AARO, do Pentágono, atribui misterioso óvni ‘Apollo’ a balão e gera indignação

O escritório do Pentágono para a investigação de UAPs/óvnis, o All-domain Anomaly Resolution Office (AARO, sigla em inglês para Escritório de Resolução de Anomalias de todos os Domínios), divulgou ontem, 24 de abril, um relatório de sua investigação para o misterioso caso que ficou conhecido como óvni “Apollo”. Com isso, o AARO tumultuou o debate na comunidade ufológica ao mesmo tempo em que conseguiu gerar ainda mais desconfiança em própria atuação.
O episódio refere-se a um evento raro na história da relação entre a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) a a Ufologia. No início de abril, o órgão militar liberou informações detalhadas sobre um encontro com um objeto voador não identificado (OVNI) ocorrido no dia 26 de janeiro de 2023, próximo à base de aérea de Eglin, na Flórida. O objeto apelidado de “Apollo” por sua semelhança com “uma cápsula da aeronave Apollo”, foi um dos quatro objetos detectados no radar por aeronaves na área a uma altitude de 17.000 pés.

O relatório original da USAF descrevia que um piloto de caça conseguiu travar o radar no OVNI e obter uma captura de tela do objeto, enquanto os outros três foram apenas detectados pelo radar. Notavelmente, ao se aproximar a 4.000 pés do OVNI líder, o radar do piloto falhou e permaneceu desativado pelo resto da missão, com investigações pós-missão falhando em diagnosticar conclusivamente os motivos da falha. O objeto, que não apresentava asas, hélices ou qualquer outra superfície de sustentação, exibia uma luz alaranjada para avermelhada no centro.
Com base nessas descrições, o AARO então chegou à conclusão de que o UAP era “muito provavelmente um objeto mais leve que o ar, como um grande balão de iluminação comercial”. Esta conclusão teria sido baseada em vários dados, incluindo testemunhos de pilotos, dados de sensores e análises comparativas com objetos aéreos conhecidos, como balões usados para pesquisas meteorológicas ou para fins comerciais.

O público em geral havia tomado conhecimento do incidente do “Eglin UAP” principalmente através do congressista Matt Gaetz, do Partido Republicano da Flórida. Ele discutiu o caso durante uma audiência no Congresso. Gaetz destacou a fotografia específica tirada por pilotos da Força Aérea. Ele descreveu o OVNI como uma “orbe” com capacidades além da tecnologia humana. Os comentários de Gaetz chamaram a atenção significativa para o incidente, dado que o congressista enfatizou suas implicações para a segurança nacional.
AARO tem “confiança moderada” na avaliação
Ao liberar seu relatório, o AARO associou a falha do radar a um disjuntor desarmado, um problema que seria recorrente com a aeronave, e que foi avaliado como não relacionado à presença do UAP, ou seja, apenas uma coincidência. Mas ignorou o fato de pelo menos outros três objetos terem sido detectados, frisando que “nenhuma característica, comportamento ou capacidade anômala de voo foi confirmada”.
No mesmo documento, numa espécie de bate e assopra – que irritou os ufólogos – o escritório afirmou que “tem confiança moderada nesta avaliação devido aos dados limitados fornecidos”, abrindo, claro, margem para uma enorme quantidade de críticas.
Em uma postagem no X, Marik von Rennenkampff, ex-analista do Departamento de Estado dos EUA, observou que entrou em contato com a empresa de balões que supostamente seriam os responsáveis pelo episódio, que disse não ter perdido nenhum de seus dispositivos infláveis naquele período.
“Liguei para a empresa sediada na Flórida que fabrica esses produtos industriais de alta qualidade”, escreveu von Rennenkampff. “Eles me disseram que seus balões não se soltam aleatoriamente.”
Até mesmo o autor e investigador cético Mick West, conhecido pela abordagem ácida quanto às hipóteses não convencionais para o fenômeno UFO, manifestou reservas em relação à explicação do balão de iluminação.
“Este UFO de Eglin parece uma esfera branca usando um chapéu”, escreveu West, comparando as imagens do balão em solo, a infravermelha e a imagem digital obtida pelo piloto.
A polêmica chega em má hora para o AARO. Desde de a saída de seu antigo diretor, Dr. Sean Kirkpatrick, os objetivos, a honestidade e a transparência das investigações — e de seu ex-chefe — vinham sendo constantemente colocadas em dúvida, entre outros defeitos, pela forma como conduziram (ou deixaram de conduzir) a interlocução com os chamados denunciantes óvni, em especial David Grusch.