Ucrânia: falso ovni sobrevoou frente de combate?

Ucrânia: falso ovni sobrevoou frente de combate?
UFO capturado em vídeo na Ucrânia (Reprodução/Youtube)
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No dia 14 de março, a redação do Portal Vigília repercutia uma notícia que se tornou viral a respeito de um soldado ucraniano que teria gravado, por meio de um drone, um suposto óvni na frente de batalha do oblast de Donetsk. O vídeo do objeto dura apenas 17 segundos e mostra uma espécie de mancha alongada, de cor escura: trata-se de uma imagem a partir da câmara térmica (infravermelha) de um drone do tipo Mavic 3T de pequeno tamanho.

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O soldado “Vadym” – que preferiu o anonimato por questões de segurança militar – disse que o objeto que viu no monitor do aparelho tinha forma lenticular e era do tamanho do “Empire State Bulding” (um dos maiores edifícios dos EUA) ou de, aproximadamente, 400 metros de comprimento por 100 de altura pairando sobre o solo a cerca de 1,5 km do solo e a uma distância superior a 30 km de onde ele e os seus companheiros se encontravam. Além das grandes dimensões, “Vadym” se surpreendeu pelo fato de que o óvni não se movia, estava estático, apesar do vento forte naquele momento. 

Os dados da imagem térmica sugeriam que a temperatura do objeto era entre 20 e 30 graus celsius mais elevada que a atmosfera que o rodeava. Vários comentários surgiram de que o óvni era, na realidade, uma miragem, um fenômeno óptico conhecido como “Fata Morgana”. Se trata de um efeito de inversão térmica que provoca a projeção de imagens que estão sobre o mar ou sobre a terra no ar, como a de navios, lagoas e outros objetos. O próprio piloto de drones rebateu esta hipótese em função de que o objeto não se movia enquanto as miragens provocadas pelo “Fata Morgana” modificavam, constantemente, de forma e de posição. 

A partir dos dados apresentados na matéria publicada pelo DailyMail.com da Grã-Bretanha, pelo jornalista Matthew Phela, especializado em assuntos meio-ambientais e também, esporadicamente, relacionados com mistérios, fiz uma pesquisa na Internet sobre alguns dados que poderiam oferecer mais pistas a respeito desta história. Devemos lembrar que durante as guerras surgem muitas “fake news” e também processos de desinformação a favor de um ou outro adversário, o que me faz suspeitar de qualquer notícia deste tipo. 

DayliMail.com: propaganda de guerra?

Primeiro é importante saber qual é a linha editorial do DailyMail.com, predominantemente conservadora. A princípio sabemos que as informações procedentes da chamada “anglo esfera”, dos países do grupo dos “Five Eyes”, procuram apoiar a Ucrânia, sendo que o Reino Unido é um dos financiadores armamentísticos do conflito por uma série de interesses geopolíticos com o seu principal aliado, os Estados Unidos. É o segundo jornal mais lido (depois do sensacionalista “The Sun”), apoiou o “brexit” e também políticos chamados “eurocéticos”, como Nigel Farage o Marine Le Pen da França. O jornal também foi acusado de publicar matérias de opinião racista e outras com dados duvidosos em relação ao aquecimento global, na linha negacionista. 

Matthew Phela deriva a matéria a aspectos que poderiam ser considerados como “propaganda de guerra” a favor do 406.º batalhão do exército ucraniano – ao qual pertence o piloto de drone – destacando a sua valentia: “Vadym” não se mostrou assustado com o enorme objeto, pois estava “acostumado” a lutar contra os russos desde o princípio da guerra. “Vadym” teria aprendido a “reprimir as emoções”, especialmente o medo ante as agressões russas, destacando assim a sua valentia contra o inimigo. O jornalista também frisou a perícia do piloto que conduziu, segundo o entrevistado, mais de 10 mil missões de observação do campo de batalha para facilitar informação às tropas do seu país. Esse vôos são efetuados não no modo automático com ajuda de satélite, senão de maneira manual para evitar captação de alguns sinais por parte dos russos, o que torna mais audaz e complexa a realização deste tipo de vôo. 

Aproveitando a suposta aparição do óvni, Phela destacou o esforço de vigilância do 406.º batalhão que possui mais de 300 drones do tipo Mavik 3T com visão térmica e garante, desta maneira, uma excelente visão das ações do seu inimigo. O enaltecimento deste trabalho de campo militar é reforçado com uma série de fotos dos soldados e dos drones.

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Drones de tecnologia chinesa 

Averiguando sobre a procedência deste modelo de drone, trata-se de tecnologia chinesa da empresa DJI (Da Jiang Innovations) que é a maior produtora VANTs (Veículos Aéreos Não Tripulados) do mundo, com 70% do mercado mundial. Esta tecnologia tem sido usada na transmissão e gravação de imagens dos Grammys dos EUA, por exemplo. A empresa também patrocina a Robet Master Robotics Competition, um torneio anual no qual participam estudantes de “mecatrônica” de várias universidades de todo o mundo. A DJI foi criada por um estudante, Frank Wang, formado pela Universidade de Hong Kong em engenharia mecânica. Ele criou a empresa no seu quarto, na “república” estudantil da própria Universidade, quando começou a desenvolver sistemas de controles para drones caseiros e, em 2013, criou o primeiro drone da DJI, o Phantom 1, com 6.700 unidades. 

O drone empregado pelo soldado ucraniano, o mencionado Mavik 3T, custa, aproximadamente, 132 mil dólares, é de pequeno porte e tem uma autonomia de vôo de 45 minutos. O seu sensor de imagem é um CMOS de ½ polegada e 48 megapíxeis, para uma câmera grande angular. Também tem uma câmera térmica com resolução de 640 por 512 mpx e um ‘zoom’ híbrido (óptico e digital) de 56 vezes de aumento. Geralmente é vendido para muitos países que o utilizam para missões de identificação de incêndios, busca e resgate de pessoas e inspeções noturnas, em geral. 

Conforme o artigo escrito por Matthew Phela os drones Makiv 3T do 406.º batalhão ucraniano foram adquiridos graças ao “esforço de arrecadação da DeepInspire Foundation” – registada como uma ONG – cuja página ‘web’ revela tratar-se de uma empresa de desenvolvimento de ‘software’ e outras tecnologias que aceita doações por PayPal e se trata de “um projeto benéfico/caritativo a longo prazo dirigido por um grupo de voluntários visando apoiar, fornecer e ajudar a salvar vidas e a saúde de cada soldado ucraniano”. Desde 2014 a empresa busca comprar equipamento tecnológico para “medicina tática, óptica, veículos, rádios e componentes” além de obter licenças de importação desde os EUA para dispositivos de visão noturna de tipo PVS-14 GEN3, ópticas modernas para evacuação de feridos em operações noturnas. Atualmente coleta dinheiro para sistemas Starlink (de Elon Musk) e estão abertos ao “diálogo e cooperação com fundações estrangeiras, doadores, voluntários, blogueiros, empresários e artistas… para a restauração da integridade da Ucrânia”. Vendo o LinkedIn da empresa, esta somente possui 159 seguidores. 

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Phela entrevistou, por correio eletrónico, a Pavlo Terletsky, criador da DeepInspire, que afirmou que os soldados do batalhão que empregam os drones comprados pela sua empresa (com 23 anos de experiência) somente dormem depois de 48 horas de missão, destacando, desta maneira, a valentia e resiliência dos destes militares no campo de batalha. O curioso é que os drones pertencem a uma empresa chinesa, a mencionada DJI, país acusado pelos “Five Eyes” e os seus aliados da OTAN, de ajudar a Rússia contra a Ucrânia ou, pelo menos, favorecer ao país de Vladimir Putin. Entretanto, a função da mencionada Fundação é a de comprar e reexportar estes VANTs comprados na China via EUA.

Lviv Lab e os “ativistas humanitários” e imagens duvidosas

Na mesma matéria de Matthew Phela aparece o nome um colaborador da mencionada Fundação DeepInspire, o jornalista estadunidense Joe ou JP Lindsley, correspondente de guerra e diretor do Centro de Midia Lviv Lab (criada durante a pandemia) que congrega “ativistas humanitários” para desenvolver este “laboratório para a ativação da Democracia”, com o uso do jornal ucraniano Freedon News, constituído por uma “equipe voluntária que coleta informação de toda a Ucrânia e a compartilha por Telegram”. Curiosamente, na atualidade, a Ucrânia já não é mais uma democracia, posto que o presidente Zelensky cancelou as eleições presidenciais do final do ano passado, proibiu a maioria dos partidos políticos (especialmente os contrários à sua política), além de prender não só políticos, senão jornalistas e cidadãos que se opõem a continuar com a guerra. 

Buscando mais informação na Internet, encontrei que JP Lindsley era amigo íntimo e havia trabalhado durante muitos anos para o executivo do canal conservador Fox dos EUA, Roger Eugene Ailes (1940-2017) que fora consultor para os ex-presidentes Richard Nixon, Ronald Regan e George Bush, todos eles envolvidos em escândalos políticos e financeiros. Ailes também era apoiador do “trust” judeu-americano e abandonou a Fox em 2016 depois de vários escândalos de assédio sexual contra apresentadoras, como Gretchen Carslon e Andrea Tantaro e outras 12 mulheres da rede Fox. O jornalista JP Lindsley, protegido confidente de Alies e da sua esposa, teve algumas desavenças e afastou-se deles em 2011.

A desconfiança em relação a jornalistas anglo-saxões e as suas possíveis atividades de espionagem ou contraespionagem são bem conhecidas. Muitas vezes, sob a proteção da sua profissão, tem conseguido informações preciosas para suas agências de inteligência, como já foi demonstrado no Iram e outros países ocupados. No caso da ufologia, no Brasil, se conhece a presença de possíveis agentes da CIA camuflados de jornalistas antes, durante e depois da Operação Prato. 

Mas voltando às imagens supostamente captadas pelo Mavik 3T do soldado “Vadym”, surgem algumas dúvidas. O jornalista Phela diz ter entrado em contacto com um porta-voz do fabricante DJI e disse que não sabia como explicar “aquela mancha ovalada” e que poderia ser “um erro de equipamento”, pois, na margem superior esquerda da tela do controle remoto do drone aparecia um aviso ou mensagem de erro. O vídeo de 17 segundos teria sido gravado diretamente desta tela com ajuda de um telefone celular e não ficou registrado no cartão SD do drone e por isso as imagens são de má qualidade. “Vadym” disse a Phela que não acostumava colocar o cartão SD para evitar que os russos, em caso de captura da aeronave, pudessem ter acesso às imagens gravadas pelos ucranianos. 

A minha pergunta é: esta matéria do DailyMail.com poderia ser uma notícia mais de pura propaganda de guerra a favor da Ucrânia? Há muitas lacunas em relação à imagem do Ovni e os agentes envolvidos nesta notícias são suspeitos pelo seu papel dentro do conflito bélico entre Rússia e Ucrânia. Uma prova é notícia, logo no princípio da guerra em fevereiro de 2022, de que os óvnis estariam ajudando a Ucrânia a combater tanques de guerra russos a partir de preces dirigidas a Deus por parte da população de uma vila ucraniana. Depois de uma breve averiguação pela Internet pude verificar que se tratava de uma notícia falsa, possivelmente criada pelos órgãos de inteligência da mesma Ucrânia e os seus aliados. 

Pablo Villarrubia Mauso

Jornalista e ufólogo, doutorado pela Faculdade de Ciências da Informação de Madri, Espanha

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