Objeto interestelar 3I/ATLAS divide cientistas: estudo menciona até alienígenas “possivelmente hostis”

Um estudo publicado como pré-impressão no repositório arXiv em 16 de julho de 2025 reacendeu as discussões sobre possíveis origens artificiais de objetos interestelares que cruzam o Sistema Solar. Assinado por três pesquisadores, incluindo o controverso astrofísico de Harvard Avi Loeb, o artigo levanta a hipótese de que o recém-descoberto 3I/ATLAS poderia ser uma sonda tecnológica enviada por uma civilização alienígena — e até mesmo representar uma “ameaça possivelmente hostil” à Terra.
A hipótese é altamente especulativa, mas não passou despercebida pela comunidade científica nem pela imprensa. O estudo chamou a atenção por descrever consequências potencialmente “terríveis para a humanidade”, caso se confirme a origem artificial do objeto. Loeb e seus colaboradores — Adam Hibberd e Adam Crowl, ambos ligados à Iniciativa para Estudos Interestelares em Londres — sugerem que o 3I/ATLAS poderia estar realizando manobras de vigilância e reconhecimento, com eventuais implicações bélicas.
O que é o 3I/ATLAS?
Detectado em 1º de julho de 2025, o 3I/ATLAS é o terceiro objeto confirmado a vir de fora do Sistema Solar — os dois anteriores foram o enigmático ʻOumuamua, em 2017, e o 2I/Borisov, em 2019. De acordo com a Live Science, o novo visitante interestelar foi observado inicialmente a mais de 200 mil km/h, em rota de aproximação ao Sol. A velocidade e o ângulo de entrada diferem dos casos anteriores, levando Loeb e seus colegas a explorar cenários não convencionais.

Com tamanho estimado de até 24 km de diâmetro — maior que a ilha de Manhattan —, o objeto tem características de um cometa, inclusive com emissão de gases e poeira observadas em registros de telescópios como o Gemini North e o Deep Random Survey. Mas é justamente o comportamento “atípico” que motiva os autores a propor a hipótese extraordinária.
Possível missão de espionagem alienígena?
Segundo o artigo, a trajetória do 3I/ATLAS prevê passagens próximas por Vênus, Marte e Júpiter antes de atingir seu periélio (ponto mais próximo do Sol) no fim de novembro, momento em que estará oculto da observação direta a partir da Terra. Loeb sugere que isso poderia representar uma estratégia deliberada de ocultação, caso o objeto esteja realizando alguma forma de missão de espionagem ou reconhecimento.
“Essa ocultação pode ser intencional para evitar observações detalhadas de telescópios terrestres quando o objeto estiver mais brilhante ou quando dispositivos forem enviados à Terra a partir desse ponto de observação oculto”, escreveu o pesquisador em seu blog pessoal.
A hipótese está alinhada com a chamada “Teoria da Floresta Escura”, uma proposta especulativa da astrofísica que sugere que civilizações inteligentes evitariam revelar sua posição para não se tornarem alvos de ataques. “Se essa anomalia for um artefato tecnológico, isso pode indicar que um ataque é provável e possivelmente exigiria a adoção de medidas defensivas”, alertou Loeb.
Críticas da comunidade científica
Apesar do apelo sensacionalista, a maioria dos especialistas considera a hipótese extremamente improvável. “Todas as evidências apontam para um cometa comum que foi ejetado de outro sistema solar, assim como incontáveis bilhões de cometas foram ejetados do nosso próprio sistema solar”, disse à Live Science a astrônoma Samantha Lawler, da Universidade de Regina, no Canadá.
O astrônomo Chris Lintott, da Universidade de Oxford, que está envolvido em simulações das origens galácticas do 3I/ATLAS, foi ainda mais direto:
“Qualquer sugestão de que ele seja artificial é um absurdo e um insulto ao empolgante trabalho em andamento para compreender este objeto.”
Até mesmo os autores do estudo adotam tom cauteloso em seu artigo. “Este artigo depende de uma hipótese notável, mas, como mostraremos, testável, à qual os autores não necessariamente aderem, mas que certamente merece uma análise e um relatório”, escreveram. Loeb também reconheceu, em seu blog, que “o resultado mais provável será que 3I/ATLAS seja um objeto interestelar completamente natural, provavelmente um cometa”.

Interceptação inviável
Caso a hipótese mais extraordinária se confirmasse, restaria pouca margem para reação. Loeb explica que a velocidade do objeto torna inviável qualquer tentativa de interceptação por foguetes com tecnologia atual: “É impraticável para os terráqueos pousarem no 3I/ATLAS o mais próximo possível, embarcando em foguetes químicos, já que nossos melhores foguetes atingem no máximo um terço dessa velocidade.”
O estudo não passou por revisão por pares e deve ser considerado especulativo. Ainda assim, gera debate sobre os limites entre ciência, imaginação e o fascínio humano por inteligências extraterrestres.
OVNIs e ciência
A proposta de Loeb se encaixa em uma linha de pensamento que tem ganhado visibilidade nos últimos anos, marcada por uma disposição crescente de cientistas para discutir abertamente a possibilidade de vida e tecnologia alienígenas. No entanto, essa abertura também exige rigor metodológico, cautela e responsabilidade, especialmente quando se trata de hipóteses com potencial de gerar pânico ou desinformação.
Desde a passagem do ‘Oumuamua, o primeiro visitante cuja origem é reconhecidamente fora do nosso sistema solar, Loeb tem sido uma voz quase solitária na comunidade científica defendendo que tanto aquele mensageiro das estrelas, quanto agora, o objeto 3I/ATLAS, deveriam ser seriamente encarados com a perspectiva de que representem algum tipo de artefato de origem não humana com passando pelas redondezas.
O objeto 3I/ATLAS continuará sendo monitorado por observatórios ao redor do mundo nas próximas semanas. Com sua máxima aproximação ao Sol prevista para novembro, o enigma — natural ou artificial — segue em aberto.