O que já se sabe sobre o novo visitante interestelar 3I/ATLAS (A11pl3Z)?

O que já se sabe sobre o novo visitante interestelar 3I/ATLAS (A11pl3Z)?
O que sabemos sobre o cometa 3I/Atlas, novo visitante interestelar (Ilustração IA)

Os astrônomos e cientistas ligados à cosmologia estão entusiasmados com um objeto recém-descoberto, provisoriamente chamado A11pl3Z, e posteriormente designado 3I/ATLAS, oficialmente confirmado como um visitante interestelar. O achado marca a terceira vez em que um objeto desse tipo foi observado em nosso sistema solar. Sua detecção inicial ocorreu em dados coletados entre 25 e 29 de junho de 2025 pelo sistema Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System (ATLAS), que emprega telescópios no Havaí e na África do Sul.

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Embora inicialmente classificado como um asteroide, observações subsequentes revelaram que este visitante cósmico é, de fato, um cometa, agora com a designação completa C/2025 N1 (ATLAS). A confirmação oficial veio da NASA e do Minor Planet Center da União Astronômica Internacional (IAU) em 1º e 2 de julho de 2025, respectivamente.

O que distingue 3I/ATLAS de qualquer objeto anteriormente observado é a sua velocidade e trajetória excepcionais, com uma excentricidade orbital hiperbólica estimada em torno de 6,0, um valor recorde para objetos interestelares. Viajando a aproximadamente 245.000 km/h (152.000 mph) e aproximando-se da parte do céu noturno onde se localiza a barra da Via Láctea, essa trajetória incomum e retilínea é uma prova irrefutável de sua origem extrassolar, indicando que o objeto tem impulso suficiente para atravessar nossa vizinhança cósmica sem ser capturado pela gravidade do Sol.

Gif feita a partir das imagens do Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System (ATLAS). em 1 de julho de 2025
Gif feita a partir das imagens do Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System (ATLAS). em 1 de julho de 2025

Sua presença e detecção precoces oferecem uma oportunidade sem precedentes para os cientistas estudarem diretamente material de outro sistema estelar, enriquecendo profundamente nossa compreensão do universo além de nossas fronteiras cósmicas. É importante salientar que o visitante interestelar não oferece qualquer risco de colisão com a Terra.

A confirmação do visitante interestelar

A primeira vez que o objeto A11pl3Z foi notado foi em dados obtidos entre 25 e 29 de junho de 2025, pelo Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System (ATLAS), um sistema que escaneia automaticamente o céu noturno utilizando telescópios localizados no Havaí e na África do Sul. A notícia de sua existência emergiu em 1º de julho de 2025, quando foi preliminarmente listado na Página de Confirmação de Objetos Próximos da Terra (NEOCP) sob a designação A11pl3Z. Segundo relatos, Sam Deen, um prolífico astrônomo amador, conseguiu identificar imagens anteriores do objeto nos dados do ATLAS, datando de 25 a 29 de junho.

Em 2 de julho de 2025, a NASA divulgou um comunicado oficial confirmando que A11pl3Z é, de fato, um objeto interestelar e que não permanecerá no sistema solar por muito tempo. Além disso, a agência revelou seu novo nome oficial, 3I/ATLAS, e confirmou que se trata de um cometa, corrigindo as suposições iniciais de que seria um asteroide. A designação completa de cometa para o objeto é C/2025 N1 (ATLAS). Tentativas iniciais de identificar atividade cometária, incluindo a presença de uma coma marginal e uma pequena cauda de 3 segundos de arco, foram relatadas por vários observadores, embora mais dados sejam necessários para uma confirmação definitiva.

Como será a passagem do cometa 3IAtlas pelo sistema solar. (NASA)
Como será a passagem do cometa 3I/Atlas pelo sistema solar. (NASA)

A partir de sua descoberta, astrônomos de todo o mundo se mobilizaram para estudar o objeto. Dr. Paul Leyland, participante da British Astronomical Association, informou em 2 de julho de 2025 que o objeto, então em magnitude 18.2, estava “ficando mais brilhante” e que mais informações poderiam ser encontradas no site do CNEOS da NASA. Nick James, também participante da British Astronomical Association, notou que o objeto parecia “estar brilhando muito rapidamente, então poderia ser cometário (eu espero)” e que teriam “bastante tempo para observá-lo”.

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3I/ATLAS pode ter até 20 km de extensão

A característica mais marcante de 3I/ATLAS é sua órbita altamente excêntrica, com um valor de excentricidade (e) que se situa em torno de 6,0586211, com uma margem de erro de 0.1. Esta excentricidade é significativamente maior do que 1, o que para os astrônomos inequivocamente classifica o objeto como um visitante que não está gravitacionalmente ligado ao Sol e que está apenas de passagem pelo nosso sistema solar antes de retornar ao espaço interestelar.

David Rankin, da Catalina Sky Survey da Universidade do Arizona, reforçou que a alta excentricidade do objeto “estabelece sua classificação como uma órbita hiperbólica”. Inicialmente, alguns pesquisadores estimaram uma excentricidade ainda maior, chegando a mais de 10, e até 11.6, o que, de qualquer forma, é mais do que o dobro da excentricidade do cometa Borisov, um dos visitantes anteriores.

A trajetória de A11pl3Z/3I/ATLAS o levará para o interior do sistema solar, aproximando-se do Sol em seu ponto mais próximo, ou periélio, entre 29 e 30 de outubro de 2025. Nesse ponto, ele estará a uma distância de 1.34626730 unidades astronômicas (AU) do Sol, o que o colocará ligeiramente fora da órbita de Marte. Pouco antes de atingir o periélio, o cometa fará sua maior aproximação de Marte em 3 de outubro de 2025, passando a cerca de 0.2 AU (aproximadamente 30 milhões de quilômetros) do Planeta Vermelho.

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Apesar de sua velocidade e trajetória impressionantes, o 3I/ATLAS não representa qualquer ameaça para a Terra. Durante sua passagem solar, a Terra estará do lado oposto do Sol em relação ao objeto. A maior aproximação do cometa com a Terra ocorrerá em dezembro de 2025, em sua jornada de saída do sistema solar, mantendo uma distância mínima de pelo menos 1.6 unidades astronômicas. A órbita do objeto também possui uma inclinação de aproximadamente 175.10933 graus, o que, combinado com sua excentricidade, corrobora sua origem no disco galáctico.

Em relação ao seu tamanho e composição, o 3I/ATLAS é inicialmente estimado como sendo um objeto grande, potencialmente atingindo até 20 quilômetros (12 milhas) de diâmetro. Marshall Eubanks, da Asteroid Initiatives, sugeriu que o objeto “pode ser consideravelmente maior do que as estimativas encontradas sugerem” e indicou que o A11pl3Z “parece ser um objeto relativamente jovem, dada sua proximidade com o ‘padrão de repouso’ galáctico local”. Embora inicialmente se pensasse que era um asteroide, a detecção de “tentativas de sinais de atividade cometária”, como uma nuvem brilhante de gás e gelo (coma) e uma cauda aparente, levou à sua reclassificação como cometa. Essa atividade cometária é um fator crucial, pois indica que, ao contrário de ‘Oumuamua, 3I/ATLAS é mais similar ao cometa 2I/Borisov neste aspecto.

Oportunidades de observação e estudos

A detecção precoce do 3I/ATLAS oferece aos astrônomos meses de oportunidades valiosas para estudá-lo enquanto ele brilha e se aproxima. Atualmente, com uma magnitude de aproximadamente 18.2 a 18.8, o objeto é muito tênue para ser observado com equipamentos amadores de observação de estrelas, mas espera-se que ele se torne significativamente mais brilhante nas próximas semanas e meses. Apesar do desafio, alguns astrônomos amadores já conseguiram capturar imagens. Nick Haigh, da British Astronomical Association, compartilhou uma imagem em 3 de julho de 2025, obtida com “cerca de 90 minutos de subexposições de 10 segundos sem filtro”, observando que o objeto parecia “difuso em uma direção”, embora não confiasse totalmente em sua colimação. Nick James também compartilhou uma imagem de seu observatório remoto no Chile.

A comunidade científica está empregando uma rede global de telescópios para monitorar de perto o 3I/ATLAS. A época de maior brilho coincidirá com o periélio do cometa em outubro, mas a Terra estará do lado oposto do Sol, dificultando as observações diretas. No entanto, os pesquisadores poderão estudar o objeto até o final de setembro, antes que ele seja obscurecido pela luz solar, e novamente a partir de dezembro, quando o cometa reaparecer do outro lado do Sol.

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Será que o 3I/Atlas guarda alguma surpresa? Ilustração gerada com IA

Avanços tecnológicos em observatórios astronômicos desempenharão um papel crucial nos estudos futuros do 3I/ATLAS. O Observatório Vera C. Rubin, o telescópio óptico mais poderoso do mundo que recentemente divulgou suas primeiras imagens e já provou sua eficácia ao descobrir mais de 2.104 novos asteroides, estará “provavelmente totalmente operacional” no momento em que o 3I/ATLAS estiver mais próximo, sendo “excepcionalmente bom em detectar objetos em movimento, como asteroides”. Além disso, foram feitas sugestões para o uso do Telescópio Espacial James Webb para fotografar o objeto e até mesmo para procurar sinais de “aceleração não gravitacional”, que poderiam indicar “algum tipo de sistema de propulsão artificial”, conforme proposto por Avi Loeb, astrônomo da Universidade de Harvard, em uma publicação no Medium.

Adicionalmente, alguns pesquisadores propuseram a utilização de uma das sondas atualmente em atividade na órbita marciana — a Mars Reconnaissance Orbiter e Mars Odyssey (NASA), ou a Mars Express (Agência Espacial Europeia) —  e até mesmo os rovers da NASA em Marte para fotografar o objeto à medida que ele se aproxima do Planeta Vermelho. Essas múltiplas abordagens de observação, tanto terrestres quanto espaciais, prometem fornecer uma riqueza de dados para desvendar a natureza e as origens desse intrigante visitante interestelar.

De novo, a possibilidade de um artefato alienígena?

A descoberta do 3I/ATLAS é particularmente significativa por ser apenas o terceiro objeto interestelar confirmado a ser avistado passando pelo nosso sistema solar. Os dois antecessores foram ‘Oumuamua, que fez manchetes em 2017, e o Cometa 2I/Borisov, visto em 2019. A comparação entre esses três objetos revela uma notável diversidade, sugerindo que o universo além do nosso sistema solar é um lugar muito variado.

A sugestão de ficar de olho numa eventual aceleração enigmática do novo visitante interplanetário não foi uma surpresa. O ‘Oumuamua, primeiro objeto interestelar detectado, foi uma anomalia em sua composição e forma, sendo descrito como um objeto em forma de charuto. Inicialmente, o catedrático de astronomia de Harvard, Avi Loeb, em co-autoria com outros cientistas, escreveu que a rocha poderia ser, na verdade, uma sonda alienígena. As conclusões de Loeb e colegas apoiaram-se na inexplicável aceleração do objeto após a passagem pelo Sol, quando não manifestou sinais de uma cauda expelindo gases para justificar a mudança de velocidade.

Abraham Loeb, professor de Harvard diz acreditar que 'Oumuamua era nave extraterrestre (Havard/Divulgação e ESO/M. Kornmesser)
O brilhante físico Abraham Loeb, professor de Harvard diz acreditar que ‘Oumuamua era nave extraterrestre (Harvard/Divulgação e ESO/M. Kornmesser)

Mais tarde, outros especialistas argumentaram que era “muito provavelmente uma rocha espacial que exalava hidrogênio”. Apesar disso, Loeb, que escreveu um livro sobre suas observações acerca do ‘Oumuamua, continua defendendo que seus cálculos provam que a alteração de velocidade não seria explicável pela liberação de hidrogênio ou pressão do vendo solar, dado o formato alongado do objeto.

Em sua aparição no nosso Sistema Solar, a excentricidade orbital do ‘Oumuamua foi de 1.20. Já o Cometa 2I/Borisov revelou-se muito mais semelhante aos cometas das nossas redondezas em sua composição, mas sua órbita o marcou claramente como interestelar.

O 3I/ATLAS, por sua vez, destaca-se por sua excentricidade orbital de aproximadamente 6.0, que é “mais do que o dobro da de Borisov”. Essa excentricidade elimina qualquer dúvida que pudesse ter existido com ‘Oumuamua, cuja excentricidade inicial, embora maior que 1, era mais próxima do limite e, portanto, gerou discussões sobre possíveis medições erradas ou influência de gigantes gasosos.

Outra diferença é que o ‘Oumuamua foi inicialmente suspeito de ser um asteroide e não mostrou atividade cometária. O 3I/ATLAS, embora também tivesse sido um candidato a asteroide no início, as observações subsequentes já exibiram sinais claros de atividade cometária, assemelhando-se mais a Borisov nesse aspecto.

Implicações científicas e perspectivas futuras

A sequência dessas descobertas — ‘Oumuamua em 2017, Borisov em 2019 e agora 3I/ATLAS em 2025 — sugere que os métodos de detecção de objetos interestelares aumentaram significativamente, ou que estamos prestando mais atenção, ou uma combinação de ambos. A detecção automatizada de pesquisas como o ATLAS tem sido uma “tremenda ajuda”. Cientistas há muito suspeitam que muitos mais “intrusos interestelares” provavelmente passam por nossa vizinhança cósmica sem serem detectados. A capacidade de identificar esses objetos muito antes de atingirem sua maior aproximação do Sol, como no caso do 3I/ATLAS, permite um período de estudo muito mais longo do que foi possível para os visitantes anteriores.

A contínua observação e estudo de 3I/ATLAS permitirão que os pesquisadores aprendam mais sobre seu tamanho, forma e origens. Com as melhorias nas tecnologias de rastreamento e imagem em comparação com as passagens de objetos interestelares anteriores, espera-se obter dados mais detalhados e abrangentes. A colaboração entre astrônomos profissionais e amadores em todo o mundo, como evidenciado pelas rápidas observações de acompanhamento, será crucial para maximizar a coleta de dados durante a breve visita desses “interlopers” cósmicos.

Uma selfie do explorador de Marte, o rover Perseverance, ao lado de seu companheiro voador Ingenuity (Imagem NASAJPL/Caltech/Divulgação)
Rover Perseverance talvez tenha a chance de registrar o 3I/Atlas (Imagem NASAJPL/Caltech/Divulgação)

Olhando para o futuro, a descoberta de 3I/ATLAS reacende discussões sobre missões espaciais dedicadas a interceptar objetos interestelares. Embora não existam sondas prontas para uma interceptação rápida de objetos como 3I/ATLAS devido à sua alta velocidade e rápida passagem, a Agência Espacial Europeia (ESA) tem planos para uma espaçonave interceptadora de cometas que aguardará em um ponto de Lagrange (L2) por alguns anos até que um alvo adequado, como um cometa de longo período ou um objeto interestelar, se apresente para um sobrevoo. Lançamentos como o do “Comet Interceptor” da ESA, previsto para 2029, representam um passo em direção a futuras missões que poderiam ser capazes de estudar esses objetos de perto, fornecendo informações diretas sobre o que se encontra além do nosso próprio sistema solar.

Redação Vigília

Um comentário em “O que já se sabe sobre o novo visitante interestelar 3I/ATLAS (A11pl3Z)?

  1. Dez dez , vou terminar de ler o anterior ainda . Gosto de vagar aqui comentando, meus hábitos

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