Foto de suposta nave-mãe divulgada por Lue Elizondo acende novos alertas para a Ufologia

Foto de suposta nave-mãe divulgada por Lue Elizondo acende novos alertas para a Ufologia
Análise incorreta de montagem simples ('nave-mãe') coloca em cheque a credibilidade de Lue Elizondo (Reprodução Facebook/X.com)
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Uma foto de uma suposta “nave-mãe” extraterrestre divulgada durante um evento por Luis Elizondo fez acender uma série de luzes de alerta na Ufologia. O ex-chefe do Programa Avançado de Identificação de Ameaças Aeroespaciais (AATIP) do Pentágono tornou-se uma figura central no debate sobre fenômenos aéreos inexplicáveis (UAPs), especialmente após sua saída do governo dos EUA em 2017. Desde então, ele se posicionou como um defensor da tese de que os Estados Unidos detêm informações sobre tecnologias não humanas, que estariam sendo ocultadas do público e do Congresso.

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Luis Elizondo (Foto: Reprodução)
Luis Elizondo (Foto: Reprodução)

No entanto, sua trajetória também tem sido marcada por controvérsias e, mais recentemente, por erros factuais e exageros que podem a minar sua credibilidade. Um dos episódios mais recentes e emblemáticos dessa trajetória foi a apresentação de uma foto durante uma conferência recente na qual ele alegou tratar-se de uma “nave-mãe” avistada na Romênia. A imagem, no entanto, foi rapidamente desmascarada.

Mesmo defensores fervorosos de Elizondo e entusiastas com uma atitude menos cética em relação aos OVNIs consideraram a evidência extremamente fraca, provavelmente resultado de um reflexo de um lustre em uma janela. O ex-oficial chegou a pedir desculpas por seu “erro” (embora não tenha assumido exatamente sua “autoria”), mas o estrago já estava feito. Esse incidente é apenas mais um em uma série de equívocos que têm gerado críticas tanto de céticos quanto de entusiastas da ufologia.

O episódio da “nave-mãe” na Romênia

No final de outubro de 2024, durante um evento ufológico na Filadélfia, Elizondo apresentou uma imagem que ele descreveu como uma “nave-mãe”, comparando-a à nave do filme *Contatos Imediatos do Terceiro Grau*, de Steven Spielberg. Ele afirmou que a foto havia sido tirada perto da Embaixada dos EUA na Romênia em 2022 e que mostrava “uma enorme minicidade flutuando no céu”.

Contudo, a imagem foi rapidamente rastreada até uma postagem em um grupo do Facebook, onde havia sido publicada em setembro de 2023. A análise revelou que o objeto na foto era provavelmente o reflexo de um lustre visto através de uma janela, e não um OVNI real.

Esse erro gerou críticas imediatas da comunidade ufológica e cética. John Greenewald Jr., fundador do site The Black Vault e defensor da transparência governamental, foi um dos primeiros a desmascarar a foto. Ele apontou que a imagem não havia sido tirada perto da Embaixada dos EUA, como afirmado por Elizondo, mas sim próxima à usina elétrica de Arad, a quilômetros de distância. A revelação foi um golpe para Elizondo, cuja credibilidade já vinha sendo questionada por outros incidentes.

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Erros e imprecisões: o vídeo Gimbal e a Operação Prato

O episódio da “nave-mãe” na Romênia não foi o primeiro erro significativo cometido por Elizondo. Em seu livro Imminent: Inside the Pentagon’s Hunt for UFOs, publicado há apenas alguns meses, ele cometeu vários equívocos ao tentar descrever fenômenos ufológicos. Um exemplo notável é sua interpretação errônea da variação das cores escuras e claras no famoso vídeo Gimbal, gravado por pilotos da Marinha dos EUA.

Mick West, um cético conhecido por desmistificar vídeos ufológicos, demonstrou como Elizondo cometeu erros primários — ainda mais tratando-se supostamente de um especialista — ao interpretar as temperaturas indicadas pelo modo infravermelho do vídeo. Ele usou essas falhas para reforçar sua tese de que o vídeo representa evidências de tecnologias alienígenas.

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Esse erro técnico básico levantou dúvidas sobre o nível de entendimento de Elizondo acerca das tecnologias que ele supostamente investigava.

No mesmo livro, Elizondo fornece outro exemplo problemático ao expor dados relacionados à Operação Prato, uma investigação militar brasileira sobre avistamentos de OVNIs na Amazônia no final dos anos 1970. Em Imminent, o ex-oficial apresentou estatísticas incorretas sobre os incidentes documentados pela operação, confundindo-os com relatos coletados pelo jornalista Bob Pratt em vários países, inclusive o Brasil.

A questão já havia sido apresentada pelo experiente jornalista, ufólogo e escritor hispano-brasileiro Pablo Villarrubia Mauso em seu canal no YouTube.

A Operação Prato é amplamente reconhecida como um dos maiores esforços militares para investigar OVNIs no mundo, tendo produzido centenas de registros fotográficos e filmagens — estas últimas nunca chegaram ao conhecimento do público. No entanto, Elizondo tratou esses dados como se fossem parte de uma investigação global coordenada — o que não é verdade — apontando uma tentativa clara de usar a bem conhecida (ao menos no Brasil) operação como forma de ampliar o interesse em sua obra recém-lançada.

O almoço com Paulo Uchôa: mal interpretado?

Outro exemplo da tentativa de exploração do potencial da Operação Prato para alavancar sua obra foi a descrição ambígua feita por Elizondo sobre o encontro que ele, James T. Lacatski, o cientista Harold Puthoof e outros integrantes do AATIP tiveram com o general Paulo Roberto Yog de Miranda Uchôa, filho do falecido General Alfredo Moacyr Uchôa. O general — o pai — foi uma figura importante na ufologia brasileira e pioneiro na investigação após sua aposentadoria militar nos anos 1960. Uchôa acreditava firmemente na interconexão entre fenômenos ufológicos e espirituais. Publicou diversos livros sobre o tema e chegou a ganhar o apelido de “General das Estrelas”. Seu filho Paulo Uchôa também se envolveu nas discussões sobre ufologia e participou ativamente do legado deixado pelo pai.

Luis Elizondo, ex-oficial do Pentágono, lança Imminent - Inside the Pentagon's Hunt for UFOs (montagem sobre reprodução do The History Channel)
Luis Elizondo, ex-oficial do Pentágono, lança Imminent – Inside the Pentagon’s Hunt for UFOs (montagem sobre reprodução do The History Channel)

Elizondo relatou em seu livro que teve um encontro com uma alta patente das Forças Armadas brasileiras para discutir UAPs e sugeriu que essa reunião assumiu um caráter oficial de “cooperação internacional”. O general Paulo Roberto Yog de Miranda Uchôa conta, no entanto, uma história diferente. Consultado pelo Portal Vigília, ele respondeu por email que tratou-se de um almoço pessoal. “Na verdade, eu e minha filha participamos de um almoço em Washington, com Mr. [Robert Bigelow] e sua equipe. Nada tinha de oficial. Foi um encontro particular”.

No cardápio das conversas estavam dados já públicos sobre a Operação Prato [já havia centenas de páginas de relatórios e fotos vazadas à época] além de informações amplamente divulgadas pela imprensa. “Uma compilação de fotos vintage e dados compilados pela equipe do Capitão [Uyrangê] Hollanda”, descreveu Elizondo. Mas é curioso que, no livro, ele não mencione que o almoço foi organizado e contou com a participação do próprio Bigelow, tendo creditado sua realização a Lacatski.

A justificativa e seu impacto na credibilidade

Após a revelação do erro sobre a foto da “nave-mãe”, Elizondo tentou justificar-se afirmando que havia recebido a imagem “de um amigo do governo” alguns anos antes e que ela teria sido erroneamente inserida na apresentação. Chegou até mesmo a sugerir a possibilidade de uma “ação premeditada” para prejudicá-lo — apesar dele ser visto no vídeo explicando detidamente as características supostamente fantásticas da imagem.

Essa explicação pode ter sido suficiente para alguns defensores mais fervorosos, mas fez pouco para acalmar os críticos. Jeremy McGowan, veterano da Força Aérea dos EUA e testemunha ocular de encontros com OVNIs no Oriente Médio, acusou Elizondo publicamente de exagerar ou até fabricar informações para promover seus interesses comerciais. McGowan relatou ter presenciado Elizondo mostrando vídeos supostamente secretos em seu celular — vídeos que eram facilmente identificáveis como material público já conhecido.

É claro que ninguém é perfeito e todos têm direito ao erro. No entanto, no caso específico de Lue Elizondo, seus equívocos recorrentes levantam questões sérias sobre sua confiabilidade como fonte primária sobre UAPs e toda a luta pela transparência. E quando esses erros se acumulam em áreas sensíveis como a ufologia — onde as evidências são frequentemente escassas e as expectativas são altas — eles podem ter consequências graves para a credibilidade não apenas das pessoas envolvidas mas da própria pesquisa.

Elizondo construiu sua reputação como alguém com acesso privilegiado às informações confidenciais do governo dos EUA sobre OVNIs. Ele se tornou um defensor vocal da ideia de que os Estados Unidos estão escondendo tecnologia não humana do público. Seja por exagero ou má interpretação dos dados disponíveis, esses deslizes são mais do que simples erros; são sinais preocupantes de uma abordagem sensacionalista que pode prejudicar ainda mais a credibilidade das pesquisas ufológicas.

Embora seja fundamental manter o debate aberto sobre UAPs e continuar investigando esses fenômenos misteriosos com seriedade científica, figuras públicas como Lue Elizondo devem ser responsabilizadas pela precisão das informações que divulgam. Afinal, quando se trata de temas tão delicados quanto possíveis encontros com tecnologias alienígenas ou fenômenos inexplicáveis nos céus terrestres, cada erro pode custar caro à busca pela verdade.

Jeferson Martinho

Jornalista, o autor é empresário de comunicação, dono de agência de marketing digital e assessoria de imprensa, publisher de um portal de notícias regionais na Grande São Paulo, fundador e editor do Portal Vigília.

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