UFO Crônica: UFO prosa

Lá para as bandas de Quixadá, finalzinho de tarde, dois amigos conversavam na calçada de um bar quase vazio.
— É… não se faz mais carro que nem antigamente.
— Nem OVNI.
— Pois é… Na minha época os carros eram de ferro, hoje em dia é tudo de lata, qualquer batidinha é perda total. Disse em tom de lamento, olhando para a caminhonete amassada a sua frente.
— Verdade. Época boa. Os UFOs brincavam com os aviões, os pilotos iam com caça de última geração e não chegavam nem perto dos aparelhos.
— Agora tenho que esperar o seguro depositar o dinheiro pra comprar outro carro.
— Se aperreie, não. É coisa rápida.
— Será que esses aparelhos têm seguro?
— Sei não. Mas deveriam ter. Só esse ano já derrubaram 3. Um foguetinho pra cada um.
— Fiquei sabendo, foi lá pras bandas dos states. Mas olha aquilo alí… é OVNI?
Distante, uma luz branca e redonda apareceu no céu, um pouco mais alta que o horizonte.
— É sim, só que tá longe.
— Será que vem pra cá?
— Se vem, não sei, o que sei é que, na minha época de abduzido, os aparelhos puxavam a gente com uma luz. Agora, tão usando até corrente com gancho.
— Pois é… não se faz mais OVNI como antigamente.
— Essa coisa de ficarem abduzindo é uma falta de cuidado.
— Também acho.
— Ta vindo pra cá.
— Ta sim.
A luz se aproximava e aumentava de tamanho, de forma cadenciada e progressiva. Ainda indignado um deles pergunta: — Por que eles não convidam ao invés de sequestrar?
— Porque se convidassem ninguém ia. Não viu a festa do Toinho? Ninguém foi.
— Pois eu ia.
— Pra festa ou pro aparelho?
— Pros dois.
— Por que não foi?
— Por que não convidaram.
— Pro aparelho eu só vou na marra — respondeu fazendo cara de enfezado e completou: — pra festa do Toinho nem assim.
O sol já havia se escondido atrás da serra, mas o UFO, já bem próximo, iluminava intensamente a tudo no local.
— Será que vai levar eu ou você?
— Acho que é você.
— Também acho.
O aparelho lançou uma luz ainda mais intensa sobre um dos amigos. Seu corpo começou a levantar-se lentamente.
— Rapaz, deu sorte que não é com corrente dessa vez. Ih, não consegue mais falar. Ta levando o celular?
Esperou o amigo, que já flutuava a um metro do chão, responder.
— Esqueci que fica paralisado. Se eles errarem o caminho da tua casa me liga que vou te buscar.
Deu mais um gole na cerveja e viu o amigo ser levado para dentro do aparelho. Depois, contou os cascos calculando o valor da conta.