‘The Age of Disclosure’: O problema não está nos aliens, mas no colapso da realidade em Washington

‘The Age of Disclosure’: O problema não está nos aliens, mas no colapso da realidade em Washington
The Age of Disclosure: O Dilema entre Psicopatas e Paranoicos no Governo dos EUA

Em março deste ano, durante a premiere mundial no South by Southwest (SXSW), escrevi uma reportagem mostrando que o documentário The Age of Disclosure chegava com a força de um furacão, trazendo depoimentos contundentes que, paradoxalmente, requentavam as mesmas histórias de sempre. Agora, com a estreia global via Prime Video na semana passada, o filme enfrenta o tribunal da opinião pública massificada e a navalha afiada dos céticos. Mas independente do veredicto quanto à existência ou não de aliens ou de um “Programa Legado” ultrassecreto, sua narrativa coesa, lógica e preocupante escancara uma realidade profundamente perturbadora.

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O documentário de Dan Farah reuniu ao todo 34 testemunhas de altas qualificações, altas patentes ou altos cargos no Governo Federal dos EUA, Forças Armadas, na comunidade de inteligência e no Poder Legislativo norte-americano. Alguns inclusive ainda exercendo seus cargos, com responsabilidades quanto à segurança nacional ou à condução de políticas públicas viscerais para a nação. E todos eles afirmando, praticamente em uníssono: os Estados Unidos têm em sua posse não apenas destroços e naves intactas, mas também corpos de tripulantes de origem extraterrestre — ou “não humanos”, como eles preferem chamá-los agora —, resultado de várias empreitadas de recuperação desses artefatos ao longo dos anos. E isso seria feito através de iniciativas financiadas por complexas estruturas militares secretas, com a participação de fornecedores da Defesa e grandes corporações, à margem de qualquer controle do Congresso (e até dos Presidentes da República).

No primeiro texto cheguei a alertar que, apesar da contundência, o pecado original do filme é o mesmo que vem maculando toda a nova fase da Ufologia nos EUA: a falta de provas concretas; nem mesmo iscas de documentos estão presentes na narrativa. A maquinaria da frustração, no entanto, seria explicada ela mesma pelo próprio sistema que produz testemunhas oculares de alta qualificação, mas engendra-as num mecanismo obscuro, que manipula carreiras, censura materiais concretos, silencia testemunhos e ameaça famílias.

The Age of Disclosure apresenta uma coletânea contundente de depoimentos (Fotos-divulgação-montagem)
The Age of Disclosure apresenta uma coletânea contundente de depoimentos (Fotos-divulgação-montagem)

Um cético famoso, o psicólogo e historiador de Ciência Michael Shermer, em sua análise recente, carregou um pouco mais nas tintas ao classificar a obra como mais um capítulo do folclore moderno, resumindo o sentimento racionalista com um suspiro de exaustão: “os alienígenas estão aqui… de novo”. De fato, para a Ufologia, e reforçado por The Age of Disclosure, eles sempre estiveram, brincando de esconde-esconde, mas com desenhos nas pedras, visitas de dormitórios, naves que se acidentam, tecnologias capturadas e aparições aos olhos de quem quiser enxergar. Exceto, claro, para câmeras e filmadoras perfeitamente configuradas — embora, até para isso, Eric Davis, um dos cientistas do Pentágono que dá seu testemunho no documentário, dê sua explicação.

No entanto, ao focarmos exclusivamente no cabo de guerra entre “crentes” e “céticos” — entre a aceitação dos relatos como prova definitiva ou o descarte deles como fantasia cultural —, corremos o risco de ignorar o subtexto profundamente mais perturbador que a obra inadvertidamente expõe. Eu realmente fiquei chocado quando me dei conta do significado oculto de The Age of Disclosure. A obra é, superficialmente, um filme sobre Fenômenos Anômalos Não Identificados (UAPs). Mas, em sua essência, é um documento trágico sobre um dilema visceral nas entranhas do poder dos Estados Unidos.

No final do dia, não importa se as naves são reais ou não; o que o documentário coloca na mesa é a constatação de que a estrutura institucional da maior superpotência do planeta está absolutamente quebrada. Estamos diante de uma bifurcação lógica onde não existe saída segura. Como diz o ditado popular: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come! Vejamos as alternativas:

Cenário A: A hipótese crédula e a democracia de fachada

Se tomarmos os depoimentos do documentário como verdade absoluta (como o filme defende), somos forçados a aceitar uma realidade política aterrorizante. Trata-se, na verdade, de uma espécie de golpe silencioso. Significa que a democracia norte-americana é um mero teatro. Presidentes, o Congresso e o Judiciário são irrelevantes perante um “governo das sombras” composto por figuras não eleitas e corporações centenárias.

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E mais: somos forçados a crer inclusive que uma parcela desses operadores invisíveis, atuantes politicamente, estão ligados a facções religiosas extremistas e criam barreiras à própria luta pela transparência por considerar que, uma vez que está claro que o fenômeno tem uma componente metafísica (conforme defende boa parte dos denunciantes), de alguma forma ele é expressão do mal; quiçá satânico.

É uma situação de cegueira imposta: se essa hipótese for real, a humanidade está sendo privada do conhecimento mais importante de sua história por um grupo que opera acima da lei e até mesmo em outros países. Neste caso, os EUA não são uma república livre, mas uma tecnocracia autoritária disfarçada. E tanto faz qual presidente está no poder ou a composição do parlamento: democrata ou republicano, seus limites de ação não estão nos interesses do povo, mas no jogo — de atrasar o desenvolvimento humano — de um grupo que controla cada avanço em benefício próprio.

Cenário B: A infiltração paranoica

Se aplicarmos a lógica dos céticos e assumirmos que não há naves, nem corpos, e que tudo é interpretação errônea, o cenário resultante é, paradoxalmente, talvez ainda mais assustador, tanto para os Estados Unidos como nação, quanto para a segurança global.

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Teríamos, então, o manicômio no comando: significa que o aparato de defesa e inteligência mais caro e sofisticado do mundo (Pentágono, CIA, etc.) foi infiltrado nos seus mais altos níveis por indivíduos incapazes de distinguir balões, drones ou lixo espacial de ameaças extraplanetárias ou interdimensionais. E, com suas altas qualificações, acabam por influenciar congressistas, políticos em geral e a imprensa, tornando-os ferramentas de amplificação de histórias irreais com efeitos potencialmente catastróficos no futuro próximo.

A reverberação dessas histórias se processa num fenômeno aparentemente simples, mas tremendamente poderoso: a narrativa circular (o “ouroboros” da Inteligência). Agentes de inteligência validam suas crenças baseando-se nos relatos de outros agentes que, por sua vez, ouviram rumores dos primeiros. Cria-se uma “câmara de eco” classificada, onde a paranoia se torna política de Estado.

Se eu realmente fosse um cético convicto, talvez estivesse ainda mais preocupado com essa alternativa. Isso porque, neste caso, o “dedo no botão nuclear” pertence a uma estrutura institucional delirante, que gasta bilhões perseguindo fantasmas criados por sua própria cultura de segredo e insularidade.

O cerne do dilema insolúvel e perturbador

Perceba, leitor ou leitora, que qualquer que seja sua vertente, crédula ou cética, nesta realidade não há meios-termos. Una as duas pontas. Concretamente, The Age of Disclosure não nos dá a prova definitiva da vida extraterrestre, mas nos dá a prova contundente de uma profunda e perigosa crise existencial no governo norte-americano.

Qual é o “menos pior”? É melhor viver num mundo onde o Estado, ou melhor, a mão invisível que controla as cordinhas, é malévola e esconde a verdade com uma competência assustadora? Ou num mundo onde o governo é delirante, incompetente e vê monstros onde existem apenas sombras?

Sob essa ótica, o documentário funciona como um Teste de Rorschach institucional: não importa o que você vê na mancha de tinta, o diagnóstico do paciente é terminal.

Ao terminar de assistir The Age of Disclosure, a pergunta que perdura não é se “estamos sozinhos no universo?” ou se “estamos mais próximos da era da revelação?”. Tristemente, a questão é: qual destes dois cenários de colapso institucional é o “menos pior”?

Se existem mesmo extraterrestres ou seres de outras realidades visitando o nosso mundo, como cogita a Ufologia, talvez o próprio documentário seja a resposta do porquê eles ainda não se apresentaram livremente em praça pública, pedindo para conversar com um de nossos líderes: “qual vocês desejam? O psicopata ou o paranoico?”.

Jeferson Martinho

Jornalista, o autor é empresário de comunicação, dono de agência de marketing digital e assessoria de imprensa, publisher de um portal de notícias regionais na Grande São Paulo, fundador e editor do Portal Vigília. Apaixonado por Ufologia de um ponto de vista científico, é autor do livro "Nem Todo OVNI é Extraterrestre - Um guia para entusiastas da ufologia que não querem ser iludidos", disponível na Amazon.

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