Entrevista da discórdia: declarações de Marco Rubio sobre UAPs dividem ufólogos nos EUA

Entrevista da discórdia: declarações de Marco Rubio sobre UAPs dividem ufólogos nos EUA
Quando senador, o republicano Marco Rubio, do Comitê de Inteligência, foi uma das lideranças da campanha para tornar público o que a inteligência dos EUA sabe sobre óvnis ou UAPs

Uma acalorada disputa de narrativas tem agitado a comunidade de pesquisadores de Fenômenos Anômalos Não Identificados (UAP) nas redes sociais e na mídia especializada, desencadeada pela participação e subsequente esclarecimento do Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, sobre alegações de programas secretos do governo. A controvérsia ganhou tração no início de dezembro de 2025, logo após o lançamento do documentário The Age of Disclosure, onde Rubio, agora homem forte de Donald Trump na condução de políticas internas e externas, é uma figura central ao discutir alegações de encobrimento.

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A entrevista em questão ocorreu na Fox News, no programa Hannity, em 2 de dezembro de 2025, na qual Rubio se distanciou da ideia de que endossa pessoalmente a veracidade das reivindicações mais espetaculares sobre tecnologia alienígena.

 


O documentário, que levou três anos para ser filmado, reúne entrevistas com 34 membros de alto escalão do governo, militares e inteligência e tem como objetivo “puxar a cortina” sobre um alegado “encobrimento global de 80 anos” da suposta existência de inteligências não humanas em visita à Terra. O filme de Dan Farah busca transformar o tema dos UAP em uma discussão séria, posicionando a questão como uma potencial “operação psicológica” para distanciar a população da verdade sobre seres não humanos após décadas de sigilo governamental.

A urgência do tema, segundo os realizadores, reside no fato de o governo dos EUA estar em uma “corrida secreta de Guerra Fria de alto risco com nações adversárias como a China e a Rússia” para investigar objetos que não são de origem humana, transformando a transparência em uma questão de segurança nacional.

Nesse contexto, Kent Heckenlively, autor de Catastrophic Disclosure, disse que a grande quantidade de oficiais militares e de inteligência que estão “registrando que não apenas alienígenas ou OVNIs existem, mas que temos um programa muito ativo de recuperação dessa tecnologia e tentativa de engenharia reversa” é notável. Essa é precisamente a base das alegações que Rubio levou ao público no documentário, ao discutir relatos de denunciantes sobre programas de UAP e tecnologias recuperadas de origem não humana.

O ex-diretor da Força-Tarefa de UAP do governo dos EUA, Jay Stratton, também corroborou a seriedade do tema, ao declarar no filme que “O primeiro país que decifrar o código dessa tecnologia será o líder pelos próximos anos”. Assim, desde o início a participação de Rubio no documentário foi interpretada por entusiastas da revelação como uma prova de que a verdade sobre o fenômeno está prestes a emergir, fomentando a expectativa de uma quebra de sigilo por parte do governo.

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Famoso UAP Gimbal
Famoso UAP Gimbal: video reconhecido pela Marinha e pelo Pentágono.

Rubio: ‘esclarecimento’ completamente ambíguo

No programa Hannity, Marco Rubio buscou delimitar o escopo de suas declarações, que haviam sido filmadas três ou quatro anos antes, segundo disse, quando ele ainda era senador. A essência de seu esclarecimento foi o distanciamento de qualquer verificação factual pessoal das alegações espetaculares. “Eu estava descrevendo o que as pessoas me disseram, não coisas das quais eu tenho conhecimento em primeira mão nesse aspecto,” afirmou Rubio.

Apesar de reconhecer a seriedade das fontes, o Secretário de Estado evitou endossar a narrativa de vida extraterrestre. Ele sugeriu que muitos avistamentos de UAP poderiam ser “tecnologias adversárias, como drones ou balões invadindo espaços aéreos sensíveis”. Ele ainda relativizou o uso de sua imagem no documentário.

“Um pouco de edição seletiva, mas tudo bem, porque, você sabe, você está tentando vender um programa lá”, comentou Rubio.

Contudo, Rubio não renegou completamente o que disse no filme. No documentário, ele revelou a gravidade dos relatórios que recebeu sobre segurança nacional, ao declarar:

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“Tivemos instâncias repetidas de algo operando no espaço aéreo sobre instalações nucleares restritas, e não é nosso”.

Ele também mencionou relatos de “pilotos da Marinha, almirantes, generais” que vieram “dizer que havia programas no governo dos EUA dos quais nem mesmo os presidentes eram informados“.

Ao ser questionado sobre a credibilidade dessas fontes de alto escalão, o Secretário de Estado resumiu o dilema da maneira que se tornou o ponto nevrálgico da discórdia: “Temos pessoas com cargos muito altos no governo dos EUA que são, A) mentirosas, B) loucas ou C) dizendo a verdade. E duas dessas três opções não são boas. Eu não sei a resposta”. Ele fez questão de afirmar: “Não quero chamá-las de mentirosas, só não tenho uma forma independente de verificar tudo o que disseram”.

Choque entre céticos e defensores da revelação

A ambiguidade estratégica de Rubio, combinada com a sua nova posição de poder no governo Trump como Conselheiro de Segurança Nacional e Secretário de Estado, levou a uma intensa divisão entre analistas. Para o ex-analista Marik von Rennenkampff, as observações de Rubio sobre programas secretos relatados por oficiais de alto nível são “explosivas”. Von Rennenkampff, que escreve para The Hill, argumenta que Rubio não teria tido motivos em 2023 para duvidar de oficiais que “temiam represálias como ‘morte’,” enquadrando as alegações como preocupações credíveis de segurança nacional.

O jornalista Michael Shellenberger, um proponente da transparência em UAP, interpretou a entrevista na Fox News como uma “estratégia” de recuo forçada, alegando que Rubio “não pode discutir detalhes classificados publicamente devido à sua posição”. Shellenberger havia afirmado, citando um assessor sênior de Rubio, que o político “acredita que os EUA recuperaram tecnologia alienígena e a entregaram a contratantes militares privados” e que “Estamos caminhando para uma revelação massiva”. Ele chegou a escrever, poucas horas antes da entrevista, que o Secretário estaria preparando caminho para “uma revelação massiva”.

 


Por outro lado, o jornalista investigativo Steven Greenstreet, um cético do fenômeno, usou a entrevista de Rubio para criticar a narrativa do documentário, que ele acusou de “edição seletiva para deturpar as visões de Rubio”. Greenstreet desafiou a ênfase na credibilidade dos denunciantes, lembrando que o próprio Rubio admitiu que eles poderiam estar “mentindo ou loucos”. Já o editor do site The Black Vault, John Greenewald, Jr. reforçou esse ponto, afirmando em sua conta no X.com que as palavras de Rubio têm sido repetidamente “distorcidas para dar uma falsa esperança de ‘Revelação’“.

Presidente Donald Trump promete relatório sobre drones misteriosos depois que tomar posse, em 20 de janeiro (montagem sobre foto de Gage Skidmore, Wikimedia)
Presidente Donald Trump prometeu relatório sobre drones misteriosos depois que tomar posse, em 20 de janeiro – o que não aconteceu (montagem sobre foto de Gage Skidmore, Wikimedia)

Essa disputa reflete o embate fundamental na comunidade UAP: a tensão entre a crença em um encobrimento governamental e a demanda por evidências verificáveis. Céticos como Greenstreet veem na entrevista de Rubio uma prova de que a narrativa de “hype” foi impulsionada por histórias não verificadas e edição. Em contraste, defensores da revelação, como Shellenberger, apontam que o fato de Rubio, agora no mais alto escalão do governo, não ter “renegado” as alegações, e ter acesso incomparável a informações classificadas, torna sua incapacidade de verificar os fatos tão preocupante quanto a própria revelação. Essa perspectiva vem alimentando, já há algum tempo, uma esperança até agora frustrada da comunidade entusiasta da revelação que o presidente Donald Trump poderia ser finalmente o porta-voz desse grande anúncio.

Seja como for, parece que o futuro da transparência sobre UAP continuará incerto, aguardando por ações concretas e provas verificáveis, para além dos depoimentos contundentes em documentários e audiências públicas no Congresso dos EUA.

Redação Vigília

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