Viajante interestelar Oumuamua não é feito de gelo de hidrogênio, afinal

Viajante interestelar Oumuamua não é feito de gelo de hidrogênio, afinal
Representação artística do viajante interestelar 1I/’Oumuamua. Por ESO/M. Kornmesser

Depois de meses de pesquisa, cientistas chegaram à conclusão de que o viajante interestelar 1I/’Oumuamua não era um grande bloco de gelo molecular de hidrogênio e as teorias sobre esse misterioso objeto voltaram ao ponto inicial. Eles acreditam que ele simplesmente não sobreviveria à viagem sem evaporar.

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Vai continuar o debate sobre as origens e a estrutura molecular de 1I/’Oumuamua, o primeiro viajante interestelar detectado passando pelo nosso sistema solar.

Um artigo no The Astrophysical Journal Letters mostrou que, apesar das expectativas anteriores de encontrar-se uma explicação mais trivial para seu inusitado comportamento, o objeto interestelar não é feito de gelo de hidrogênio molecular, afinal de contas.

O estudo anterior, publicado por Seligman & Laughlin no início desde ano de 2020, sugeriu que 1I/’Oumuamua fosse um iceberg de hidrogênio. O gás hidrogênio puro que lhe dá o impulso para uma aceleração parecida com a de um foguete teria escapado da detecção.

Mas alguns cientistas do Centro de Astrofísica de Harvard & Smithsonian e do Instituto Coreano de Astronomia e Ciência Espacial (KASI) estavam curiosos para saber se um objeto baseado em hidrogênio poderia realmente ter feito a viagem do espaço interestelar para o nosso sistema solar.

“A proposta de Seligman e Laughlin parecia promissora porque poderia explicar a forma alongada extrema de Oumuamua, bem como a aceleração não gravitacional. No entanto, sua teoria é baseada na suposição de que gelo H2 poderia se formar em nuvens moleculares densas”, disse o Dr. Thiem Hoang, pesquisador sênior do grupo de astrofísica teórica da KASI e autor principal do artigo.

“É verdade, os objetos de gelo de H2 poderiam ser abundantes no universo e, portanto, teriam implicações de longo alcance. O gelo de H2 também foi proposto para explicar a matéria escura, um mistério da astrofísica moderna. Queríamos não apenas testar os pressupostos da teoria, mas também a proposição da matéria escura”, esclarece Hoang.

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O debate sobra a origem do viajante

O Dr. Avi Loeb, presidente do departamento de astronomia de Harvard (professor de ciências da cadeira “Frank B. Baird”) e co-autor do artigo acrescentou: “suspeitávamos se os icebergs de hidrogênio sobreviveriam à jornada – que provavelmente leva centenas de milhões de anos – porque evaporam muito rapidamente, e se poderiam se formar em nuvens moleculares”.

Viajando a uma velocidade incrível de 315 mil km/h em 2017, Oumuamua foi classificado pela primeira vez como um asteroide. Mais tarde, quando acelerou, pensou-se que tinha propriedades semelhantes às dos cometas. Mas o objeto interestelar, com raio de cerca de 200 metros, também não se encaixava nessa categoria.

Seu ponto de origem permanece um mistério. Os pesquisadores se concentraram na nuvem de gás molecular gigante (GMC) W51 – uma das GMCs mais próximas da Terra, a apenas 17.000 anos-luz de distância – como um ponto potencial de origem para Oumuamua.

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Mas segundo o novo estudo ele simplesmente não poderia ter feito a viagem intacto. “O lugar mais provável para fazer icebergs de hidrogênio é nos ambientes mais densos do meio interestelar. Estas são nuvens moleculares gigantes”, disse Loeb, confirmando que esses ambientes estão muito distantes e não são propícios ao desenvolvimento de icebergs de hidrogênio.

Nave extraterrestre volta a ser uma possibilidade para o viajante 1I/’Oumuamua?

Uma origem aceita para objetos sólidos na astrofísica é o crescimento por colisões de poeira. Mas no caso de um iceberg de hidrogênio, essa teoria não poderia ser mantida.

Uma maneira aceita na astrofísica para a formação de um objeto de tamanho quilométrico é, primeiro, formar grãos de tamanho microscópico. Depois esses grãos vão crescendo através de colisões.

“No entanto, em regiões com alta densidade de gás, o aquecimento colisional por colisões de gás pode sublimar rapidamente o manto de hidrogênio nos grãos, impedindo-os de crescer ainda mais”, explica Hoang.

Embora o estudo tenha explorado a destruição do gelo de H2 por vários mecanismos, incluindo radiação interestelar, raios cósmicos e gás interestelar, a sublimação devido ao aquecimento pela luz das estrelas tem o efeito mais destrutivo.

De acordo com Loeb, “a sublimação térmica por aquecimento colisional em GMCs poderia destruir icebergues de hidrogênio molecular do tamanho de Oumuamua antes da sua fuga para o meio interestelar”.

Esta conclusão exclui a teoria de que 1I/’Oumuamua viajou para o nosso sistema solar a partir de uma GMC, e ainda impede a proposição de “bolas de neve primordiais” para a matéria escura, como também pensavam os pesquisadores. O resfriamento evaporativo nessas situações não reduz o papel da sublimação térmica pela luz das estrelas na destruição de objetos de gelo de H2, concluiu o estudo.

Tentativa de detecção de sinais do objeto

Oumuamua ganhou notoriedade pela primeira vez em 2017, quando foi descoberto gritando através do espaço por observadores no Observatório Haleakalā, e desde então tem sido objeto de estudos contínuos. “Este objeto é misterioso e difícil de entender porque exibe propriedades peculiares que nunca vimos em cometas e asteroides em nosso sistema solar”, disse Hoang. O próprio Loeb chegou a sugerir essa possibilidade, em artigo do qual foi co-autor de 2018.

Mesmo na comunidade comunidade científica houve quem creditasse o estranho comportamento de 1I/’Oumuamua à possibilidade de tratar-se de uma gigantesca nave dirigida por uma inteligência extraterrestre. Cientistas chegaram a abrir canais de escuta e comunicação em busca de um sinal de contato.

A tentativa de detecção não deu resultados, no entanto. Mas com o novo estudo, a hipótese da origem inteligente provavelmente ainda não poderá ser descartada. E se você viu alguma semelhança entre o Oumuamua e o livro “Encontro com Rama”, de Arthur C. Clarke, não está sozinho.

Embora a natureza do viajante interestelar continue sendo um mistério, Loeb sugere que não permanecerá assim por muito mais tempo. Especialmente se o objeto não estiver sozinho.

O cientista faz uma nova previsão: “se Oumuamua é membro de uma população de objetos semelhantes em trajetórias aleatórias, então o Observatório Vera C. Rubin, que está programado para ter sua primeira luz no próximo ano, deve detectar cerca de um objeto Oumuamua por mês. Todos nós vamos esperar com ansiedade para ver o que ele encontrará”, concluiu.

Localizado no Chile, o Vera C. Rubin deverá ser capaz de mapear todo o céu visível.

Com informações de Phys.org

Jeferson Martinho

Jornalista, o autor é empresário de comunicação, dono de agência de marketing digital e assessoria de imprensa, publisher de um portal de notícias regionais na Grande São Paulo, fundador e editor do Portal Vigília. Apaixonado por Ufologia de um ponto de vista científico, é autor do livro "Nem Todo OVNI é Extraterrestre - Um guia para entusiastas da ufologia que não querem ser iludidos", disponível na Amazon.

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