UFOs em Guarabira: realidade, erro de interpretação ou marketing?
Às vêzes, não bastasse todo o mistério que, pela própria estranheza do fato, envolve os “discos voadores”, a forma como a informação circula ajuda a enraizar os aspectos míticos do fenômeno.
Um exemplo disso vem ocorrendo com os relatos de observação de UFOs em Guarabira, cidade com cerca de 50 mil habitantes, a 50 km de João Pessoa, na Paraíba, numa região conhecida como “Brejo Paraibano”. Desde março deste ano, segundo Wellington Francisco de Lima, técnico em telecomunicações e membro da Equipe de Pesquisas Ufológicas de Guarabira (EPUG), o número de avistamentos cresceu bastante. “Aqui os discos voadores estão aparecendo demais. É difícil de acreditar, parece até coisa de filme”, garante.
A imprensa local chegou a publicar alguns casos. O fato chamou também a atenção da imprensa paulista. O jornal “O Estado de São Paulo”, na primeira quinzena de setembro, enviou equipe de reportagem e publicou matéria de página inteira, chamando a cidade de “capital brasileira dos Ovnis”.
Ao invés de despertar mais curiosidade, a repercussão na imprensa fez o assunto virar motivo de chacota no Estado da Paraíba. “Não me venha falar nos tais discos voadores de Guarabira”, rebatem os moradores da Capital, João Pessoa. Contudo, há relatos de avistamentos de fenômenos desconhecidos em outros municípios, como Manguape, São Mamede, Patos, São Neves, Jaguaribe e também na Capital.
Outro comentário que circula na região é de que o alarde em torno dos supostos UFOs teria sido uma “jogada de marketing”, para aquecer o mercado turístico. A suspeita se prende a um motivo bastante forte: apesar da freqüência com que os objetos estariam sendo vistos, nem na imprensa, nem através da Internet –que a EPUG tem utilizado muito como forma de divulgação– foram colocadas informações completamente checadas e reforçadas por fotografias ou filmes.
A própria EPUG divulgou ter conseguido cerca de 15 horas de imagens do fenômeno, nos mais variados horários, formatos, tamanhos, cores etc. E aí começaram os absurdos. Mesmo com a credibilidade em baixa, um desentendimento entre os membros do grupo fez com que o responsável pelos vídeos se negasse a copiar as fitas ou entregá-las a quem quer solicitasse. Um repórter do jornal “O Estado de São Paulo” assistiu aos vídeos, mas comentou à “Vigília” que a qualidade não ajuda a esclarecer muita coisa.
Depondo contra a possibilidade de erro de interpretação, o professor Enilson Palmeira Cavalcante, do Departamento de Ciências Atmosféricas (DCA) da Universidade Federal da Paraíba, acha difícil que os fenômenos relatados sejam de origem natural. Segundo ele, nenhum fenômeno atmosférico anormal foi constatado durante o período em que os últimos avistamentos aconteceram. Cavalcante conta que soube dos UFOs através da imprensa e descarta também a hipótese de serem balões atmosféricos. “Nosso último experimento com balões foi há dois anos”, diz, garantindo que nem a Fundação Cearense de Meteorologia, nem a Universidade Federal de Alagoas, que também mantém um centro de meteorologia, fizeram experimentos neste período.
Outro professor do DCA, Eduardo Brito Bastos, acha difícil serem satélites. Ele revela que os dois satélites que passam mais próximos da região, Noaa e LandSat, por sua altitude (800 km) e seus horários, provavelmente não teriam um reflexo observável.
Invasão na Internet
Se por um lado ainda é incerta a invasão dos UFOs na região de Guarabira, não resta dúvida sobre a invasão de Guarabira na Internet. Dezenas de caixas postais de e-mail em todo o país e no exterior, sobretudo de jornais, redes de TV e pesquisadores de ufologia, receberam um “relatório” de Oriel Farias, da Universidade Federal da Paraíba, que é a ponte entre a EPUG a rede mundial.
O “relatório” soou mais como um desabafo. Uma colagem de casos, alguns bastante intrigantes, mas muitos sem dados precisos como data e horário. E, ainda assim, apenas os relatos, sem nenhuma outra evidência. Pouco tempo depois, o que o responsável pelo relatório não esperava aconteceu: numa das mais ativas listas de discussão da Ufologia por e-mail no Brasil, a “Terráqueos”, ao invés de dar credibilidade aos relatos, o texto gerou ainda mais críticas.
Prenúncio do fim do mundo
Já a população de Guarabira está realmente assustada com o que aconteceu nos últimos meses. Cerca de 300 pessoas presenciaram, no dia 15 de outubro, a passagem de um objeto de proporções descomunais que, segundo relataram, estaria a apenas 50 metros do solo, próximo ao centro da cidade. Wellington o decreveu como sendo um objeto aparentemente esférico, com tanta luminosidade que chegou clarear o solo por onde passou. “Num momento ele parou e começou a se abrir, ficando na forma de um triângulo. Foi fantástico”, comentou, entusiasmado, o membro da EPUG. Na mesma noite, na cidade toda pipocaram relatos de avistamentos de objetos esféricos, cilíndricos, discoidais e triangulares.
Esta teria sido a segunda aparição em grande quantidade na cidade de Guarabira. A primeira aconteceu no dia 3 de março, mesma data em que os Mamonas morreram. Foram vistos 26 objetos fazendo manobras mirabolantes nos céus do município.
Nesta segunda vez, contudo, o fenômeno não gerou entusiasmo. Pelo contrário, provocou pânico. Uma mulher que estava na rua onde o objeto gigante teria passado correu desesperada achando que era o fim do mundo. Seguindo seu exemplo, no dia seguinte, muitas pessoas comentavam a possibilidade de mudar da cidade.
UFOs em São Mamede
No Estado da Paraíba, as observações não estão restritas a Guarabira. No dia 14 de outubro, segunda-feira, os moradores de São Mamede também tiveram sua vez. A notícia foi veiculada pelo jornal “O Norte”, no dia 18 de outubro. Antônio França, que havia saído para caçar com um grupo de amigos, contou que, aproximadamente à meia noite, presenciou “uma grande tocha luminosa” que se moveu em direção ao grupo, no meio do mato. Todos viram e acharam que o objeto ia pousar. “Logo no início, fiquei temeroso, mas depois começei a vislumbrar o objeto até que ele foi embora”, disse França. Outros avistamentos também foram relatados nos dois dias seguintes.
Mais relatos em Patos
Os patoenses afirmaram terem visto objetos voadores não identificados na mesma época em que o fenômeno ocorreu em São Mamede. Pessoas que estavam no velório de um militar, também no dia 14, ficaram observando um objeto que, por vários minutos, sobrevoou a cidade sob céu claro.
Na Fazenda Pia, a 8 quilômetros de Patos, os moradores acompanharam as evoluções de um UFO que teria circulado a propriedade e aos poucos foi se aproximando da casa. Em determinado momento ele teria permanecido parado a três metros do solo. As testemunhas compararam as dimensões do objeto às de um fusca. Seu formato era arredondado, com aspecto metálico, luzes verdes e pontos de luz vermelha. Ao aproximarem-se mais, afirmaram notar que o UFO expelia uma fumaça branca. Uma das filhas do proprietário teria, segundo o relato, fotografado o objeto.
Rota definida
No jornal Diário de Pernambuco de 19 de outubro, outra matéria sobre UFOs serviu para complementar os relatos de avistamentos na região do brejo e do sertão paraibano. O major Bernardo, do 11o. Batalhão da Polícia Militar, sediado em Casa Forte (Recife), afirmou ter visto objetos voadores não identificados também no dia 14 de outubro, por volta da 1 hora da manhã. Segundo o major, que naquele momento estava no município de Arcoverde junto com outros militares, cerca de cinco objetos com grande luminosidade cruzaram os céus em direção ao Estado vizinho. Durante a madrugada de segunda para terça-feira, na Capital paraibana, dezenas de pessoas afirmaram ter observado 3 objetos voadores com formato esférico. Segundo a professora de história Jacira Lucena de Farias, uma das luzes era vermelha e as outras duas, que vinham logo atrás, amarelas. Sua observação se deu por volta das 23h30.