OVNIs em campanha: o uso político do mistério UFO

OVNIs em campanha: o uso político do mistério UFO
UAPs como cabos eleitorais: congressista Lauren Boebert, durante conferência de imprensa no Congresso dos EUA (Imagem: https://boebert.house.gov)

“Por décadas, nosso governo escondeu a verdade sobre OVNIs em um véu de segredos”. Foi com essa frase, na primeira quinzena de outubro de 2025, que a senadora norte-americana Lauren Boebert lançou sua campanha de arrecadação de fundos eleitorais para custear mais uma candidatura.

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No e-mail enviado a possíveis doadores, a congressista republicana destacou sua atuação no desacobertamento de informações sobre os Fenômenos Aéreos Anômalos e também seu compromisso em continuar trabalhando pelo acesso civil às informações retidas pelos militares.

O e-mail ainda trazia frases enérgicas em tons de ultimato:

“Eles nos dizem que somos loucos, como se não pudéssemos ver essas coisas voando pelo ar com nossos próprios olhos”. “EU DIGO CHEGA! O povo americano não é criança para ser alimentado com meias verdades ou dispensado com desculpas vagas. Nós merecíamos saber o que realmente está acontecendo lá em cima.”, declarou a congressista.

Segundo o portal de notícias The Guardian, o analista político democrata Andy Boian, teria declarado durante uma entrevista à estação de notícias KDVR, do Colorado, que interpretou as mensagens da senadora como um pedido de ajuda para demonstrar força política e pressionar pela reabertura do financiamento do Governo Federal após o fechamento de 1 de outubro – quando as contas foram reprovadas pelo congresso.

A emissora KDVR relatou que a equipe de campanha de Boebert teria afirmado que a mensagem vinha obtendo grande retorno entre os potenciais doadores, já que o público demonstra interesse em obter explicações.

Todavia, é interessante notar que, acima da polarização entre republicanos e democratas, o tema dos UAPs (OVNIs) tem sido recorrente em campanhas de nomes como Bill e Hillary Clinton, Donald Trump, Marco Rubio, Anna Paulina, Kirsten Gillibrand e, mais recentemente, Lauren Boebert.

A presença constante do tópico nos discursos de políticos de diferentes espectros e épocas mostra que o assunto vem se tornando uma pauta relevante e se consolidando como estratégia eleitoral nos EUA.

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Boebert não foi a primeira

Nas últimas décadas, nomes como Bill Clinton e Hillary Clinton chegaram a mencionar, em campanha, a intenção de revelar o que o governo sabia sobre o incidente de Roswell e a Área 51. Donald Trump, por sua vez, criou em 2020 a UAP Task Force, prometendo investigar oficialmente os relatos de avistamentos. Já Barack Obama e Joe Biden mantiveram um discurso de cautela, reconhecendo publicamente a existência de vídeos e registros “sem explicação conhecida”.

Além dos presidentes, senadores como Marco Rubio e Kirsten Gillibrand também incorporaram o tema em suas agendas legislativas, defendendo audiências públicas e maior transparência. Mais recentemente, figuras da ala conservadora, como a própria Lauren Boebert, passaram a explorar o assunto em tom mais conspiratório, evidenciando o caráter de mobilização política do tema.

Depoentes na audiência sobre UAP no Congresso, , David Grusch, ao centro, Ryan Graves, à esquerda e David Fravor, à direita, prestam juramento (Reprodução: Youtube)
Depoentes na audiência sobre UAP no Congresso, David Grusch, ao centro, Ryan Graves, à esquerda e David Fravor, à direita, prestam juramento (Reprodução: Youtube)

O que de fato foi realizado pelos congressistas

Depois da criação da UAP Task Force, implementada no governo norte-americano, em 2020, como consequência direta de iniciativas das forças armadas — principalmente da Marinha —, a estrutura oficial de investigação foi ampliada. Nos anos seguintes, em julho de 2022, foi criado o AAROAll-domain Anomaly Resolution Office, em português, Escritório de Resolução de Anomalias em Todos os Domínios — por pressão do Congresso. Este órgão, melhor estruturado, conta com site próprio e ficou responsável por acelerar a desclassificação de documentos militares relacionados ao fenômeno.

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Desde então foi autorizada  a desclassificação parcial de documentos e vídeos de avistamentos, incluindo registros feitos por pilotos da Marinha e sensores militares. Relatórios anuais passaram a ser publicados, apontando a existência de objetos aéreos não identificados, embora a maioria tenha recebido explicações convencionais.

No mesmo ritmo, o Congresso dos Estados Unidos passou a realizar audiências públicas sobre UAPs, nas quais militares, ex-agentes de inteligência e especialistas em aviação foram convocados a depor. Dentre eles o emblemático David Grusch (ex-oficial de inteligência da Força Aérea) que afirmou ter conhecimento de programas secretos de recuperação de objetos de origem não humana e denunciou represálias sofridas por suas revelações. Entretanto, nenhuma prova conclusiva foi apresentada até o momento.

Mais recentemente, em setembro de 2025, o Congresso ouviu o depoimento do veterano da Força Aérea Dylan Borland que testemunhou sob juramento, detalhando sua experiência com tecnologias de origem desconhecida e alegando represálias após suas denúncias. Além disso, um vídeo divulgado durante a audiência mostrou um míssil atingindo um objeto esférico não identificado, que aparentemente não sofreu danos, gerando discussões sobre a natureza e origem do fenômeno.

Foto montagem - Prédio do Congresso Nacional por Gustavo Lima e Deputado Chico Alencar via Kayo Magalhães e eventos emblemáticos da Ufologia
Foto montagem – Prédio do Congresso Nacional por Gustavo Lima e Deputado Chico Alencar via Kayo Magalhães e eventos emblemáticos da Ufologia

No Brasil

O Brasil tem acompanhado o crescente interesse político internacional por fenômenos aéreos não identificados (UAPs). Em 2022, o Senado promoveu uma sessão especial para comemorar os 75 anos do Dia Mundial da Ufologia, atendendo a requerimento do senador Eduardo Girão (Podemos-CE), com o objetivo de discutir o fenômeno ufológico e sua relevância histórica.

Recentemente, em setembro (2025), o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) convocou uma audiência pública na Câmara dos Deputados para debater a relação entre ufologia e a Lei de Acesso à Informação (LAI).

O evento contou com a participação de ufólogos e especialistas, incluindo Thiago Ticchetti, Vitório Pacaccini e Marco Antônio Petit, e abordou casos emblemáticos como o incidente de Varginha (MG) e a atuação do Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (SIOANI) da Força Aérea Brasileira.

Prometer transparência, revelar segredos governamentais ou questionar autoridades cria visibilidade midiática e mobiliza eleitores curiosos ou desconfiados das instituições. Porém, curiosamente, em alguma medida também tem aumentado o interesse geral sobre o tema e lançado luz aos mistérios que o cercam, alcançando alguns esclarecimentos importantes, mesmo que tímidos.

Nos Estados Unidos, políticos de diferentes partidos e posicionamentos exploram o fascínio pelo desconhecido como ferramenta de engajamento. Com isso, a ufologia vem se tornando uma pauta estratégica capaz de atrair atenção e consolidar bases eleitorais.

Embora no Brasil esse movimento seja atualmente incipiente, é possível que dentro dos próximos anos ganhe contornos mais robustos e traga impactos semelhantes ao que ocorre na América do Norte.

Chico De Paula

Chico de Paula, escritor e editor, acredita que a expressão cultural é uma das ferramentas de transformação das mentalidades e combate aos preconceitos, incluindo aqueles relacionados ao fenômeno óvni.

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