Mais análises da Esfera de Buga: especialista em eletrônica detona ‘tecnologia extraterrestre’

A misteriosa “Esfera de Buga”, que capturou a atenção global como um possível artefato de outro mundo, permanece no epicentro de um intenso debate. Embora retida com afinco pelo divulgador Jaime Maussan – cuja credibilidade já foi questionada em outras ocasiões, como nos casos das “flotilhas de OVNIs” e das “múmias de Nazca”, cujas análises científicas prometidas seguem pendentes – o artefato continua sob intenso escrutínio de uma ampla gama de especialistas. Esses analistas, muitos dos quais são entusiastas da Ufologia séria, permanecem bastante críticos acerca das alegações fantásticas sobre as supostas capacidades da esfera e a estranheza de sua fabricação.
Dessa vez, a análise aprofundada foi conduzida pelo técnico em eletrônica e construtor de circuitos eletrônicos, Adail José Fernandes, do canal “Contato Inteligente“. Utilizando as próprias imagens divulgadas em excelente resolução, Fernandes desdobra uma série de observações que, para ele, apontam de forma inequívoca para uma origem terrestre e para uma tentativa frustrada de simular alta tecnologia. Sua motivação, ele esclarece, não é denegrir indivíduos, mas sim aplicar uma abordagem “dedicada e, se possível, científica da ufologia”, pois fraudes como esta “só vêm prejudicar a ufologia”.
Adail José Fernandes direciona seu olhar crítico primeiramente aos supostos desenhos e entalhes na superfície da esfera, que muitos interpretaram como “circuitos tecnológicos avançados”. Para o especialista, contudo, esses traços revelam o oposto. As “trilhas” na esfera são “muito mal desenhadas” e, segundo ele, parecem ter sido “sulcadas utilizando algum corrosivo”. Fernandes explica que o uso de ácidos, como o sulfúrico, poderia deixar “manchas pretas” e “resíduos escuros” nos sulcos. A falta de controle na aplicação do suposto ácido é evidente, com furos irregulares e trilhas que se desviam da circunferência pretendida. A “perfeição na circunferência dos pontos de solda é inexistente”, levando-o a afirmar: “É algo muito mal feito, é mais do que óbvio que foi feito manualmente isso aqui e muito mal entalhado”.
A tecnologia que a esfera de Buga representa é descrita por Adail como algo que remete aos “anos 40, 50”, época em que os circuitos ainda eram predominantemente analógicos e utilizavam “peças eletrônicas imensas”. Em contraste, a tecnologia moderna, como a encontrada em celulares e notebooks, emprega circuitos integrados (CI) com componentes minúsculos e uma vasta quantidade de terminais. As “bolinhas prateadas” na esfera, que representam pontos de solda, são grandes, necessitando de “buraquinhos grandes para poder caber a solda” de componentes igualmente grandes. Fernandes explica que componentes com “pernas muito grossas” são característicos do passado, pois “gastavam mais energia” e eram menos eficientes, exigindo pinos robustos para suportar a energia sem superaquecer.
Comparando a esfera com um circuito integrado moderno, Fernandes destaca a “enorme diferença na capacidade de funcionalidade” de fosse algo realmente funcional. Enquanto um componente contemporâneo possui inúmeros terminais que podem integrar diversas funções – como telefone, rádio, câmera, relógio, calculadora, bússola em um celular – a esfera de Buga apresenta uma quantidade “muito limitada” de pinos, sugerindo pouquíssimas funções. Adail brinca, ironicamente, que talvez um dos pinos servisse para uma “máquina de centrifugar roupa” e outro para uma “cafeteira”.
Um detalhe crucial apontado por Fernandes é um “ponto preto” ou “mancha” na superfície da esfera, que não está centralizado, mas sim mais próximo de um canto. Essa, segundo Adail, é uma representação de uma marcação tipicamente humana utilizada na fabricação de componentes eletrônicos.
Essa marca indica o pino um do componente, orientando os técnicos durante a montagem e soldagem. Adail não hesita em afirmar que “essa representação é completa, absurda, inegável e irrefutavelmente humana”. A presença de tal marcação, de forma tão mal executada na esfera, é um forte indício de que o “criador” não tinha conhecimento detalhado sobre a construção de circuitos integrados e tentou replicar algo que não compreendia plenamente, resultando em um serviço que ele descreve como “uma porcaria”.

Além da análise dos desenhos, Fernandes também critica o ambiente em que a esfera foi supostamente analisada e as “propriedades misteriosas” a ela atribuídas. O local onde a esfera é vista nos primeiros vídeos, que se assemelha a um laboratório, não é, para Adail, um laboratório de verdade. Ele, que trabalha com eletrônica diariamente, identifica ferramentas comuns, como um “ferro de solda”, um “osciloscópio de mão” (que se compra no Mercado Livre) e um “gaveteiro de peças”. As vestimentas usadas, descritas como de “proteção contra radiação” e “viseira”, são, na verdade, equipamentos comuns do “kit contra o CV19” (COVID-19), sugerindo que não há preocupação real com riscos de radiação.
Sobre a alegação de que a esfera solta vapor ao entrar em contato com a água, Fernandes demonstra que isso é uma característica “muito esquisita” e “não suficiente para nada”. Ele sugere uma experiência simples: pegar uma vasilha de alumínio gelada do freezer e despejar água morna sobre ela. A “fumacinha” que se exaurirá é a mesma “única coisa que ocorreu aqui”, sem “nada demais” que justifique a impressão de que a esfera é impressionante ou não terrestre. Para Adail, isso tem muito mais de “marketing” e “mídia”.

O Portal Vigília tem feito uma cobertura intensa das análises do caso da esfera de Buga. Reportagens anteriores corroboraram as observações de Adail José Fernandes. A história da esfera viralizou após vídeos mostrarem um objeto metálico esférico “sobrevoando e caindo” em Buga, Colômbia, em 4 de março de 2025. Uma testemunha, “Don José”, recuperou o artefato. Curiosamente, enquanto nos primeiros vídeos a esfera parecia lisa e cinza-escura, imagens posteriores feitas na casa de Don José a mostraram com “brilho de metal escovado e gravações em relevo com desenhos e caracteres desconhecidos”. A divulgação massiva ocorreu via Germany Company, uma empresa que fabrica detectores, levantando suspeitas de “jogada de marketing”, apesar da negação da empresa.
Aparentemente a invasão das esferas continua
Enquanto todas as análises parecem indicar um artefato terrestre — até mesmo as encomendadas por Maussan — usado com objetivos ainda pouco claros, as aparições das esferas pelo mundo, sobretudo na forma como divulgadas pela Maussan Television, estão alcançando o status de uma verdadeira “invasão”.
Há poucos dias, um vídeo inédito teria sido registrado por um trabalhador agrícola identificado como Don Mario, no Engenho San Carlos, em Buga, na manhã de 7 de maio de 2025. Segundo o testemunho, Don Mario observou e filmou primeiramente uma esfera, que se afastou, e então percebeu e filmou uma segunda esfera na mesma área, ambas descritas como “muito similares”.
Embora o vídeo tenha sido divulgado primariamente por Maussan, o que o ajudou a viralizar, sua versão circulou com marcas d’água e em baixa resolução. Curiosamente, o vídeo em alta resolução só apareceu alguns dias depois, sem as marcas d’água do canal do jornalista mexicano, e foi surgir justo no canal da empresa colombiana Germany Company.
O objeto esférico possui uma superfície de “aspecto metálico que claramente reflete o terreno que tem por baixo e, ao mesmo tempo, percebemos em sua superfície o reflexo do sol”. A testemunha relatou que ele se moveu silenciosamente, “sem qualquer meio visível de propulsão ou asas”, capaz de se deslocar suavemente devagar ou rapidamente. Jaime Maussan afirma que estes são “verdadeiros artefatos que podem levitar” e “neutralizar a gravidade e poder literalmente flutuar em nossa atmosfera”.
Paralelamente a esse novo avistamento em Buga, a narrativa ganhou uma camada dramática com a alegação do jornalista mexicano de que uma nova esfera estaria sendo “atraída” pela esfera de Buga que está sob sua custódia, sugerindo que ela estaria indo “resgatar” o artefato. O vídeo desse episódio foi gravado pelo próprio filho de Maussan.
Maussan e seu canal também têm compilado uma série de supostos avistamentos de esferas metálicas reflexivas em outras partes do mundo, que ele apresenta como parte dessa “onda”:
• Na Cidade Universitária e em Santa Fé, no México, com registros de 1º de junho.
• Em Belfast, na Irlanda do Norte, com um avistamento em 31 de maio, onde uma pessoa teria capturado duas fotos do objeto subindo.
• Em Manchester, na Inglaterra, no aeroporto, com um caso recente e outro registrado à noite em 2 de janeiro.
• Em Southdowns Hampshire, na Inglaterra, em 11 de fevereiro de 2025, gravado por uma pessoa identificada como Kipasta.
Maussan insiste que não há indícios de manipulação digital nas análises dos metadados desses vídeos, feitas por um investigador italiano (Pier Diord Karina Caria).
Vídeo revela como pode ter sido gravado o voo da esfera de Buga
É impossível não encarar o caso da “Esfera de Buga” com um ceticismo saudável, senão até com profunda desconfiança. Um dos aspectos mais intrigantes e suspeitos reside na forma como o caso foi divulgado e nas inconsistências que surgiram.
Nos primeiros vídeos, a esfera parecia lisa e cinza-escura. Já nas imagens posteriores, na casa de Don José, a mostravam com um brilho de metal escovado e, curiosamente, com gravações em relevo e caracteres desconhecidos. Tais discrepâncias na aparência da esfera, antes e depois de sua suposta queda, alimentam a suspeita de que poderia ter ocorrido uma substituição ou manipulação do objeto em algum momento. E não que algum deles fosse realmente extraterreste.
Agora, o foco se volta para a versão em alta resolução e estabilizada do vídeo da segunda esfera de Buga, na plantação de cana de açúcar do Engenho San Carlos. Uma das primeiras aparições dessa estabilização aconteceu Canal do Youtube Vetted. Mas foi o divulgador científico e Youtuber Júnior da Silva Schwarza, do Canal do Schwarza, quem notou que há na esfera um sutil “balanço”, ou movimento oscilatório, que fica notavelmente evidente quando o vídeo é estabilizado.
Claramente, neste novo vídeo, tal movimento pode ser uma indicação que o objeto está, na verdade, suspenso. A principal suspeita recai sobre o uso de uma bola de vinil, ou similar, especialmente preparada para ser altamente reflexiva. Aliás, desde o primeiro vídeo, sua refletividade vem sendo aprimorada nas versões mais recentes das filmagens, tornando-a ainda mais convincente.
Essa “esfera”, na verdade uma bola leve, poderia facilmente ser içada e mantida por um drone aéreo, utilizando uma linha extremamente fina e praticamente invisível à distância. A linha, para maior discrição, poderia ser presa no pino da válvula que impede a bola de esvaziar, um ponto de ancoragem natural e pouco visível. E, contrariando o que muitos poderiam imaginar, um balanço pendular longo se tornaria imperceptível se o ponto de ancoragem – ou seja, o drone – estivesse muito distante e alto do objeto e da câmera, minimizando a amplitude visível do movimento e criando a ilusão de um objeto pairando ou se movendo autonomamente.
O Canal do Schwarza inclusive demonstrou isso, repercutindo um vídeo aparentemente francês, sem informações complementares, que mostra justamente essa situação: uma esfera leve levantada por um drone. À distância oferecida pelo longo fio, apenas vê-se o movimento da esfera, suave e sem muitas variações, exceto as manobras feitas pelo próprio drone, fora do campo de visão.
Somando-se a essas suspeitas, os achados de um relatório científico com a chancela da Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM), divulgado pelo próprio Jaime Maussan, caíram como um balde de água fria sobre as alegações de propriedades incríveis e tecnologias fantásticas da tal esfera. Resta, a quem deseja fazer a divulgação sensacionalista do episódio, apenas explorar a brecha da suposta presença de fibras óticas no meio do alumínio. Mas, como já mostrou o especialista em metalurgia e ligas metálicas Sandro Gonçalves em entrevista ao Portal Vigília, nem mesmo isso poderia ser atribuído uma tecnologia desconhecida.
Dessa forma, vai ficando cada vez mais evidente a possibilidade de que todo o mistério em torno da Esfera de Buga tenha sido resultado, apenas, de uma farsa elaborada.