Chico Alencar critica ‘zona de silêncio’ das Forças Armadas sobre OVNIs em entrevista ao Portal Vigília

No próximo dia 16 de setembro, a Câmara dos Deputados sediará uma audiência pública inédita sobre Ufologia, proposta pelo deputado Chico Alencar (PSOL-RJ). Em entrevista exclusiva ao Portal Vigília, o parlamentar explicou suas motivações para abrir espaço a um debate que, segundo ele, nasce de uma demanda da sociedade e se conecta a temas de interesse público, como a soberania nacional e o direito à informação.
A audiência pública sobre o tema na Câmara Federal, como tal, é inédita no parlamento. Não é, porém, o primeiro evento a tratar de Ufologia no Congresso: em 2022, uma sessão solene, de caráter comemorativo em alusão ao Dia Mundial da Ufologia, já havia sido realizada no Senado. A proposta de Alencar, no entanto, adota agora uma linha mais séria e direcionada, abrangendo questões de soberania nacional e do (não) acesso à informação — mas ainda patina ao não cobrar respostas diretamente das instituições governamentais e militares.
Apesar de admitir não ser especialista no assunto, Alencar destaca que já buscou respostas oficiais por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) em mais de uma ocasião — sem sucesso. Para ele, a “zona de silêncio” mantida por ministérios e Forças Armadas sobre determinados documentos e registros apenas reforça a necessidade de ampliar a transparência e de criar novas oportunidades para coleta de informações dentro do Congresso.
O deputado também mostrou desconhecer a dimensão que a Ufologia alcança quando relacionada à soberania brasileira, sobretudo no quanto à segurança nacional e, mais ainda, em eventos notórios de trocas de informações ou interferências externas em casos relacionados aos OVNIs no Brasil, com impacto direto quanto à soberania nacional.
Reconhecendo falhas na escolha dos primeiros convidados — que ficaram restritos a ufólogos civis — ele afirmou estar aberto a novas rodadas de discussão, inclusive com a participação de militares e especialistas de outras áreas, para fortalecer a seriedade do tema no país.
Entrevista com o deputado Chico Alencar
Portal Vigília: O deputado já demonstrou interesse antes pelo tema Ufologia. Qual a motivação e os objetivos do parlamentar ao abrir espaço para o debate ufológico no Brasil?
Chico Alencar: Alô, amigos do Portal Vigília. Agradeço as indagações, o interesse e vou tentando esclarecer aqui e responder às suas indagações. A motivação para a audiência pública deriva da demanda da sociedade e não só de ufólogos sobre o tema. Eu faço parte da Comissão de Legislação Participativa e ela tem por escopo abrir o debate sobre temas pelos quais sejamos demandados, temas que tenham algum grau de interesse público. O sentido da audiência pública é para que os parlamentares escutem — nós, que estamos tão acostumados a falar — e ouçam diferentes pontos de vista sobre o assunto. E é claro que sempre com seriedade e compromisso com a realidade, não é uma audiência sobre mitologia.
Portal Vigília: O deputado já tentou obter informações antes pela LAI — até onde apuramos, pelo menos 3 vezes. Quais foram as respostas das Forças. Elas foram satisfatórias para o deputado?
Chico Alencar: Sim, tentei obter informações pela Lei de Acesso à Informação. As respostas, eu considero insuficientes ou com partes um tanto fechadas dos ministérios e das forças que foram indagadas e requeridas. Isso eu apresento na abertura da audiência, mostrando que há uma certa zona de silêncio sobre esse assunto, que não é o melhor caminho, né? O sentido da audiência também é de oferecer essas informações e mostrar que elas não nos satisfizeram plenamente.
Portal Vigília: É inevitável traçar um paralelo entre uma audiência no Congresso Brasileiro e as audiências no Congresso dos Estados Unidos. A despeito de as audiências lá não terem logrado produzir provas concretas ou documentais da existência de programas secretos ou da posse de material tecnológico ou biológico não humano por parte de algum ente governamental, ainda assim são chamados a dar testemunho oficiais, ex-oficiais e contratados da Defesa que supostamente tiveram lida direta com essas informações. No Brasil, apenas ufólogos. Por quê?
Chico Alencar: É claro que as audiências aqui — não sei nem se já aconteceram na Câmara — e se nos Estados Unidos as audiências no Congresso não lograram nenhum êxito, não produziram provas concretas ou documentais de programas secretos. Aqui também não, né? Então, de fato, eu reconheço que há uma lacuna de não ter convidado oficiais da Aeronáutica. Eu entendo que a mesa de apresentadores da questão ficou muito limitada, o que não impede em outra audiência futura a gente, a partir dessa, avançar para uma mais plena, digamos, para uma mais consistente, até mais ampla, e estou inteiramente aberto a isso.
Portal Vigília: O deputado já tem experiência com negativas das Armas brasileiras. Em especial a Força Aérea cai em contradição por exemplo ao dizer não ter posse de vídeos da Operação Prato, quando o falecido comandante da operação, Uyrangê Hollanda, já afirmara terem existido e, mais recentemente, um podcast produzido pela Globo ter conseguido reconstituir partes de um vídeo através de cópias de fotogramas localizados junto à família de um militar participante da operação. Por que ninguém da FAB foi convocado a falar a respeito?
Chico Alencar: Exatamente como eu disse anteriormente, a audiência falhou nesse aspecto de não convidar pessoas que podem trazer informações importantes, da FAB, por exemplo. Não foi por nenhuma razão política ou de querer limitar ou manter um monopólio do assunto para certas pessoas. Minha história de vida mostra que eu não sou adepto de qualquer monopólio, a não ser aquele que interesse à sociedade brasileira sobre nossas riquezas naturais, por exemplo. Mas eu peço até que, se vocês conhecerem alguém, porque a audiência pública é assim: alguns convidados falam um pouquinho mais, depois todos os presentes, sem exceção, podem fazer indagações, colocações, trazer informações. Isso enriquece muito a audiência. Eu espero que ela seja rica nesse sentido, inclusive alguém que possa relatar toda a história da Operação Prato, de tudo que esse vídeo com cópias de fotogramas possa revelar também.
Portal Vigília: O general Paulo Roberto Yog Uchoa, filho do General Moacyr Uchoa, bem conhecido por seu envolvimento com a Ufologia, é mencionado no livro do denunciante Luis Elizondo pela participação em almoço nos EUA com integrantes do então AATIP, do Pentágono, com quem trocara informações sobre a Operação Prato. O livro trata esse encontro como “colaboração internacional” do governo brasileiro. Uchoa desconversa e diz que foi “encontro pessoal”. Esse não é um tema que merecia ser esclarecido por uma audiência pública?
Chico Alencar: Eu confesso que não conheço detalhes desse livro que vocês mencionam e sobre o general Paulo Uchoa, mas é algo que deve ser abordado também. Esse tema merece ser esclarecido em uma audiência pública levantado nesta, e reitero que vocês estão convidados para fazê-lo e aprofundá-lo depois, né?
Portal Vigília: De forma similar, é sabido que agentes da BAASS (Bigelow Aerospace Advanced Space Studies), do multimilionário Robert Bigelow, empreiteiro contratado da Defesa dos EUA, estiveram no Brasil a serviço da CIA tentando cooptar pesquisadores brasileiros para fornecerem informações e pesquisas nacionais. Algum dos ufólogos procurados por eles foi convocado/convidado para a audiência?
Chico Alencar: Esse multimilionário a serviço da CIA é terrível, né? E é bom saber quem são esses ufólogos procurados por eles. Se alguém que estiver na audiência souber, é bom informar. Claro.
Portal Vigília: A Ufologia vive um ponto de virada mundial, com cada vez mais cientistas tradicionais, da Academia, apresentando estudos baseados em dados e escrevendo artigos revisados por pares publicados em veículos conceituados que apoiam, no mínimo, a estranheza do fenômeno UAP/OVNI. O deputado acha que, no caso brasileiro, uma primeira audiência pública em que parte dos palestrantes tem um histórico de “teorias” que tratam de “ruínas alienígenas” na Lua ou em Marte, espiritualidade, ou histórias anedóticas de “fitas” sobre Varginha, ajuda a Ufologia a caminhar a ganhar o mesmo grau de seriedade e objetividade na Academia (ou na sociedade)?
Chico Alencar: Eu, que sou leigo no assunto, acho que a gente deve esclarecer eliminando histórias anedóticas e avançar nesse caminho de seriedade e objetividade, inclusive na academia. Eu concordo plenamente com a preocupação de vocês, também as tenho. E acho que a gente pode fazer da audiência um momento de afirmação dessa preocupação e para tratar o tema com a seriedade que ele merece. É isso aí, grande abraço. Espero vocês lá na terça-feira que vem.
A audiência pública sobre Ufologia, soberania nacional e acesso à informação acontecerá no dia 16 de setembro, a partir das 9h30, no Plenário 3 da Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados, em Brasília. O evento será aberto ao público e deverá contar com transmissão ao vivo pela TV Câmara e pelos canais oficiais da Casa na internet.