Bioassinaturas: James Webb detecta sinais de vida em exoplaneta K2-18b

Bioassinaturas: James Webb detecta sinais de vida em exoplaneta K2-18b
Exoplaneta K2-18b pode conter a primeira evidência de vida fora do Sistema Solar - Impressão artística por A. Stelter (Wikimedia)

Finalmente parece que estamos um (grande) passo mais próximo do anúncio da descoberta de vida extraterrestre pela Ciência. Pelo menos, ao que tudo indica, microbiana. Em uma busca contínua para responder a uma das questões mais fundamentais da humanidade – se estamos sozinhos no universo – cientistas utilizando o poderoso Telescópio Espacial James Webb (JWST) obtiveram o que descrevem como os “sinais mais fortes até agora de possível vida além do nosso Sistema Solar”.

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Estas descobertas recentes, amplamente divulgadas a partir de 16 abril de 2025, concentram-se na análise da atmosfera do exoplaneta K2-18b, um mundo situado a cerca de 124 anos-luz de distância, na constelação de Leão, onde teriam sido detectadas as chamadas “bioassinaturas“.

Observações anteriores com o Telescópio Espacial Hubble já haviam sugerido a presença de vapor d’água em K2-18b. O JWST, lançado em 2021 e operacional desde 2022, proporcionou uma visão muito mais detalhada da composição atmosférica deste exoplaneta.

Análises prévias do Webb identificaram metano e dióxido de carbono na atmosfera de K2-18b, marcando a primeira vez que moléculas à base de carbono foram descobertas na atmosfera de um exoplaneta localizado na zona habitável de sua estrela. Esta zona habitável é crucial, pois representa a distância de uma estrela onde a água líquida, um ingrediente essencial para a vida como a conhecemos, pode existir na superfície de um planeta. A combinação dessas descobertas levou à hipótese de que K2-18b poderia ser um “mundo hiceano” (hycean), um tipo de exoplaneta hipotético coberto por um oceano de água líquida habitável por microrganismos e envolto por uma atmosfera rica em hidrogênio.

Descoberta de potenciais bioassinaturas: DMS e DMDS

O anúncio mais recente, e o foco principal do estudo publicado hoje, 17 de abril de 2025 no The Astrophysical Journal Letter, detalha a detecção de “impressões químicas de gases que na Terra são produzidos apenas por processos biológicos” na atmosfera de K2-18b. Os dois gases em questão são o dimetil sulfeto (DMS) e o dimetil dissulfeto (DMDS). Na Terra, esses gases são predominantemente gerados por organismos vivos, especialmente vida microbiana como o fitoplâncton marinho – algas – nos oceanos. A detecção desses gases em K2-18b, com um nível de confiança de 99,7%, sugere fortemente, segundo os pesquisadores, que o planeta “pode estar repleto de vida microbiana”.

O astrofísico Nikku Madhusudhan, do Instituto de Astronomia da Universidade de Cambridge e autor principal do estudo, expressou seu entusiasmo, afirmando: “Este é um momento transformador na busca por vida além do Sistema Solar, onde demonstramos que é possível detectar bioassinaturas em planetas potencialmente habitáveis com as instalações atuais. Entramos na era da astrobiologia observacional”. Madhusudhan também observou que a quantidade estimada desses gases na atmosfera de K2-18b é “milhares de vezes maior que suas concentrações na atmosfera da Terra, e não pode ser explicado sem atividade biológica com base no conhecimento existente”. Ele acrescentou: “Se confirmarmos que há vida em K2-18b, isso basicamente confirmaria que a vida é muito comum na galáxia”.

A pesquisa, conduzida pela Universidade de Cambridge, contou com a análise de um espectro de transmissão no infravermelho médio de K2-18b, obtido utilizando o instrumento MIRI LRS do JWST. Este espectro revelou características distintas que são mais bem explicadas pela presença de DMS e DMDS na atmosfera. O estudo relata novas evidências independentes para DMS e/ou DMDS na atmosfera com uma significância de 3 *σ*, com uma alta abundância de pelo menos uma das duas moléculas.

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A natureza hiceana e as implicações para a vida

A detecção de metano e dióxido de carbono, juntamente com a ausência notável de amônia, reforça a hipótese de K2-18b ser um mundo hiceano. A teoria sugere que a amônia, esperada em uma atmosfera rica em hidrogênio, poderia estar sendo absorvida por um vasto oceano de água líquida abaixo. Madhusudhan chegou a afirmar: “O único cenário que atualmente explica todos os dados obtidos até agora pelo JWST, incluindo as observações passadas e presentes, é aquele em que K2-18b é um mundo hiceano repleto de vida”. No entanto, ele também enfatizou a necessidade de permanecer aberto a outras possibilidades.

Em relação à forma de vida que poderia existir em um mundo hiceano como K2-18b, Madhusudhan disse que, se existir vida, “estamos falando de vida microbiana, possivelmente como o que vemos nos oceanos da Terra”. Ele mostrou-se cauteloso quanto à possibilidade de organismos multicelulares ou vida inteligente neste estágio, afirmando que a “suposição básica é de vida microbiana simples”.

As concentrações atmosféricas de DMS e DMDS detectadas são mais de dez partes por milhão em volume, o que, como observado por Madhusudhan, é milhares de vezes maior do que as concentrações na atmosfera da Terra e difícil de explicar sem atividade biológica. Modelagens fotoquímicas recentes sugerem que grandes quantidades de DMS e DMDS podem se acumular na atmosfera de K2-18b sob certas condições biogênicas.

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Cautela científica e próximos passos

Apesar do entusiasmo gerado por essas descobertas, tanto a equipe de pesquisa quanto outros cientistas independentes enfatizam a necessidade de cautela e de mais dados para confirmar esses resultados. Christopher Glein, cientista do Southwest Research Institute no Texas, que não esteve envolvido no estudo, comentou: “Estes últimos dados são uma contribuição valiosa para nossa compreensão. No entanto, devemos ser muito cuidadosos para testar os dados o mais minuciosamente possível. Estou ansioso para ver trabalhos adicionais e independentes sobre a análise de dados começando já na próxima semana”.

Hycean: os planetas aquáticos recém-descobertos que podem abrigar vida alienígena

Madhusudhan também pediu prudência, indicando que são necessárias mais observações – “repetir as observações de duas a três vezes para garantir que o sinal que estamos vendo seja robusto e para aumentar a significância da detecção” para um nível em que as chances de uma anomalia estatística estejam abaixo de aproximadamente uma em um milhão (o chamado nível de cinco sigma). Os resultados atuais alcançaram uma significância de três sigma (99,7% de certeza), o que, embora promissor, não é considerado prova definitiva pela comunidade científica. Além disso, é crucial realizar “mais estudos teóricos e experimentais para ter certeza se existe ou não outro mecanismo abiótico [um que não envolva processos biológicos] para produzir DMS ou DMDS em uma atmosfera planetária como a de K2-18b”. Mesmo que estudos anteriores tenham sugerido esses gases como bioassinaturas robustas, é essencial permanecer aberto a outras possibilidades.

A equipe de Cambridge está trabalhando com outros grupos para investigar se DMS e DMDS podem ser produzidos por meios não biológicos em laboratório. Outras interpretações dos dados de K2-18b também foram propostas, como a de Nicolas Wogan, do Centro de Pesquisa Ames da NASA, que sugere que K2-18b poderia ser um mini gigante gasoso sem superfície. Essas interpretações alternativas também estão sendo debatidas na comunidade científica. A confirmação definitiva da presença de DMS e DMDS, e a exclusão de fontes abióticas, exigirão mais tempo de observação com o JWST, incluindo trânsitos adicionais com o instrumento MIRI, estimados em 8 a 24 horas. Adicionalmente, são necessários estudos de laboratório e modelagem teórica para obter seções de choque de absorção mais precisas para essas e outras moléculas candidatas a bioassinaturas, sob as condições relevantes para mundos hiceanos como K2-18b. Apesar dos desafios, Madhusudhan acredita que sua equipe está no caminho certo, e que este momento pode ser um “ponto de virada” na busca por vida extraterrestre.

Um “Grande Plano” cósmico em andamento?

Diante do que está sendo chamado de “a evidência mais forte até agora de possível vida além do nosso Sistema Solar”, é plausível imaginar o entusiasmo que permeia a comunidade ufológica. Para muitos adeptos da hipótese extraterrestre, este anúncio, longe de ser uma descoberta isolada, poderia ser interpretado como mais um sinal de que a vida não apenas existe em outros lugares, mas que a humanidade está finalmente se aproximando de um reconhecimento oficial dessa realidade. As repetidas menções à necessidade de cautela e à natureza preliminar das evidências seriam, então, meros protocolos científicos para uma revelação que se desenrola gradualmente.

Dentro desse espectro de crenças, os mais convictos na ideia de visitas alienígenas pregressas ou contemporâneas poderiam enxergar a potencial confirmação de vida microbiana em K2-18b como um passo estratégico em um “grande plano” cósmico. A detecção de bioassinaturas em um exoplaneta distante, noticiada com grande destaque, seria uma forma de acostumar a humanidade à ideia de vida extraterrestre, preparando o terreno para futuras revelações de encontros mais próximos. A longa história de questionamentos sobre se “estamos sozinhos no Universo” estaria, sob essa ótica, prestes a ter uma resposta, com este achado sendo um prenúncio de um contato mais direto.

Resta saber, então, se a jornada científica que ora se inicia com as observações de K2-18b faz parte de um elaborado “grande plano” universal para nos apresentar, em etapas, a nossos vizinhos cósmicos. A ciência, com sua metodologia rigorosa e busca por evidências robustas, seguirá seu curso, mas é inegável que os resultados obtidos até agora reacendem antigas perguntas e alimentam diversas interpretações sobre o nosso lugar no cosmos. E você, caro leitor, inclina-se mais para a cautela científica ou vislumbra um plano maior em ação?

Jeferson Martinho

Jornalista, o autor é empresário de comunicação, dono de agência de marketing digital e assessoria de imprensa, publisher de um portal de notícias regionais na Grande São Paulo, fundador e editor do Portal Vigília.

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