Eles voltaram: drones misteriosos provocam resposta militar na Holanda

Eles voltaram: drones misteriosos provocam resposta militar na Holanda
Eles voltaram: vídeo registra presença de um 'drovni' ou drone misterioso sobre o aeroporto de Eindhoven, na Holanda (Fonte - X.com - @Nexus_osintx)

Uma escalada dramática na segurança do espaço aéreo europeu ocorreu na Holanda no último final semana, após a detecção de veículos aéreos não tripulados (VANTs), drones misteriosos ou drovnis, como têm sido chamados no meio ufológico, sobre bases militares cruciais e aeroportos. O primeiro incidente significativo se deu na noite de sexta-feira, 21 de novembro de 2025, quando o pessoal de segurança da Base Aérea de Volkel, uma instalação chave da Real Força Aérea Holandesa perto da fronteira alemã, avistou múltiplos drones em pleno espaço aéreo restrito.

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Em resposta à incursão, que ocorreu entre 19h e 21h (horário de Greenwich), os militares holandeses “utilizaram armas a partir do solo para derrubar os drones”, conforme noticiado pela Reuters e confirmado pelo Ministério da Defesa.

Apesar do uso de força letal, a operação de defesa não obteve sucesso em sua missão, pois o Ministério da Defesa Holandês informou que “os drones partiram e não foram (ainda) encontrados”. Nenhum destroço foi recuperado. A Real Marechaussée Holandesa (polícia militar) e a polícia civil iniciaram investigações sobre o incidente.

A Base Aérea de Volkel é uma das três principais bases operacionais da Força Aérea Real Holandesa, sede do 313º Esquadrão que opera caças F-35 e, crucialmente, é uma das seis bases aéreas ativas em cinco países europeus que armazenam bombas nucleares B61 dos EUA.

O Ministro da Defesa holandês, Ruben Brekelmans, confirmou os avistamentos na Base Aérea de Volkel através da plataforma X (anteriormente Twitter), enfatizando que “Drones SÃO PROIBIDOS em locais militares”. Ele acrescentou que “Tomaremos as medidas necessárias”. No dia seguinte, sábado, 22 de novembro de 2025, a situação de alerta se espalhou para o Aeroporto de Eindhoven, que atende tanto a tráfego civil quanto militar, e que teve o tráfego aéreo suspenso por várias horas após múltiplos avistamentos de drones.

O Secretário de Estado da Defesa, Gijs Tuinman, confirmou à televisão nacional que as autoridades “os detectaram e, em última análise, implementaram meios para, essencialmente, os afugentar” em Volkel e Eindhoven.

Embora se recusasse a divulgar detalhes específicos por “motivos de segurança”, o Ministério da Defesa Holandês não soube esclarecer “atualmente porque os drones estavam a voar sobre ou perto da base aérea”. Tuinman também emitiu um aviso contundente, afirmando que “qualquer pessoa apanhada a pilotar um drone nestas áreas está a violar a lei e pode passar algum tempo na prisão”.

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Um vídeo que surgiu em diversos canais na Internet sem fonte identificada foi referendado pela imprensa holandesa. Aparentemente feito a partir da pista do aeroporto, ele mostra uma pequena luz achatada no céu, sem forma definida, alguns segundos depois de a câmera mostrar a cauda de um avião parado na pista. A aeronave pertence à companhia irlandesa de baixo custo Ryanair (FR), uma das maiores companhias aéreas da Europa.

 

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Drones misteriosos: ufologia ou espionagem?

Apesar de as autoridades terem normalizado a classificação desse tipo de incursão no âmbito da espionagem, em geral, a origem, tecnologias e objetivos dos tais drones continuam um mistério. Assim como segue sem explicação a incapacidade de algumas das forças armadas mais bem equipadas do mundo mostrarem-se completamente incapazes de capturá-los, abatê-los ou exporem qualquer detalhe de seu funcionamento. De forma incomum, tais objetos já foram registrados em enxames, saindo de objetos maiores, permanecendo no ar por tempos longos e totalmente imunes a armas eletrônicas de interferência. A soma de todos esses comportamentos os tornam incompatíveis com tecnologias de drones civis ou militares conhecidas.

Os incidentes na Holanda são o ponto mais recente de uma onda de incursões de drones que afeta diversas nações e não apenas na Europa, mas também nos Estados Unidos e até no Brasil. Antes dos eventos holandeses, incidentes semelhantes foram relatados na Dinamarca, Noruega, Polônia, e Alemanha, com as incursões intensificando-se no outono de 2025. A Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, chegou a classificar essas incursões como “guerra híbrida”, apontando suspeitas de operações coordenadas de espionagem e sabotagem de infraestruturas críticas.

Sequencia de capturas do video atribuido a presenca de um drovni sobre o aeroporto de Eindhoven na Holanda Fonte X.com @Nexus osintx
Sequência de capturas do vídeo atribuído à presença de um ‘drovni’ sobre o aeroporto de Eindhoven, na Holanda (Fonte – X.com – @Nexus_osintx)

Pouco antes dos avistamentos em Volkel, foram observados três “grandes” drones não identificados sobre a Base Aérea de Kleine Brogel, na Bélgica, uma instalação que também armazena bombas nucleares B61 dos EUA. Em resposta, o Ministro da Defesa belga, Theo Francken, declarou que os avistamentos pareciam fazer parte de uma operação de espionagem, e ordenou que as forças armadas abatessem quaisquer drones não identificados sobre instalações militares.

Na Alemanha, que também entrou em estado de alerta máximo em outubro de 2025 devido a uma onda de avistamentos de drovnis sobre infraestruturas críticas e instalações militares, as autoridades investigaram a suspeita de espionagem deliberada. O Ministro Federal do Interior, Alexander Dobrindt (CSU), manifestou alarme sobre a situação, alertando ao BILD que “Os sobrevoos de drones são um sinal de alerta!”. Investigações alemãs apontaram a suspeita de que os drones, frequentemente descritos como “sistemas combinados de drones” ou enxames, que incluíam grandes drones de “asa fixa” agindo como “drones-mãe”, teriam sido lançados de um “navio sob bandeira estrangeira” no Mar Báltico, provavelmente pertencente à “frota fantasma” dos serviços secretos russos.

Embora o Primeiro-Ministro holandês, Dick Schoof, tenha afirmado em outubro que a Europa acredita que a Rússia está por trás desses incidentes, ele também reconheceu que a aliança “não consegue provar” a autoria. A escalada tem levado países a revisar suas estratégias de defesa; o governo federal alemão, por exemplo, planeja introduzir uma lei que permita à Bundeswehr abater drones em caso de emergência, uma capacidade que atualmente é restrita. O foco geopolítico da ameaça é inegável, dado que a OTAN exigiu publicamente que a Rússia interrompesse a que chamou de “escalada” de violações do espaço aéreo, alertando para um risco de erro de cálculo e de vidas em perigo.

Vídeo de suposto drone (ou drovni) sobre Copenhague que circula no subredit r/UFOs
Capturas de vídeo de suposto drone (ou drovni) sobre Copenhague que circula no subredit r/UFOs

Desafios técnicos e a busca por soluções cinéticas

O aspecto mais perturbador dos incidentes holandeses, e de fato de muitas incursões europeias, é o fracasso das forças de defesa em abater ou capturar os dispositivos, expondo até mesmo as lacunas significativas nas capacidades de contraterrorismo de drones (C-UAS) da OTAN. Analistas de segurança apontam que os misteriosos drovnis se mostraram protegidos contra “todos os equipamentos de interferência de drones e sinais” e que “não podem ser rastreados sequer pelos militares da OTAN”, sugerindo que não se trata de equipamentos comerciais disponíveis.

Diante da ameaça em rápida evolução, as forças armadas de países membros da OTAN buscam ativamente novas soluções. A Força Aérea dos EUA, por exemplo, solicitou propostas em novembro de 2025 para adaptar os foguetes guiados a laser AGR-20 Advanced Precision Kill Weapon System II (APKWS), que são atualmente usados em caças F-15E e F-16 para abater drones ar-ar, para uso a partir do solo. O APKWS, que custa menos de US$ 40.000, é visto como uma alternativa mais barata do que mísseis guiados, como o AIM-9, que custa mais de meio milhão de dólares cada. Stacie Pettyjohn, diretora do programa de defesa do Center for a New American Security (CNAS), afirmou que o APKWS é “muito mais barato do que um AIM-9” e que “funciona bem”.

A Força Aérea dos EUA também está interessada em sistemas capazes de atacar mais de quatro enxames de drones “em um curto período de tempo”. Outras opções consideradas para a defesa de bases aéreas incluem sistemas de micro-ondas de alta potência e aprimoramento de canhões existentes com munição de fragmentação por proximidade para defesa de curto alcance. Segundo o relatório da CNAS, canhões são “acessíveis e uma opção potente para derrotar drones”.

Documentos e vídeos liberados dão detalhes sobre drones (ou UAPs) sobre bases militares. General Guillot, do NORAD, fez apelo ao Senado dos EUA.
Documentos e vídeos liberados dão detalhes sobre drones (ou UAPs) sobre bases militares. General Guillot, do NORAD, fez apelo ao Senado dos EUA.

Na Holanda, o Ministro da Defesa Brekelmans anunciou em outubro a compra de drones DeltaQuad para vigilância e reconhecimento, como parte do Plano de Ação de Drones de €400 milhões, dos quais metade visa a indústria holandesa. Este plano também foca em investimentos na defesa contra drones, incluindo a aquisição de sistemas móveis anti-drones e lasers de alta energia. Em um contexto mais amplo de ameaças, o chefe do Unmanned Aircraft Systems (UAS) do Ministério da Defesa Holandês, Jos Wolse, sublinhou a importância do desenvolvimento de drones resistentes à interferência, que “devem ser equipados com a mais recente tecnologia para permanecerem invisíveis, resistirem à interferência e operarem autonomamente”.

O mistério persistente dos drovnis

O termo “drovnis” – uma fusão de drones e OVNIs (Objetos Voadores Não Identificados) – surgiu para descrever uma classe de objetos aéreos que invadem espaços aéreos restritos com capacidades que parecem exceder a tecnologia comercialmente disponível, e que continuam a ser um mistério para as autoridades globais. Embora o pânico tenha atingido a Europa no final de 2025, o fenômeno ganhou destaque pela primeira vez com avistamentos coordenados sobre o nordeste dos Estados Unidos, especialmente em Nova Jersey, no final de 2024.

Relatos de incursões de drones, frequentemente descritos como silenciosos e com padrões de voo incomuns, ocorreram em dezenas de instalações sensíveis, incluindo a Base Aérea Wright-Patterson em Ohio em dezembro de 2024, e a Base Conjunta Langley-Eustace no final de 2023. O General Gregory M. Guillot, comandante do NORTHCOM e NORAD, testemunhou perante o Senado dos EUA em fevereiro de 2025 que foram reportadas 350 detecções em 100 instalações militares em 2023. Guillot expressou que a principal ameaça era a “detecção e talvez vigilância de capacidades sensíveis em nossas instalações”.

Muitos aviões foram identificados como drones na onda de Nova Jersey, mas várias incursões permanecem sem explicação (Reprodução/Redes Sociais)
Muitos aviões foram identificados como drones na onda de Nova Jersey, mas várias incursões permanecem sem explicação (Reprodução/Redes Sociais)

Em Nova Jersey, a situação levou o FBI a investigar e emitir Restrições Temporárias de Voo (TFRs) sobre instalações de energia, embora as autoridades tenham sido posteriormente evasivas e o FBI tenha declarado não ter recuperado nenhum drone ou identificado suspeitos. O vice-comissário assistente da polícia de Copenhague, Jakob Hansen, refletiu essa dificuldade global ao investigar as incursões de setembro de 2025, confirmando que “Os drones desapareceram e não pegamos nenhum deles”.

Até mesmo o Brasil já foi afetado pela preocupação. Em outubro de 2024,  o Exército Brasileiro chegou a abrir fogo contra um drone de origem desconhecida que sobrevoava o Pelotão Especial de Fronteira (PEF) Tiriyós, instalado na área para proteção da comunidade indígena Tiriyó, localizada no Parque Indígena do Tumucumaque, no Pará, na fronteira do Brasil com o Suriname. Apesar dos disparos, o equipamento não foi abatido e seus operadores continuam desconhecidos.

A ausência de capturas ou abates bem-sucedidos em quase todos os incidentes amplifica o mistério. Seja na Europa ou nos EUA, as autoridades enfrentam dispositivos com autonomia de voo notável, comportamento inteligente e capacidades furtivas que resistem a contramedidas eletrônicas convencionais. Enquanto a maioria das autoridades aponta para adversários estatais, o debate entre a comunidade ufológica e especialistas sugere que a incapacidade de interceptação por parte das potências da OTAN indica um salto tecnológico significativo, ou a presença de Fenômenos Aéreos Não Identificados (UAPs) mimetizando a tecnologia de drones. A detecção desses objetos voadores pequenos e manobráveis continua sendo um desafio técnico substancial, pois os radares de vigilância convencionais são, na maioria das vezes, ineficazes.

Redação Vigília

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