Astrônomos descobrem objeto misterioso emitindo sinais de rádio a cada 6,5 horas

Um objeto celeste peculiar, denominado ASKAP J183950.5−075635.0 (ou J1839−0756), está intrigando cientistas com suas emissões de rádio extremamente lentas e regulares. O objeto, classificado como um “transiente de rádio de longo período”, emite sinais de rádio a cada 6,45 horas, um período sem precedentes para este tipo de fenômeno.
A descoberta foi realizada por uma equipe de astrônomos liderada por Y. W. J. Lee e M. Caleb, da Universidade de Sydney, utilizando o telescópio Australian SKA Pathfinder (ASKAP). A equipe, que também inclui pesquisadores de outras instituições como o CSIRO e a NASA, publicou suas descobertas na revista Nature Astronomy.
Além do ASKAP, os dados utilizados na análise foram obtidos através do MeerKAT e do ATCA. O MeerKAT é outro radiotelescópio, localizado na África do Sul, que, assim como o ASKAP, é usado para detectar sinais de rádio de objetos no espaço. O ATCA (Australia Telescope Compact Array) é um telescópio australiano que também foi usado para observar o objeto misterioso, complementando as observações do ASKAP e do MeerKAT.
“Este novo objeto… parece estar produzindo muitas emissões de pulso que nunca vimos antes e que não podem ser explicadas usando a física moderna”, explica Anton Petrov, no vídeo do seu canal do Youtube. O objeto foi inicialmente detectado como um sinal de rádio forte que aumentava de brilho, mas depois diminuiu em 95% em apenas 15 minutos, um comportamento atípico para um pulso de rádio rápido.
As observações posteriores, combinando dados do ASKAP, do MeerKAT (África do Sul) e do Australian Telescope Compact Array, revelaram que o sinal é periódico, com um intervalo de aproximadamente 6 horas e meia entre os pulsos, tornando-o o pulso de rádio mais lento já detectado.
O mistério dos transientes de rádio de longo período
Os transientes de rádio de longo período são uma classe relativamente nova de objetos astronômicos, caracterizados por emissões de rádio intermitentes com períodos que variam de minutos a horas. Esses objetos emitem “sinais de rádio de forma intermitente, só que com períodos que variam de minutos até horas”, como explica Sérgio Sacani, do SpaceToday, em um vídeo do Youtube.
Os transientes de rádio de longo período exibem emissões “altamente polarizadas e coerentes que duram apenas alguns segundos a minutos durante cada ciclo de rotação”, o que os torna distintos de outros fenômenos astronômicos, segundo o artigo publicado na Nature Astronomy.
J1839−0756, com seu período de 6,45 horas, é o mais lento dessa classe já observado e desafia as explicações tradicionais para a origem de tais emissões.
Normalmente, pulsares, que são estrelas de nêutrons em rotação, emitem sinais de rádio em períodos muito mais curtos, devido à sua rotação e interação com campos magnéticos, explica Anton Petrov. Segundo ele, “para que um pulsar produza esses pulsos de rádio, ele tem que girar muito rápido”. No entanto, J1839−0756 é tão lento que, de acordo com as teorias atuais, não deveria ser capaz de produzir emissões de rádio.
Possíveis explicações e a natureza do objeto
Várias hipóteses foram levantadas para explicar a natureza de J1839−0756. Uma delas é que o objeto seja uma anã branca altamente magnetizada, embora essa possibilidade seja considerada improvável, já que “a força do campo magnético necessária para gerar a emissão de rádio observada é muito maior do que a maior já detectada em anãs brancas”, segundo Sacani.
Outra hipótese seria uma estrela de nêutrons isolada, mas a “luminosidade de rádio observada é muito maior do que a luminosidade rotacional”, argumenta Sacani, sugerindo que a rotação por si só não é a única fonte de energia para a emissão de rádio.
A explicação mais plausível até agora, segundo os astrônomos, é que J1839−0756 seja uma magnetar de período ultra longo. Magnetares são estrelas de nêutrons com campos magnéticos extremamente intensos, capazes de gerar pulsos de rádio. A hipótese de que “a emissão de rádio poderia ser alimentada por processos magnéticos” é reforçada por algumas características do sinal, que apresenta pulsos principais e interpulsos, indicando que a emissão de rádio se origina de ambos os polos magnéticos, conforme o artigo da Nature Astronomy .
Um objeto que desafia a física
J1839−0756 apresenta características que não se encaixam nos modelos tradicionais de estrelas de nêutrons, anãs brancas ou pulsares. O fato de emitir pulsos de rádio a cada 6,5 horas, junto com o padrão de interpulsos, torna este objeto uma verdadeira anomalia no universo. “Isso é basicamente um novo objeto misterioso completamente inexplicável”, afirma Anton Petrov, ressaltando que os modelos atuais não conseguem explicar como este objeto consegue emitir tanta energia de rádio em um período tão longo.

A descoberta de J1839−0756 é mais uma evidência de que “o universo é assim, cada vez que passa, que os anos vão passando, que a tecnologia vai avançando, os astrônomos acabam descobrindo coisas novas, coisas misteriosas, coisas que não tem muita explicação”, observa Sérgio Sacani, refletindo sobre os mistérios que a astronomia ainda precisa desvendar.
A pesquisa sobre este objeto ainda está em andamento e espera-se que ele possa revelar informações importantes sobre a física dos objetos compactos e sobre os processos que dão origem às emissões de rádio no universo. Os dados obtidos de diferentes telescópios, como o ASKAP, MeerKAT e ATCA, serão importantes para a construção de modelos que possam explicar este novo objeto misterioso.