por autoridades e organizações como o AARO. Um exemplo é a tentativa do ex-diretor do AARO, Kirkpatrick, de explicar o famoso incidente de 1967 em Malmstrom. A explicação de Kirkpatrick envolveria testes de um dispositivo de Pulso Eletromagnético (EMP).

Entretanto, essa explicação é vista por alguns críticos como “totalmente implausível”. Argumenta-se que o equipamento necessário para gerar um EMP não nuclear não poderia ser transportado sem ser detectado. Além disso, seria improvável que uma base nuclear inteira, crucial para os armamentos estratégicos dos EUA, fosse desativada para tais testes, sendo mais crível que uma réplica fosse usada em um local como o Nevada Test Site.

O ceticismo é reforçado pela alegação de que os documentos citados para o teste EMP, que supostamente explicariam o incidente de 1967, na verdade descrevem um protótipo de EMP que só existiu em 1971 ou 1972, gerando uma inconsistência cronológica. Um ex-vice-diretor do AARO teria declarado que desconhecia essa explicação quando questionado, sugerindo que o AARO estaria buscando uma abordagem diferente enquanto ele estava no cargo. A tentativa do AARO de encontrar uma explicação para o evento de Malmstrom também levanta uma questão maior, pois, se Kirkpatrick encontrou uma explicação para o incidente, isso confirmaria que o evento de UAP realmente ocorreu, o que seria “a grande notícia” perdida pelos repórteres, visto que os militares nunca o verificaram previamente.

Neste ambiente de segredo e desinformação, alguns observadores expressam frustração, sugerindo que a narrativa oficial sobre UAP frequentemente se resume a uma “caça ao ganso selvagem”. Existe a percepção de que “teorias extravagantes” são validadas por “alegações vagas de ‘oficiais’ e ‘insiders’,” e que a credibilidade de um usuário anônimo do Reddit se torna comparável à dos “guardiões do conhecimento”. Este ciclo, onde “humanos enganam humanos”, é endossado pelo compromisso do Departamento de Defesa em continuar a investigação e o lançamento de seu próximo volume do Relatório de Registro Histórico, enquanto questões centrais sobre transparência e veracidade do memorando “Yankee Blue” continuam sem respostas diretas.

Redação Vigília

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