“The Age of Disclosure” é lançado com depoimentos contundentes… sobre as mesmas histórias

O aguardado documentário sobre UAPs “The Age of Disclosure” (“A Era do Desacobertamento”, em tradução livre), dirigido por Dan Farah, fez sua estreia no festival South by Southwest (SXSW), gerando uma onda de discussões e reações mistas dentro da comunidade de entusiastas e pesquisadores de OVNIs e UAPs (Fenômenos Aéreos Não Identificados). O filme se propõe a apresentar um caso sério sobre a existência de vida alienígena, entrevistando 34 membros de alto escalão do governo, militares e da comunidade de inteligência dos EUA que alegam ter conhecimento direto de encontros com UAPs e de um suposto encobrimento de 80 anos.

A premissa central do documentário, conforme destacado por um participante da estreia, é que “evidências irrefutáveis, incluindo vídeo, existem”. Os entrevistados detalham o que afirmam ser uma campanha secreta de décadas para fazer engenharia reversa em tecnologias de espaçonaves de origem não humana, recuperadas de locais de acidentes. O próprio diretor, Dan Farah, que também produziu “Jogador Nº 1” de Spielberg, trabalhou no filme em segredo por dois anos e meio, afirmando que “há muitas pessoas que tentariam impedir que este filme fosse feito se tivessem a oportunidade”.
Apesar da expectativa gerada, a reação da comunidade ao teor do documentário tem sido bastante dividida, ecoando um debate que aparentemente está começando a se acirrar sobre a natureza das evidências e o propósito de iniciativas como esta.
Otimismo pela conscientização do público
Uma parcela da comunidade expressa otimismo quanto ao potencial de “Age of Disclosure” para alcançar um público mais amplo e aumentar a conscientização sobre o tema. Um comentarista no Reddit observou que “este documentário pode ser útil para o público em geral que é novo no assunto e pode não ter ouvido a história de Elizondo antes”. Outro concordou, argumentando que “95 por cento dos americanos não sabem nada sobre tudo isso, e um documentário como este seria inovador para muitas pessoas”. Acredita-se que o filme pode servir como um “ótimo ponto de partida para os ‘normais'”, apresentando “uma mensagem semelhante de tantos neste filme” e tendo potencial para “convencer mais pessoas novas de que as alegações de OVNIs e/ou programas legados são tópicos que merecem investigação e consideração sérias”.
A esperança é que essa maior conscientização possa, por sua vez, exercer pressão política para a aprovação de legislação de divulgação, como a “UAP Disclosure Act”, que alguns acreditam que finalmente trará as “evidências e provas que todos estamos procurando”.
Ceticismo e frustração com a falta de novas evidências
Por outro lado, uma parcela significativa da comunidade demonstra ceticismo e frustração com a aparente ausência de novas evidências concretas no documentário. Muitos expressam a sensação de que o filme oferece “mais do mesmo — alegações não verificadas de informantes do governo”, sem apresentar as “filmagens inéditas” que alguns esperavam. A crítica recorrente é que a comunidade tem ficado presa em “documentários ‘iniciais'” por 20 anos, sem avançar para além de testemunhos e alegações não comprovadas.
A falta de provas tangíveis acabou impulsionando os questionamentos sobre o impacto real do filme para aqueles que já estão familiarizados com o tema. Um comentarista ironiza: “Mais alegações que não podem ser verificadas e nenhuma evidência então? Justamente o que a comunidade UFO precisava!”. Outros se mostram cansados de ouvir as mesmas histórias de figuras já conhecidas, como Luis Elizondo e Christopher Mellon, referindo-se a isso como “reportagem circular”. A participação de Elizondo como narrador e protagonista do filme também gera desconfiança em alguns, dado o histórico de informações já divulgadas por ele.
Um ponto central da discussão gira em torno do público-alvo de “The Age of Disclosure”. Enquanto alguns defendem que o filme é direcionado a pessoas que não têm familiaridade com o assunto, outros criticam essa abordagem, argumentando que existem inúmeros documentários introdutórios disponíveis e que o que falta são investigações mais profundas com base no conhecimento já existente. A alegação de que o documentário se destina ao público em geral muitas vezes é vista como uma desculpa para a falta de novas revelações para a comunidade engajada.
A perspectiva de Steven Greer e o Projeto Disclosure
Em um contexto paralelo, a aparição do Dr. Steven Greer, ufólogo fundador do Projeto Disclosure, no programa “Khloé In Wonder Land”, representou outro momento importante para o movimento Disclosure. Depois de um relativo distanciamento (não voluntário) do mainstream ufológico norte-americano nos anos anteriores, Greer aparentemente voltou às luzes em grande estilo nesta nova fase conturbada da temática UFO/UAP.
No episódio de Khloé In Wonder Land, Greer alegou ter sido a “primeira pessoa a informar esta Administração e o diretor da CIA sobre este problema”, fazendo reverberar sua crença em um “governo paralelo inconstitucional e sombrio” que manteria esses segredos. Ele afirma que a tecnologia extraterrestre poderia resolver a crise ambiental e a pobreza mundial instantaneamente. Em relação aos perigos de se manifestar sobre o assunto, Greer menciona ter “762 denunciantes”, com “quatro pessoas trabalhando comigo que foram mortas” e ele próprio quase tendo sido morto. Ele também descreve como abduções e mutilações são “operações secretas da CIA” para controlar as pessoas através do medo.

Tanto Greer quanto “The Age of Disclosure” compartilham o objetivo de expor informações sobre fenômenos extraterrestres. Embora aparentemente a abordagem de Greer, que se baseia em seus próprios relatos de contato e acesso a informações privilegiadas, contraste com a dinâmica jornalística proposta pelo documentário, que se concentra nos testemunhos de ex-funcionários do governo, ambos se encontram na mesma encruzilhada: a completa falta de provas ou documentos que permitam qualquer verificação.
Temporada de críticas e ponderações
As críticas a “Age of Disclosure” no geral apontam para a repetição de informações já conhecidas e a ausência de evidências verificáveis. Como observa um revisor da IndieWire, o documentário faz uma “análise abrangente da postura em evolução do governo dos EUA sobre OVNIs” e elogia as entrevistas com ex-funcionários, mas ocasionalmente “carece de uma perspectiva crítica sobre as evidências apresentadas”.
Um crítico da Variety questiona se o filme realmente oferece provas, apesar dos “34 membros seniores do governo, militares e comunidades de inteligência dos EUA” que afirmam ter “conhecimento direto” de UAPs. Ele observa que “eles são inequívocos no que dizem”, citando Jay Stratton: “‘Eu vi com meus próprios olhos naves não humanas e seres não humanos'”. No entanto, o revisor pondera que “a quantidade de depoimentos obstinados nunca será suficiente para alguns”, concluindo que o filme oferece o “argumento mais convincente que se pode fazer sem mostrar nenhuma evidência real”.

Enquanto isso, a comunidade online ecoa a mesma crítica, com muitos expressando que “testemunhos e vídeos são evidências”, mas ressaltando a falta de “detalhes verificáveis sobre nomes, datas, programas envolvidos” que permitiriam uma investigação mais aprofundada. A comparação com figuras como Daniel Ellsberg, Mark Felt e Edward Snowden, que forneceram documentos concretos para comprovar suas alegações, é recorrente: em todos essas casos, os vazamentos lidavam com temas absurdamente sensíveis e perigosos para quem os detinham, mas nada os impediu de vir à tona.
Apesar das críticas, alguns reconhecem o potencial do documentário para normalizar o discurso sobre OVNIs e reduzir o “fator de riso” associado ao tema, especialmente para aqueles que não estão familiarizados com ele. A presença de figuras como o Secretário de Estado Marco Rubio e o ex-Diretor de Inteligência Nacional Gen. Jim Clapper pode adicionar credibilidade ao assunto para um público mais cético.
Especialista em liberação de documentos está perdendo a paciência
Em meio aos recentes alardes de revelações bombásticas e alegações sensacionalistas sobre objetos voadores não identificados (OVNIs), quem vem demonstrando cada vez mais frustração e impaciência é John Greenewald Jr., fundador do The Black Vault, reconhecido por sua dedicação em obter e divulgar documentos governamentais relacionados a fenômenos aéreos não identificados. Greenewald observa com preocupação a proliferação de narrativas sem evidências concretas.
Em alguns de seus mais recentes posts na rede social X.com (antigo Twitter), ele mostrou-se incomodado com a crescente comercialização do fenômeno UAP (Unidentified Aerial Phenomena). Greenewald comentou sobre eventos pagos de “disclosure” com ingressos caros, questionando a autenticidade e os interesses por trás dessas iniciativas. A atitude revelou sua preocupação com a exploração financeira crescente do tema e reforça sua defesa por uma abordagem baseada em evidências, afastando-se de narrativas não substanciadas e sensacionalistas.
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h/t @GoBlue359 pic.twitter.com/sJF4dKuahX
— John Greenewald, Jr. (@blackvaultcom) March 12, 2025
Ao longo de 2024, Greenewald compartilhou vários documentos oficiais, entre respostas a pedidos de Liberdade de Informação (FOIA, nos EUA), relatórios e trocas de emails relativos a casos e depoimentos específicos, além de analisar os relatórios da All-domain Anomaly Resolution Office (AARO), que registraram numerosos avistamentos, mas não apresentaram provas conclusivas de tecnologia extraterrestre ou programas secretos.
Por fim, a crítica de Greenewald ecoa a preocupação predominante para aqueles que aguardam a liberação definitiva de informações. Embora o The Age of Disclosure tenha gerado interesse significativo, ele padece da mesma falta de provas concretas que seus antecessores para corroborar as alegações apresentadas, ainda que expoentes da comunidade militar e de inteligência tenham fornecido seus depoimentos. Quando as fontes do documentário estão, elas próprias, preparando estratégias para ganhar dinheiro com livros, séries e filmes, não é difícil perceber que o esforço do diretor pode acabar virando apenas uma contribuição para perpetuar narrativas sensacionalistas e sem o devido respaldo documental, intensificando frustrações.