Objeto interestelar 3I/ATLAS ainda divide, desafia e intriga cientistas

Objeto interestelar 3I/ATLAS ainda divide, desafia e intriga cientistas
3i/Atlas registrado pelo Telescópio Espacial Hubble: características peculiares dividem cientistas. Crédito: NASA, ESA, David Jewitt (UCLA)

Nas últimas semanas, o ambiente científico internacional se viu mais uma vez dividido por uma polêmica instigante, desta vez envolvendo o objeto 3I/ATLAS, o terceiro visitante interestelar confirmado em nosso Sistema Solar após o histórico 1I/’Oumuamua, em 2017, e 2I/Borisov, em 2019. Descoberto no dia 1º de julho de 2025 pelo telescópio ATLAS, instalado no Chile, 3I/ATLAS rapidamente despertou a atenção de astrônomos, astrobiólogos, engenheiros espaciais e especialistas em pesquisa tecnológica de todo o mundo, não apenas por sua rara condição de origem extrassolar, mas principalmente por apresentar características anômalas que alimentam discussões sobre sua verdadeira natureza.

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O mainstream científico se apressou em classificar e estudar o 3I/ATLAS como um cometa interestelar, uma posição defendida enfaticamente pelo Centro de Estudos de Objetos Próximos da Terra da NASA, que afirma: “Esses corpos podem levar milhões de anos para cruzar de um sistema estelar para outro”. Astrônomos do Observatório Nacional e da Universidade do Havaí reforçam que o objeto, apesar da trajetória incomum, segue comportando-se como um típico cometa.

“Está a desenvolver uma pequena cauda e seu brilho aumenta ao se aproximar do Sol, como qualquer cometa cujos gelos sublimam e liberam poeira quando aquecidos”, explica Karen Meech, astrônoma planetária.

Observações realizadas desde julho permitiram identificar a presença de comas e caudas, consolidando a visão mais aceita de que estamos diante de um corpo gelado e desintegrante típico de cometas.

No entanto, uma pequena, mas ruidosa parcela da comunidade científica insiste que há motivos suficientes para considerar a hipótese de artificialidade, ventilando a possibilidade de que o 3I/ATLAS seja um artefato tecnológico interestelar, talvez até uma “sonda alienígena”. Entre os defensores desse ponto de vista destacam-se o professor Abraham Avi Loeb, da Universidade Harvard, e membros da Initiative for Interstellar Studies. Em artigo publicado no servidor de pré-impressão arXiv, Loeb e seus colegas defendem que a configuração orbital de 3I/ATLAS é “estatisticamente improvável” para um objeto natural: o astro viaja em uma trajetória quase perfeitamente alinhada com o plano eclíptico do Sistema Solar, embora em direção retrógrada.

Segundo Loeb, “Somos uma civilização tecnologicamente jovem. Podemos imaginar que uma mais avançada tivesse um plano de longo prazo para sondar o espaço interestelar. Podemos estar encontrando sondas que ainda estão funcionais e nos visitam com um objetivo. Qual seria esse objetivo?”.

Para os defensores da hipótese artificial, o alinhamento orbital favoreceria investigações sobre os planetas internos ou até permitiria aproximação estratégica da Terra. Loeb sugere, inclusive, a criação de uma escala para aferir o grau de artificialidade desses objetos, comparável à escala Richter de terremotos: “Um zero significaria que é claramente um cometa natural, com cauda visível. Um 10 seria um objeto que manobra e mostra propulsão ativa, como um motor”.

Além da trajetória, o tamanho do 3I/ATLAS também chama atenção: estimativas sugerem 20 km de diâmetro, tornando-o muito maior do que seus predecessores interestelares. “A prevalência de objetos com mais de dez quilômetros deveria ser muito menor do que os de pequenas dimensões, tornando a visita deste corpo um evento de probabilidade extremamente baixa”, destacam Adam Hibberd, Adam Crowl e outros pesquisadores ligados à tese artificial. O brilho excepcional do objeto e, inicialmente, a ausência de coma e cauda aberta a interpretações alternativas, mas o surgimento desses traços, conforme o corpo se aproximou do Sol, enfraqueceu parte do argumento dos grupos dissidentes.

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Será que o 3I/Atlas guarda alguma surpresa? Ilustração gerada com IA

Luminosidade discrepante intriga astrônomos

Outro ponto que intensificou ainda mais o debate sobre 3I/ATLAS é sua luminosidade aparentemente fora do padrão. Observações recentes realizadas com o Telescópio Espacial Hubble mostram que o corpo exibe não apenas um brilho superior ao esperado para objetos interestelares, mas também uma emissão de poeira anisotrópica, com material ejetado predominantemente na direção do Sol, formando uma cauda antissol — um fenômeno raro entre cometas.

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Segundo um estudo liderado por David Jewitt e colaboradores (2025), publicado no arXiv em 20 de agosto de 2025 (ainda sem revisão por pares), esse comportamento pode ser explicado pela rotação do objeto com a sublimação (emissão de vapor) preferencial do gelo na face do núcleo voltada para o Sol, com uma ejeção de poeira anisotrópica e velocidades baixas. Esse comportamento indicaria ainda a predominância de partículas maiores e um possível manto de radiação cósmica que protege o restante da superfície. Essa explicação natural reforça a interpretação tradicional do objeto como um cometa interestelar.

A crítica mais dura à hipótese artificial parte justamente da ala majoritária.

“É ciência irresponsável. Isto é apenas uma coincidência. Há uma explicação perfeitamente natural para tudo. Está se comportando como um cometa normal”, rebate Karen Meech.

Outros pesquisadores lembram que conceitos como a Floresta Negra e o Paradoxo de Fermi, usados para justificar posturas mais precavidas, são essencialmente especulativos e não oferecem evidências observacionais concretas.

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O mistério, até o momento, permanece longe de um desfecho. A maior aproximação do 3I/ATLAS ao Sol, prevista para o final de outubro de 2025, pode oferecer novos dados e permitir a obtenção de imagens mais precisas através de telescópios terrestres e espaciais, como o Hubble, que já capturou registros do objeto. Observações espectroscópicas ajudarão a determinar a composição exata de seu núcleo, coma e cauda, além de identificar possíveis traços de atividade artificial, como manobras não gravitacionais ou emissões de rádio anômalas.

Mesmo assim, a indústria científica se mostra cética quanto a um possível consenso.

“Astrônomos fizeram mais de 100 observações desde sua descoberta, confirmando que 3I/ATLAS possui uma coma distinta — uma nuvem de gás e poeira —, além de uma cauda proeminente. Análises preliminares indicam que seu núcleo gelado pode ser muito maior do que em objetos interestelares descobertos anteriormente”, explicou Paul Chodas, Diretor do Centro da NASA para Estudos de Objetos Próximos.

Por ora, a polêmica segue alimentada por um contexto de desconfiança e debate público, com a imprensa internacional destacando tanto os argumentos de Loeb e seu grupo — que veem no 3I/ATLAS uma oportunidade para testar hipóteses de contato inteligente — quanto a postura cautelosa dos astrônomos mais tradicionais. Resta à ciência continuar observando o objeto com o maior rigor possível, sem perder de vista as possibilidades extraordinárias e as explicações naturais que o Universo ainda reserva a cada nova descoberta.

Redação Vigília

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